País de poucas letras, onde a leitura é hábito rarefeito e a informação em geral não ultrapassa a profundidade que se pode alcançar em alguns segundos de noticiário de TV, é compreensível que a maioria dos eleitores ache um absurdo isso de cassar o diploma ou o mandato de gente que recebeu tantos votos.
Nem tente explicar aos eleitores do vereador mais votado da Capital, Gean Loureiro, por que o TRE-SC manteve a cassação do seu mandato por infidelidade partidária. Ou contar aos eleitores do candidato a prefeito mais votado em Braço do Norte, que o TSE negou-lhe o registro da candidatura e que, portanto, os 11 mil votos que recebeu serão considerados como votos nulos. E que é provável que o juiz eleitoral se decida pela diplomação do segundo mais votado, com 4 mil votos.
No caso do prefeito eleito, mas não registrado, havia uma condenação transitada em julgado na Justiça comum estadual. Coisa pouca, algo como “apropriar-se de bens ou rendas públicas ou desviá-los em proveito próprio ou alheio”. Mas à força de liminares e outros recursos, conseguiu concorrer sub judice, empurrando com a barriga até onde deu.
No caso do vereador, e de outros cassados por infidelidade, ainda restam duas esperanças: recurso ao TSE e o julgamento em breve, pelo STF, da decisão do TSE que considerou ilegal o troca-troca de partidos.
É provável que, como já se tornou hábito, tudo termine em pizza. O STF, por algum motivo, pode reformar a decisão do TSE, abrindo na prática novas oportunidades para que os oportunistas de plantão continuem fazendo a dança das cadeiras. O que é ótimo para novos prefeitos, que precisam fazer maioria nas Câmaras. E nada melhor para fazer uma maioria rapidamente, do que “convencer” alguns vereadores a mudarem-se para o partido que estiver no Poder.
Ah, quanto ao caso do prefeito com condenação transitada em julgado, nem se preocupem. Logo, logo encontrará uma saída.
É por isso tudo que, quando a lei diz que só pode se candidatar duas vezes e o cara se candidata quatro vezes, ficam todos rindo satisfeitos e contentes: apesar de toda a marolinha do TSE, vocês acreditam mesmo que, ao fim e ao cabo, alguém terá peito de fazer cumprir a lei? Ora, a lei é redigida (pelos políticos!) com tantos desvãos, duplos sentidos e imprecisões propositais, que o normal é que os juizes fiquem com cara de tacho. E fama de frouxos.
Quando era pequeno, depois da matinê no cinema, a gente ia brincar de camói aí. E às vezes um que estava fazendo às vezes de policial ou xerife vinha com aquela “pare em nome da lei”. O jeito era parar e botar os braços pra cima. Afinal, a lei era a lei. Hoje ninguém mais brinca disso. E ninguém, que tenha dinheiro e/ou amigos influentes, deixa de fazer nada apenas porque a lei diz o contrário. Obedecer à lei é para otários.
Os anos 90 foram uma seca
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Politicamente falando, os anos 90 foram uma grande chatice porque se deixou
de ler história. Esquecemos que se a democracia era a voz do povo, então o
po...
Há 4 horas
4 comentários:
Ave, Cesar
Leis... ora, bolas...leis!
Para que são feitas as leis?
Para impor limites, disciplinar, evitar abusos, ordenar para o bem comum...etc...
De que são feitas as leis?
De palavras!
Ora, Palavras !
paroles sont paroles, rien plus que paroles.
Seriam meras palavras ( e é só isso que as leis são) capazes
De disciplinar ou conter alguma coisa?
Coisa alguma!
As leis são como a mão fechada tentando segurar um punhado de água.
Em poucos segundos, a água se escapa por entre os dedos, tal como os criminosos por entre as letras e palavras da lei.
Paz na terra aos homens de boa vontade. De boa-fé.
abr, waltamir
Ave, César
Desculpa a inocência do comentário anterior, em que falei que as leis são feitas para o bem comum. Ah! Se fossem! Quem dera fossem! O que era para ser ironia, virou inocência. Fui induzido pela tua lembrança dos tempos do camói. Talvez eu tenha voltado a ser o inocente dos tempos de infância em que, assim qui nem qui tu, eu brincava de Camói, ou Camói aí, a velha brincadeira, agora com nome e sobrenome. Saudade palavra triste, (ou não...)
abr, waltamir
Leis no Brasil? Justiça? Limites? Não fomos feitos pra isso. Desde sempre os favorecimentos, as regalias, os privilégios foram mais ikmportantes. Aqui é o território livre da bandalha. Ou será porque temos tantos recursos naturais, tanta abundância e pertencemos ao terceiro mundo?
Como nação ainda não chegamos ao raciocínio abstrato.
Tio Cesar, parabéns, foste o primeiro e único jornalista a noticiar o caso da cidade de Braço do Norte.
Já mandei e-mail para diversos comentaristas políticos de influentes meios de comunicações e mantiveram-se afastados. Será porque o candidato que está sujo em Braço do Norte é do PMDB e não queriam magoar o partido que controla os cofres públicos? Ou é apenas conicidência e o papai noel vai dar presente pra todo mundo?
O advogado de defesas, pago pelo PMDB nacional, foi o ex-ministro do TSE Fernando Neves, que defendeu a elegibilidade de candidatos ficha suja http://eleicoes.uol.com.br/2008/ultnot/2008/08/07/ult6008u69.jhtm
Se quiser ter mais informações sobre a o que aconteceu em Braço do norte:
http://www.verdevaleam.com.br/?p=1469 (decisão do TSE)
http://www.verdevaleam.com.br/?p=1488 (entrevista do candidato sujo cassado Ademir Matos)
São arquivos da Rádio Verde Vale, de Braço do Norte.
Uma correção: o segundo colocado não pode ser diplomado, uma vez que os votos nulos (anulados e votados no candidato cassado) somam 60%, anulando a eleição. Uma nova eleição deverá ser marcada para a definição do prefeito da cidade de Florianópolis.
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