quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Tio Cesar se mudou-se!

Como toda mudança, as coisas acabaram sendo feitas meio de última hora e pela metade. A kombi que ia levar os móveis quebrou, a camionete com as louças extraviou-se e a casa nova não ficou totalmente pronta. Mas, tal e qual na vida real, chega uma hora em que a gente tem que tomar uma decisão, ou ficar sabe-se lá quanto tempo naquele chove e não molha.

Pois hoje tomei coragem, respirei fundo e falei, fazendo força pra voz sair forte e grossa: “chega de enrolação, vou começar a usar o blog novo hoje!” Foi uma correria, um Deus nos acuda (até parecia aquelas ocasiões em que o LHS, num discurso, e sem avisar antes, comunica que vai fazer tal coisa e os assessores ficam arrancando os cabelos pra correr atrás da máquina).

O novo post “Sapiens Park ou Ignorantum State?” já foi escrito e publicado na casa nova. Infelizmente, como mudou o endereço, sou obrigado a pedir-lhes o favor (e desculpas, pela incomodação) de anotar nos seus favoritos e trocar, nos seus leitores de RSS, o novo endereço:

www.deolhonacapital.com.br

Não é lindo? Espero vocês lá. Este endereço aqui vai continuar aberto, porque tem os arquivos, de 2005 até hoje, que não serão transferidos para a casa nova.

Em tempo: pros puristas que acharem que o título está errado, devo dizer que se trata-se apenasmente de uma construção feita segundo várias ortografias, existentes, imaginadas ou em implantação, por precaução e garantia.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Irregularidades no Mercado

O Mercado aí do título não é o tal que está em crise no mundo todo, mas o próprio Mercado Municipal Aldírio Simões, de Florianópolis, cuja reforma, feita às pressas depois do incêndio, está, segundo o Tribunal de Contas de Santa Catarina, sob suspeita de diversas irregularidades.

É o que diz a Decisão n. 4057/2008, publicada no último dia 19 de dezembro, a respeito do processo DIL - 05/04121596. O tribunal converteu o processo em “Tomadas de Contas Especial”. Isto, para bom entendedor, significa que tem caroço nesse angu. E é preciso levantar o tapete (preto?) para ver o que foi escondido ali.

Os responsáveis citados são Dário Elias Berger (Prefeito Municipal), Djalma Vando Berger (ex-Secretário de Obras), Luiz Américo Medeiros (Engenheiro Fiscal de Obras) e Leonardo Viegas (da Construtora JB Ltda.)

E quais seriam as irregularidades a serem investigadas? Ora, nada muito extraordinário: pagamentos a maior em uns 28 itens, pagamento por serviços não executados, pagamento por “serviço sem quantificação, sem especificação, impossibilitando a comprovação da execução”, ausência de projetos básicos, ausência de aprovação dos projetos nos órgãos competentes, descumprimento de uns quantos artigos da Lei das Licitações, pagamento antecipado, “sem a devida contraprestação dos serviços” em sete itens, realização de pagamento sem a medição prevista no contrato, etc e tal.

É bastante coisa, e coisa cabeluda, que os citados terão 30 dias para explicar. Mas os irmãos Berger, que já enfrentam outros processos semelhantes (por obras em São José), no Tribunal de Contas da União, aparentemente não se abalam com isso.

Colocam tudo na conta da perseguição política que lhes move o ex-governador Amin, que não se conforma com a derrota e de outras perseguições de gente inconformada com o sucesso da família.

Mais uma pizza, daquelas de oito fatias, está no forno.

Até mais, Paulinho...

Fiquei sabendo, só hoje, que o Paulinho Guimarães fechou a conta e saiu de repente, sem tomar a saideira, levado por um infarto. Bom amigo, boa vida, bom profissional, estava no interior de São Paulo, onde mora o filho, preparando-se para retornar, mais uma vez, a Florianópolis.

Passou pelas principais empresas de comunicação, na área comercial. Deixa enorme lacuna e grande tristeza no ar. Era sempre, nas casas e mesas dos amigos, uma presença alegre e divertida.

Até onde sei será sepultado na sexta, no Jardim da Paz, aqui em Florianópolis. Quando tiver a confirmação do horário, aviso.

ATUALIZAÇÃO DA QUINTA


O corpo do Paulinho deve chegar hoje à noitinha a Florianópolis. Será velado no Jardim da Paz e o enterro está marcado para as 4 da tarde de amanhã

Impacto de vizinhança

Tem uma coisa para a qual os administradores municipais não dão muita bola, mas que seria bom os contribuintes e eleitores começarem a conhecer e exigir: os estudos de impacto de vizinhança.

Acho que a cartinha abaixo, que roubei na caradura lá do blog do Moacir Pereira, explica bem a importância de se avaliar essas coisas, que podem não render para os caixas de campanha tanto quanto um bom alvará dado na hora certa à pessoa certa, mas ajudarão a garantir, para nossos filhos, uma cidade minimamente habitável:
“Prezado Moacir Pereira. Acima de tudo parabéns pela lucidez e poder de síntese ao descrever, nesta coluna de hoje, as mazelas geradas pela ausência de capacitação de dirigentes e dirigidos, responsáveis pelo Turismo nesta Ilha Capital [Na nota “Chega de amadorismo”].

Anexo denúncia protocolada na FLORAM, neste 06/01/09, que bem poderia constar de sua imensa lista de descasos públicos com o cidadão local e turista. Refiro-me a inauguração da "obra inacabada" do Supermercado Imperatriz do Córrego Grande.

Imaginar um Supermercado sem rampa de acesso para deficientes pela porta frontal, beira a obra da década de 70, onde inexistiam direito das minorias.

Imaginar um "Supermercado" inaugurar, com energia gerada por grupos geradores, a óleo diesel, por não ter sido concluída a ligação da CELESC. E imaginar que, passados mais de 10 dias, pós inauguração, os mesmos geradores continuarem (24 horas por dia) a atormentar o sono de moradores de area residencial, com ruídos acima dos permitidos em lei, demonstra o progresso que estamos autorizando para nossa "Ilha da magia". Imaginar uma calçada (com guia para cegos) repleta de veículos, com pedestres tendo de caminhar no meio da rua, não condiz com uma cidade que se pretende turística. Mais do que para o mar, a Ilha, ou melhor os responsáveis pela sua gestão, continuam de costas para moradores locais e turistas.

João Guilherme Wegner da Cunha, morador do Córrego Grande.”

Levanta-te e anda!


Outro moribundinho está sendo gestado na seção de protocolo do cartório eleitoral (que encaminhará ao TRE): o que vai assombrar o prefeito itinerante, que imaginou burlar a proibição de um terceiro mandato, concorrendo não apenas ao terceiro, mas também ao quarto, em outro município.

A ação, segundo leio no blog do Moacir, será protocolada pelo PP, que teria ficado “aguardando alguma iniciativa do Ministério Público Federal ou Estado em relação a Dário Berger” mas´, diante do silêncio estival...

CAFÉ DA TARDE

Pro pessoal que reclamou do uso indevido da imagem do moribundão pra ilustrar o moribundinho: já fiz uma carta-convite pra contratar uma empresa estrangeira pra desenhar uma família inteira de moribundos. Assim que acertarmos os preços e a taxa de selecionamento confiável e retorno autótctone, teremos novas imagens para este momentoso assunto. ATUALIZAÇÃO DAS SEIS: pronto, chegou o novo moribundinho. Agora o processinho do Dário já tem identidade própria.

E tem uma turma que está dizendo que se o MP e o TRE não estão achando nada de errado na itinerância do prefeito, nada acontecerá. Até pode dar em nada, mas o principal e o mais divertido da história será acompanhar a posição das autoridades locais diante do que o Tribunal Superior Eleitoral já decidiu. Que tremendo nó jurídico terá que ser dado (ou desfeito), pra mostrar que embora as situações sejam análogas, o itinerante daqui é menos fraudador que o de lá, né não?

Mas não sejamos pessimistas: quem disse que, provocada, a Justiça Eleitoral não dará a Florianópolis o mesmo tratamento que deu a Rio das Pedras e Palmeira dos Índios.

O prefeito itinerante reeleito pela quarta vez já deu, em nota oficial, o tom da sua defesa contra a acusação de fraude à constituição: “é coisa do do Amin, que não consegue se eleger no voto e quer ganhar no tapetão”.

Como o mundo seria simples se funcionasse segundo a lógica simplória desses políticos bem sucedidos nas urnas, né?

Tá quase!

Ontem finalmente a obra da nova casinha deste blog deu uma boa andada. Vieram todos os operários, chegaram a areia, o cimento e a brita e os galões de tinta. Já estamos, hoje, nos acabamentos. E esta parte, vocês sabem, é sempre a mais demorada, parece que não termina nunca. Sem falar nas coisas que a gente só percebe quando baixa a poeira. Ainda há pouco notei que o bacio tinha sido colocado ao contrário.

A casa nova, como já comentei aqui, é um endereço próprio de internet (sem blogger) e uma aparência diferente (pero no mucho). Assim que estiver em condições de receber as visitas, aviso.

Fala, leitor!

Um comentarista, que assina Talles Carneiro, está indignado com a situação do PTB. Na verdade, inconformado com o fato da sigla ter sido dominada pelo deputado/bispo Parisotto, da igreja Quadrangular. E, de certa forma, defende o Sontag, que saiu há pouco do partido. Abaixo, trechos do que ele mandou em três ocasiões (para ler a íntegra dos desabafos, abra a janela de comentários daquele post em que falei sobre o PTB):
“PTB VAI À PIQ

O que está acontecendo com o PTB?
O partido está prisioneiro de um projeto único.
O racha é muito maior do que se imagina.
Virou um partido de gaveta.
Ninguém quer ver o PTB SC ruir.

Vamos aos fatos:

Parissoto apóia Berguer e esquece que o vice de Amim era do PTB. Esqueceu do seu candidato?

Sontag tenta reestruturar o partido. O mesmo Sontag que não se curvou ao Governo do Estado foi a luta para deixar o PTB mais transparente, mais forte. Foi afastado da presidência. Será que o governo estadual está atrás disso também? A tríplice aliança vai alugar mais e mais partidos. Até quando?

A nova executiva de Pastores da Igreja Quadrangular, até ontem chamada de PTB, tomou posse em Chapecó e o PTB de Chapecó não foi convidado.
(??????). E olha que o PTB de Chapecó reelegeu seu vereador.

A executiva estadual formado em sua maioria por Pastores ou pessoas ligadas a Igreja Quadrangular com certeza vai a (*)PIQ.

* PARTIDO DA IGREJA QUADRANGULAR.

Um partido político não deve ter dono e ser usado para interesses de poucos. O fortalecimento da sigla de cada partido deve gerar ações que possibilitem uma vida melhor a todos os cidadãos. Um partido deve ser administrado com responsabilidade e ética acima de tudo.

(...)

A HISTÓRIA do PTB é muito maior do que o interesse pessoal do Deputado Parisotto, os petebistas precisam abrir os olhos, o partido está se perdendo, está sem planejamento e objetivos.

(...)

Muitas pessoas estão insatisfeitas com isso.

Vamos à luta e não vamos deixar o PTB SC morrer.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Cansaço...

Tá difícil engatar a segunda e ganhar alguma velocidade nesta volta ao trabalho. Pra todo lado que a gente olhe é tanta mesmice, tanta mediocridade, tanta falta de respeito pelas coisa mais simples, que o desânimo sobe em ondas, como uma enchente de água suja, irrefreável, inescapável, engolindo a mobília que durante tantos anos fomos acumulando na alma, encharcando de lodo fétido toda aquela roupinha cuidadosamente dobrada que estava nas gavetas do camiseiro sentimental, que é o coração.

Olho para minhas mãos e vejo ali, como numa miragem de filme B, as cicatrizes dos tantos murros em ponta de faca. Do que adianta tanto desgaste? A que leva tanto berro ecoando no vazio? Pra que tentar falar com surdos que não entendem nossos gestos e viram a cara, cegos diante das letrinhas que insistimos todos os dias em colocar diante de suas bocas mudas?

Pra que desperdiçar as últimas reservas de fosfato com ironias, sátiras, tiradas de humor (do bom, do mau e do horrível), se cada vez menos há cultura e ilustração nas cabeças coroadas? Eles simplesmente não entendem a língua que falamos. Não alcançam a mordacidade da crítica, não compreendem o que queremos dizer. E não fazem questão de saber, porque lhes falta, como à cucaracha da música folclórica, las dos patitas de atrás. Ou marijuana a que fumar. Vocês escolhem.

Hoje mesmo estive aqui, sentado à frente deste teclado, com a luminosidade da tela gritando na minha retina, várias vezes. Começava a falar nisso, ia um pouco adiante, desistia. Pérolas aos porcos. Depois tentava comentar aquilo, escrevia um parágrafo, deixava as mãos caírem como folhas mortas e parava. Não adianta, os que entendem não precisam que lhes diga, os que precisam, não entendem. E, finalmente, preocupado porque lá adiante, em alguma ponta desta sinistra rede abstrata e real poderia ter alguma leitora, algum leitor, esperando coisas novas, recomeçava.

Mas não tem jeito. O céu azul esplendoroso, o sol brilhante e o vento gentil, que deveriam encher-me de ânimo, alegria e força, têm efeito contrário. E desisto. Desligo a máquina sem conseguir escrever nada do que gostaria.

Talvez amanhã.

A enchente vista de dentro

Outro dia comentei aqui sobre as lembranças meio longínquas que tinha das enchentes. A Márcia, de Balneário Camboriú, mandou sua contribuição para essa conversa que, como ela também notou, estava ficando meio adocicada demais...
“Uma bela história, muy bem contada como só vc sabe fazer (Merece a puxada! X? Tive que conferir no velhíssimo dicionário que sobrou aqui, precisa ver o estado dos demais que estou secando. desembarrando, desgrudando no sol...).

Consoladora, em parte. Contudo, este tom doce de aceitação deve-se ao fato de ser só reminiscência de criança, para quem tudo é aventura, festa, felizmente. Quando a casa foi coberta, vc só foi visitar. Não passou por aquilo. Seguramente não estaria assim tão cordato, caso perdesse muita coisa pelo menos uma vez ao ano, e visse o fenômeno "natural" tornar-se cada vez mais grave, a ponto de vc ter como opções demolir sua casa, aterrar o terreno em 3m e fazer outra, para revolta dos vizinhos que ficariam "lá em baixo". Quem sabe mudar-se de vez para o telhado, manter o térreo vazio só para hospedar o barrão, que já apareceu até meia dúzia de vezes num ano, fazer garagem de barco... Ou enjaular-se num apê, após jogar seu velho amigo cachorro fora, ou comê-lo assado, como fez a mulher do Dali com o coelho deles.

A maioria das pessoas não tem opções. São Pedro e os fenômenos naturais não podem servir de cortina de fumaça (água? barro?) para a omissão generalizada das autoridades em planejamento urbano e ecologia.

Depois que tivermos saneamento básico, que a construção civil dos ricos e dos pobres seja bem fiscalizada e ordenada, que existam praças verdes (não moeda verde), etc, aceitarei a parte realmente natural dos fenômenos. Não podemos achar natural ver pessoas morrer em casas desmoronadas. Veja que tem gente feliz vivendo lá nos países que têm temporada de furacão (com evacuação das cidades, abrigos, planejamento...).

Aqui precisamos que os irmãos do norte nos avisem dos nossos ciclones-zinhos e dependemos daquela moça enjoadinha da Band para saber se vamos ver o telhado voando ou se a chuva vai arrasar tudo. Como vc mesmo já contou, é possível saber que vai chover tantos milímetros daqui a pouco no autódromo, mas tem-se deixado milhares de pessoas no escuro, no pânico, crianças sem água ou comida, sem saber se a Arca de Noé já passou, se é o fim do mundo, ou se o sol vai voltar amanhã.

Defesa civil não pode ser bombeiro desfilando de jet sky ou aqueles políticos oportunistas recolhendo pessoas de barco para jogá-las num colégio.

Em vez de estarem planejando gastar milhões do contribuinte no alargamento da praia, em Balneário Camboriú precisamos de ESGOTO! Praças! Ajude aí, já que vc é um César dos Valente.”

Da série: “Recordar é viver”

Repito a nota publicada aqui no dia 6 de janeiro de 2006.

A FALTA QUE O ALDÍRIO FAZ
O jornalista Aldírio Simões teria feito ontem 64 anos. Morreu de amor, em 22 de janeiro de 2004 e desde então os florianopolitanos têm se sentido um pouco órfãos. Ele dava aos “nativos” uma face pública, em seus programas de TV e em sua coluna de jornal. Com o troféu Manezinho da Ilha, que ele criou junto com outros manezinhos, conseguiu melhorar a auto-estima de uma grande parcela da população que, com o crescimento da cidade e a chegada de forasteiros, estava se sentindo por baixo, menosprezada e sem espaço.

Francisco Amante, escritor, doutor em manezices, autor de livros que reúnem informações sobre todos os que ganharam o troféu, diz que “o Aldírio faz muita falta, não temos mais, na imprensa, quem nos defenda”. O aniversário do Aldírio foi marcado ontem (em 2006) por um culto ecumênico e um show especial no vão do Mercado Público (que agora é Mercado Público Aldírio Simões, mas quase ninguém o chama assim).

Na foto acima, Aldírio comanda o programa especial de entrega dos troféus Manezinho da Ilha de 2003, que foi o último realizado com a presença dele.

EM TEMPO – Para saber mais sobre o Aldírio, ou apenas para avivar a memória, clique aqui e vá a um post com uma série de artigos sobre ele, de vários autores, reunidos pelo Chico Amante, que publiquei em 21 de janeiro de 2007, véspera do aniversário de sua morte.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

As aparências enganam

Uma das criações geniais do imortal Carlos Estevão, na revista O Cruzeiro (sim, sim, faz muuuito tempo) era o quadro “As aparências enganam”. Olha só esta amostra:



Pois é, essas histórias me vêem à cabeça de vez em quando. Estava eu olhando a ventania pela janela, no final de semana, quando, não sei por que, comecei a pensar. Ora, o pensamento até parece uma coisa boa, mas como é que a gente voa, quando começa a pensar, né?

Os brasileiros, aparentemente, elegeram como presidente um operário, um torneiro mecânico. Ahá, mas as aparências enganam: Lula era, e é, principalmente e antes de tudo, um político. E dos mais tradicionais. Fez carreira em sindicatos de trabalhadores, em cargos eletivos e/ou de confiança. Foi um dos fundadores de um partido político. Sua formação principal não se deu no Senai ou na empresa, mas nos sindicatos, nas campanha salariais, na movimentação política dos sindicatos. E, tal e qual tantos outros políticos, na luta contra a ditadura.

Quem já participou de algum sindicato sabe que ali se dá, em escala menor, todo o ciclo da política tradicional. Tem gente que põe a mão no baleiro, tem companheiro que trai companheiro, tem oportunista, tem bem intencionado, tem ingênuo e tem muita gente esperta. Exatamente como em qualquer partido político, na disputa de qualquer prefeitura, de qualquer cargo eletivo.

Muito sindicato administra orçamentos maiores que o de algumas prefeituras. E na maioria, existem famiglias que mantém o poder anos e anos a fio. Ou porque são da mesma corrente partidária, ou porque são amigos, ou porque são cúmplices, ou porque se dizem aliados, o fato é que na política sindical, como de resto na política como um todo, não existem santos. Ainda que alguns usem asas e auréolas luminosas e sejam considerados, pelos companheiros, como tal.

Hoje, à luz do sol, achei meio sem sentido a minha pensata chuvosa. Até porque tenho a impressão que ninguém mais, mesmo aqueles que amam Lula de paixão, acredita na história de que temos um presidente operário. E, portanto, cheguei atrasado, como sempre, lento que sou, ao óbvio: ele é igual aos demais políticos porque é um deles.

Mau gosto sem fronteiras

A Maristella pede pra avisar aos incautos e desassistidos florianopolitanos de bom gosto que a Havan comprou o centro comercial Entrelaços (av. Rio Branco) e já está preparando a instalação de mais uma daquelas horrorosas réplicas da estátua da Liberdade.

Como o código de posturas da Capital é extremamente flexível e não está nem aí para essas questões subjetivas, provavelmente tudo deve ter sido aprovado, carimbado, registrado e estimulado. E, na inauguração, decerto o prefeito-candidato, os secretários-prefeitos-de-fato e mesmo o governador-itinerante aparecerão para louvar e elogiar o empresário que não gosta de pagar impostos em dia, mas adora soltar foguete e “brinda” as cidades onde se instala com monumentos ao mau gosto.

EM TEMPO

Milhares de manezinhos já iniciaram uma corrente de solidariedade pra ver se, com a força do pensamento positivo de bom gosto, conseguem evitar o atentado. Nutrem, os solidários, a esperança que a informação não se confirme e torcem para que seja mais uma barriga deste blog. Como tenho amigos morando ali por perto, também estou ansioso para poder fazer uma errata dizendo que não é nada disso. Mas, até o momento, nada existe que nos permita diminuir o fervor das orações.

De volta

Nos últimos dias este blog foi atualizado num ritmo bem mais preguiçoso que o habitual. Gostaria de levar a vida numa marcha lenta permanente, mas a sociedade não compreende estes anseios e, na maioria dos casos, nem os remunera adequadamente. Assim, terei que retomar o ritmo se quiser continuar a receber os caraminguás que a minha chefe libera praticamente todos os meses.

Os planos de melhoria do blog que tinha agendado para o período de festas também entraram em ritmo de obra pública. Só agora consegui terminar o processo licitatório e provavelmente esta semana os operários vão começar as obras, se não fizer muito sol.

Portanto, continua, por enquanto, tudo como dantes. Vou tomar pé da situação e, sem muita pressa (afinal, acabei de acordar...), volto ao trabalho. Provavelmente ainda hoje.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Piada sem graça

Esta “piada” está circulando por e-mail há algum tempo. Seria engraçada, não fosse sua apavorante plausibilidade. A toda hora a gente fica sabendo de empresas que venceram licitações e subcontrataram outras para executar a obra. Por mais que se saiba que a anedota é apenas uma anedota, fica sempre um gosto amargo no desconfiômetro...
“Um prefeito queria construir uma ponte e chamou três empreiteiros: um japonês, um americano e um brasileiro...

- Faço por US$ 3 milhões - disse o japonês:
- Um pela mão-de-obra.
- Um pelo material.
- E um para meu lucro.

- Faço por US$ 6 milhões - propôs o americano:
- Dois pela mão-de-obra.
- Dois pelo material.
- E dois para mim... mas o serviço é de primeira!

- Faço por US$ 9 milhões - disse o brasileiro.
- Nove paus? Espantou-se o prefeito. Demais! Por quê?
- Três para mim.
- Três para você.
- E três para o japonês fazer a obra.

Negócio fechado! Respondeu o prefeito.”

sábado, 3 de janeiro de 2009

Essas enchentes...

Tem gente que acha mesmo que essas chuvaradas, com enchentes e enxurradas são coisas novas. Pode até ter alguma alteração climática, mas essas coisas acontecem há muitos anos.

Vou aproveitar o sábado chuvoso e de vento forte, pra contar uma história que vivi no começo da década de 60 (e que acabou entrando aqui no blog na madrugada do domingo). Bem no comecinho. Não posso, assim de cabeça precisar o ano, mas é fácil descobrir: a Auto Viação Santo Anjo da Guarda, de Tubarão, tinha recebido os primeiros ônibus Mercedes-Benz diesel, de cara chata. Brasília era o assunto do momento, não por causa dos seus políticos, mas por causa de sua construção e inauguração. E eu ainda morava em Tubarão (mudei-me para Florianópolis em 1964).

Minha mãe era auditora da Receita Federal (na época chamava-se “coletora federal”) sediada em Tubarão. E de vez em quando tinha que vir a Florianópolis. Às vezes vinha de avião (tinha linha regular, com o bimotor DC-3, da TAC), mas ela não gostava muito de voar. Algumas vezes eu vinha junto.

Nesta vez, em especial, meu pai, que era dentista, tinha ficado em Tubarão e viemos só minha mãe e eu à capital. Aqui moravam tias, primos, primas, tanto do lado dos Valente, quanto do lado dos Macedo. Sempre achei Florianópolis, onde nasci, muito divertida.

Pegamos o ônibus da Santo Anjo para voltar. Lembro que era um ônibus novo, alto, com motor ao lado do motorista. Como tinha uns sete ou oito anos, tem muitos detalhes que não lembro (e posso ter trocado, ao longo dos anos, alguma coisa). Mas lembro que quando descemos o Morro dos Cavalos, o ônibus parou: a reta que se seguia, no vale, estava toda embaixo d'água. Mesmo com toda a altura do ônibus, não daria pra passar. Voltamos até a Enseada do Brito.

Por algum motivo (provavelmente alguma queda de barreira ou outros alagamentos), tivemos que dormir ali mesmo, na Enseada, em casas que, com a cortesia que era hábito naquela época, abriram suas portas para os passageiros do ônibus. Eu estava achando tudo muito divertido.

No dia seguinte, cedinho, fomos de novo até o outro lado do Morro dos Cavalos, pra ver se dava pra passar. Que nada, a enchente continuava. O ônibus tentou avançar o quanto deu, mas não foi muito longe. Passou os primeiros trechos, mas logo adiante havia uma área mais funda. Alguém apareceu com uma canoa e os passageiros foram levados até o outro lado. Lá, embarcamos na carroceria de um caminhão (a viagem estava cada vez mais divertida, eu sabia que nunca me esqueceria daqueles dias), que nos levou até Paulo Lopes.

A esta altura já começava a anoitecer novamente e outro pernoite foi arranjado em casas de família da cidade. No dia seguinte, um ônibus que estava trancado em Paulo Lopes levou-nos até as Sete Pontes, local perto de Garopaba, um baixio com sete pequenas pontes de madeira, que, é claro, estavam todas embaixo d'água. Dali não passava. Mas, do outro lado deste alagamento, estava outro ônibus, que tinha vindo de Tubarão.

Atravessamos de canoa este último trecho alagado e aí acabou-se a parte inusitada da viagem. O resto do trajeto foi normal. Estrada de terra (acho que tinha alguns trechos com a 101 em construção), balsa em Imaruí e chegamos em casa cheios de histórias pra contar.

Enchente nunca me assustou, talvez porque, em Tubarão, desde que me lembro, tinha enchente todo ano. Claro que não eram grandes alagamentos, ficavam circunscritos a áreas conhecidas. Lá em casa (foto abaixo), quase sempre chegava até a garagem e interrompia o caminho que eu fazia habitualmente para a escola (ôba!).

Em 1974 a coisa perdeu a graça, porque ocorreu o grande desastre, em que a água cobriu a casa, que não era mais nossa (como disse, a gente se mudara pra capital dez anos antes). Mas eu estive lá, como repórter, nos dias seguintes à tragédia, e entrei na casa da foto, que ainda estava cheia de lodo, do teto ao porão. Mas isto é outra história.

Celebridade post-mortem

O padre balonista paranaense ganhou o Darwin Awards de 2008.

Aqui (em inglês).

Pra quem nunca ouviu falar, o prêmio Darwin é uma brincadeira internacional, que “premia” todos os anos os casos verídicos de pessoas que acidentalmente tenham excluído-se a si mesmas do genoma humano, contribuindo, desta forma, para “o aperfeiçoamento” da humanidade.

Parece cruel, mas ao ler as histórias com atenção (infelizmente estão em inglês), percebe-se que, além do humor negro, há uma crítica sarcástica àquilo que, no Brasil, chamamos genericamente de burrice. Portanto, cada vez que alguém comete uma estupidez tamanha que lhe tira a vida, passa a ser candidato natural ao Darwin Awards.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Censura reincidente

Parece que a Constituição Federal, que assegura liberdade de expressão, foi revogada em Santa Catarina. Pela segunda vez o governo do estado consegue, do Judiciário, a censura ao veículo de comunicação da Associação dos Praças.

Não basta não dar aumento, é preciso calar a boca dos que criticam ou reclamam. Como se a censura fosse um ato aceitável ou “natural”. Se as algemas e a prisão preventiva têm sido consideradas, pelos tribunais superiores, como instrumentos que devem ser usados com grande parcimônia, por que a censura, abjeta, retrógrada e autoritária, deve ser usada a três por quatro, como se fosse um remedinho qualquer, sem contra-indicação e sem efeitos colaterais?

Imagino que a juíza substituta Maria Augusta Tridapalli tenha pesado bem a força e a repercussão de seu ato censóreo, que nos faz retroceder às trevas medievais. Claro que a civilização, neste canto esquecido do mundo, teria avançado um pouco mais, se ela tivesse encontrado outra saída para a mordaça que o governo quer impor a seus adversários, sempre contando com a ajuda do Judiciário. Mas nem todos conseguem, na pressão a que são submetidos no dia-a-dia, distanciamento suficiente para ver o lugar que poderiam ocupar na História. E acabam, lamentavelmente, identificando-se com a vanguarda do atraso.

Arrisca-se o governo LHS, com essa insistência em censurar, contra a Constituição e contra o bom senso, em ver suas demais realizações obscurecidas, nos registros históricos. Afinal, em pleno século 21 usar a censura como instrumento político, em países ditos democráticos, é assunto sempre mais palpitante do que acessos asfaltados, descentralização administrativa e teatros com heliponto sobre a caixa do palco.

O dia em que a capital parou

Tem quem pense que é brincadeira quando a gente fala que a Ilha, qualquer dia desses, pode afundar. Tem turista demais, morador demais, carro sobrando e espaço de menos.

Hoje choveu e, naturalmente, a turistada que abarrota as praias teve, ao mesmo tempo, a mesma idéia: “bamos al centro!”, disseram uns, “vamo pro centro, manô!”, disseram outros. E o resultado foi um engarrafamento monstro.

As regiões dos shoppings e supermercados foram as mais atingidas pelo excesso de veículos e gente. E só se deu bem quem não precisou sair de casa.

Daí a gente pensa: não é todo ano a mesma coisa? É. Na temporada, dia de chuva é dia de engarrafamento no centro. Então, manezinho esperto já sabe: dia de chuva não inventa de sair à rua. Fica bem quietinho, esperando a enxurrada de turistas passar.

Cadê a Guarda Municipal?


Tão certo quanto a cidade ficar engarrafada em dia de chuva, no verão, é a Guarda Municipal, que deveria cuidar do trânsito, desaparecer. Não querem nem saber de se meter naquele rolo todo.

O segundo mandato do prefeitoDário começa com uma escandalosa manifestação de descaso e omissão. A cidade parada, ruas entupidas, motoristas sem saber o que fazer e o Poder Público mantém-se ausente. Omisso.

Decerto estão todos ainda de férias, ou na ressaca da festa de posse. O contribuinte e o eleitor que se ferrem. Imagina se alguém vai querer se meter a organizar o trânsito num dia de chuva?

Cidade que sofre com um crescimento desordenado, Florianópolis tem todas as condições para que se criem engarrafamentos. O único paliativo seria ter um batalhão eficiente de guardas de trânsito. Mas isso, é claro, é pedir demais.

Incompetência irresponsável

Canasvieiras, um dos principais balneários da capital, situado no norte da Ilha, teve várias ruas alagadas, com a chuvarada da manhã.

Enchente à beira-mar só tem uma explicação: falta de planejamento na construção das vias ou falta de limpeza da canalização pluvial.

As férias de dois meses do prefeito (saiu depois da eleição e só reapareceu ontem), ao que parece, foram acompanhadas por intendentes e outros servidores: ninguém fez nada para preparar a Ilha para a temporada de verão (que é também, em geral, chuvosa).

E o pior é ver que há eleitores/fãs que ainda encontram desculpas para o deboche com que somos tratados pelas autoridades municipais.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Arrumem as malas!

Depois de um ano com escassos feriadões, finalmente chega 2009, que é pródigo em oportunidades para matar o serviço, emendar feriados e passear ou ficar sem fazer nada. Olha a listinha de feriados:

Fevereiro
21 a 24, sábado a terça – Carnaval.

Abril
10, sexta – Paixão de Cristo (e domingo é Páscoa);
21, terça – Tiradentes

Maio
1º, sexta – Dia do Trabalho (hehehe)

Junho
11, quinta – Corpus Christi

Setembro
7, segunda – Independência

Outubro
12, segunda – N. Sra. Aparecida

Novembro
2, segunda – Finados
15, domingo (!) – Proclamação República

Dezembro
25, sexta – Natal (o que significa que 1º/1/2010 também cai numa sexta).

Não estão computados aí os feriados municipais e estaduais, que certamente ajudarão a transformar 2009 num ano melhor para todos.

Ah, aqueles que acham que feriadões demais atrapalham o desenvolvimento, entravam o crescimento e nos deixam mais preguiçosos, estão precisando de umas férias pra arejar a cabeça e parar de ficar pensando bobagem.

EM TEMPO (PÕE TEMPO NISSO...)

Bem no espírito dos feriados, a mudança do De Olho para a nova casa (vou mudar de endereço e alterar a aparência do blog) está um pouco atrasada. O pessoal que ia carregar os móveis escada acima resolveu ir pra praia e a turma que ia instalar as cortinas e o telefone ficou até tarde fazendo samba e amor e ainda não apareceu. Mas acho que até sábado, domingo ou segunda estará tudo pronto. Se não estiver, então ficará na terça ou quarta. Qualquer coisa, aviso. E muito axé procês todos.

De Sanctis na TV

Pra quem já curou a ressaca, taí a entrevista que o juiz Fausto De Sanctis (aquele que mandou prender Daniel Dantas duas vezes e irritou o presidente do STF) deu à RedeTV no último dia 28.

Aqui.

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Quase esqueço...

O Guia Prático Michaelis da Nova Ortografia, em pdf, pode ser baixado aqui. É facil e tranquilo de ler e de entender. Acho que iremos todos achar meio esquisito, pelo menos nos primeiros meses, mas não é complicado.

Para quem lida com design gráfico e diagramação, a norma mais desafiadora está na página 29. Como disse abaixo, boas entradas!

Feliz ano novo!

Quando comecei esta coluna, em agosto de 2005, não podia imaginar que ela duraria tanto tempo. Assim como também não poderia imaginar o enorme volume de palavras carinhosas e de estímulo que tenho recebido por e-mail, nos comentários, por telefone e pessoalmente ao longo destes três anos e quatro meses.

Se no começo achava legal por causa da novidade (nunca tinha feito coluna de opinião política antes), agora acho legal por causa dos leitores e leitoras que dizem o que pensam, que me ajudam a fazer melhor todos os dias e que merecem um ano realmente novo, próspero e feliz.

Dia 1º à tarde eu volto.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Bita tira Medaglia do sério

O Mário Medaglia teve saco de ouvir a entrevista do viceBita na CBN. E diz que a lenga-lenga do surfista-bispo azedou-lhe o dia. Bem feito. Não mudou de estação porque não quis...

Para ler o que o Medaglia escreveu, é só clicar aqui.

Como aperitivo, taí o comecinho da nota “Pastor também mente. E como”:
“O vice prefeito Bita Pereira e prefeito interino de Florianópolis estragou meu dia e azedou meu fim de ano com a entrevista que deu hoje pela manhã na rádio CBN aos jornalistas Mário Motta e Moacir Pereira. Com sua conversa pastoral e sem conteúdo desfiou um monte de baboseiras sem o menor sentido, transformando aquele espaço em uma grande peça de ficção.”

Prefeitos na corda-bamba

“... não se pode, mediante a prática de ato formalmente lícito (mudança de domicílio eleitoral), alcançar finalidade incompatível com a Constituição, qual seja, a perpetuação no poder. O apoderamento de unidades federadas para, como no caso, a formação de clãs políticos ou hegemonias familiares.”

Ministro Carlos Ayres Brito, presidente do TSE
Putz, preciso estudar a reforma ortográfica. Afinal, corda-bamba também perde o hífen? Bom, enquanto não desvendo essa momentosa questão, o fato é que há prefeitos que podem perder, além do hífen, o mandato.

O TSE publicou o acórdão sobre o Recurso Especial Eleitoral nº 32.507, relatado pelo ministro Eros Grau, referente ao prefeito de Porto de Pedras (no sapato?), Alagoas.

E ali, com todas as letras, está dito que mudar de domicílio eleitoral para concorrer a um terceiro mandato é uma fraude à Constituição. A decisão interessa diretamente aos eleitores de Florianópolis, que deram mais dois mandatos a um prefeito que já tivera outros dois mandatos.

Como fraude à Constituição não prescreve, o rolo, aqui, ainda vai dar muito pano pra manga. Assim que o Judiciário recomeçar a trabalhar, acho que no dia 6, será protocolada uma ação (se não forem várias) pedindo a cabeça do Dário Berger. Digo, pedindo o mandato. Porque, como está estabelecido no caso de Alagoas, não se trata nem de pedir a cassação do diploma, mas “apenas” que o TSE declare a nulidade do ato.

É, provavelmente, o fato político mais importante do primeiro semestre de 2009 na capital. E o que vai dar mais bate-boca (ou seria bateboca?). Os partidários dos Berger, naturalmente, tentarão levantar aquela velha questão: “o povo elegeu, agora querem dar um golpe no povo, e a vontade popular, onde fica?” Como se o voto significasse absolvição de todos os pecados presentes, passados e futuros.

Pelo que se lê no processo (e posso estar errado, afinal não tenho luzes jurídicas), ocorreu o inverso: o povo, o eleitor, é que foi ludibriado. Não tinha como saber que a interpretação da lei feita pelos advogados do candidato e aceita pelo TRE era questionável. E que, afinal, tratava-se de uma fraude (desculpe repetir a palavra, mas está no acórdão e é, mesmo, muito forte).

Taí. Se vocês estavam achando que 2009 ia começar devagarinho preparem-se, a coisa vai ser de tirar o fôlego.

Ah, a decisão:
ACÓRDÃO
RECURSO ESPECIAL ELEITORAL Nº 32.507 – CLASSE 32ª – PORTO DE
PEDRAS – ALAGOAS.
Relator: Ministro Eros Grau.
Recorrente: José Rogério Cavalcante Farias.
Advogado: Fabio Costa Ferrario de Almeida.
Recorrido: Ministério Público Eleitoral.
RECURSO ESPECIAL. ELEIÇÕES 2008. REGISTRO CANDIDATURA. PREFEITO. CANDIDATO À REELEIÇÃO.TRANSFERÊNCIA DE DOMICÍLIO PARA OUTRO MUNICÍPIO. FRAUDE CONFIGURADA. VIOLAÇÃO DO DISPOSTO NO § 5º DO ART. 14 DA CB. IMPROVIMENTO.

1. Fraude consumada mediante o desvirtuamento da faculdade de transferir-se domicílio eleitoral de um para outro Município, de modo a ilidir-se a incidência do preceito legal disposto no § 5º do artigo 14 da CB.

2. Evidente desvio da finalidade do direito à fixação do domicílio eleitoral.

3. Recurso a que se nega provimento.
Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por maioria, em desprover o recurso, nos termos das notas taquigráficas.

Brasília, 17 de dezembro de 2008.

CARLOS AYRES BRITTO – PRESIDENTE

EROS GRAU – RELATOR
REspe nº 32.507/AL.”

E, para terminar, trecho de uma das peças mais importantes do acórdão (talvez devesse ter começado com isto), que é o voto do presidente do TSE, ministro Carlos Ayres Brito, redigido com uma clareza e uma contundência que chegam a surpreender:
“(...) 4. Essa, pois, a discussão dos autos: saber se é lícito a uma pessoa ser “prefeito” por mais de dois mandatos consecutivos, ainda que em municípios diversos (um mandato num município, e dois mandatos em outro, no caso). Ou, ainda: se é constitucionalmente aceitável a figura daquilo que vem sendo apelidado de “prefeito intinerante”.

5. Pois bem, o Min. Eros Grau, Relator do feito, negou provimento ao recurso especial e, em conseqüência, manteve o indeferimento do registro de candidatura do recorrente. Isso, por entender que, no caso, “a fraude é evidente. (...) Fraude (...) consumada mediante o desvirtuamento da faculdade de transferir-se domicílio eleitoral de um para outro Município, de modo a ilidir-se a incidência do preceito”.

6. Após analisar as peças dos autos, cheguei à mesma conclusão do Relator e da maioria que o acompanhou. É dizer: não se pode, mediante a prática de ato formalmente lícito (mudança de domicílio eleitoral), alcançar finalidade incompatível com a Constituição, qual seja, a perpetuação no poder. O apoderamento de unidades federadas para, como no caso, a formação de clãs políticos ou hegemonias familiares.

7. Em verdade, tenho para mim que o princípio republicano está a inspirar a seguinte interpretação basilar dos §§ 5º e 6º da Carta Política: somente é possível eleger-se para o cargo de “prefeito municipal” por duas vezes consecutivas. Após isso, apenas permite-se, respeitado o prazo de desicompatibilização de 6 meses, a candidatura a “outro cargo”, ou seja, a mandato legislativo, ou aos cargos de Governador de Estado ou de Presidente da República; não mais de Prefeito Municipal, portanto.”

A inconstitucionalidade da 254

O advogado Gley Sagaz (que foi um dos autores de algumas das ações contra LHS, em nome da coligação opositora, Amin incluído), produziu um estudo, um parecer, sobre a Lei Complementar 254. Essa mesmo, a que promete aumento para servidores da segurança e tem gerado todo tipo de atrito e interpretação ao longo de cinco anos.

Ele procura provar, no documento, que a Lei é inconstitucional. Entre outras coisas, porque propõe um aumento sem previsão orçamentária.

Esta é a conclusão:
“Quando foi encaminhado à Assembléia o Projeto de Lei do qual originou a Lei Complementar 254, não tinha a acompanhá-lo os documentos exigidos pelos artigos 16 e 17 da Lei de Responsabilidade Fiscal, sendo por isso os atos nulos conforme prescreve o art. 21 da citada Lei de Responsabilidade.

Portanto, dentro dos ditames legais e constitucionais, a Lei Complementar 254, afronta os incisos I e II do art. 169 da Constituição Federal, bem como os arts. 16 e 17 da Lei Complementar nº 101/2000 – Lei de Responsabilidade Fiscal, sendo por isso, seus efeitos nulos, conforme art. 21 da Lei de Responsabilidade.”

A íntegra, com a argumentação que o levou até aí está aqui.

Desconectado

Das três e pouco da tarde até tarde da noite, com o Virtua desfalecido, sem levar a lugar nenhum.

Eles justificam a falha dizendo que “foi a chuva”: uns quinze minutos de chuva de verão, hoje à tarde. Aquelas chuvas de verdade, que deixaram gente debaixo dágua e derrubaram encostas, não interromperam o serviço. Mas esta chuvinha de hoje deu pobrema. Vá entender...

EM TEMPO

Por causa disso, as coisinhas que tinha pra colocar aqui hoje (acórdão do prefeito itinerante “te cuida, Dário”, os desvãos da lei 254, fotinhas da sessão da Alesc e outras cositas) ficam pra depois. Desculpem a falha involuntária.