terça-feira, 31 de julho de 2007

Terça

E O IÇURITI, HEM?
Pois não é que o ingrato do Içuriti nem me ligou pra avisar que estava escrevendo a cartinha de demissão? Fiquei sabendo por outros colunistas que o presidente da Codesc resolveu se afastar. Logo eu, que durante tanto tempo ofereci generoso espaço para que ele explicasse o ímpeto governamental na defesa dos bingos, fui um dos últimos a saber.

Quer dizer, ontem à tarde ele ainda não tinha entregue a carta ao governador. Portanto, pode ter mais gente supreendida pelo gesto. Bom, talvez surpreendida, não, porque a queda do Sussu estava mais anunciada do que a queda do avião.

O Içuriti (ao lado num 3x4 do tempo em que era vereador) sai da presidência da Codesc, mas se mantém onde sempre esteve: no centro do poder. E nem poderia ser diferente, afinal ele é o tesoureiro do partido do governador. Leal e discreto (nenhum tesoureiro sobrevive se não souber guardar segredos), será cuidadosamente recolocado. Não fiquem preocupados: LHS não deixará o Içuriti no frio, sem emprego.

E O PAVAN, HEM?
Ao revirar as origens da Agência que não regula nada, o Brasil descobriu que o senador que recomendou a aprovação do petista Zuanazzi como presidente da Anac foi ninguém menos que o tucano Leonel Pavan (ao lado num 3x4 do tempo em que usava gorrinho e babador). Ele foi o relator do processo, no Senado. Uma rotina que deveria ser de fiscalização e controle, mas acabou sendo apenas de homologação da escolha governamental.

O que espanta não é o Pavan ter falado bem do Zuanazzi, afinal ele poderia não conhecer direito o cara. Mas a gente fica de queixo caído é com o fato de um senador, teoricamente de oposição, ter dito um amém tão disciplinado à indicação petista.

Vocês certamente lembram de discursos do Pavan, em campanha pelo Alckmin, onde ele desancava o jeitão Lula de ser. Aí, quando lhe cai nas mãos a oportunidade histórica de sabatinar o presidente da primeira e única agência reguladora criada no governo Lula, o nosso senador recolhe as armas...

Os petistas, Lula inclusive, desancaram as privatizações e as agências reguladoras criadas no governo do tucano FHC. E um tucano desperdiça a oportunidade de fazer os adversários suarem frio por alguns momentos. Se não queria dar o troco, pelo menos deveria montar no cavalo que passava encilhado à sua frente e galopar alguns metros. Mas não. Ficou a pé.

Enganou-se o senador, ao avaliar que bonde deveria tomar: achou que seria uma oportunidade de ficar bem com o trade turístico, com o ministro do Turismo, sei lá com quem. Um ano e pouco depois, fica mal na foto com um monte de gente, que acha que, se o Brasil tivesse uma agência reguladora que regulasse, com uma diretoria de gente melhor preparada, nossas desgraças seriam menores e o caos aéreo não chegaria a estas proporções.

BAGUNÇA
Tem gente dizendo que a Anac não teria muito a fazer, mesmo se tivesse funcionado direito. Ora, a TAM e a Gol tomaram conta do campinho porque faltou regulação, fiscalização, controle. A TAM relaxou manutenção, reduziu exigências para contratar pilotos, fez o diabo, agarrada aos lucros incessantes e crescentes, porque ninguém a incomodava. Ninguém a mandava colocar os pés no chão. A falta de respeito com o consumidor, por exemplo, que vem de desde antes do acidente da Gol, só floresceu e se instalou porque, na Anac, estavam amigos, gente de confiança, sem compromisso com o usuário.

“FICA, MEU FILHO...”
Parece piada, mas não é. O presidente da Anac foi falar com Lula, para saber se deveria se afastar. Lula passou-lhe a mão na cabeça, acalmou-o e mandou-o ficar. Teremos que engolir o Zuanazzi até 2011. E, é claro, o eleitor, este ente misterioso, continua achando Lula o máximo. Tadinho, não tem nada a ver com o que está aí.

Com esta, Lula alivia um pouco a barra do Pavan: o senador facilitou a entrada do Zuanazzi, mas foi Lula, pessoalmente, que o manteve.

CANSEI!
Tão falando num movimento “cansei!”, pra protestar contra o que está aí. Tudo bem. Só que tem gente que fala e grita mas, na hora agá, reelege o homem. A hora do “Fora Lula” era na urna. Agora, resta-nos sentar no meio-fio e chorar. E esperar a próxima eleição.

sábado, 28 de julho de 2007

Sábado, domingo e segunda

A foto da posse é de 2006, a dos cadáveres carbonizados, de 2007. Caso vocês não conheçam, à esquerda, atrás do Lula e mal disfarçando a ansiedade, o presidente Zuanazzi, que não disse a que veio. À direita, a vice-presidente Abreu, protegée do Zé, apreciadora de charutos e desastrada ao falar. E na extrema, o Leur Lomanto, ex-deputado baiano, relator da lei que criou a Anac e o cargo que ele ocupa. Muito amigo do LHS e do Walmor de Luca, Leur é pai da diretora de RH da Secretaria de Estado da Administração de Santa Catarina.
(Se clicar na foto abre-se uma ampliação)

ESSES GAÚCHOS...
Olha eles aí: o novo ministro da Defesa é de Santa Maria, cidade no centro do Rio Grande do Sul de onde se originou também a família Genro, do ministro da Justiça. A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, é uma gauchona típica, disposta e sem papas na língua. Os três orgulham-se de suas histórias pessoais e profissionais e preparam-se para vôos mais altos (que dependerão, naturalmente, das pistas e temporais que encontrarão pelo caminho).

E estão, portanto, em campanha. São adversários, no seu estado. Mesmo que estejam no mesmo governo federal. Dois deles no mesmo partido. Essa competição é, em princípio, saudável. Faz com que cada um queira mostrar serviço e mostrar-se competente.

(Atualização do sábado: antes que os gaúchos me apedrejem deixa esclarecer que embora a Dilma tenha feito sua carreira político/administrativa no RS, onde adquiriu boa parte do seu jeito gaudério de ser, ela é mineira de nascimento)

Um quarto gaúcho do governo, no entanto, destoa completamente do trio principal. É o presidente da Anac, figura patética, que faz dupla com aquela senhora fumadora de charutos do Zé Dirceu. Colocado num posto inamovível pelos ínclitos senadores da República, é agora uma espécie de cadáver ambulante, resmungando ameaças surdas pelos cantos.

Sem hombridade para demitir-se, mesmo depois da “sugestão” de Lula, sem coragem para largar a boquinha, é capaz de ficar até o último dia do mandato, mais ou menos como aqueles guaipecas rastaqüeras que, rabo entre as pernas, não se afastam do bolicho, voltando sempre que são chutados para fora.

POR QUE SÓ AGORA?
Desde 2003 há documentos prevenindo o governo sobre os problemas com o controle aéreo. Desde antes há queixas sobre a pista de Congonhas, especialmente quanto à sua extensão e localização. Desde sempre soube-se que a substituição do DAC (com controle da Aeronáutica) por uma agência loteada entre partidos políticos, daria em m. (ah, que falta faz o ministério do Vai dar Merda...).

Desde a queda do avião da Gol a crise instalou-se de mala e cuia. Mas nada aconteceu. Nada de nada.

Tudo o que foi feito depois da explosão do avião da TAM, deveria ter sido feito antes. Poderia ter sido feito antes. Sabia-se, antes, que precisaria ser feito. Mas nada aconteceu. Nada de nada.

OS CHORÕES
E aí, quando a gente critica o governo, ou algum ministro, lulistas vêm com aquela cantilena de “terceiro turno”. Como se os votos que elegeram Lula tornassem seu governo imune a críticas. Acham que podem errar o quanto quiserem, mas não podem ser criticados, porque o “povo” deu-lhes um mandato blindado. “Essa gente que fala do Lula não aceita que ele venceu as eleições duas vezes, querem derrotá-lo no tapetão, no terceiro turno”, resmungam aqui e ali.

Lula será derrotado, se o for, pela incompetência de vários de seus auxiliares, que botam mais água para dentro do barco do que tiram. E, jogados nas cordas, nem querem saber de remar.

ALMOXARIFADO
O Secretário do Desenvolvimento Regional de Itajaí, João Olindino Köeddermann ligou-me para explicar aquela história de almoxarifado terceirizado. Na nota (“Terceirização”) publicada ontem, eu registrei um ato publicado no Diário Oficial do Estado, onde se fica sabendo que a SDR contratou uma empresa para armazenar e distribuir regionalmente o material comprado pelo governo.

O secretário informou que a contratação da empresa de armazenamento e logística atende a uma recomendação do Tribunal de Contas, feita a todas as secretarias regionais, para organizar a guarda dos bens e a sua entrega aos vários municípios. Afinal, depois da terceira reforma administrativa, as SDR ganharam mais autonomia, inclusive orçamentária, e estão fazendo compras. Como não têm um almoxarifado central, foi preciso contratar.

Pelo que explicou o Secretário, a operação tem dotação específica, tem lógica e seguiu todos os ditames das melhores práticas administrativas. Mas, cá entre nós, ficou quicando uma bolinha que, a qualquer momento, poderá ser chutada pela oposição: é uma despesa que não existia antes da criação das SDR. Um complicador a mais para a argumentação de que a descentralização não aumentou os gastos.

O EMPOLGADO
Já que estamos falando em SDRs e bolas quicando, esta historinha é insuperável: o governo distribuiu ontem, pelo seu serviço de notícias, um texto surrealista, criado pela assessoria de imprensa da SDR de Canoinhas. Dá uma lida:
“Eufórico com a performance do seu afilhado Tiago Faria, no programa Ídolos, do SBT, e a sua classificação entre os cinco melhores candidatos de 2007, na edição do dia 19, o vice-prefeito de Canoinhas e secretário de Estado do Desenvolvimento Regional, Edmilson Verka, no dia 25, entregou pessoalmente ao governador Luiz Henrique um ofício, pedindo apoio oficial do Estado na divulgação do nome do jovem talento canoinhense.”
No ofício que entregou, o zeloso padrinho dá até o embasamento legal para a corujice explícita:
“amparado no artigo 215 da Constituição da República Federativa do Brasil, os artigos 9º, 10 e 173 da Constituição do Estado de Santa Catarina, peço o seu apoio na divulgação deste fato, lembrando que, se cada um dos mais de 5 milhões de catarinenses der o seu voto, Tiago Faria será o novo ídolo do Brasil, carregando consigo a cultura e o nome de Santa Catarina.”
Fiquei curioso para saber que tipo de ajuda o LHS poderia dar. Será que o Verka pretende que o governo libere os telefones de serviço para que a turma ligue e vote no afilhadinho? Ou o Verka espera que o governo pague as ligações, que não são baratas?

PASSAPORTE À VISTA

Outra coisa que a gente não entende por que não fizeram antes: o Serpro montou, para a PF, um sistema de agendamento de passaportes pela internet. Começou a funcionar ontem. Bom, parece que esta crise, pelo menos, está se encaminhando para um final.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Sexta

COMO É QUE É?
Só pra não dizerem que eu larguei de malhar no ferro frio do governo local e que agora só me ocupo de temas federais, deixa eu fazer dois pequenos e rápidos registros.

IRREGULARIDADE – A Procuradora Geral do Estado acaba de anular o resultado de uma “licitação por carta-convite” na regional de Itajaí, por causa de (pasmem!) “irregularidade”.

Isto significa, se entendi direito, que a Procuradoria cometeu uma irregularidade. Menos mal que a própria procuradoria descobriu a tempo e anulou seus resultados. Mas não deixa de ser curioso que um instrumento tão simples como uma carta-convite (numa Procuradoria Geral) possa conter um desvio tal que leve à anulação do processo.

TERCEIRIZAÇÃO – Num outro ato, este registrado no Diário Oficial do último dia 12, o contribuinte catarinense é informado que a SDR de Itajaí (pura coincidência) contratou uma empresa de logística (HBR Armazéns), para cuidar do seu almoxarifado. Por R$ 13.900,00 por mês, a empresa fará o que, em outros tempos, os servidores estaduais que cuidam de tantos almoxarifados nas várias secretarias, fariam.

Deve ter algum benefício, esta modalidade. Imagino que, com isso, a SDR deixará de contratar pessoal, ou mesmo dispensará servidores, obtendo uma economia superior ao gasto mensal com a empresa que assumiu o almoxarifado. Será?

PAU NA MÁQUINA

A Fesporte (a tal, presidida pelo famoso Quem?), embora loteada ora pra um, ora pra outro partido, ainda pertence ao governo do estado. Ao mesmo governo que vive chorando pitangas, que não tem dinheiro para as baratinhas da polícia, que tem dificuldade para pagar os fornecedores.

Pois a Fesporte achou que deveria trazer de novo o Felipão a Santa Catarina, desta vez para permitir que alguns servidores, escolhidos a dedo, pudessem assistir, de graça, à palestra “Time de Máquinas”, do grande treinador, que é também garoto-propaganda do estado.

E o trouxe, no começo de julho. Ele até esteve visitando o Pavan (na foto acima).

Como eu sou um sujeito otimista, que acredita na humanidade achei que estavam cobrando ingressos para que o governo, que já gastou uma banana quando trouxe o treinador para uma Semana do Servidor, há poucos anos, não tivesse que novamente gastar com isso.

Lêdo engano. Fiquei sabendo ontem que a Fesporte pagou, na bucha, R$ 80 mil à Zaz3 Produtora Ltda. e ainda, de quebra, deu-lhe toda a arrecadação da bilheteria. Segundo o chefe de gabinete do presidente da Fesporte. o Leonardo Silva, os R$ 80 mil eram só para pagar o cachê do técnico. E a bilheteria, para que a produtora pudesse pagar o resto: passagens, hospedagem, etc.

Mas ele me tranqüilizou: “não teve quase procura pelos ingressos, foram vendidos uns 500, no máximo”. Ah, bom... Peraí, e aquele povo todo que estava lá assistindo? “É que a gente distribuiu 2.500 ingressos de cortesia para servidores públicos, que de outra forma não teriam oportunidade de assistir à palestra do Felipão”, disse o assessor.

E aí a pulga que mora atrás da minha orelha sussurrou-me: “pergunta qual foi o critério para a distribuição dos ingressos gratuitos!” E eu perguntei.

“Nós distribuímos um certo número de ingressos para cada secretário regional, para os secretários centrais, para os deputados (?) e eles se encarregaram de distribuir entre seus servidores. O Secretário da Educação, por exemplo, recebeu 200 ingressos para distribuir”, respondeu ele.

Bom... assim, à primeira vista, parece que a Fesporte usou dinheiro público para que os secretários fizessem um agrado seletivo, premiando alguns servidores. Mas devo estar errado: LHS jamais permitiria uma coisa dessas.

DÁRIO INVESTIGADO
O Procurador-Geral de Justiça, Gercino Gerson Gomes Neto iniciou uma Investigação Criminal para ver se, afinal, o Dário meteu ou não a mão no baleiro (ou os pés pelas mãos). Será uma tarefa para o recém-criado Grupo Especial de Apoio (uma espécie de swat do MP) para atuar nos casos em que o investigado tem foro especial.

No caso do Dário, o povo quer saber, e cabe aos procuradores encontrar respostas para duas questões principais. Uma, é se o prefeito usou seu cargo e influência para favorecer o interesse privado, aprovando a lei da hotelaria. Outra é se a Lei de Responsabilidade Fiscal foi cumprida: para um prefeito dar desconto em algum imposto (a tal “renúncia fiscal”), precisa dizer, na lei, de onde virá o dinheiro que vai cobrir o rombo.

Dário jura que é inocente. Espero que logo se comprove se é mesmo.

Não posso deixar de retribuir a “gentileza” do colega Túlio Cordeiro, que publicou, na sua coluna, uma foto onde apareço devidamente fantasiado, na recente festa julina do DIARINHO. Pois aí, na foto acima, está o Túlio, na mesma ocasião.

E já que isto aqui virou mesmo uma coluna social, registro acima o encontro dos dois colunistas de esporte do jornal (na festa, mas sem fantasia). À esquerda, o também radialista Aldo Pires de Godoy e, à direita, o Mário Medaglia. Entre um quentão e outro, passavam a limpo as mazelas dos vários esportes.

Dica: quem não é assinante do Diarinho ou está longe do litoral catarinense, pode ler a coluna do Medaglia (Batendo Forte) no blog dele: mariomedaglia.blogspot.com

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Quinta

PERDÃO, LEITORES
Ontem não teve coluna. Mil perdões a todos os 7 leitores e 22 leitoras que, até onde sei, são assíduos, críticos e fiéis. Verão, nas notas abaixo, o enrosco em que me meti, motivo de ter dado bolo em todo mundo.

NO CHÃO
Como tantas outras famílias, a minha também teve que se virar para resolver os problemas criados pela completa bagunça pré-falimentar do sistema aéreo brasileiro.

Minha filha economizou uma graninha, aproveitou o dólar barato e comprou uma passagem para encontrar seu namorado, um catarinense, estudante de Engenharia Mecânica da UFSC, que faz o estágio de final de curso na Bosch, em Stuttgart, na Alemanha.

Como toda passagem aérea internacional, a dela tinha um trecho doméstico, entre Florianópolis e Guarulhos, que deveria ser honrado pela TAM, empresa parceira da Alitalia.

O que aconteceu? Ora, a TAM simplesmente cancelou o vôo marcado e não ofereceu qualquer opção. Isto, por incrível que pareça, tem sido o dia-a-dia de milhares de passageiros das companhias aéreas brasileiras: o que está escrito nos contratos, que são os bilhetes de transporte aéreo, passa, de uma hora para outra, a não valer mais nada.

Sem avião, com todos os ônibus para São Paulo lotados, ela corria o risco de perder dinheiro (remarcações de última hora geralmente têm multas) e tempo (as férias, ao contrário dos vôos da TAM e da Gol, têm data certa para terminar).

PÉ NA ESTRADA
A solução que o conselho familiar encontrou foi pegar um carro e botar o pé na estrada. Afinal, de Florianópolis a São Paulo são umas sete horas de viagem. Nada extraordinário.

Fizemos uma madrugadinha na terça-feira e, como eu sou o motorista da casa, fiquei encarregado de conduzir a viatura até Guarulhos, sem arremetidas, sem derrapagens e sem atrasos ou cancelamentos.

Para mostrar ao governo e a todos os organismos que bagunçaram a aviação, que a gente gosta de coisas que funcionem direito, fizemos uma viagem completamente pontual. Ela tinha que chegar ao aeroporto às 13h. Pois bem, às 13h estava chegando à fila do check in.

Para nossa tranqüilidade, a Alitalia resolveu fazer sua parte: o avião que tinha partida marcada para 15:05, começou a mover-se em direção à pista exatamente às... 15:05! E ainda chegou em Milão alguns minutos antes da hora prevista (deve ter pego algum vento a favor sobre o Atlântico).

O vôo para a Alemanha saiu, ora vejam só, que coisa estranha, também no momento combinado. E, como estava planejado há alguns meses, ela chegou à cidade onde deveria chegar, no dia e na hora que constam do bilhete. Podem acreditar, isto acontece em várias partes do mundo. Menos aqui, é claro.

CAOS VIÁRIO
A viagem por terra serviu para muitas reflexões sobre a situação em que estamos todos metidos. O mesmo governo (e aí, por favor, lulistas e tucanos, enfiem a carapuça todos os que, nos últimos 50 anos, ocuparam algum cargo de responsabilidade na República) que deixou-nos sem transporte aéreo, faz de tudo para deixar-nos sem transporte rodoviário.

A rodovia Régis Bittencourt é uma espécie de Congonhas terrestre. A estrada, que liga Curitiba a São Paulo, concentra todo o trânsito entre o Sul e o resto do País e vice-versa.

O piso da estrada está, em vários trechos, completamente esburacado. Como estava há dez anos. Como sempre esteve. Os remendos são feitos com açúcar ou rapadura. A chuva os dissolve rapidamente. A serra que se sobe para chegar a São Paulo, continua com pista única, igualmente esburacada. E um volume absurdo de caminhões se espreme naquela estradinha ancrônica. Qualquer evento gera engarrafamentos-monstro. Ontem, um conserto numa das pistas do trecho duplicado, atrasou nossa viagem de regresso em uma hora.

Basta conversar com motoristas de ônibus e caminhão e vocês ouvirão histórias sobre horas e horas de espera, atraso e perigo. Tal e qual como quando se conversa com pilotos sobre Congonhas. E a estrada também tem seus cadáveres: não é chamada de “rodovia da morte” à toa.

ÁREA DE ESCAPE
Congonhas não tem a tal “área de escape”. A rodovia Régis Bittencourt, em vários trechos, também não tem área de escape. Mas Lula, ficamos sabendo agora, tem sua área de escape: com medo do Sul, tratou de arranjar um “tour” por cidades de confiança do Nordeste. A sua área de escape.

terça-feira, 24 de julho de 2007

Terça


BRASIL X ARGENTINA
Tá empatado, o jogo do descaso e da crise aérea. Segundo o influente The Washington Post, a bagunça que existe no controle do tráfego aéreo é semelhante nos dois países.

Na Argentina, o único grande radar de controle aéreo pifou e está desativado há meses. O governo fala em pedir um emprestado da Espanha, até conseguir resolver o caso, “ainda este ano”. Os controladores argentinos, tal como os brasileiros, queixam-se de trabalhar em condições que aumentam o perigo para quem voa (e, naturalmente, também para quem está embaixo, que pode, a qualquer momento, receber um avião na cabeça).

No Brasil, a ratalhada instalada no governo ri e se regozija. A TV Globo mostrou o assessor direto de Lula comemorando o defeito no reverso e a Veja mostrou os chefes da Infraero em Congonhas, olhando para o fogo e rindo a bandeiras despregadas.

Entidades internacionais já falam que o Brasil deveria aceitar ajuda externa para resolver o caso. Países sérios, como a Suíça, quando tiveram problemas de controle aéreo, pediram ajuda internacional. Uma intervenção estrangeira idependente evita que as pressões políticas locais possam atrapalhar a tomada de decisões. Mas, no Brasil, onde até agora nada se fez além de falar, dificilmente se fará alguma coisa.

ERA UMA VEZ...

Os jovens, ao ver tanta confusão e incompetência no gerenciamento da infraestrutura aérea brasileira podem achar que sempre foi assim. Não foi.

Permitam-me tomar o tempo de vocês e o precioso espaço deste jornal para reunir algumas reminiscências aéreas. Convido-os a viajar comigo no tempo. Não sou especialista em aviação, mas gosto muito de “andar” de avião. E não gostaria que vocês pensassem que avião é mais perigoso que outros meios de transporte.

ALGODÃO E CHICLETES

Passei meus dez primeiros anos de vida em Tubarão, no sul do estado. De 1953 a 1963. Lá, em alguns fins de semana, meu pai me levava ao “campo de aviação”, um campo de pouso com algumas construções simples. Num hangar, conheci o teco-teco (um pequeno avião monomotor) do seu Pacheco. Um piloto local que, como qualquer piloto de aeroclube em qualquer país do mundo, não se separava dos seus óculos rayban verde-escuros, com armação de metal e uma jaqueta de couro com gola de pele.

E era lá também que ia levar e buscar minha mãe, funcionária pública federal, que de vez em quando tinha que ir a Florianópolis. Ela ia de avião, usando as linhas regulares da Transportes Aéreos Catarinenses (TAC), a bordo de um Douglas DC3. De avião era possível ir às principais cidades catarinenses. Mesmo à longínqua Chapecó.

Foi num DC3 que fiz minha primeira viagem. Para Florianópolis. Esse avião tinha dois motores muito barulhentos. Logo que a gente entrava, recebia umas caixinhas com chicletes (rezava a lenda de então que mastigar ajudaria a evitar os problemas de altitude nos ouvidos) e algodões, para reduzir um pouco o ruído. No mais, o interior não parecia em nada com o dos aviões que vieram depois.

E, um outro problema sério: o DC3 não tinha a cabine pressurizada e voava relativamente baixo. Não conseguia escapar das turbulências, que o faziam chacoalhar como um jipe numa estrada esburacada. Os saquinhos para enjôo eram usados com freqüência.

Mas, mesmo com toda essa precariedade, o serviço funcionava muito bem. Durante todo o tempo que moramos em Tubarão, meu pai recebia, todos os dias, o jornal O Globo, que vinha do Rio de avião. E, toda semana, o Pato Donald e a revista O Cruzeiro também chegavam com pontualidade àquela cidadezinha que gostava de ser chamada de Cidade Azul.


VARIG, VARIG, VARIG

A empresa, que cresceu de uma maneira até hoje mal explicada, recebendo linhas retiradas da Panair do Brasil, cujo final também nunca ficou bem explicado (não faliu, foi fechada pelo governo), era, no seu período áureo, uma das melhores do mundo.

Quando morei em Brasília, no começo da década de 80, descobri um vôo para o Rio (e do Rio), que era feito com um Boeing 707 (usado nas rotas internacionais). Tinha o mesmo serviço dos vôos internacionais (diziam que aquele vôo era usado para treinar as tripulações de cabine), com talheres de metal, guardanapos engomados, bebidas de primeira e comida espetacular.

Mas, tal como anos depois aconteceu com a TAM, a Varig foi perdendo eficiência, o cliente deixou de ser paparicado, os funcionários não escondiam seu mau-humor. Era famosa a constatação, entre viajantes internacionais: nos vôos da Varig que saiam do país, as aeromoças e aeromoços tratavam a gente com frieza, mas com correção. Nos vôos de volta só faltavam jogar as bandejas no colo dos passageiros. E ai de quem resolvesse reclamar.

SAUDADES DO ROLIM
Acompanhei muito de perto o crescimento da TAM. Morava em São Paulo e encheu-nos a todos de ânimo e alegria ver o entusiasmo com que o Comandante Rolim ia encontrando brechas, no fechado mercado aéreo de então, driblando, com seu carisma e seu talento de marqueteiro, a Varig, a Transbrasil e a Vasp.

De manhã cedo, ele ia pessoalmente à sala de embarque, cumprimentar seus passageiros. Ficava na porta do avião desejando boa viagem. Mandou colocar poltronas de couro nos Fokker 100, que vieram substituir os turbo-hélices (Fokker 50) com que começou a expandir seus negócios. A gente sabia que, se reclamasse para o Comandante Rolim, ele ia dar um jeito de consertar o que nos incomodava. Era uma época em que a empresa lutava para se afirmar e conquistar clientes e em geral eramos todos muito bem tratados.

Mas aí a Fokker faliu (em março de 1996), a TAM cresceu, o Rolim morreu (em julho de 2001) e os novos executivos revelaram-se uns idiotas da objetividade, como dizia Nelson Rodrigues. E tudo o que a TAM conquistou em termos de fidelidade e apreço, foi pelo ralo. E continua indo.

Se eu fosse acionista da TAM, trataria de encontrar, rápido, um substituto para o Bolonhesa aquele.

PONTE AÉREA
Durante quase todo o tempo em que trabalhei na Gazeta Mercantil, em São Paulo e em Brasília, viajei muito de avião. Foram uns cinco anos com vôos quase semanais. Os mais freqüentes, para Florianópolis, claro.

Dava para marcar reuniões, para se programar, para organizar a vida, usando o avião: ninguém esperava que os aviões atrasassem. Ao contrário, o normal era que eles funcionassem direito.

Claro que aconteciam problemas e atrasos, mas eram, de fato, ocasionais, nada parecido com o que se vê hoje, quando todos perderam completamente a confiança no transporte aéreo.

sábado, 21 de julho de 2007

Sábado, domingo e segunda-feira


DEBOCHE
A cena que a TV mostrou, de um “assessor” desmiolado do Lula comemorando o fato da morte de 200 pessoas poder ter outras causas além do descaso governamental, é bem o retrato intestino de quem dirige o País.

Danem-se os mortos e feridos, o que eles querem é mostrar que, apesar de não terem feito o dever de casa, não podem ser acusados de nada. Não porque não sejam culpados, mas simplesmente porque apostam na dificuldade de reunir provas.

Mesmo flagrado em atitude indecente, imoral e rasteira, o “assessor” imbecil pretendeu justificar-se, com uma cantilena que poderia ser usada por qualquer um de seus colegas que nos últimos anos têm sido flagrados cometendo delitos.

Não vale a pena mencionar o nome do pulha, para não ocupar espaço na memória. Mas é preciso ter muito claro, agora e sempre, que é deste tipo de gente de que o presidente se cerca.

VÍTIMAS ESQUECIDAS
É claro que a explosão de um avião lotado, causando centenas de mortes ao mesmo tempo, causa um impacto enorme e perfeitamente justificável. Mas, mesmo que ainda entre lágrimas e com a imagem impressionante da tragédia, não podemos deixar de lembrar que o Brasil, assim como cria condições para que os aviões se espatifem, é um dos campeões mundiais de mortes no trânsito.

Jazem, em nossas estradas, milhares e milhares de corpos. Mas como não morrem em grupos grandes ou de uma só vez, a gente acaba não tendo uma idéia clara do tamanho do desastre. Num ano, em 2005, morreram nas estradas mais de 35 mil pessoas.

Mal comparando, seria como se, a cada ano, caíssem 175 aviões lotados, como esse que desabou em Congonhas. Algo assim como ter, ao longo do ano, um acidente como aquele a cada dois dias.

As causas dos acidentes no chão são tremendamente estúpidas: assassinos e suicidas imbecis que dirigem bêbados, cérebros de minhoca que aceleram a 130 km/h carrinhos feitos para andar, com alguma segurança, a 80 km/h, palhaços de pau pequeno que se metem a dirigir carros muito acima de sua capacidade mental e física. E os pobres coitados, que se enchem de droga para continuar dirigindo caminhões por dias e dias, só ajudam a aumentar a estatística, com a sua arma mortífera de várias toneladas e 18 pneus.

Santa Catarina é um dos três estados brasileiros onde mais gente morre em acidentes de trânsito. Basta trafegar em qualquer de nossas estradas para entender por quê. Quem dirige bem, é considerado um marcha-lenta. Quem ultrapassa perigosamente, acelera além do razoável e inferniza a vida dos demais motoristas e dos pedestres, é considerado um “ás do volante”.

Para que a gente veja como a coisa tem piorado: em 1994 ocorreram 29,5 mil mortes em acidentes de transporte. Dez anos depois, em 2004, o número macabro chegou a 35,7 mil. O aumento, de 20%, foi maior que a taxa de crescimento da população no período, que foi algo em torno de 16%.

Os governos nada têm a ver com isso. As estradas são maravilhosas e bem fiscalizadas. A culpa é toda nossa.

CASO SANITÁRIO
A prefeitura de Florianópolis resolveu montar uma comissão para apurar os atos de vandalismo praticados por servidor ou servidores municipais no gabinete do Prefeito Dário Berger.

Até aí nada demais. É perfeitamente normal que isto aconteça, até porque a lei manda não deixar a coisa em brancas nuvens.

Já ia passando adiante a página do Diário Oficial do Estado do dia 11 de julho, onde estava a portaria 229, que designava a comissão, quando caiu a ficha. Voltei e conferi. Reli. E, de fato, tava lá: quem assina a portaria criando a comissão para examinar o fato ocorrido no gabinete do Prefeito, é o Secretário da Saúde. Aí eu já não entendi mais nada. Como assim?

Vou passar o final de semana angustiado e quero compartilhar a angústia e o suspense com vocês. Só na segunda-feira vou conseguir falar com alguém que me explique por que diabos vandalismo no gabinete do Dário virou caso de saúde pública? Será que ocorreu alguma reforma administrativa e ninguém me contou?

Bom, vai ver que agora, os atos administrativos relativos ao gabinete do prefeito serão de responsabilidade do secretário da Saúde e os atos administrativos da área da Saúde serão assumidos pela secretaria de Obras e assim por diante.

Não é um danado dum mistério?

TÁXI!
Um leitor perguntou por que eu ainda não falei sobre aquele rolo da venda de licenças para táxi na capital. Ora, não falei porque ainda não entendi direito e não consegui alguém que me explicasse. Mas vou ver se consigo saber alguma coisa mais.

Por enquanto, parece que boa parte da confusão vem de uma visão um tanto quanto hipócrita e corporativista. Tem gente reclamando que investidores de todo tipo estão concorrendo às licenças. Ora, táxi é um excelente negócio, ainda mais numa capital como Florianópolis, que tem tarifas altíssimas e um número enorme de maus motoristas de táxi. Quando a gente encontra um educado, que trabalha com correção e sabe atender o freguês, trata de não soltar mais, porque é raridade. Existem, mas infelizmente são minoria.

Então, não é difícil entender por que tanta gente quer ter um táxi. Mas é difícil entender por que o amigo de um sujeito que já é motorista de praça é considerado candidato legítimo e outro, que fez carreira em outra profissão, não é. E olha que não é impossível que um dentista, ou um advogado ou um comerciante, administre melhor o carro e os motoristas que empregar para mantê-lo rodando, do que muitos daqueles que se acham com mais direito.

Mas isso não se pode falar em voz alta, porque tem gente que acha que táxi, tal como os boxes do mercado público e os cartórios, é capitania hereditária: passa de pai pra filho ou, no máximo, para amigos muito chegados. Os outros, ora, os outros são todos intrusos.

Bom, mas já estou de novo dando palpite sem ter estudado direito o assunto. Pode ser que esteja mesmo rolando uma bandalheira qualquer. Afinal, se tem alguma coisa que tem cada vez mais é fraude em concurso, desvio de verba, caixa 2 e gente dizendo que é inocente.

DEINFRA NA MIRA
Pode até ser que o Deinfra nem esteja entre os órgãos que o Ministério Público Estadual está investigando em sigilo sigilosíssimo, mas, aqui fora, a turma não larga do pé do seu Romualdo e demais diretores. Não tem uma semana que alguém não escreva ou telefone perguntando se não vai rolar alguma “operação Deinfra”.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Sexta

SEUS INGRATOS!
Só porque o presidente Lula teve que ficar de resguardo, longe das câmeras e microfones por conta de uma delicadíssima cirurgia de terçol, os maledicentes da oposição ficam espalhando que ele não tem o que dizer sobre o desastre da TAM. E outros, ainda mais venenosos, estão colocando no governo uma culpa que, conforme se verá (um dia), Lula não tem.

Em defesa do presidente, recolhi e publico fotos onde ele demonstra não só que sabe dirigir o país (foto abaixo), como também aviões, submarinos e várias marcas de carros e caminhões. Não tem sentido afirmar, portanto, que o País, com Lula na direção, está sem rumo.

(Na fotinha menor à direita, Lula experimenta um quepe de comandante da TAM, sob o olhar embevecido do ex-primeiro ministro Zé. A foto acima, de março de 2005, no hangar da TAM, mostra, à direita, o presidente da empresa, aplaudindo as manobras que Lula ensaia com a maquete do Airbus. Os fãs do Lula podem ver melhor as fotos: é só clicar sobre elas que se abre uma ampliação.)

Lula preocupado com a governabilidade.

Pronto para pilotar o ERJ 145 do Correio Aéreo Nacional

Pronto para pilotar um Fiat, sob o olhar atento do Aecinho.

Pronto para pilotar um submarino.

Pronto para pilotar uma baratinha da polícia rodoviária.

Pronto para pilotar um caminhãozinho Hyundai, da Caoa.

Reflexão de última hora, e que ninguém nos ouça: um cara que é aplaudido até quando brinca de aviãzinho ou senta, de brincadeirinha, ao volante de um carro de polícia, tem toda razão em ficar magoado com as vaias orquestradas (no sentido de afinadas, no tempo certo e bem ritmadas) do Maracanã.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Quinta

O prefeito de Florianópolis renovou por 20 anos o contrato com a Casan. A “capitulação” foi comemorada como se o Dário já estivesse no PMDB.
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MAIS UM REMENDO
Vejam só como são as coisas. Lembram que o presidente da Santur, às vésperas da cassação de seu mandato de vereador (que ocorreu dia 3 de julho), viajou para os Estados Unidos? Disse que foi a serviço, num compromisso inadiável (embora não previsto). E voltou reclamando que não teve como se defender porque tocaram-lhe o pé na bunda sem que ele estivesse presente. O juiz a quem o Marcilinho pediu arrego, levantou a suspeita que a viagem pudesse ter sido arranjada às pressas, só para criar um pretexto para pedir a anulação da cassação.

Pois bem, adivinha o que está no Diário Oficial do Estado que começou a circular anteontem (vergonhosamente com a data de 5 de julho)?

Um estranhíssimo e peculiar ato do Poder Executivo, assinado pelo governador interino Leonel Pavan, com uma autorização retroativa para que o Marcilinho se afaste do País!

COMO É QUE É?

Todo servidor público precisa, para sair do país a serviço, de uma autorização superior. No caso do servidor estadual, do governador. Conforme reza a lógica, autorização é dada antes do fato ocorrer. Se o cara sai do país antes de ser autorizado, está ilegal.

Pois o ex-presidente Marcilinho, que viajou às pressas dia 30 de junho, só foi “autorizado” a sair no ato (nº 1.424) assinado dia 5 de julho. Editado, portanto, dois dias depois da sessão que cassou-lhe o mandato e cinco dias depois dele ter deitado o cabelo rumo aos isteites.

Nem vou entrar (agora) na discussão do Diário Oficial ter circulado com 12 dias de atraso.

Mas não posso deixar de me espantar e admirar com os termos do tal ato. Nele, o governador Pavan não autoriza, como deveria e poderia, o afastamento do servidor. Ele apenas “considera autorizado”, o afastamento. E revela, ao usar o verbo no passado (“que participou de eventos nos Estados Unidos”), que é, de fato, posterior aos tais “eventos”.

CARA DE PAU
Tudo indica que se trata de uma peça de ficção administrativa, engendrada para dar aparência legal a uma fuga desesperada ou então, como suspeitou o juiz, muito bem premeditada. Só que, assim como o ex-diretor da Codesc foi ao Uruguai sem pedir ordem a ninguém (e depois teve que arrumar uma licença fajuta, alterando uma ata), o ex-presidente da Santur foi aos Estados Unidos sem ter recebido a necessária permissão (e seus amigos tiveram que inventar esta autorização retroativa).

E, para efeitos legais, o fato dele eventualmente ter trocado telefonemas com LHS e ter sido verbalmente autorizado (com um “vai, meu filho, te arranca que a gente segura as pontas por aqui”, ou qualquer outra frase de efeito semelhante), não conta. Vale o que está escrito, assinado, datado e publicado.

E por falar em assinar, a sorte do Pavan é que está todo mundo de olho no desastre de Congonhas, porque senão algum engraçadinho poderia inventar de incomodar sua Vice-Excelência. Afinal, ainda que o Marcilinho seja protegido do LHS, por coincidência (será?) era o Pavan que estava de plantão na hora de fazer a tal emenda, que acabou saindo pior que o soneto.

NAU SEM RUMO


(Os leitores do blog já conhecem o texto abaixo, publicado ontem aqui. Ele volta porque hoje eu o publiquei no jornal, com mínimas alterações. Se quiserem pular, em seguida tem coisa nova.)

Como esta semana estou editando o jornal, tenho fechado a coluna bem mais cedo que o habitual. Por isso não falei no desastre do avião da TAM, em Congonhas, que ocorreu no início da noite, na coluna de ontem.

Mesmo um dia depois, não posso deixar de, pelo menos, registrar o fato. E lamentar que faltem, em postos de responsabilidade “dessepaís”, homens e mulheres dignos de respeito. Temos vários, dignos de pena. Do presidente da Anac ao presidente da República, do presidente da Infraero ao presidente do Senado, passando por todos os subordinados, indicados por suas filiações partidárias, por suas filiações empresariais, pelo conhecimento que eventualmente tenham de segredos constrangedores dos que estão acima, ninguém demonstrou, desde o acidente com o avião da Gol, disposição séria e empenho conseqüente para evitar outros acidentes.

Neste, agora, colocarão a culpa no piloto que, falecido, não poderá se defender. Dirão que a pista estava perfeita e que ele arremeteu o avião por qualquer motivo que não as condições do aeroporto. Que foi uma fatalidade. Um acidente.

E quem não morreu, mas estava em Congonhas na hora, sofreu com a inabilidade da TAM para lidar com a crise, com o caos crônico da aviação, com a falta de respeito pelos cidadãos brasileiros. A polícia recomendava, à noite, que ninguém saísse do aeroporto, porque a falta de luz deixou a área mais perigosa que o habitual: assaltantes estariam se aproveitando da confusão para agir. E a TAM não conseguia remarcar passagens para quem ficou em terra, a não ser para depois de sexta-feira.

Poderá alguém dizer que isso não é nada perto da morte e do sofrimento das famílias e dos amigos das vítimas do acidente. Mas esse conjunto de fatos demonstra, exceto para os cegos que nos “governam”, que a nau está sem rumo. Estamos perdendo altitude rapidamente. E, ao que parece, estão tentando evitar o pior fazendo discursos e distribuindo culpas retóricas. No leme, nos remos, nos cabos das velas, sobre o mapa e o gps para tentar encontrar o rumo, ninguém. Ou, pelo menos, ninguém que saiba o que está fazendo.

Em breve, este novo “maior acidente da história da aviação” será apenas uma lembrança distante. Talvez seja usado na campanha eleitoral do ano que vem. Mas, além dos familiares, poucos cuidarão de ver se alguma coisa mudou, se alguma lição foi aprendida. Logo logo a imprensa muda de assunto, um novo foco de corrupção será revelado, e tudo volta ao “normal”. Para desespero daqueles que conseguem ver para onde estamos indo.

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“O que explodiu em Congonhas não foi não apenas o Airbus da TAM e suas quase 200 vítimas, mas a própria credibilidade do sistema aéreo brasileiro. Recompô-la exige, como premissa inadiável e inapelável, o afastamento imediato de todos aqueles que estão envolvidos na má gestão do espaço aéreo brasileiro. (...).

Não há outra palavra para designar a tragédia de Congonhas: vergonha!”
Cezar Britto, presidente da OAB

“Maior do que a tristeza, só a raiva de saber que assistimos, impotentes, a um assassinato premeditado. As vítimas foram, por acaso, os passageiros do vôo 3054; mas desde o acidente da Gol, ficou óbvio para todo mundo – menos, aparentemente, para as autoridades responsáveis – que novas tragédias estavam por acontecer. Um governo que dá prioridade às lojas e aos mármores dos aeroportos em detrimento da segurança, que permite a liberação de pistas inacabadas, que não consegue disciplinar controladores de vôo, que distribui cargos técnicos especializados a correligionários despreparados, não é apenas incompetente; é criminoso, mesmo.

Mas a culpa, vocês vão ver, vai ser do piloto.”
Cora Rónai, jornalista, O Globo, no blog InternETC

“A maior causa de mortalidade no setor aéreo brasileiro é um mal implacável chamado incompetência. A julgar pelo desnorteio do governo, trata-se de moléstia endêmica e incurável.(...) A menos que um milagre conduza à vacina, ninguém pode assegurar que o monturo de corpos não aumente.”
Josias de Souza, jornalista, Folha de S. Paulo, no seu blog

““Acidente”, segundo o dicionário Houaiss, possui a seguinte acepção: “acontecimento casual, fortuito, inesperado”. A tragédia ocorrida ontem à noite, portanto, não pode ser chamada de “acidente”. Não faltaram indícios prévios de que alguma nova desgraça envolvendo aviões poderia acontecer a qualquer momento.

Tarefa mais árdua do que o reconhecimento dos corpos será identificar, no jogo de empurra-empurra entre governo, Infraero, Aeronáutica, Anac e empresas aéreas, os irresponsáveis pela chacina de 17 de julho de 2007.”
Alexandre Inagaki, blog Pensar Enlouquece

“E agora, dona Marta Suplicy?
QUAL É O SEU CONSELHO?”
Ilton C. Dellandréa, blog Jus Sperniandi

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Quarta

Aos leitores: como esta semana estou editando o jornal, tenho feito a coluna bem mais cedo que o habitual. Por isso, na coluna publicada no DIARINHO (e reproduzida abaixo), não falo no acidente de ontem com o avião da TAM, em Congonhas.

Mas aqui há maior flexibilidade e não posso deixar de, pelo menos, registrar o fato. E lamentar que faltem, em postos de responsabilidade “dessepaís”, homens e mulheres dignos de respeito. Temos vários, dignos de pena. Do presidente da Anac ao presidente da República, do presidente da Infraero ao presidente do Senado, passando por todos os subordinados, indicados por suas filiações partidárias, por suas filiações empresariais, pelo conhecimento que eventualmente tenham de segredos constrangedores dos que estão acima, ninguém demonstrou, desde o acidente com o avião da Gol, disposição séria e empenho conseqüente para evitar outros acidentes.

Neste, agora, colocarão a culpa no piloto que, falecido, não poderá se defender. Dirão que a pista estava perfeita e que ele arremeteu o avião por qualquer motivo que não as condições do aeroporto. Quis, na certa, fazer alguma pirueta. Tomara que eu esteja errado e que o choque faça acontecer algum milagre.

E quem não morreu no acidente, mas estava em Congonhas, agora sofre com a inabilidade da TAM para lidar com a crise, com o caos crônico da aviação, com a falta de respeito pelos cidadãos brasileiros. A polícia recomendava, à noite, que ninguém saísse do aeroporto, porque a falta de luz deixou a área mais perigosa que o habitual: assaltantes estariam se aproveitando da confusão para agir. E a TAM não conseguia remarcar passagens para quem ficou em terra, a não ser para depois de sexta-feira.

Poderá alguém dizer que isso não é nada perto da morte e do sofrimento das famílias e dos amigos das vítimas do acidente. Mas esse conjunto de fatos demonstra, exceto para os cegos que nos “governam”, que a nau está sem rumo. Estamos perdendo altura rapidamente. E, ao que parece, estão tentando evitar o pior fazendo discursos e distribuindo culpas retóricas. No leme, nos remos, nos cabos das velas, sobre o mapa e o gps para tentar encontrar o rumo, ninguém. Ou, pelo menos, ninguém que saiba o que está fazendo.

Em breve, este novo “maior acidente da história da aviação” será apenas uma lembrança distante. Talvez seja usado na campanha eleitoral do ano que vem. Mas, além dos familiares, poucos cuidarão de ver se alguma coisa mudou, se alguma lição foi aprendida. Logo logo a imprensa muda de assunto, um novo foco de corrupção será revelado, e tudo volta ao “normal”. Para desespero daqueles que conseguem ver para onde estamos indo.

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CANSAÇO
Ontem tomou posse o senador-suplente do ex-governador e ex-senador Roriz. Chega coberto pelo manto furta-cor da suspeita, encrencado em uns quantos processos. Normal.

O presidente do Senado e tantos de seus pares, pensam que a gente está questionando o fato dele ser infiel no casamento. A gente só gostaria de saber qual o papel das empreiteiras na ilibada vida do senador.

O presidente Lula assumiu as dores da sua ministra e mandou a Peugeot tirar do ar o comercial que recomendava “relaxar e comprar”. O bom humor, ao que tudo indica, não é bem visto no Planalto. Parece aquela história do sujeito que levou uma vaia do patrão, chegou em casa e chutou o cachorro.

Lula, um sindicalista, acostumado a vaiar, revindicar, pressionar e manifestar seu descontentamento de inúmeras maneiras, agora que é presidente fica magoado porque descobriu que tem gente que não gosta dele ou de alguma coisa que ele fez. E o cordão de puxa-sacos, estimulado pelo próprio presidente, fica tentando encontrar justificativas, uma mais estapafúrdia que a outra. Ou estavam todos bêbados, ou foram todos pagos pelo prefeito Cesar Maia, ou obedeceram às ordens de alguma milícia terrorista, especializada em vaias.

ESSE PMDB...

O PMDB nacional é famoso por sua cara de pau. Reivindica cargos em troca de apoio e na hora do vamos ver, nem sempre apóia o governo. E agora o PMDB catarinense resolveu sair do armário e começar a se queixar publicamente que não está recebendo todos os cargos que merece. Visa, é claro, a campanha municipal e não liga se com isso abre um rombo na canoa da penca do LHS. Será que tem colete salva-vidas pra todo mundo?

COM O RABO DE FORA
Se a Receita Federal, o Ministério Público Federal e o Estadual estão mesmo dispostos a incomodar políticos que juram que nunca jamais receberam dinheiro “não contabilizado”, devem estar fazendo a seguinte continha:

A legislação diz que só podem ser doados, para campanha política, no máximo 10% do rendimento do ano anterior. Assim, se alguém tiver feito, oficial e legalmente, uma doação de, por exemplo, R$ 960 mil, precisará comprovar que, no ano anterior, teve uma renda de R$ 9,6 milhões. Vejam bem, não é patrimônio desse valor, é renda. E não é pra qualquer um, ganhar tanto dinheiro num ano.

Mas também pode não dar em nada. Afinal, este é o país da protelações, do emaranhado de recursos sem sentido e, claro, da impunidade.

É FRIA, ANDRINO!
O LHS ofereceu para o ex-prefeito e manezinho Edison Andrino, a presidência da Santur. Atrevo-me aqui a aconselhar que ele recuse com firmeza.

Desde o começo do governo LHS o Andrino tem levado caneladas, encostões, rasteiras e cascudos. Agora, querem que ele tape buraco, guardando lugar para a volta do Marcilinho. Vai por mim e sai dessa, Andrino!


DA SÉRIE: AULINHAS DO TIO CESAR
(OU, MAIS UM TIJOLÃO DE TEXTO QUE NINGUÉM VAI LER)

PALAVRAS QUE CONSOLAM

O genial pernambucano Carlos Estevão, que desenhava na revista O Cruzeiro (e ficou mais famoso quando, após a morte de Péricles, assumiu a tarefa de continuar desenhando O Amigo da Onça), desenvolveu vários personagens e séries. Um deles era o “Dr. Macarra, um figurão”, inesquecível variação sobre o tema do malandro carioca. Outra, a famosa “As Aparências Enganam”, em que a sombra parecia mostrar uma coisa e depois a gente via que não era nada daquilo (escrever sobre humor gráfico é assim mesmo, não tem como substituir a imagem e o leitor que nunca viu terá que imaginar o que a gente não consegue mostrar). E tinha também a série “Palavras que Consolam”. Era a minha preferida.

Palavras que consolam: vinha um sujeito atlético, tipo halterofilista, músculos definidos, de braço dado com um broto de fechar o comércio (para ficar na linguagem da época). Na outra calçada a dedicada esposa, ao lado do pobre marido raquítico consola-o: “exercício demais dá doença no coração, esse aí pode ter um infarto a qualquer momento”. Coisas assim.

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Pois lembrei-me da série do Carlos Estevão ao verificar que muito pouco se tem escrito para os coitados dos estudantes de Jornalismo, depois da decisão da juíza que odeia jornalistas, acabando com a regulamentação profissional. E depois das outras idas e vindas legais. Afinal, hoje ninguém pode afirmar com certeza se o jornalismo é uma profissão regulamentada ou não. Neste minuto é, mas daqui a pouco poderá não ser mais.

Imagina só: montoeiras de jovens estão, neste momento, no meio de um curso que prepara (ou deveria preparar) para exercer uma profissão que virou pó e que o vento sul está levando para o alto mar.

Podemos também imaginar, só para ilustrar e dar maior dramaticidade a esta crônica, que eu tivesse sido convidado para paraninfar alguma das milhares de turmas de formandos de Jornalismo em algum dos inúmeros cursos, de todos os tipos, qualidades e tamanhos que abundam no País. O que diria? O que poderia dizer?

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Acho que começaria pedindo desculpas, em meu nome e de tantos companheiros, por sempre ter dado a impressão que esta era uma profissão divertida, fascinante e apaixonante. Se nós todos, que habitamos as redações durante tantos anos, tivessemos tido um comportamento mais contido, talvez os jovens não tivessem sido atraídos para essa arapuca.

Continuaria a fase de penitência comentando como nos arrependemos de ter desafiado alguns poderosos e revelado alguns segredos e com isso feito crescer a lenda de que nesta profissão a gente faz isso todos os dias. E ajudado a construir mentiras que têm sido repetidas à exaustão: somos paladinos da justiça, cavaleiros do bem e da verdade, defensores dos pobres e oprimidos.

Talvez o erro mais grave tenha sido mesmo silenciar sempre que, em público, alguém fazia a clássica confusão entre jornalistas e empresas jornalísticas, falando num ente chamado “imprensa” como se estivesse sendo claro e preciso. Um exemplo: há coisa mais ambígua e cheia de subtextos que expressões como “liberdade de imprensa”?

Daí passaria para algo um pouco menos deprimente, para tentar, ao final de um ou dois parágrafos, arrancar alguns aplausos que acordem os pais, tios e madrinhas que já cochilam no calor da sala cheia.

É preciso dizer que, se os corretores de imóveis sentem necessidade de preparar-se melhor, se já estão falando até em exigir curso superior para permitir que alguém tenha sua autorização do Creci para servir de intermediário em negócios imobiliários, é porque nem tudo está perdido. Pode ser que, depois de compreendida a necessidade do estudo e do treinamento para mais umas dez ou vinte profissões, finalmente alguém volte a entender que o jornalista também deveria saber, pelo menos, escrever dois parágrafos sem cometer vinte ou trinta erros.

E que o jornalista deveria saber captar as informações e relatá-las sem aumentar um ponto, sem distorcer o sentido, sem transformar tudo numa confusa maçaroca de gerúndios, super gerúndios, ajetivos bajulatórios e informações incompletas.

xxx

Tudo é uma questão de tempo. E, no caso dos jornalistas, o tempo está nublado, sujeito a chuvas e trovoadas. Mas, como aprenderam os catarinenses de várias regiões, em várias épocas, por pior que seja a enchente e o desastre, é preciso limpar rapidamente o lodo e a lama porque daqui a pouco o sol volta e a gente não quer que os vizinhos pensem que a gente é relaxado. Não vai ser só porque caiu o céu e o rio subiu 20 metros matando gente e animais, que vamos deixar de ter uma roseira no jardim, uma grama aparadinha e o chão enceradinho e brilhante. Nada como um dia depois do outro.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Terça

A vaia dos cariocas, dizendo a Lula que ele não é a unanimidade que sonhava e a irretocável vitória brasileira sobre a Argentina, são daquelas coisas que animam a gente, apesar do frio.

IR OU NÃO IR?

Há alguns anos, quando as viagens ao exterior do então presidente da Santur, sua Excelência Jorge Meira e seu fiel escudeiro estavam parecendo exageradas, conversei com alguns secretários de turismo e empresários, para certificar-me que a minha impressão era correta.

E acabei descobrindo que eles também achavam bobagem o presidente da Santur abandonar o serviço e passar semanas seguidas longe do batente. “Ir a feiras, congressos e outros eventos é importante, mas para isso a Santur tem gente especializada. O presidente, quando se afasta por muito tempo, engessa a administração”, disseram.

Decisões que dependiam de deliberação superior acabavam ficando paradas, esperando que o presidente voltasse. Mas ele chegava só a tempo de trocar de mala e já saía novamente. Resultado: pode ser que Santa Catarina tenha se apresentado em muitos eventos internacionais, mas a administração da Santur nunca esteve tão emperrada.

Os gastos em diárias e passagens, portanto, eram o mal menor, perto do prejuízo que a ausência do titular causa ao bom andamento da instituição.

O SENHOR EMBAIXADOR

Ontem LHS fez mais um relato de mais uma de suas viagens ao exterior. Como um embaixador, um adido comercial, um cônsul, um caixeiro-viajante, teve uma agenda cheia em praticamente todos os dias em que esteve fora.

Acredito mesmo que muitos dos contatos possam ter bons resultados e que o LHS não tenha perdido tempo apenas com encontros protocolares.

A questão, tal como naquele caso (extremo) da Santur, é que LHS parece cada vez mais disposto a se portar como Chefe de Estado. E menos como Chefe de Governo. E, como tal, dedica-se a atividades que não envolvem as decisões administrativas. Olhando aqui de fora, tem-se a impressão que viagens, inaugurações, palestras, encontros com personalidades internacionais têm preferência sobre formação do governo, enfrentamento de crises administrativas e políticas e o duro batente de um dia-a-dia com pouco dinheiro em caixa.

COISA DE CINEMA
O secretário de Articulação, Ivo Carminatti, reuniu-se, no Centro Administrativo, em Florianópolis, com Bruce Lipnick, aquele investidor norte-americano com quem LHS se encontrou em 27 de abril em Nova Iorque.

Dono de uma certa “Sunshine Entertainment”, Bruce está aqui, com alguns auxiliares, para iniciar uma espécie de Hollywood catarinense. O primeiro filme, “uma comédia romântica”, será dirigido pelo cineasta Roberto Carminatti, parente do secretário Ivo.

O Carminatti diretor formou-se em cinema nos EUA, onde nasceu, filho de brasileiros. Segundo entrevista à Folha de S.Paulo, ele sempre quis “voltar ao Brasil para fazer filmes positivos, não com os olhos de país do Terceiro Mundo, que não tem jeito”.

Para realizar seu longa “Segurança Nacional”, concluído em 2006, Carminatti pediu apoio ao governo federal. E, numa das seqüências, usou o Aerolula. Sim o próprio avião presidencial. Claro, sem o Lula dentro. O filme teve também cenas rodadas em Florianópolis.

O MICO DIGITAL

A partir de 2 de dezembro começam oficialmente as transmissões de televisão digital no Brasil. Como no caso da TV a cores, nem todas as emissoras iniciarão ao mesmo tempo e nem todas as regiões terão sinal ainda este ano.

Mas, como no caso da TV a cores, o telespectador terá que morrer com uma graninha preta. O conversor atualmente está cotado em R$ 800,00 e estão sendo estudadas formas de baratear esse custo e/ou de facilitar o financiamento. E a mesma coisa vale pro rádio digital, que também vai começar e precisa de conversor.

O pior é que, embora se espere uma melhora na qualidade da imagem (nem todas as transmissões e canais serão em alta definição, mas pelo menos fantasmas e chuviscos devem diminuir), não se deve esperar uma melhora na qualidade da programação. As emissoras vão gastar tanto em equipamentos que terão que tentar economizar em outras áreas.

A UFSC ADOTA A DIVISÃO DE “RAÇAS”

O médico Antônio Sérgio Ferreira Baptista, de Joinville, publicou um artigo, no jornal A Notícia, questionando o sistema de cotas das universidades públicas. Como vocês sabem, a UFSC acaba de entrar no rol daquelas instituições que fazem oficialmente a divisão do país em "raças".

Só que, esse “sistema” não esclarece como fazer essa divisão. E, como “raça” é uma coisa que não existe, será necessário criar algum instrumento que meça a quantidade de melanina (aquilo que faz com que uma pessoa seja mais escura que a outra) na pele.

Segundo o médico, “em um século em que a ciência sepultou o conceito de raça, estamos, assim, dando um significativo passo em direção à Idade Média”. E cita alguns estudos que mostram que nos Estados Unidos, que adotou o sistema de cotas na década de 70, algumas universidades já o eliminaram.

Ele conclui afirmando que “não é tratando os negros como se fossem portadores de necessidades especiais que vamos melhorar sua situação”.

Essa opinião mostra como é controverso e cheio de armadilhas o “sistema” em que a UFSC, talvez ansiosa por agradar o governo federal, de quem depende para sobreviver (já que a autonomia universitária é uma falácia), embarcou.

E, afinal, onde fica o limite entre “branco” e “negro”, para a UFSC? Como é feita a medição? Um funcionário será treinado para sacar, no olhômetro, se o candidato tem sangue negro o suficiente? E como evitar o recrudescimento do racismo, a partir disso?

sábado, 14 de julho de 2007

Sábado, domingo e segunda

(A coluna foi feita antes do Lula ser vaiado no Maracanã, na abertura do Pan. As fotos, naturalmente, são de ontem à tarde, quando tudo ainda era só alegria.)

A LEI DA HOTELARIA
Num final de semana tão festivo, com abertura do Pan e a (im)previsível vitória sobre a Argentina, eu nem deveria entrar nestes assuntos mais sombrios, mas não posso deixar pra depois.

Os hoteleiros e o prefeito da capital ocuparam largos espaços em jornais, rádios e TVs, nos últimos dias, para defender a tal lei que daria um benefício, “um incentivo”, àqueles empreendimentos tão úteis e importantes numa cidade com inegável vocação turística.

Tal como tantas outras discussões envolvendo corrupção, o foco acaba sendo desviado, aparentemente com o único propósito de que tudo acabe em pizza.

Ninguém contesta o fato de que Florianópolis deve ter uma política tributária que estimule a atividade turística. Mas ao ouvir as declarações do prefeito, por exemplo, fica-se com a impressão que aqueles que viram irregularidades naquela lei são, automaticamente, contra a hotelaria, o turismo, a cidade e o progresso.

E isto é uma rematada bobagem. É perfeitamente possível o cidadão honesto, contribuinte zeloso de seus impostos, concordar que alguns setores da economia devem ter uma carga tributária menor, e mesmo assim achar que isso deve ser feito dentro da lei e de tal forma que os aproveitadores de sempre não possam lavar a égua, encher a burra e locupletarem-se com nosso dinheiro.

LEI DESFIGURADA
O problema principal também não é o prefeito ouvir ou falar com os interessados em pagar menos imposto. O nó da questão é que, ao ler as versões da proposta, a lei como foi aprovada e os vetos do prefeito, percebe-se que se trata de uma lei perigosamente mal feita.

De tanto cortar aqui e ali, foram eliminando os controles básicos, por exemplo, para evitar que empresários fajutos sejam beneficiados. Ou que se beneficie quem não cria empregos.

Se este é um tema que lhe interessa, vá ao blog do Vieirão (vieirao.com.br), para ver o texto da lei, como era e como ficou, com alguns comentários sobre o efeito das modificações e supressões. E depois tire você mesmo suas conclusões.

CHEFE ENROLADO
A propósito do “comunicado” do presidente da Ceasa/SC, que publiquei ontem, o leitor Osvaldo Peixoto manda a “Lei do Chefe Enrolado”, que é uma das Leis de Murphy:
“O chefe que tenta impressionar os subordinados com o seu conhecimento de detalhes complicados, perdeu de vista a complicação essencial.”
CV NO CH
O colega Cláudio Humberto, cuja coluna é publicada aqui na página 4 (e em mais dezenas de jornais Brasil afora), tem também um blog, muito acessado (http://www.claudiohumberto.com.br/). E, ontem de manhã, ao publicar uma nota sobre as escutas da PF em Santa Catarina, que levantaram várias suspeitas, entre as quais a de caixa 2 na campanha do ano passado, teve o cuidado (e a gentileza profissional) de registrar que “parte das escutas foi divulgada com exclusividade pelo jornalista César Valente.”

E ainda colocou um “link”, na nota, para este blog. Como resultado, o deolhonacapital.blogspot.com foi visitado por algumas centenas de novos leitores.

ESSES JORNALISTAS...
Semana que vem tem eleição para a diretoria da Federação Nacional dos Jornalistas. O manezinho Sérgio Murilo é candidato à reeleição, na chapa 1. E tem uma chapa 2.

Pra ajudar (ou atrapalhar) quem vota, procurei saber alguma coisa sobre as duas chapas. São ambas, em princípio e genericamente, petistas. Mas a chapa 1 é menos: o Sérgio não está mais atuando no partido e muitos da chapa nunca foram vinculados ao PT.

A chapa 1, até por ser a situação, tem apoio da maioria dos sindicatos e foi montada com representantes da maioria dos segmentos da categoria.

Na chapa 2, o candidato a presidente trabalha no Centro de Informação da Câmara e a maioria dos componentes são assessores do governo ou trabalham em ONGs. Aparentemente o governo veria com melhores olhos a eleição da chapa 2.

A chapa 1 mantém as propostas já conhecidas da Fenaj, em defesa da obrigatoriedade da formação específica e da regulamentação da profissão.

A chapa 2, pelo que está no seu site, tem como foco a “apatia” da atual Fenaj. E ponto.

Para que vocês não digam que eu estou fazendo campanha pelo meu amigo e ex-aluno Sérgio Murilo, o site da chapa 1 é http://www.chapa1fenaj.org.br/ e o da chapa 2 é http://www.lutafenaj.com.br/. Divirtam-se.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Sexta (outra sexta-feira 13!)

Nota do editor: o pessoal que está chegando aqui via coluna do Cláudio Humberto e quer ver as tais transcrições, basta rolar a página até encontrar o post de sexta-feira e do sábado (da semana passada). E, no caminho, pode aproveitar para dar uma olhada nas colunas dos outros dias.

Mas, se quiser ir direto pra lá, é só clicar aqui para o post de sexta. E aqui para o de sábado.

COMO É QUE É?
O presidente em exercício da Ceasa/SC, Jairo Henkes, editou um insólito “Comunicado” (acima) e o distribuiu aos cerca de 50 servidores daquela autarquia (é autarquia, pois não?).

Ali se determina que “não serão permitidos comentários e insinuações de qualquer tipo a respeito da empresa, servidores e dirigentes” tanto em questões de trabalho, quanto “particulares”.

Diz Henkes que “a medida é pedagógica” e visa acabar com o “disse-me-disse” na empresa. Ele acredita que isto estava criando desunião no grupo e por isso teve que pedir à assessoria jurídica um instrumento para advertir os funcionários de que poderão sofrer sanções administrativas.

O problema é o efeito colateral: ou vocês também não ficaram morrendo de vontade de saber que “comentários e insinuações” incomodaram tanto que levaram a direção a tomar tal medida? Sem falar que, até hoje, ninguém conseguiu acabar com a “rádio corredor” assim, na marra.

PROCURA-SE!
Quem diria que uma das pessoas mais difíceis de encontrar, em Santa Catarina, fosse o deputado federal e sócio da Casvig, Djalma Berger (PSB)? Pois os oficiais de justiça tentaram, sem sucesso, por quase três anos, entregar-lhe uma notificação. Levaram um tremendo “baile” e voltaram, todas as vezes, de mãos abanando.

O único jeito e último recurso da Justiça foi acionar o instrumento que se usa para citar pessoas que estão em “local incerto e não sabido”: o edital. No Diário da Justiça do dia 22 de junho está publicada uma “Certidão de Afixação de Edital” onde, finalmente, o juiz considera que o ágil Djalma Berger está, oficialmente, notificado.

Em 2004 foi proposta uma Ação Popular a respeito da contratação da Casvig pelo governo do estado, numa operação que envolvia cerca de R$ 126 milhões. Desde então, foram feitas inúmeras tentativas de encontrar o deputado, que é citado porque é sócio (50% das ações) e era (ou é) diretor da Casvig.

Cada vez que o oficial de justiça chegava num dos endereços da empresa, voltava com a informação que ele “mudou-se”. Quando, finalmente, esgotaram-se todos endereços disponíveis, em 2006 o advogado Gley Sagaz, um dos proponentes da ação, sugeriu que ele fosse localizado na Assembléia Legislativa (era, na época, deputado estadual). A Alesc se situa, em Florianópolis, ao lado, na mesma quadra, do Tribunal e do Fórum. Mas os oficiais de justiça não conseguiram chegar até lá antes do início de 2007.

E este ano, como sabemos todos, o deputado mudou mesmo de endereço: está na Câmara, em Brasília (um foro privilegiado). E não podia ser outra a resposta dos oficiais de justiça: “mudou-se para Brasília”. Aí o juiz perdeu a paciência e mandou citá-lo por edital.

TODOS LÁ?
Na segunda-feira, o governador vai à Casa do Jornalista para mais uma daquelas entrevistas coletivas de depois das viagens. Com internet, telefone celular e comunicação fácil, não consigo imaginar o que ainda falte dizer sobre a viagem que terminou há alguns dias. Deve ser por isso que um número cada vez menor de jornalistas tem ido às tais entrevistas. Ou será que desta vez terá alguma novidade?

CARTA DEMORADA
Ontem, em mais uma melancólica sessão do Senado, ficamos sabendo que a tal reunião da Mesa foi adiada porque, segundo o Presidente do Senado, Renan Calheiros, “é preciso algum tempo para notificar o investigado”.

Quem é o investigado? O senador Renan Calheiros. Um dos senadores disse que isto é completa loucura, porque no momento em que assina o ofício avisando Renan Calheiros da reunião, Renan Calheiros já estará sabendo da reunião. Não tem sentido todos terem que esperar alguns dias, para que Renan receba uma carta que ele mesmo escreveu, assinou e enviou.

EM CAUSA PRÓPRIA
A cientista política Lúcia Hippolito descreveu, no seu blog, o escandaloso caso de esquizofrenia do presidente do Senado tão bem, que roubei na caradura e publico aqui:
“Então, ficamos combinados assim: o senador Renan Calheiros, presidente do Senado, marcou para dia 17, terça-feira, véspera do início oficial do recesso, a reunião da Mesa Diretora do Senado, que vai analisar os pedidos do Conselho de Ética sobre o processo em que é investigado, quem mesmo? O presidente do Senado e presidente da Mesa Diretora, Renan Calheiros.

Não é interessante? Quando falávamos em “legislar em causa própria”, não sabíamos direito do que estávamos falando. Agora sabemos.

E quais são os pedidos do Conselho de Ética? Primeiro, que a Polícia Federal aprofunde a perícia nas notas fiscais e documentos apresentados pelo senador Renan Calheiros a respeito de suas fontes de renda e sua fabulosa atividade pecuária.

Segundo, que o senador Renan Calheiros forneça mais documentos sobre seus negócios na área da pecuária.

É atribuição da Mesa do Senado aprovar e despachar os pedidos que vêm do Conselho de Ética.

Como o senador Renan Calheiros não se afastou da presidência do Senado, a coisa fica assim: Renan Calheiros convoca uma reunião da Mesa para analisar um pedido para que a PF prossiga as investigações sobre as notas fiscais do senador Renan Calheiros.

O senador Renan Calheiros envia ofício ao senador Renan Calheiros para que o réu no processo, senador Renan Calheiros, envie mais documentos a respeito das atividades pecuárias, de quem mesmo? Do senador Renan Calheiros.

Parece brincadeira, mas não é.

É só deboche. Puro e simples.”
GRAZI EM FOCO
O deputado Joares Ponticelli (PP) enviou um pedido de informações, ao governo do estado, sobre aquele episódio que aparece nas fitas da PF, envolvendo o diretor geral da secretaria de Cultura, Turismo e Esporte com o bingo e a demissão da Grazi, secretária do ex-vereador Juarez Silveira.

A REDE ADMINISTRADA
Ontem comentei sobre os controles de acesso à Internet que são impostos aos usuários de redes nas grandes empresas e nos governos. Atentos, os analistas de TI (tecnologia da informação), entraram no debate. Publico trechos do que escreveram dois deles.

O Sílvio Massaro Neto fez um bom resumo do processo todo. E ajuda a gente a entender como funciona:
“Os Administradores de Rede sofrem basicamente com três problemas:

O primeiro é que o acesso a sites pelos usuários da instituição é um dos maiores consumidores do link de Internet. Serviços que não podem parar são colocados em risco pelo excesso de acesso a sites indevidos. Isto praticamente obriga a Administração da Rede a utilizar um software de controle de conteúdo.

O segundo problema é que as empresas não costumam ter uma norma que defina especificamente qual o tipo de conteúdo pode ser acessado. Isto faz com que, mesmo que não queiram, os Administradores de Rede tenham que tomar a posição de tomadores de decisão sobre o que pode e o que não pode.

O terceiro, que eu acho o mais complicado, é que os softwares disponíveis no mercado para este tipo de controle devem passar por uma fase de amadurecimento dentro da instituição. O chamado “falso positivo”, que é o bloqueio de um site “legítimo”, isto é, com conteúdo adequado, ocorre com freqüência no início do uso do software de controle. Isto porque os softwares já vêm com um banco de dados de sites catalogados por categorias (Pornografia, Esportes, Entretenimento, etc.). No que o Administrador da Rede configura o software para bloquear “Sites Pornográficos” e na lista estiver um site legítimo que foi erroneamente catalogado, o mesmo estará bloqueado. Aos poucos os usuários vão reportando os erros e a lista vai sendo corrigida.

Por fim, um processo de conscientização dos usuários é o passo mais importante para evitar constrangimentos e deixar o processo mais tranqüilo.

Quanto aos blogs, tenho certeza de que a correção será feita rapidamente. Concordo com você que muito do que é interessante está neste formato, inclusive esta coluna.”
A REDE LIBERADA
E outro analista, que só assinou como Marcelo, defende sua posição:
“Venho, há anos, brigando por uma liberação completa do acesso à internet na empresa em que trabalho. Não concordo com o termo “sites indevidos”... indevidos pra quem? Quem julga o que é ou não “devido”?

As pessoas passam a maior parte do seu dia na empresa e é – para dizer o mínimo – ingenuidade achar que todo esse tempo estão de cabeça baixa e trabalhando. Há os momentos de descanso e, por que não, de busca de informação e cultura na internet.

Outra “desculpa” famosa e que me deixa profundamente decepcionado é que se a internet for liberada, o funcionário não trabalha mais. Ora, façam-me o favor... se o cidadão não trabalha, seu superior é que deve ser responsabilizado e não a internet. Cobrem resultados e produtividade e não as antigas “horas-bunda”, onde o que importava era o tempo em que o funcionário estava sentado em sua cadeira, mesmo que não estivesse fazendo absolutamente nada. E punam quem não produzir. Bloquear acesso à rede pune indiscriminadamente quem produz e quem nada faz. É burrice.”.