segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

As aparências enganam

Uma das criações geniais do imortal Carlos Estevão, na revista O Cruzeiro (sim, sim, faz muuuito tempo) era o quadro “As aparências enganam”. Olha só esta amostra:



Pois é, essas histórias me vêem à cabeça de vez em quando. Estava eu olhando a ventania pela janela, no final de semana, quando, não sei por que, comecei a pensar. Ora, o pensamento até parece uma coisa boa, mas como é que a gente voa, quando começa a pensar, né?

Os brasileiros, aparentemente, elegeram como presidente um operário, um torneiro mecânico. Ahá, mas as aparências enganam: Lula era, e é, principalmente e antes de tudo, um político. E dos mais tradicionais. Fez carreira em sindicatos de trabalhadores, em cargos eletivos e/ou de confiança. Foi um dos fundadores de um partido político. Sua formação principal não se deu no Senai ou na empresa, mas nos sindicatos, nas campanha salariais, na movimentação política dos sindicatos. E, tal e qual tantos outros políticos, na luta contra a ditadura.

Quem já participou de algum sindicato sabe que ali se dá, em escala menor, todo o ciclo da política tradicional. Tem gente que põe a mão no baleiro, tem companheiro que trai companheiro, tem oportunista, tem bem intencionado, tem ingênuo e tem muita gente esperta. Exatamente como em qualquer partido político, na disputa de qualquer prefeitura, de qualquer cargo eletivo.

Muito sindicato administra orçamentos maiores que o de algumas prefeituras. E na maioria, existem famiglias que mantém o poder anos e anos a fio. Ou porque são da mesma corrente partidária, ou porque são amigos, ou porque são cúmplices, ou porque se dizem aliados, o fato é que na política sindical, como de resto na política como um todo, não existem santos. Ainda que alguns usem asas e auréolas luminosas e sejam considerados, pelos companheiros, como tal.

Hoje, à luz do sol, achei meio sem sentido a minha pensata chuvosa. Até porque tenho a impressão que ninguém mais, mesmo aqueles que amam Lula de paixão, acredita na história de que temos um presidente operário. E, portanto, cheguei atrasado, como sempre, lento que sou, ao óbvio: ele é igual aos demais políticos porque é um deles.

3 comentários:

Anônimo disse...

Ave, César!
A solução do problema, caro César, é quase um mistério.
E a gente vai brincando, dando-lhe uma forma lúdica,
Esquecendo que a “res” é pública e o negócio é serio.
Para a maioria das profissões, , devemos estudar e prepararmo-nos com afinco durante anos, sob pena de malogro e exclusão do mercado de trabalho.
E para a política, a mais nobre das profissões, o candidato precisa estudar e preparar-se por quanto tempo, ops...desculpe... por quanto dinheiro?
Urge uma reforma geral no sistema de gestão da coisa pública e na escolha dos nossos gestores. Começar do zero? Começar eliminando os atuais partidos políticos? Valorização da formação política nas escolas? Mecanismos mais rígidos contra a corrupção? Valem todos os estudos e propostas. O assunto é mesmo urgente e sério. Parabéns por trazê-lo, mais uma vez, para esse espaço.
Mas, como disse alguém (acho que o Millor)
Filosofia/política é aquilo que a gente só cuida depois de cheia a barriga.
Assim, de fato, só nos resta lamentar e chorar o leite derramado pelos políticos mamadores das tetas do governo. Dá pra arriscar e dizer: TODOS? Feliz ano novo,abr, waltamir

Anônimo disse...

Cesar, eu acho que Lula não é igual aos outros políticos, é pior do que eles, porque se traveste de operário, usa a línguagem de operário e consegue se passar por um deles, com muito sucesso A imagem que me vem é a do lobo em pele de cordeiro, da fábula.

Anônimo disse...

Cesar,
Política é isso mesmo, convencer as maiorias !
Lula faz como qualquer sedutor, engana e mente para quem gosta de ser enganado, nada mais do que isso !