segunda-feira, 30 de junho de 2008

TENTANDO ENTENDER

Numa das notas abaixo falei sobre os “cadernos do governo” que, encartados em jornais do interior, acabaram alimentando, como provas, o processo que corre no TSE. Um amigo, peemedebista, comentou comigo que, a rigor, os cadernos não podem ser classificados “do governo”.

Tecnicamente, não houve autorização da Secom, nem pagamento. E, me garante o governo, nem anúncio oficial nos encartes. Portanto – e esta é a base da defesa no processo – são encartes que, ainda que sejam sobre o governo, não são “do governo”.

Uma das entidades que reúne boa parte dos jornais, a Associação dos Jornais do Interior (Adjori) é que teria, de alguma forma, estimulado a turma a, num determinado dia, publicar material sobre a “descentralização”. Os textos teriam sido retirados do site de notícias do governo, que é público.

E os anúncios, para bancar a publicação dos cadernos, foram obtidos junto aos mercados de cada jornal. Oficialmente sem a participação do governo.

Então, se publicaram “notícias” elogiosas (ou “positivas”) por conta própria, qual seria a diferença entre o que esses jornais fizeram e o que a revista Metrópole fez? Pouca: praticamente apenas o fato dos sócios Danilo Gomes e Nei Silva terem resolvido cobrar do governo, enquanto que os jornais ficaram na deles.

Os jornais, por falar nisso, não levaram prejuízo. Nos tempos “normais” veiculam as propagandas oficiais, distribuídas, como afirma o próprio governo, “sem discriminação”. E parece ser um bom negócio, porque o número de jornais cresceu bastante. Não é de duvidar, portanto, que tenham sido movidos apenas pela gratidão, quando engendraram aquela homenagem que acabou rendendo processo. E o processo, até onde entendi, se sustenta justamente porque, pelo tamanho do “agradecimento” dos jornais, se suspeita da dimensão dos agrados que o originaram. Como chegou a ser dito no TSE, “não existe almoço de graça”.

E só pra terminar essa pequena pensata matutina de segunda-feira: aquela liminar, no final de 2005, que tirou do ar os programas da série “Santa Catarina em Ação” acabou ganhando uma importância adicional.

Primeiro, porque o governo, que não nasceu ontem, aproveitou a deixa e suspendeu todos o anúncios oficiais, mesmo aqueles que não estavam incluídos na liminar. Isso gerou uma grita enorme dos veículos, que se sentiram estrangulados, sem acesso a uma fonte vital de “alimento”. Ninguém queria saber de discutir o mérito, queriam de volta os anúncios. A decisão do Tribunal de Justiça, no começo de maio de 2006, suspendendo a liminar, foi como uma nova Lei Áurea. Imagino que exista até algum projeto propondo feriado estadual para comemorar a data. E essa aflição, essa demonstração pública de dependência, não ajudou em nada o governo. Ao contrário.

Depois porque, no livro “A descentralização no banco dos réus”, Nei Silva fala que o governo teria aceitado seu projeto porque estava impedido de anunciar. Só que, na data em que ele localiza esse fato, a liminar ainda não tinha sido concedida. Não havia, em outubro de 2005, o motivo alegado para encontrar uma “via alternativa” para falar na Descentralização. O governo falava sobre isso abertamente, no “Santa Catarina em Ação”.

sábado, 28 de junho de 2008

O SHOW DO MILHÃO

Você sabe que está num ano eleitoral quando são feitos anúncios espetaculares e milionários. Ontem o governador LHS presidiu uma solenidade onde disse que, se tudo correr bem, o Estado gastará R$ 37 milhões em Florianópolis.

Nas fotos divulgadas pelo governo, como esta aí em cima, o prefeito Darío não aparece. Nem sei se estava lá. Mas desconfio, porque se não é ele, então quem está levantando a mão da Dona Rose enquanto o governador e demais autoridades aplaudem? Outro detalhe importante é o fato do púlpito ter o brasão da prefeitura. Se o anúncio é do governo do estado, por que fazê-lo num próprio municipal?

Claro que estou exagerando um pouco, pra fazer marola neste final de semana cinzento. É possível que o governo já não faça tanta questão de turbinar apenas a candidatura do prefeito Darío. Afinal, os parceiros do DEM-o e do PSDB já chiaram, reclamando dos privilégios.

Portanto, na solenidade dos R$ 37 milhões, o ideal é que vocês vejam, ocultos por detrás do Galina e do Governador, como beneficiários dos efeitos eleitorais das benesses, o prefeito Darío e o herdeiro da Casa Feliz, o Cesar Souza Jr. Afinal, são as duas principais armas que LHS dispõe para o grande duelo ao entardecer contra o adversário de sempre.

COLCHA DE RETALHOS

Antes que me esqueça: algumas das obras anunciadas na solenidade acima fazem parte daquele Sapiens Park, o enorme parque temático que LHS quer construir no norte da Ilha. No anúncio, nenhuma referência às vias de acesso, abastecimento de água, rede de esgoto. As obras, como sempre, parecem coisas isoladas, que não fazem parte de uma cidade planejada, que respeite o ambiente e seus habitantes.

DE OLHO NO IVO

Não passou de um balão de ensaio, ou de algum boato, a informação que LHS iria dar uma secretaria para o Içuriti Pereira. Deu-a para o persistente Adriano Zanotto, que tentará recomeçar do zero (ou quase isso) sua campanha por uma vaga de desembargador. Ocupará o posto do Ivo Carminatti, na secretaria de Coordenação e Articulação (a antiga Casa Civil).

E o Ivo vai para o lugar hoje ocupado pelo Alaor Tissot, na SC Parcerias. Com pelo menos duas missões bem definidas: vender a Penitenciária da Agronômica e viabilizar a ampliação do Centro Administrativo no Saco Grande.

Sem falar nas outras encrencas, como essas obras de R$ 37 milhões anunciadas para Florianópolis, que certamente passarão pela SC Parcerias, porque, ao que se sabe, o governo não tem caixa para bancar tanta coisa.

A ampliação do Centro Administrativo é um enrosco sério. Ali naquela região a prefeitura não pode autorizar prédios com mais de três andares. E para que os órgãos do governo possam caber, será necessário construir várias torres com pelo menos 12 andares cada. Imagina só ter que negociar uma naba dessas com o Amin e/ou uma Câmara de Vereadores hostil?

Não só por isso, mas também por isso, o empenho do governo do estado para fazer maioria na Câmara e eleger um prefeito “da base” será total.

Ah, e para construir os tais prédios, o governo está contando com a venda da Penitenciária Estadual, que ocupa área valorizadíssima, na Agronômica. O negócio dos sonhos do governo seria que a empresa que ficasse com a área, construísse uma penitenciária em outro local e ainda entregasse, prontas, as torres do Centro Administrativo.

Pelo jeito tem razão a leitora que me mandou um e-mail, ontem, dizendo que era preciso “chamar a atenção do povo, para que ele observe atentamente o que vai acontecer daqui pra frente na SC Parcerias”. Ficaremos de olho no Ivo, então.

Atualização da manhã de sábado: alertado por um leitor atento, corrigi a confusão que fiz com o nome das secretarias. O secretário de Articulação Estadual é o Lírio Rosso. O Carminati é o secretário de Coordenação e Articulação. É muita articulação prum sujeito desarticulado como eu navegar sem tropeços.

E outro erro (cochilo) corrigido: tinha escrito “Córrego Grande” onde deveria estar “Saco Grande”. O Centro Administrativo, que mal cabe no Saco Grande foi colocado, pela indesculpável distração sextaferina deste péssimo revisor, no Córrego. Perdão, leitores. E obrigado pela gentileza dos lembretes.

DE PICARETAS E PICARETAGENS

Depois de ler e ouvir o que se tem dito a respeito desse momentoso assunto, fiquei preocupado: parece que nem todos têm uma idéia clara do que seja a picaretagem aplicada à relação entre governo e imprensa, por exemplo.

Talvez seja útil relembrar o que picareta significa. Em dicionários conceituados encontramos:

“Diz-se de, ou pessoa inescrupulosa, cavadora de anúncios. Por extensão, diz-se de, ou pessoa aproveitadora; negociante duvidoso; pessoa que utiliza qualquer expediente para obter os fins ou vantagens desejados.”

E picaretagem é:
“Cavação; negociata. Atividade, nem sempre muito lícita, para obtenção de vantagens. Em propaganda, o trabalho feito por picaretas. Expediente ou ardil para obter favores.”

Visto isso, podemos avançar um pouco mais, eliminando aqueles negócios que não sejam ilícitos ou, pelo menos, duvidosos. Assim, não se enquadra na definição de picareta o dono de um jornal que se habilite para receber anúncios.

Ou seja, se o governo do estado, ou a prefeitura, ou algum órgão federal quer anunciar num jornal, não tem problema. Em princípio se trata de atividade lícita, legal e autorizada.

Começa a virar picaretagem se o editor do jornal, com a finalidade de agradar o anunciante e receber mais anúncios, começa a publicar reportagens puxando-lhe o saco. Ou se o anunciante pede que o jornal pare de criticá-lo (ou passe a elogiá-lo) em troca dos anúncios.

No debate da quarta-feira, no Plenarinho da Assembléia, houve uma certa confusão com esses termos. O diretor de Imprensa do governo, jornalista José Augusto Gayoso, disse que o Nei Silva (aquele da revista Metrópole) não era o único e que tinha fila de picaretas tentando arrancar uma graninha da Secom. Não vi, na afirmação, qualquer referência àqueles representantes ou donos de veículos que, legitimamente, se candidatam a receber peças de alguma campanha oficial Mas teve gente que viu e reclamou.

O exemplo daquele famoso encarte do governo, publicado em dezenas de jornais e que rendeu processo pela cassação do LHS, chegou a ser lembrado.

O fato é que não dá pra chamar de picaretas, indiscriminadamente, os jornais que publicaram os encartes. Ainda mais porque, ao que parece, foram negociados com as associações que reúnem esses veículos.

Se eu sou dono de jornal cadastrado na Secom e o governo quer publicar um encarte, ótimo. Mando o departamento comercial acertar o preço e pronto.

Agora, se para receber tal encarte tenho que fazer matérias de acordo com alguma orientação externa, aí preciso puxar o freio-de-mão e parar pra pensar. Porque neste ponto a transação legítima começa a perder seu brilho e a ganhar os contornos pontudos de uma picaretagem.

No mesmo debate, alguém falou nos “cadernos” de grandes jornais, que são puramente comerciais, sem que disso seja avisado o leitor. Os leigos poderão imaginar que se trata de material jornalístico.

A propósito disso, alguém chegou a dizer que “quem puxa o carro da picaretagem é a grande imprensa”.

Ora, o que separa um negócio de uma negociata é apenas a ética, que, como vocês estão cansados de saber, anda em falta.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

AINDA O DEDO

Tá certo, estou com implicância com a expressão “inclusão digital”. Mas dá uma olhada no logotipo da Associação Nacional para Inclusão Digital (anid.com.br). Vê se não tem tudo a ver com o que eu disse numa das notas anteriores? [aqui]

LEI “AMEDRONTA” SC GÁS

Deu uma pena... Naquele confronto que a SC Gás (Ranzolin/LHS) está mantendo com o Ministério Público do Trabalho, na Justiça do Trabalho, a empresa obteve algumas vitórias, que comento abaixo. Mas o mais interessante foi ler que o procurador-geral do estado, Sadi Lima, teria afirmado, na quarta-feira, que os pedidos do MPT “tiveram a intenção de amedrontar os diretores da empresa”.

Esta é nova: dar uma prensa pra que a lei seja cumprida é “amedrontar” quem deveria estar agindo corretamente?

TRT ALIVIA A PRESSÃO
Decerto impressionado com o medo que tem assombrado os dirigentes da estatal, o presidente do Tribunal Regional do Trabalho resolveu abrir um pouco a válvula e cancelou parcialmente a liminar dada por um juiz de primeira instância.

Com a decisão, a SC Gás não precisa mais cumprir (até que a sentença da 1ª Vara do Trabalho seja publicada), os seguintes itens:

– Afastar os funcionários não concursados que executam atividades abrangidas pelo concurso de 2006
– Suspender os contratos de terceirização e de prestação de serviços especializados nas áreas abrangidas pelo concurso.
– Convocar e dar posse imediata aos aprovados no concurso de 2006
– Afastar 26 comissionados que teriam sido, segundo o MPT, admitidos no lugar dos classificados no concurso.

Mas terá que cumprir (antes mesmo da publicação da sentença) o seguinte:

– Não contratar, autorizar ou tomar mão-de-obra terceirizada, com exceção de serviços de limpeza, conservação, vigilância, atividade-meio e trabalho temporário
– Não contratar comissionados e autônomos
– Informar o nome e quantidade de todos os terceirizados, com discriminação das funções desenvolvidas e forma de vínculo
– Comunicar o teor da liminar a todos os aprovados do concurso realizado em 2006, por correio, e com aviso de recebimento.

[Leia aqui a íntegra da nota do Tribunal Regional do Trabalho]

O GÁS COMO ARGUMENTO
Na quarta, a SC Gás frustrou, novamente, os participantes de outra audiência de conciliação. Não está disposta a conciliar. Aposta, aparentemente, que conseguirá ir adiando as medidas pedidas pelo MPT, que, segundo o governo “ferem o princípio constitucional da razoabilidade”.

Garantem, os defensores do governo, que se fizerem a substituição imediata dos comissionados e não concursados ou o afastamento das terceirizadas, corremos o risco de um acidente de enormes proporções. Causando, tipo assim, uma explosão medonha. E asseguram que se for feita a contratação imediata dos aprovados em concurso, corremos o risco de ver um aumento nos preços do gás que a empresa fornece.

A esta altura eu, que não sou advogado, já começo a não entender mais nada. Porque, aqui nas baixuras da minha ignorância, tinha entendido que havia determinações anteriores, legais e legítimas, obrigando a empresa a proceder de determinada forma. A pressa surgiu apenas porque houve descumprimento. Ou não?

“OK, não cumprimos a lei no prazo mas agora, por favor, não nos apressem, porque o Ranzolin é um sujeito sensível e está muito amedrontado”.

NO MEU, NÃO!

Tenho uma implicância antiga e particupar com a expressão “inclusão digital”. Acho que significa, a rigor, o ato de enfiar o dedo. Praticam a inclusão digital, por exemplo, o proctologista cuidadoso que apalpa a nossa próstata ou o ginecologista gentil que verifica, nas mulheres, como está a situação da via de regra.

Por isso, sempre me arrepio quando leio coisas como esta: “Luiz Henrique discute inclusão digital de professores com presidente da Microsoft”.

Coitados dos professores. Sabemos que a Microsoft, multinacional poderosa, tem mãos enormes e dedos rombudos. Não é à toa que tantos governos de bom senso recomentam software de código livre para a informatização oficial. Não só porque são mais baratos (alguns até gratuitos), mas principalmente porque, em caso de inclusão digital, têm dedos finos e curtos.

TCE DÁ BRONCA NO DARÍO

O prefeito de Florianópolis levou um puxão de orelhas do Tribunal de Contas do Estado e terá que anular a licitação dos boxes do Mercado Público Aldírio Simões. O prefeito, segundo o TCE “não apresentou quaisquer justificativas acerca das irregularidades apontadas em decisão preliminar (nº 931/2008) do TCE, nem comunicou eventuais correções procedidas”. Ou seja, parece que, como diria o DIARINHO, o Alemão “cagou e andou”.

Foram relacionadas nada menos de onze irregularidades. O que é muita coisa, se a gente levar em conta que uma administração municipal lida quase todo dia com licitações e já deveria ter aprendido a fazê-las dentro da lei.

E o Tribunal, ciente que o jogo ali é duro, já fez seis recomendações, reforçando que tipo de erro não deve ser cometido se forem fazer uma nova licitação para os boxes do Mercado.

A íntegra da nota do TCE está aqui.

TARADO, EU?

Só quem já ficou, um dia, parado na Felipe Schmidt, em Florianópolis, encostado na parede, perto de algum fusca com aquelas calotas esféricas cromadas, vai saber do que estou falando. Porque houve um tempo, no século passado, em que a Felipe Schmidt era uma rua como qualquer outra, onde os carros passavam e estacionavam. E tinha calçadas, como tantas ruas. E, aí é que está a maravilha, por essas calçadas passavam alunas do colégio Coração de Jesus, com suas saias plissadas. Não sei qual foi o tarado que descobriu, mas as calotas dos fuscas refletiam muito bem. Eram bem cromadas e muitos dos donos mantinham os carros bem limpos. E vários deles estacionavam ao longo das calçadas da Felipe Schmidt.

Nos dias de vento nordeste ou de pouco vento, as calotas dos fuscas funcionavam direitinho. Ficava aquela fila de garotões encostados nas paredes da papelaria Record, ou de qualquer outra, mais adiante (o que é que era mesmo ali onde depois foi a Kilar?), até a Az de Ouro. O terminal de ônibus era no Largo Fagundes (ao lado de onde hoje é a Americanas). E elas tinham que ir pela Felipe Schmidt até ali.

Nos dias de vento sul nem precisava das calotas. A Felipe Schmidt foi cientificamente construída de tal maneira que o vento sul encana, rebate nas construções dos dois lados e forma uma corrente ascendente. Não há saia que resista. Muito menos saias plissadas. E as meninas tinham que segurar a pasta e tentar manter as saias no lugar, usando apenas duas mãos. Isso quando o vento não desmanchava os cabelos e o dilema aumentava: segurar a saia ou o cabelo?

Outro sucesso, mais ou menos nessa época, eram os DKW Vemag. Bons carros, com motor de dois tempos, abriam as portas da frente pela frente. Dá para entender melhor olhando a foto. Pois bem, tinha malandro que ficava de olho quando passava um DKW dirigido por uma mulher.
Assim que ela parasse, num posto de gasolina ou em outro lugar e precisasse sair do carro, se estivesse de saia ou vestido certamente daria um showzinho. Não tinha como sair do carro, com a porta abrindo desse jeito, sem mostrar as pernas. Veja bem, estamos no final da década de 60, época em que um joelho aparecendo ainda tinha seu valor. Acho que a fábrica percebeu a que estava expondo suas clientes e logo mudou a abertura das portas. Aí o carro perdeu a graça.

E já que estamos nesses assuntos profanos, vamos adiante. Motel é coisa recente. O Meiembipe só abriu em abril de 1974 (lembram?). Antes disso, cada um se virava como podia. Um dos melhores lugares para estacionar o fusca (todo mundo tinha fusca naquela época, aliás, só tinha fusca, naquela época) era ali onde hoje é o Jurerê Internacional. Da estradinha deserta que levava ao forte saíam, em direção ao mar, inúmeras “picadas” abertas na vegetação litorânea cerrada. Privacidade, contato com a natureza, a lua e o barulho do mar. Queres mais? Até que começaram a acontecer assassinatos nuns matinhos perto da Universidade e a gente percebeu que o paraíso estava terminando. Em 1976 a Felipe Schmidt virou calçadão. E essa Florianópolis das saias plissadas, das calotas de fusca e das praias desertas passou a ser apenas um retrato na parede. Mas, como dói.

[Esta crônica foi publicada pela primeira vez em dezembro de 2002. Como gosto muito dela, já a republiquei algumas vezes. E provavelmente esta não será a última.]

quinta-feira, 26 de junho de 2008

FALA, ELOY!

“Sr. Editor,

Só fui ao debate de ontem dos jornalistas, porque vi que o Sindicado dos Publicitários também tinha sido convidado.

Sempre trabalhei muito próximo aos jornalistas por onde atuei (sucursal de O Globo em Porto Alegre que também atendia Santa Catarina, Editora Abril em Porto Alegre e Jornal do Brasil aqui em Santa Catarina, entre outros veículos de mídia impressa) e sempre tive um excelente relacionamento com editores, repórteres e fotógrafos.

Já recebi pautas excelentes para comercialização de cadernos de todos os segmentos, muito importantes para os anunciantes que encontram nestes cadernos comerciais, um excelente momento de dizerem que apóiam ou financiam determinados assuntos. Isto é bom para o caixa dos meios de comunicação, bem como para as empresas ou secretarias envolvidas com a pauta comercial.

O que atrapalha esta relação é proximidade muito forte que vocês têm com o governo, vêem toda verba disponível para propaganda e não resistem, se corrompem e traem seus departamentos comerciais!

De qualquer maneira, saí do encontro de ontem com a sensação de que os blogs já estão merecendo também um departamento comercial, antes que “jornalistas picaretas” passem a negociar verbas publicitárias e metam a mão no bolso dos vendedores de publicidade.

Fiquem atentos!

Eloy Figueiredo
Publicitário”

MUDANDO DE ASSUNTO

Já viram isto? TV Globo ameaça entrar com notificaçao judicial contra Record. O fascinante mundo da espionagem comercial.

O DRAMA DOS ÓRFÃOS DA VARIG

Não deixem de dar uma lidinha nos comoventes depoimentos de ex-pilotos da Varig e seus parentes, que a Cora Rónai publica. Aqui.

Trecho:

“O setor aeroviário brasileiro está ainda muito pior do que você imagina. A mediocridade na qual chafurdamos não só destruiu a Transbrasil, a Vasp e em seguida a Varig, como transformou toda a estrutura reguladora do setor num gigantesco “Detran”! Um mostrengo “pulitico” que não só entregou o mercado para as empresas estrangeiras, mas que vem matando impunemente os próprios usuários, ao permitir a operação do sistema em condições de precariedade africana.” (Comandante Peter, Etihad Airways, Emirados Árabes)”

HOMENAGEM A ALLENDE

A chilena Maria Elena Hermosilla (na foto abaixo comigo, no ano passado, em Santiago) que foi professora do curso de Jornalismo da UFSC na década de 80, envia um recado e um artigo, lembrando o aniversário do presidente Salvador Allende (foto acima).

Traduzi o recado e deixo o artigo em espanhol mesmo, pra não perder a força das palavras e porque acho que a maioria consegue navegar sem problemas por aquela língua irmã.

“Queridos/as amigos/as, hoje faz cem anos do nascimento do Dr. Salvador Allende, médico, ex-Ministro da Saúde, ex-Senador, ex-Presidente e mártir latinoamericano. Grande amante, das mulheres, da política, de seu povo, de tudo o que a vida tem de bom. Além de todo o gigantesco significado que tem sua participação na história, para mim, afetivamente, é o símbolo de uma identidade, um “modo de ser” da chilenidade, da qual me sinto totalmente viúva. Quero compartilhar com vocês este artigo de Marco Antonio de la Parra, psiquiatra e dramaturgo, que de alguma forma reflete o mal-estar que sentimos, permanentemente, todos os que vivemos seu tempo e sua causa.
Um abraço,
Maria Elena”

SI USTED VOLVIERA, DOCTOR...

Por Marco Antonio de la Parra (Chile)

No sé qué espacio tendría, Doctor, en este mundo raro que vivimos ahora. Yo lo tuve muy cerca, en una clase de ética médica. Llegó en su Fiat 125 azul oscuro. Si viera las columnas de coches blindados que vimos pasar tantos años, tan cerca también, tan intimidantes, feroces, con los dientes apretados, con sus fauces de perro. Usted, Doctor, entró amable a la clase.

Nosotros estábamos nerviosos. El país no se incendiaba aún. Era su primer año de Gobierno. Habló de cómo los médicos han estado siempre preocupados de la política, la salud, la higiene, planteamientos de índole pública.

Han cambiado mucho las cosas, Doctor, hay gente que aún se mueve como en sus tiempos de agitación, pero son los menos. La mayor parte de la gente parece caminar mirando el piso, soportando la marcha cruel del libre mercado. Como seguramente ha sabido, no hubo socialismo, ni real, por suerte, ni utópico. Sabrá que se vinieron muchas utopías al suelo y quedó solamente en pie el neocapitalismo. O sea, lo mismo de antes pero aplicado a todo, desde el amor a la salud, la educación, el ocio, la fiesta, el trabajo. La gente hoy se endeuda, no ahorra. El pueblo no existe en los discursos y es, a lo más, una multitud que acude en masa a sembrar de pétalos la marcha del catafalco de un general de Carabineros. No hay movilización aunque la injusticia sea la misma o quizás hasta peor. Hay más dinero pero también hay más deudas. Hay más automóviles, más televisores, más electrodomésticos.

Hay muchas tiendas. Se marearía de verlas. Los diarios dicen todos casi lo mismo. "The Clinic", una extraña revista de humor sarcástico, lo ha dibujado como una especie de superhéroe pop.

La gente, sin embargo, lo admira. Aunque se tiñan el pelo, aunque se vistan de negro y se maquillen pálidos como muertos, aunque estén encaramados en los nuevos buses que como antes están llenos y no se sabe todavía qué hacer con ellos. No hay salud para todos, no hay educación para todos o, por lo menos, si la hay es cara y difícil de sostener, no hay espacio laboral para todos.

Hay muchos supermercados y la prosperidad a ratos lo tiñe todo de malls. La gente, cuando se distrae, sale de compras. Las tarjetas de crédito son más importantes que la cédula de identificación. La Visa es más importante que la vida. Los políticos apenas tienen tiempo para decir lo que piensan en los instantes que les concede la televisión, siempre pobres, siempre pocos. No se lleva su oratoria. Se lleva el guiño, la simpatía, una cosa que llaman la farándula. Aquí le habrían hecho entrevistas en "CQC" y sería portada de periódicos populistas que sólo están interesados en la diversión de la ciudadanía. No hay libros para todos. No hay nada parecido a lo que fue Quimantú, los libros son caros y escasos. El tiempo está tomado por los celulares y el internet. Todo es muy rápido y hasta el ocio es un negocio.

La televisión pautea la vida. Quizá lo invitarían a "Tolerancia cero" y serían duros con usted como casi no se usa.

Afuera hay protestas, como en sus tiempos, los camioneros, los estudiantes, el pueblo mapuche. No tienen la resonancia de antes. No hay en el aire la sensación de una revolución inminente. Más bien el cambio es de color de pelo, o de ropa usada, o de disco de moda. Por eso el orador, el gran orador, no tiene sitio. Y menos el romántico utópico. Todo es tan práctico, tan tecnocrático. A ratos eficiente, y se agradece, y cuando no lo es, la gente reclama. Y mucho. Para ser chilenos, esos que usted llamaba los habitantes de un país notarial, casi en exceso.

Lo echamos de menos igual. En el Senado, su estilo, su prosapia, su verbo. Lo silbarían muchos de los que estuvieron en el Gobierno militar, lo aplaudirían hasta los díscolos. Sería extraña su reaparición como senador vitalicio. O como senador fallecido ilustre. Quizá debería reformarse la Constitución y deberían participar algunos espíritus ilustres por votación popular. Y usted, Doctor Allende, sabría mucho más. La experiencia de los muertos no conoce barreras. Seguramente sería más contenido, apasionado pero terriblemente realista. Aun así, sería bueno verlo llegar, de terno, en guayabera, como se le ocurriese. Lo esperamos, Doctor, que los muertos tienen mucho que decirnos a los que nos hacemos los vivos.

15 de junio 2008

Fuente: Chileinforma
Fuente: www.piensachile.com

A DEFESA DO JORNALISMO

Pois não é que o debate aquele acabou saindo mesmo? O Sindicato dos Jornalistas aceitou a provocação que fiz, a Federação Nacional dos Jornalistas deu uma força, a Assembléia Legislativa entrou na jogada, oferecendo o espaço e a gravação em vídeo e ontem à tarde um grupo até bem grandinho passou quase duas horas discutindo e conversando sobre esta nossa profissão, tão mal compreendida.

À mesa (na foto acima, da esquerda para a direita), a diretora de Comunicação da Alesc, Lúcia Helena Evangelista Vieira, o presidente do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina, Rubens Lunge, este que vos fala, o diretor de Imprensa da Secretaria de Estado da Comunicação, José Augusto Gayoso e o Diretor Geral da Escola Superior de Advocacia da OAB/SC, Márcio Luiz Fogaça Vicari, representando a... OAB.

A platéia não estava lotada, mas o grupo que conseguiu dar um jeito, no meio da tarde de um dia de semana, pra ir ao debate, fez com que o esforço do Sindicato e da Alesc valesse a pena.

Algumas ausências foram especialmente sentidas: as direções ou coordenações dos cursos de Jornalismo e o Sindicato dos Proprietários de veículos de comunicação. Os primeiros, porque estão na linha de frente da criação de uma consciência ética nos futuros profissionais. E os segundos porque têm enorme responsabilidade sobre a qualidade da informação levada ao público e poderiam defender seus pontos de vista.

O público pequeno não me surpreendeu. O contrário é que seria espantoso. Não temos o hábito de conversar sobre nossos problemas profissionais, o que não significa que não exista muita gente preocupada. Mesmo assim, e apesar deste mediador medíocre, no final, entre mortos e feridos, a idéia salvou-se e talvez volte a dar frutos. Nunca se sabe.

Como resultados concretos do debate, ficaram algumas recomendações do Sindicato à Secretaria de Comunicação do governo, para aprimorar o cadastro de empresas jornalísticas que estão aptas a receber publicidade oficial. E a proposta de instalar o Conselho Estadual de Comunicação. Mais ou menos como os conselhos da saúde ou da segurança, seria uma instância, composta de representantes de várias entidades do setor, que acompanharia a forma como o governo está usando o dinheiro público na comunicação oficial.

É claro que o caso da revista Metrópole, qual um fantasminha travesso, volta e meia entrava nas conversas. Mas, para desencanto de quem estava sonhando em ver o pau fechar e rolar um arranca-rabo, o foco ficou mesmo foi na necessidade que têm, os jornalistas, de defender sua profissão. Ou o bom nome dela.

O fato é que, sem que ocorra uma conscientização ampla geral e irrestrita de que jornalismo bom é jornalismo ético, os picaretas vão continuar usando nosso santo nome impunemente.

Em tempo: até ontem à noite não estava definido se o debate seria transmitido pela Alesc. Se for, avisarei os dias e horários. Se não for, aviso quando os “melhores momentos” forem colocados no You Tube.

O COMEÇO DO FIM DO JORNALISMO

[Historinha que contei na abertura do debate de ontem]

Vou começar contando uma historinha que acho que pode nos ajudar a entrar no tema do debate de hoje. No começo da década de 90, Acari Amorim e eu fundamos uma revista de economia, a Empreendedor. Até 1995, quando saí da sociedade e deixei a revista, o Acari cuidava da parte comercial, e eu da parte editorial. A revista era mensal, com circulação nos três estados do sul.

No segundo semestre de 1994 tinha uma pauta em Curitiba que eu achava especialmente interessante, que estava custando a sair. Era a história da dona Esther Essenfelder, herdeira da fábrica de pianos que seu avô criara em 1890.

Com a morte repentina dos tios, que administravam a fábrica, essa senhora teve que deixar uma vida de dona de casa para transformar-se em empresária, num ramo difícil, tocando uma empresa familiar tradicional. Era uma história e tanto. A nossa repórter em Curitiba, Sônia Marques, me dizia que a dona Esther já nem atendia ao telefone, depois de várias recusas aos pedidos de entrevista. Fiquei muito curioso para saber, afinal, por que ela não queria que fizéssemos matéria. E pedi à repórter que fosse pessoalmente conversar com ela. Não mais para pedir uma entrevista, mas apenas para entender por que não queria nos receber.

A resposta foi estarrecedora. A pobre senhora, até com certo constrangimento, explicou que não podia receber a repórter porque a empresa estava passando por uma reestruturação e eles não tinham recursos para pagar a reportagem!

Quando soube que a nossa revista era diferente, que fazíamos jornalismo e ela não teria que pagar nada, imediatamente abriu-se em sorrisos e permitiu que fizéssemos a matéria. A reportagem foi publicada na edição de dezembro de 1994 e ocupou cinco páginas da revista, com um belo texto da Sônia Marques e fotos da agência MultiPress.

Não quero nem de pensar que tipo de experiências anteriores teriam feito a Dona Esther criar a convicção de que jornalismo é feito de matérias pagas. Este é, de fato, o começo do fim de tudo o que imaginamos, sonhamos e lutamos para o jornalismo: acreditar que se alguém aparece numa revista, jornal ou TV, é porque pagou para estar ali.

Em tempo: depois do debate o Jurandir Camargo veio contar que ele e o Belmiro Sauthier, que dirigem um jornal em São José, o Correio de Santa Catarina, tiveram durante anos problemas semelhantes, com vários de seus entrevistados. Não queriam conversa com o jornal com medo de, mais cedo ou mais tarde, terem que “morrer com algum”.

E A CULPA É DE QUEM?

Como em tudo na vida, também ao discutir as fontes de financiamento do jornalismo não devemos ser hipócritas, nem ingênuos. Muito menos as duas coisas juntas. Mas também não podemos fechar os olhos ou enterrar a cabeça na areia, enquanto os alucinados do lucro a curto prazo destroem os fundamentos de uma das mais antigas profissões do mundo.

A informação, vocês sabem, é uma necessidade básica do ser humano. Ninguém consegue viver sem ar, sem água, sem alimento e sem saber que gritaria foi aquela na caverna do vizinho. Confiar na nossa fofoqueira ou fofoqueiro preferido é fundamental. No momento em que desconfiamos que a história está mal contada, imediatamente vamos procurar outra fonte. Ao longo dos séculos, todos esses mecanismos foram sendo aperfeiçoados, mas na essência continuam iguais.

O homem e a mulher têm uma necessidade vital de informação. Ponto. Na impossibilidade de estarem em todos os lugares, pedem para alguém sair por aí perguntando e depois vir contar o que viu. Simples assim.

Com a sofisticação dos meios de distribuição de notícias e informações, os custos subiram. Manter um jornal, uma revista ou mesmo um site de internet, custa dinheiro. Durante um certo tempo, ficou acertado que parte do espaço dos veículos, seria vendido para quem quisesse aparecer. E criou-se uma clara diferenciação entre o que era conteúdo editorial, produzido pelo próprio veículo, e o que era publicidade ou propaganda. Um muro impermeável foi então instalado entre os dois departamentos principais, separando, evitando a contaminação, de uma área pela outra. Por menos que se queira acreditar, esse muro ainda existe, em muitos veículos de prestígio.

Mas nem tudo funciona assim, no mundo real. Logo que um veículo de comunicação entra em crise financeira, o primeiro bem que vai pro espaço é a sua independência editorial. Se tiver que escolher entre pagar as contas e informar com isenção, são pouquíssimos os que chegam a pensar duas vezes. Paga as contas e fica na torcida que o leitor não note que, de repente, a administração municipal parou de ter problemas. Até as cartas dos leitores reclamando do secretário de obras somem. “De fato, o prefeito parece que agora está trabalhando...”

Assim como aquele empresário argolado valeu-se de um providencial auxílio e, por gratidão, às vezes até sincera, fez por conta própria um desbaste nas unhas dos críticos, também há aqueles que fazem de caso pensado. Criam um jornal ou revista conscientes que o mercado publicitário local ou regional não terá condições de sustentá-lo. Mas, conhecendo a natureza humana, sabem que sempre é possível arrancar dinheiro em troca de promessas de promoção pessoal. Uma foto aqui, um elogio ali, uma boa referência acolá... Quem não gosta? São as maravilhas da imprensa a favor. Aquela que não dá problemas e está sempre ao dispor.

E quem são os culpados dessa situação ter chegado aonde chegou? Todos são culpados:

– Os jornalistas de verdade, porque ficam quietos enquanto sua imagem pública vai pelo ralo;

– os picaretas, porque são picaretas;

– as autoridades e os políticos: os honestos, porque fazem de conta que não viram; os fracos, porque aceitam as pressões e agasalham os picaretas; e os desonestos, porque fazem propostas indecentes e se locupletam;

– os publicitários de verdade, porque também ficam quietos enquanto os mascates travestidos de empresários da comunicação achacam e corrompem o mercado;

– os poucos empresários da comunicação que ainda vêem valor no jornalismo (são poucos mesmo, e estão em extinção), porque se calam, talvez com inveja, quando vêem as negociatas em que seus colegas estão metidos;

– e os leitores e espectadores que já se deram conta dessas distorções, porque também ficam quietos.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

RECUPERAÇÃO

Em política não existe impossível. Nem o “para sempre”. Basta ver como sobrevivem os políticos a grandes desgastes, que pareciam tê-los sepultados “definitivamente”.

O exemplo mais recente e didático que temos à mão, em Florianópolis, é o do abalo sísmico conhecido como Operação Moeda Verde. No embalo das escutas, a PF chegou até a executar uma mini-operação paralela, que apreendeu os vinhos que o vereador Juarez Silveira trouxe do Uruguai para seu amigo Içuriti Pereira, também flagrado nas escutas oficiais comemorando a chegada do mimo.

O desgaste político que todo aquele furdunço causou parecia enorme. Içuriti teve que sair de cena (era presidente da Codesc). Manteve apenas seu papel nos bastidores (é tesoureiro do PMDB).

Vereadores cassados, histórias cabeludas circulando, processos, suspeitas de delitos de vários tamanhos... na época parecia mesmo que estava tudo acabado para muitos dos personagens.

Mas o tempo passou e as coisas estão voltando a ser o que eram antes do furacão. Erros no processo devolveram a Juarez a cadeira na Câmara. Voltou a usar seus carrões (é apenas um fiel depositário, mas quem se importa com este detalhe técnico, quando o vê passar, lépido e fagueiro, na boléia do bólido?).

Não será surpresa se outra palha mal colocada também ressuscitar o ex-vereador Marcílio Ávila.

Içuriti, entretanto, não vai apenas voltar: teve uma promoção. Por fidelidade, por merecimento, ou por ter-se mantido calado. Segundo informa Moacir Pereira, em seu blog, o Suçu, assim que voltar da Europa, será chamado a Palácio para receber novas incumbências: será secretário de Estado da Casa Civil (ou que nome tenha, depois de tantas reformas).

Equipe recomposta e recuperação completada a tempo de mergulharem todos no principal projeto do governo LHS para a capital: reeleger o Darío e derrotar o Amin. Não necessariamente nesta ordem.

É HOJE!

A partir das 14h, no plenarinho da Assembléia Legislativa, vai ser realizado o momentoso debate entitulado “Governo & Imprensa, que relação é essa?”

Representantes de várias entidades, jornalistas, público em geral, vão se reunir para conversar um pouco sobre problemas que existem há muito tempo, mas que o recente caso da revista Metrópole avivou.

No centro do debate, imagino, estará o exercício profissional do jornalismo. O que é admissível e o que é reprovável? Quais as diferenças entre um jornalista e um picareta? É possível que uma empresa de comunicação sobreviva sem colocar à venda seus princípios e suas reportagens?

LEI SECA E MÃO MOLHADA

Sujeito que bebe e vai dirigir tem mesmo que ser parado e tirado da direção. O grande problema desse nosso País, entretanto, não é a lei. Temos, em várias áreas, legislação até bem moderna e adequada.

O problema é a aplicação da lei. Em São Paulo, estado rico, central, bem dotado de quase tudo, tem apenas 15 bafômetros. A tentação da corrupção será brutal: o agente terá, em suas mãos, a responsabilidade de aplicar uma pena de quase mil reais, mais suspensão da carteira, ou liberar o fulano. E pena definitiva, com pouca ou nenhuma chance de recurso. O que vocês acham? Não vai rolar um “por fora” nessa história não?

COBRANÇA ESPERTA

A prefeitura de Florianópolis está empenhada em aumentar, de qualquer maneira, sua arrecadação. De uns tempos pra cá tem enviado para as empresas sediadas na capital avisos de cobrança de ISS atrasados. Muito atrasados.

Os avisos chegam praticamente a cada semana, com duas cobranças em cada aviso. E prazo de 15 dias para pagar, sob pena de inscrição na dívida ativa. Algumas empresas foram pesquisar e descobriram que a pretensa dívida, de 2004 ou antes, não existia. O imposto estava sendo cobrado pela segunda vez.

Pode não ser apenas uma manobra esperta para reforço de caixa em ano eleitoral. É possível que o “sumiço” dos comprovantes antigos seja “apenas” reflexo da desorganização da prefeitura. Em todo caso, é muito conveniente para eles.

A operação não tem erro: se a empresa achar que o valor é pequeno e que não vale o trabalho de ir atrás do arquivo morto, paga e a prefeitura lucra. Se a empresa questionar (e vai se incomodar uma porção para provar), paciência, é do jogo. Neste caso, a prefeitura terá gasto apenas uma folha de papel e a postagem registrada do aviso. Mas sempre terá um certo percentual de empresas que prefere pagar a gastar com advogados para discutir o débito.

APRENDENDO A LER JORNAIS

Em fevereiro de 2003 li, na revista Carta Capital, uma entrevista com o professor Roger Silverstone, que acabava de lançar no Brasil o livro Por que estudar a mídia? (Edições Loyola). Ele propunha a alfabetização em mídia, como forma de controlar o quarto poder: “A cidadania do século 21 (...) requer do indivíduo que saiba ler os produtos da mídia e que seja capaz de questionar suas estratégias”.

Permitam-me puxar algumas brasas para a minha modestíssima e raquítica sardinha (obtida sabe-se lá por que meios, já que estamos no período do defeso): em 1988 mantive uma igualmente raquítica coluninha, chamada Do Editor, no jornal O Estado, de Florianópolis. Como editor-chefe, abria todos os dias essa janelinha para que os leitores vissem um pouco das nossas entranhas.

E isto, esta conversa diária sobre o jornal que estávamos fazendo, Silverstone também recomenda: “A mídia é intensamente não-reflexiva sobre a sua própria prática. Mas ela deve ser encorajada a mudar.”

É verdade que os ditos populares afirmam que a gente nunca deve querer saber como são feitas as lingüiças, as guerras, as leis e os jornais. Mas eu achava – e agora vejo mais gente pensando assim – que era importante que os leitores soubessem exatamente o que fazíamos e por que estávamos ali.

Reproduzo a seguir uma dessas coluninhas, a de 10 de abril de 1988, que para os mais letrados e experientes pode parecer primária. Mas vocês não têm idéia de como o pessoal, mesmo o que lê jornal freqüentemente, tem dificuldade para entender certas coisas que parecem óbvias para os jornalistas.

Do Editor 10/4/1988
Opinião

Um jornal começa a adquirir maturidade profissional quando seus leitores percebem, claramente, o que é opnião – e de quem – e o que é informação. Os leitores mais desatentos chegam a pensar que todas as matérias têm opinião do jornal ou de quem as redige.

Vamos dar uma olhada no nosso caso, que fica mais simples e é mais próximo. Este nosso O Estado faz questão absoluta de separar opinião de informação. Há espaços perfeitamente identificados onde as opiniões são expostas. São as colunas assinadas. Ali há informação e opinião. Os artigos assinados, da página 4 e da página “Ponto de Vista”, servem justamente para que o leitor tenha acesso a uma gama variada de opiniões sobre os mais diversos assuntos. O próprio leitor tem espaço para dar suas opiniões.

Mas no noticiário o leitor não encontrará opinião. Pelo menos não deve encontrar. A cobertura que fazemos dos fatos, dos acontecimentos, pretende ser bem equidistante, muito desapaixonada. Fazemos questão de manter um distanciamento que permita ver os dois, três ou quantos lados existirem.

É claro que existe uma discussão, antiga, sobre a objetividade no jornalismo. São tantos fatores subjetivos incidindo sobre nosso trabalho que a tal objetividade virou piada. Ao escolher que notícias irão preencher o espaço disponível na página, o editor está formulando um juízo. Ao colocar esta notícia em cima, abrindo a página, está formulando outro juízo de valor. E assim por diante.

Mas nós acreditamos que seja possível encontrar um ponto de equilíbrio. Que seria satisfatoriamente executado quando todos os participantes de um fato socialmente relevante (de uma notícia, enfim), reconheçam, ao ler sua descrição no jornal do dia seguinte, aquele fato em que estiveram envolvidos. Ao informar, ao descrever, fazê-lo comprometido exclusivamente com o rigor da informação e com a clareza da descrição. Ao editar, procurar identificar entre as notícias a relevância social de cada uma.

Este jornal não escolhe os eventos que vai cobrir segundo critérios de amizade, influência dos envolvidos ou coincidência de posições com as da empresa que edita o jornal. Há critérios jornalísticos e há limitações físicas. E temos a pretensão de separar bem as coisas.

Então é isso: nas matérias, assinadas ou não, está o factual. São as notícias, as informações. Nas colunas assinadas, nos artigos, no editorial, na Informação Geral e nas colunas do Editor e do Leitor, estão opiniões e pontos de vista.

terça-feira, 24 de junho de 2008

INFERNO ASTRAL

A coisa não anda boa pros lados do prefeito Volnei Morastoni (PT), de Itajaí. Depois de ver gente próxima a ele ser levada pela PF na Operação Influenza, recebe uma péssima notícia do Ministério Público Federal. Dá uma lida na nota distribuída hoje à tarde pela assessoria de imprensa do MPF-SC:

“Patrimônio Público / Itajaí
MPF propõe ação de improbidade contra prefeito de Itajaí
Cumulação de cargos públicos motivou ação

O Ministério Público Federal em Santa Catarina ingressou com a Ação Civil Pública por Atos de Improbidade Administrativa contra o prefeito de Itajaí, Volnei José Morastoni, e de sua esposa, Nausicaa da Silva Morastoni. Conforme a ação, os atos de improbidade administrativa provocaram enriquecimento ilícito e lesão ao erário. Caso sejam condenados, Morastoni e Nausicaa responderão pelas sanções previstas na Lei nº 8.429/92, que especifica os atos de improbidade administrativa.

Na ação, o MPF alega que Nausicaa exerceu, ao mesmo tempo, os cargos de servidora pública federal da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e de Coordenadora Técnica da Secretaria de Saúde (janeiro a outubro de 2005) e de Secretária de Saúde do Município de Itajaí (março de 2006 a abril de 2007). Ambas nomeações foram realizadas por seu esposo, o prefeito Morastoni.

Para o procurador da República em Itajaí Roger Fabre, "marido/Prefeito e mulher/servidora beneficiada, tinham consciência da ilicitude de suas condutas", pois a própria Constituição da República prevê que tal acúmulo de cargos públicos não é permitido. Para ele, a situação não era somente incompatível com o texto constitucional, haja vista que ambos cargos públicos demandam dedicação integral. Conforme a autarquia federal, a jornada da servidora é de 40 horas semanais, cumprindo o horário de 08:00 às 12:00 e 14:00 às 18:00.

Em caráter liminar, o MPF requer a decretação de indisponibilidade dos bens de Nausicaa, a fim de garantir o ressarcimento do dano causado ao erário federal. Conforme o pedido, a medida deve se limitar ao valor por ela recebido da ANVISA no período em que houve cumulação com os cargos municipais.

Por fim, o MPF requer a condenação de Nausicaa e Volnei à perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento integral do dano, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos, pagamento de multa civil, e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário.”

Ação: 2008.72.08.001947-4
Para acompanhar o andamento dessa ação, acesse o site www.jfsc.gov.br e insira o número informado acima no campo "Consulta Processual Unificada".

CONECTADO

Quando tinha uns 8, 9 anos, em Tubarão, SC, ganhei um rádio de pilhas. Era uma coisa enorme para os padrões de hoje, movido a seis pilhas grandes. Bem bom, com ondas médias e curtas, ficava ligado ao lado da cama enquanto eu pegava no sono. À noite, mesmo em ondas médias, conseguia pegar emissoras do Rio (Mayrink Veiga, por exemplo) e de outras cidades. Nas ondas curtas, ouvia línguas estranhas, muito estranhas e a programação em português de rádios de outros países.

Dormia feliz, toda noite, com a certeza de que estava conectado ao mundo.

Alguns anos depois, já em Florianópolis, compramos uma TV. Nem tinha emissora local, mas a Sociedade Amigos da Televisão estava instalando uma repetidora no cocoruto do Morro da Cruz. Rapazote, ainda ágil, fui para o telhado, montar a antena enorme. E toda noite girava a antena pra lá, pra cá, até conseguir alguma coisa mais do que chuviscos.

Por incrível que pareça, conseguíamos ver alguns programas, todas as noites, da TV Rio, da Guanabara, da TV Excelsior e da TV Record de São Paulo e de uma ou duas tevês de Curitiba. Muitas vezes com imagem até bem razoável. E quando a repetidora começou a funcionar, víamos a programação da TV Piratini, de Porto Alegre.

Dormia feliz, toda noite, com a certeza de que estava conectado ao mundo.

Passou o tempo e estava morando em São Paulo quando comecei a usar, em casa, um computador ligado à Internet.

Nunca mais dormi direito.

O QUE PENSAM OS FLORIANOPOLITANOS

A nota abaixo foi publicada no blog do Noblat hoje de manhã. Sem maiores explicações, revela o resultado de uma pesquisa feita em Florianópolis, com uma amostra de 600 eleitores. Trouxe pra cá, pra que vocês possam saber o que estão dizendo, aí fora, sobre o que a gente pensa.

Eleições

O que pensa a respeito o eleitor de Florianópolis

Para saber o que pensa o eleitor de Florianópolis dos políticos em geral e de eleições, a agência INCA.Giacometti / Midhas Consulting entrevistou 600 deles entre os dias 26 de maio e 10 de junho último.

Os principais resultados:

1. Se o voto não fosse obrigatório

* 59,7% não votariam
* 35,5% votariam
* 4,8% talvez votassem

2. Você é contra ou a favor do voto obrigatório?

* 63,6% contra
* 28,2% a favor

3. Data da eleição

* 50,8% sabem que é em outubro, mas não sabem o dia
* 34,7% não sabem em que dia e mês acontecerá a eleição

4. Apenas 52,8% sabem que a eleição é para escolher prefeito e vereador

5. 52,3% não sabem qual a função da Câmara Municipal

6. 44,2% não sabem o que faz um vereador

7. 75% votam no candidato e apenas 11,7% votam no partido

8. 29,2% escolhem o candidato a prefeito pelo trabalho que ele já mostrou

9. 19,5% escolhem o candidato a prefeito pela sua história de vida

10. 25,1% escolhem o candidato a vereador pelo trabalho que ele já mostrou

11. 16,6% escolhem o candidato a vereador pela sua história de vida

12. Apenas 23,5% acreditam que vice não é importante.

13. 46,5% dizem não acreditar em pesquisa eleitoral. 18,8% acreditam muito em pesquisas e 23,2 acreditam parcialmente

14. 84,1% dizem que não mudam o voto por causa das pesquisas

15. 30,5% nunca assistem ao programa eleitoral. 21,2% afirmam que sempre assistem”

JORNALISMO & DESIGN

Adicionei ali, na coluna da direita, novos blogs e sites, via RSS, com uma característica que os une: tratam de jornalismo e de design gráfico. Colunista de política nas horas vagas, faço também projetos gráficos, produção gráfica e diagramação de jornais, revistas e livros. Por isso gosto de acompanhar as novidades na área.

Os novos “feeds” deste segmento são estes:

Smashing Magazine

Blog do Mario García (festejado redesenhador de jornais)

Faz Caber, blog dos diagramadores da revista Época

I love typography, blog sobre... tipografia

NewsDesigner.com, blog sobre desenho de jornais

Spoongraphics, blog do Chris Spooner, com dicas e tutoriais de arte gráfica

Blog da Ilustrativa, um coletivo de ilustradores que tem de tudo um pouco.

Blog do Forum Mundial de Editores (editorsweblog.org)

HORA DO RECREIO

Do blog da ilustrativa recomendo, para quem gosta de boa música, este post. São oito clipes garimpados pelo André Valente, muito úteis para quem pretende ser roqueiro ou apenas músico de sucesso.

Clica aqui (sem pressa, que são oito clipes pra carregar).

E pros preguiçosos que não gostam de clicar nos links, trouxe um dos clipes, com “Os Cabinha”. Segundo o André, “desde a morte de Vinícius que a música brasileira não tem uma letra de tamanha beleza”.

GOVERNO E IMPRENSA

Lancei a idéia de um debate sobre as promíscuas relações que alguns veículos mantém com seus anunciantes para que alguém, ou alguma entidade, a executasse e eu pudesse, de longe e confortavelmente, dar meus palpites sem ter responsabilidade na coisa.

Não deu certo. O Sindicato dos Jornalistas me convidou, ontem, para fazer a abertura do debate. Isto significa que se o debate resvalar para um bate-boca sem graça, a culpa será do sujeito que apresentou o tema, que não soube colocar bem a questão. E se for um sucesso, graças às contribuições dos convidados e da platéia, ninguém lembrará das palavras iniciais. Um dia ainda aprendo a manter minha boca fechada.

Fazer o quê, né? Relaxar e tentar fazer com que a oportunidade – preciosa – de se tocar em temas tão importantes, não se perca. Ao contrário, que leve a outros eventos onde se aprofundem as críticas, avaliações e surjam novas idéias.

TODOS LÁ
O debate “Governo & Imprensa, que relação é essa?” será realizado amanhã (dia 25/6), a partir das 14h, no plenarinho da Assembléia Legislativa. Em princípio será transmitido ao vivo pela TVAL. Em todo caso, se tiver Sessão ou outro evento que impeça a transmissão ao vivo, será gravado para ser transmitido em outro horário. Mas, como se trata de um debate, é importante a presença de todos que conseguirem matar o serviço ou a aula.

DO QUE SE TRATA?
Será composta uma mesa com convidados especiais, representantes de entidades como Ministério Público Federal, Secretaria de Comunicação do governo do estado, Sindicato dos Jornalistas, Federação dos Jornalistas, Sindicato das Agências de Publicidade, Ordem dos Advogados do Brasil, Sindicato das Empresas Proprietárias de Jornais, etc.

A apresentação levantará algumas questões centrais na relação da imprensa com seus anunciantes, em especial o governo (como no texto abaixo). O objetivo é dar um foco, um rumo, que provoque o debate. Depois das contribuições daqueles que estão à mesa e na platéia, se tentará fazer alguma síntese ou definir algum encaminhamento.

O debate terá duração determinada e vai exigir muito do moderador, para manter o interesse, sem se perder em ramais secundários ou mergulhar para níveis inferiores. Não devemos ter grandes expectativas: em geral este tipo de debate funciona mais como uma arena onde se levantam questões e apontam problemas, do que como local onde se chega a alguma conclusão. Mas é justamente isso que estamos buscando: dar visibilidade aos problemas que cercam essa delicada relação.

POR QUE SÓ O GOVERNO?
Não sei se vocês lembram, quando propus o debate tinha sugerido outro título: “Promiscuidade e corrupção no jornalismo”. Logo em seguida pensei melhor e modifiquei a sugestão para “Promiscuidade e corrupção em nome do jornalismo”.

Os organizadores do debate descartaram minhas sugestões e preferiram “Governo & Imprensa, que relação é essa?” O título, de fato, é melhor que os meus. Abre o leque de possibilidades. Pode-se discutir, por exemplo, o que há de correto e saudável na relação. Não apenas as patologias.

Em todo caso, deixa de fora um personagem importante, que é o anunciante privado. Ele vai acabar entrando no debate, porque é inevitável. Mas o foco, neste primeiro debate, é mesmo o dinheiro público.

UMA RELAÇÃO DELICADA

[Algumas anotações feitas num velho caderno de rascunho, que pretendo incluir, de alguma forma, na abertura do debate de amanhã.]

Do que vivem as empresas jornalísticas? De onde vem o dinheiro que paga o salário dos jornalistas? Por que se diz que algumas matérias são pagas? É possível pagar para que o veículo de comunicação publique exatamente o que a gente quer?

Estas são algumas dúvidas que nós, jornalistas, imaginamos que o leitor e a leitora tenha. É provável que o leigo nem chegue a pensar nisso. Mas é importante provocá-los.

Afinal, a qualidade da informação que eles recebem depende, em grande parte, de como essas perguntas são respondidas. Estão em jogo, portanto, aspectos fundamentais do direito constitucional à informação.

As empresas jornalísticas, algumas das quais preferem ser chamadas de empresas “de comunicação”, vivem da venda de espaços publicitários. Oferecem ao anunciante a possibilidade de que seu anúncio seja visto por um número x de pessoas.

O dinheiro que paga o salário dos jornalistas vem, em grande medida, da venda desses espaços. Em menor medida, da venda do próprio produto (dos exemplares dos jornais, das assinaturas de acesso, etc).

As empresas que se portam corretamente mantém um espesso muro impermeável, separando o departamento editorial (que produz os conteúdos que oferece ao leitor, ouvinte ou telespectador), do departamento comercial (encarregado de vender os espaços para os anunciantes).

Como nem todos se comportam eticamente e os espertalhões abundam, há também quem ofereça mais do que apenas espaço. Há quem abra mais do que as páginas para o anunciante: abra, literalmente, as pernas.

Já se perdeu, na memória dos tempos, o momento em que se deu a primeira transação desse tipo. E nem é possível afirmar que a iniciativa seja do veículo ou do anunciante. Às vezes é de um, outras vezes de outro.

Como é isso? A empresa Y vai construir um prédio, prepara um anúncio de página inteira sobre o empreendimento, mas acha que o jornal deve oferecer alguma coisa em troca desse anúncio. Quem sabe uma reportagem falando mal do concorrente? Ou uma notinha elogiando o vereador Fulano (grande amigo da empresa, fundamental na solução de algumas pendências)?

Ao aceitar esse tipo de negociação, o jornal (ou a revista, ou a rádio, ou a TV, ou o site), derruba aquele precioso muro impermeável e entra no mundo da corrupção.

Corrupção, sim. O dinheiro é privado, a empresa é privada, o jornal é privado, mas a fé pública dos veículos de comunicação é um bem que esse tipo de acordo corrói. Corrompe. Deturpa. Fazer o leitor de bobo é corrupção. Deterioração de uma relação que deveria se basear na confiança.

A coisa mais importante, no jornalismo, é sua independência. Quando se fala bem de alguma coisa ou de alguém, é porque tem algumas qualidades, quando se fala mal, é porque se encontrou algum malfeito. E tudo de graça.

No momento em que alguém aparece bem na foto porque pagou para isso, desmorona tudo aquilo que mais prezamos e se estabaca, no chão lodoso da velhacaria, a pobre ética, essa moça tão mal falada.

Os governos, em todos os níveis, são compostos por políticos que precisam de votos para manterem-se no posto. A boa imagem, para os políticos, é um patrimônio essencial. Não faltam, portanto, espertos de todos os tipos que se apresentam para explorar essa fragilidade. Dão a entender, com maior ou menor clareza, que seus veículos só serão “parceiros” se ocorrer alguma “contrapartida”.

Hum... isso não soa como extorsão? Pois é. É mesmo. E o pior é que muita gente cai. Como patinhos.

DE LIVROS E MORIBUNDOS

Os advogados da coligação Salve Santa Catarina, depois de terem proposto ações pedindo a cassação do diploma do governador LHS, gerando moribundos que se arrastam nos corredores e escaninhos dos tribunais superiores, aproveitaram a idéia do Nei Silva e já falam em lançar um livro.

Outro? Sim, depois do “best-seller” que não se encontra nas livrarias (“A descentralização no banco dos réus”), vem aí um livro com a história das ações contra LHS. O advogado Jackson Domenico pretende contar todos os detalhes, desde o comecinho, quando “todo mundo” achava que não ia dar em nada, até os passos mais recentes. Ou até a sentença, se sair a tempo.

DONA MARISA DE MOLHO

Dona Marisa Letícia caiu de mau jeito e fraturou a clavícula. Por ordens médicas terá que ficar fora de cerimônias e atos oficiais. Vai dar uma desacelerada na agenda.

METRÔ E PROBLEMAS

Leitores preocupados com o projeto de tram, bonde, metrô de superfície ou que nome tenha, que LHS quer instalar em Florianópolis, de vez em quando enviam recortes de notícias com problemas que estão ocorrendo com projetos de metrôs Brasil afora.

A última, uma reportagem escrita pela Manuela Martinez para o UOL, diz, já no título, o seguinte: “Atrasadas em 5 anos, obras do metrô de Salvador ajudam a complicar trânsito”.

O trecho inicial de 13 km deveria ter sido entregue em 2003. Como não deu, reduziram pela metade, mas mesmo assim não rolou. A coisa se arrasta há nove anos. O valor inicial, de US$ 315 milhões, já pulou para cerca de US$ 500 milhões.

Ô gente agourenta. Será que ninguém sabe de uma notícia boa, de um bonde que tenha sido implantado em dois ou três anos? Ou que tenha resolvido um número maior de problemas do que os que criou?

domingo, 22 de junho de 2008

PROPOSTA DE CASAMENTO POLIGÂMICO

Nota do editor: antes de ser jornalista, fui cronista. E acho que continuo sendo. Comecei a brincar com as palavras antes de começar a brincar com as informações. Não esperem, portanto, encontrar aqui apenas a realidade crua, relatada com rigor e não se assustem se se depararem com a ficção cozida em seu próprio caldo. Como é o caso do texto abaixo, que não tem nada a ver com nada. Exceto com o fato de que escrevo por prazer.

PROPOSTA DE CASAMENTO POLIGÂMICO

Meus 25 anos de fidelidade à mesma mulher causam um certo espanto e muita incredulidade mesmo entre amigos mais chegados. Monogamia é uma convenção social que em certos círculos foi dada como extinta, desaparecida, transformada em objeto de estudo antropológico. Digna de merecer cuidadosas escavações, onde cada grão de poeira é retirado meticulosamente, com delicados pincéis.

Eu nunca fui um sujeito monogâmico. Tive a sorte de encontrar uma criatura que é, literalmente, todas as mulheres do mundo. E isto sempre me bastou. Duzentas ou trezentas mulheres em 25 anos é número suficiente. Foi isso que tive com esta única pessoa multifacetada. Morto de medo e inseguro como Tiradentes a caminho do barbeiro (consta que lhe apararam a barba antes de enforcar), ofereci, em troca, algumas dúzias de personagens. Não sei, contudo, até hoje, se cumpri adequadamente com os deveres. Porque elas são tantas e tão variadas, que não encontro a mesma por várias décadas e daí não tenho como perguntar “gostastes?”

Mas aí resolvi fazer um blog.

E ultimamente tenho sentido reacender, bem aqui, debaixo do plexo solar, exatamente onde o estômago toca, de leve, o coração e onde o diafragma, em dia de vento sul, arrisca alguns soluços, um impulso poligâmico.

Não tenho tempo. Vocês sabem, estou descolando milímetro por milímetro o meu tecido cerebral do teto de acrilit machetado (lembro-me, a cada milímetro, dos médicos que tentaram separar as moças siamesas que não eram do Sião). Por isso serei breve, direto, sucinto e até rude.

O que a Teruska tem-me dito ou sugerido merece, no mínimo, um flerte de mãos dadas em algum bistrô parisiense e com certeza três dias e noites de loucura em algum resort da costa baiana. O que a GiNiki me sugere (intencionalmente ou não) não tem outro significado que a partida imediata para Niterói, nem que seja apenas para ficar do outro lado da rua, suspirando à sua passagem. O que a Cé me disse em secreta correspondência exige corrida em câmera lenta numa praia do Caribe e lento mergulho em lencóis de seda chinesa. E tudo o que a Cris tem-me feito passar poderia fazer com que, alucinado, eu lhe escrevesse aquilo que outros disseram primeiro “senhora, eu vos amo tanto que até por seu marido sinto um certo quebranto”.

Só nesse parágrafo descompromissado já são quatro novas amásias, amantes, esposas, caracterizando cristalinamente a poligamia a que esse veículo tem-me obrigado. Ora, dirão os exegetas, “a coisa não se consumou”. Respondo, com a límpida claridade do macho saciado: “não conheces a força da imaginação...” Uma vez que o monógamo imaginou-se nos braços, ou apenas ao alcance dos olhos, quem sabe da voz, de outras, desfez-se a aura santificada e luziu o tremeluzente brilho purpúreo e rubro do pecado. Maravilha das maravilhas, o pecado foi inventado para dar ao trivial um sabor acridoce e raro.

Minhas lindas, minhas belas, minhas amigas, não se assustem com estas reflexões. Mesmo as não citadas são devidamente pensadas, sonhadas e desejadas. O polígamo virtual é um dependente químico-físico que precisa de ajuda. Braços, bocas, mãos, seios, tudo é importante para que a gente possa recompor o equilíbrio e voltar a ser a criatura cordata e monogâmica que nascemos para ser.

Todas as mulheres do mundo não é apenas o título de um filme. É, a partir de agora, meu lema. Vou começar pela minha rua, mas em dez ou doze anos chegarei ao Rio de Janeiro. E poderei, finalmente, saber o sabor real que tantas bocas à beira-mar plantadas têm. Assim, à distância, parecem ótimas. E dignas do rompimento do voto de monogamia que este asceta proferiu, em 1970, ainda eufórico com o tri, diante de uma imagem de São Nelson Rodrigues. Boa noite, sonhem comigo e até amanhã.

sábado, 21 de junho de 2008

ESSE AÉCIO...

Como o governador de Minas é visitante freqüente de Florianópolis e todos aqui o acham muito simpático, charmoso e elogiam seus talentos de namorador, achei que seria um bom programa, para o final de semana, mostrar um filminho que fala mal dele.

Não estou fazendo campanha contra o moço. O propósito de mostrar o filme é só dar uma sacudida naquele bom e velho ceticismo que não se deve deixar adormecer. Afinal, a única maneira da gente não ser feito de bobo é ficar, como os escoteiros, sempre alerta.



Quem me deu a dica foi o Paulo Dutra, que viu no site Blue Bus (especializado em notícias sobre publicidade e comunicação). Lá, numa nota no dia 13/6/2008, o vídeo é apresentado da seguinte forma:

Só noticias negativas sobre Aécio Neves veja integra do filme

08:24 Bom dia, este filme fala sobre as relaçoes entre o Governador Aécio Neves, TV Globo e o jornal Estado de Minas. E fala de censura no Brasil e do jornalismo comprometido da grande midia. Produzido para a Current TV, do ambientalista Al Gore, estreou dia 27 de maio na Inglaterra e já vinha sendo veiculado nos EUA desde o dia 20. Sob o titulo 'Gagged in Brazil' (Amordaçado no Brasil), foi realizado por Daniel Florêncio, cineasta mineiro radicado em Londres. Por enquanto ainda está disponivel no YouTube, veja clicando na imagem abaixo, é bem auto explicativo. Nao perca cada segundo.

E TEM MAIS!

O vídeo acima cita um documentário de estudantes de jornalismo, que já teria sido visto por mais de 80 mil pessoas no You Tube.

“O vídeo-documentário “Liberdade, essa palavra” trata de uma suposta restrição à liberdade de imprensa pelo governo Aécio Neves nos anos de 2003 e 2004. Foi feito como trabalho de conclusão do curso de jornalismo da UFMG por Marcelo Baêta e apresentado em banca em junho de 2006.”

Clique aqui para ir até o site onde está o documentário.

Naturalmente, os vídeos causaram uma reação, do governo e do PSDB. O partido diz que o vídeo é uma “fraude do PT” (hum, estaria aí a raiz do problema na coligação entre os dois partidos para a eleição municipal em BH?). E colocou no You Tube um vídeo “desmascarando” os denunciantes.

Esses vídeos “a favor”, com o contraponto (e com os entrevistados se desdizendo) estão também no mesmo site Amplifique.

A CIDADE DOS MEUS SONHOS

Daqui a pouco esta nossa cidade vai ser novamente agitada por uma campanha eleitoral para prefeito e vereadores. Temo que mais uma vez irão todos brandir os temas que suas pesquisas de última geração disseram que nós queríamos ouvir e de novo estaremos diante de nomes, criaturas, pessoas, com grandes projetos pessoais, numeroso séquito e enormes sorrisos. Provavelmente não teremos diante de nós, como não tivemos nas outras vezes, um projeto claro para as múltiplas cidades que cada um de nós tem em seus sonhos.

Há, com certeza, muita coisa, nas cidades de cada um de nós, que é comum a todas. É possível que muitos de nós queiramos um sistema amigável de transporte coletivo. As ruas são estreitas, as distâncias não são muito longas, deveria ser possível vez ou outra, para um trajeto ou outro, usar ônibus, bonde, barco ou trem, em vez de automóvel. E sentir-se bem servido e pagar um preço justo. Também deveria ser possível, a quem não tem veículo próprio, locomover-se pela cidade sem perder todas as horas do seu dia nem deixar nas catracas parte substancial de seu mirrado salário.

É uma ilha tão bonita, pelas janelas altas dos ônibus vê-se tão bem as paisagens mais famosas, que o transporte coletivo deveria ser mais fácil de usar. A cidade ficaria mais civilizada. Toda cidade legal e charmosa, se a gente prestar atenção, tem um transporte público eficiente e barato. A cidade que eu sonho tem essa facilidade, que é também uma liberdade pública.

Também pode ser que, naquela imagem utópica de cidade que temos em cada um de nossos corações, se encontre, em quase todas, um controle do uso do espaço horizontal e vertical. Um prédio que sobe desmesuradamente, não rouba só aqueles metros quadrados que ocupa no solo. Ocupa a paisagem, bloqueia a visão, provoca sombra.

Um prédio que abrigará centenas de habitantes, dezenas de automóveis, não deveria poder ser construído em ruelas que foram abertas para servir a meia dúzia de casas, habitadas por dezenas de pessoas, por onde circulavam, com alguma folga, duas charretes, o entregador de leite e seu cavalo baio, depois substituído por uma bicicleta e as crianças indo e vindo para o grupo escolar.

E estão já construídos, nessas mesmas ruelas estreitas, dezenas desses prédios. Sair e voltar de casa, em tantas e tantas regiões, é exercício de paciência. Onde as duas charretes paravam para que seus condutores conversassem por horas sem que ninguém mais aparecesse para usar a rua, hoje circulam a cada hora centenas de automóveis de moradores do local, dezenas de caminhões de entregas, dúzias de ônibus. E a única diferença é que agora a rua é asfaltada. E um pouco mais estreita, porque foram construídas calçadas.

O uso do solo numa ilha é coisa que deve ser tratada cientificamente. Cuidadosamente. Parcimoniosamente. Avaramente. Amorosamente. Não dá para aceitar níveis de adensamento urbano acima de determinados limites. Nas nossas cidades de sonho, os vereadores são eleitos por nós para defenderem essa cuidadosa ocupação, estabelecer limites, negar concessões duvidosas.

Nas cidades reais, parece que os vereadores têm suas campanhas financiadas por aqueles que precisam deles para defender uma ocupação máxima, para derrubar limites, ampliar cotas, aprovar concessões de todo tipo. O que a gente assiste, em geral, não desmente essa tenebrosa impressão.

Também imaginamos que, se fossemos poderosos donos do mundo, faríamos a cidade ser acolhedora e segura. Durante tanto tempo nos orgulhamos dos nossos morros, com suas casinhas coloridas de madeira e alvenaria. Não eram e não são favelas como as conhecem tantas outras cidades. Alguma coisa mais efetiva do que colocar barreiras, bloquear passagens, estigmatizar as pessoas por zona de moradia, deveria ser feita para proteger-nos a todos. Tarefa difícil e complicada (tudo é assim, nas cidades de hoje), a inclusão social e o controle das transgressões, não pode ser entregue só à polícia.

A segurança pública é responsabilidade coletiva porque, se das conseqüências se ocupam o médico legista e o coveiro, das causas deveríamos todos cuidar. Geralmente quando sonhamos nossas cidades e chegamos nesta parte, o sonho vira pesadelo. Porque não há soluções rápidas, fáceis e duradouras. Alguns de nós até acordam assustados e preferem não continuar sonhando. E candidatos preferem não falar nisso nas campanhas municipais, porque a segurança, formalmente, é com os governos estaduais e federais. Mas é preciso enfrentar esse pesadelo. Porque ele ocorre na nossa cidade. Nas nossas ruas. Na casa do vizinho.

Acho que só esses poucos itens já ajudariam a tornar mais parecida a cidade que temos em nossa imaginação com a cidade onde circulamos todos os dias. Tomara que saibamos escolher, que os candidatos saibam nos respeitar e que saibamos, não só na época das eleições, acompanhar, cobrar, pressionar. Porque uma cidade de sonho não se torna realidade sem esforço.

[Crônica publicada em 19/5/2004. Republico-a agora porque estamos às vésperas de nova eleição municipal e esses sonhos ainda não foram realizados.]

UMA SEXTA DO BARULHO

Não vou me meter no principal assunto do dia porque o DIARINHO está, da primeira à última página, recheado de informações, algumas delas exclusivas. E a hora é de informar-se, não de dar palpites. Embora esteja claro que a Operação Influenza foi um terremoto político com vários graus na escala de reeleição do Volnei. Que terá efeito eleitoral, não se duvida. A questão está no tamanho do estrago. E isso, só o tempo dirá.

Aparentemente a Operação teve, em Itajaí, São Francisco e Balneário, o mesmo impacto que a Operação Moeda Verde teve em Florianópolis. Gente conhecida, bem relacionada, alguns acima de qualquer suspeita...

Em Florianópolis, ontem, a novidade foi a libertação, por ordem judicial, do Nei Silva (autor daquele livro/dossiê “A descentralização no banco dos réus”). Saiu dizendo que vai provar, em juízo, tudo o que afirmou no livro. Ou seja, o processo é mais um daqueles moribundos que vai se arrastar, causando pesadelos.

Em tempo: o DIARINHO está disponível na banca mais próxima. O acesso em www.diarinho.com.br é restrito a assinantes.

SC GÁS AINDA FEDE

Ivan Ranzolin e seus partners da SC Gás resolveram partir para o confronto com o Ministério Público do Trabalho. A empresa compareceu ontem à audiência na 1ª Vara do Trabalho de Florianópolis, “sem cumprir as determinações da liminar expedida pelo Juiz do Trabalho José Ernesto Manzi, à exceção da renovação do prazo de validade do concurso e de apresentação de alguns documentos requisitados”.

A SC Gás ainda acabou levando uma bronca, na forma de uma determinação homologada ontem: “Para que as negociações de conciliação entre a SC Gás e o Ministério Público do Trabalho sigam adiante, a empresa deve dar um sinal de boa-fé, chamando imediatamente 12 aprovados em seu último concurso, além de desligar cinco comissionados admitidos de forma irregular”.

Por causa disso, a partir de segunda-feira serão chamados 12 concursados: um Analista de Tecnologia de Informação, três Assistentes Administrativos, um Analista Econômico Sênior, dois Analistas de Marketing Sênior, um Analista de Controladoria Plena, um Engenheiro de Segurança do Trabalho, um Técnico de Segurança do Trabalho e dois Advogados. Serão chamados observando-se a ordem de classificação no concurso público.

A próxima audiência para ver se concilia ou continua fedendo será quarta-feira (25 de junho).

VIDA DE PROFESSOR

Leitor que é professor de escola pública estadual conta que o colégio onde ele dá aula também recebeu galões de tinta para a pintura.

E daí ficou aquele dilema: quem pinta? Como os professores têm mais o que fazer do que ficar pintando parede, resolveram fazer um bingo, pra arranjar grana para pagar os pintores.

Uma professora reclama do Sinte, que “só sabe defender diretoras, especialistas, serventes, merendeiras e vigias”. Acha que deveriam pensar mais nos professores, “que são os que sustentam o Sinte”.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

TODOS À BANCA MAIS PRÓXIMA

Amanhã é dia de comprar o DIARINHO: a edição estará recheada com tudo o que você queria saber sobre a Operação Influenza e o impacto na região de Itajaí e Balneário Camboriú.

Tem também uma entrevista com o prefeito Volnei Morastoni (não sei se outros jornais conseguiram falar com ele, porque andava bem arisco o dia todo), cujo secretário de comunicação também foi preso. Um rolo e tanto, cujo impacto equivale ao que a operação Moeda Verde teve em Florianópolis.

DE NOVO?

Conversava hoje de manhã com amiga itajaiense, no msn, sobre o fato daquela bela cidade estar novamente nas manchetes da PF. E ela respondeu, carregada de ironia, que “de fato, isto aqui está virando uma 'Metrópole'”.

Pessoas conhecidas da região estão na listinha de suspeitos. Até o delegado da Receita Federal! E o Wilson Rebello (ex-superintendente do porto e ex-amigo do LHS) adiciona novas gradezinhas ao seu cartão de cliente preferencial da PF (com 800 grades o freguês já tem direito a cela voltada para o nascente e, com mil, a um legítimo cobertor “tomara que amanheça”).

Enquanto não se conhecem os detalhes e as suspeitas que pesam sobre cada um, saltam aos olhos as funções exercidas por estes dois, que constam do rol da PF:

— Anderson Saldanha, assessor de comunicação do Porto de Itajaí
— Normélio Weber, secretário de comunicação de Itajaí

Vocês também não ficaram curiosos para saber que esquema seria esse?

AGRESSÃO CONSENTIDA

Os moradores da Daniela, em Florianópolis, reunidos num atuante Conselho Comunitário, chamam a atenção para uma situação, no mínimo, estranha, que a Floram, órgão ambiental da prefeitura, criou. O pretexto é facilitar o assentamento de pescadores na época da tainha.
Conforme relata o presidente do CCDan, o irrequieto Rogério Queiróz, “existem hoje três ranchos, dois mirantes e uma casa, todos sobre a restinga. A casa e os demais foram autorizados pela FLORAM, com direito a colocação de luz elétrica trifásica e o poste está fincado sobre a restinga”.

O problema, naturalmente, não é a presença de pescadores à espera de algum lanço de tainha. É a forma como se instalaram. Ou, como resume o CCDan: “Socorro! A Restinga da Daniela – que é uma Área de Preservação Permanente protegida por leis federais, estaduais e municipais – foi invadida”.

As fotos (acima e abaixo) mostram um dos ranchos dos “caçadores de tainhas”, instalados em frente ao Recanto dos Girassóis. O “acampamento provisório” autorizado pela Floram, tem pouco de provisório. Um dos moradores está distribuindo texto onde relata como vê a coisa. Transcrevo alguns trechos:

“Neste local ficarão por quase três meses (25% do ano) perto de 12 homens, em edificação com cobertura em eternit, na maior parte do tempo, com seus “familiares”, lavando, erguendo varais sobre as arvores, cozinhando “alegremente” com “fogões improvisados” feitos com tijolos sobre a areia, com fogueiras alimentadas com vegetação local, fazendo todas as necessidades em fossas (?) improvisadas e gerando águas servidas que circulam livremente ao redor da “patética” possessão... (...)

Quando nos aproximamos (inclusive pela orla frontal = praia na região nobre de balneabilidade), somos observados, hostilizados e tratados como intrusos em área particular, tudo regularizado (como diz um cartaz local)... Cenário tribal de evidente rompimento com a comunidade circundante. (...)

Pelo que pudemos entender: a Floram legitima a ocupação, não esclarece (ou pelo menos não fiscaliza): o distorcido conceito de edificação provisória, o “escancarado” destino das águas servidas e esgotos, o contraventante e ostensivo preparo de alimentos no local e “ignora” a presença de não profissionais nos grupos... Autoriza ligação exemplar (com posteamento em concreto exclusivo sobre a área preservada) de energia elétrica, agindo com surpreendente “boa fé” no uso da concessão “dita provisória”... Ou seja: por omissão, estimula o conflito.

É admissível que estes pescadores façam sua pesca, que até instalem algumas discretas barracas e estacionem suas canoas, como o fazem ha vários anos para observar cardumes e eventualmente agir (nada mais)... Mas o que se vê este ano (2008) é uma afrontosa, depreciativa e perigosa invasão do espaço “legalmente intocável”, sob o “patrocínio” do órgão municipal que deveria protegê-lo. (...)

Hoje Daniela... Amanhã... Qualquer zona balneária que despertar interesse como ponto de “observação de cardumes” e assim: sobre “duvidoso arbítrio”, ser violentada, acima de qualquer restrição ambiental, em nome de legítima “tradição pesqueira”.

Querem criar na “frágil” área costeira “ciliar” verde da Daniela mais uma pseudo aldeota de “pescadores” (idêntica a que vemos na ponta do coral e outros pontos estratégicos da ilha)... Que na prática transforma-se em “conveniente” local de lazer a beira mar com energia, água potável e churrasqueiras para visitas e usos privados... Quando não: em pequenos pontos de venda ou barzinhos informais... (...)

Agora dizem que pretendem torna-los definitivo... Em ano político pode-se esperar tudo...
É assim que nascem os problemas que “hoje” finge-se solucionar com remendos...”