quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

L’ÉTAT, C’EST MOI!

A notícia que o governo do estado publicou ontem, com as últimas informações sobre a viagem do embaixador LHS à Europa, tem trechos que são nitroglicerina pura. Munição distribuída gratuitamente para a oposição. Certamente o ainda secretário da Comunicação estava distraído quando LHS falou o que falou. Homem que sabe o valor das palavras e do sentido das palavras, ele teria aconselhado o chefe com aquela sábia, sintética e sempre útil recomendação: “menas, governador, menas!”

LHS convidou a Escola Nacional de Administração, da França, para vir instalar-se em Santa Catarina. Nada contra intercâmbios e convênios. O problema é que LHS faz as coisas de um jeito que parece jogar na lata do lixo da história dezenas de anos de construção de boas escolas de administração, como as da Udesc (Esag), da UFSC e algumas outras.

Como se Santa Catarina fosse o Timor Leste, nação em construção, onde está tudo por ser feito, LHS parece achar que nesta terra inóspita, inculta e atrasada, as luzes terão obrigatoriamente de vir pelas mãos sábias e “naturalmente” competentes dos estrangeiros. Ao revitalizar a colonização, expressa uma xenofilia que nos ofende a todos e não faz jus ao esforço que nossos antepassados fizeram para consolidar este estado e suas instituições.

Mas isto nem é o mais grave. Grave mesmo é o que o parágrafo abaixo, proferido, segundo o site de notícias do governo, pelo próprio LHS, revela nas suas entrelinhas. O grifo é meu:
“A escola visa formar quadros de excelência, com cursos de quatro anos e outros de aperfeiçoamento para servidores já atuantes. O currículo busca eficácia, eficiência e extrema consciência ética no trato das coisas públicas”, sublinha Luiz Henrique, que adianta também outros detalhes, como a habilitação dos alunos nas línguas francesa e inglesa. Os melhores alunos, depois de formados, terão ocupação garantida na estrutura administrativa do Estado”, explicou o governador.”
O governador viajante atropela tudo o que até aqui se sabia sobre acesso ao serviço público e promete empregos no governo para quem fizer o cursinho tropical da École francesa. Que me socorram os conhecedores das leis: não precisa mais concurso? Não havia uma lei determinando que a única forma de acesso era por concurso? Notas boas em uma sucursal (ou matriz) de uma escola seja de que país for podem substituir concursos?

LHS já fez e disse coisa parecida, há alguns anos, quando prometeu emprego nas SDR para quem fizesse um curso de administração regional, algo assim, que ele incentivou as fundações educacionais a oferecer.

Deslumbrado com a prestigiosa escola francesa, que teve entre seus alunos políticos europeus importantes, LHS até mandou o Diomário ficar mais dois dias em Paris para trazer uma proposta que possa ser submetida... à Assembléia? a algum Conselho Estadual? que nada, quem aconselhará LHS será o Cocosugo, o tal Conselho Consultivo Superior de Governo. E a instalação da École já está inscrita no programa das comemorações do Ano da França no Brasil, em 2009. Allez! Allez!

SEGUINTE...

[Neste blog é só clicar sobre a imagem que se abre uma ampliação]

FALA, LEITOR!

Tenho a sorte de ter leitores que de vez em quando enviam cartas, comentando, reclamando e informando. Mas é só falar no Deinfra, que o volume de correspodência aumenta. E como ontem citei aquela cartilha esquisita que eles fizeram, a caixa postal encheu.

Tem desde coisas impublicáveis (não porque eventualmente tenham palavrões, mas porque geralmente são denúncias e acusações sem provas ou de difícil comprovação), até coisas bem interesantes ou curiosas. E tem um que a cada dois meses manda e-mail perguntando se o MPE ou o TCE não vão olhar com carinho pro Deinfra. Mas também não explica por que deveriam se ocupar justamente daquele órgão.

O Deinfra, como vocês sabem, é órgão especializado em projetos de engenharia rodoviária e civil. Cuida das estradas e planeja os prédios do governo. Aí, um leitor pergunta por que, tendo o Departamento de Obras Civis no Deinfra, o projeto das obras de ampliação do Centro Administrativo está sendo tocado pela Secretaria da Administração?

Outro chama a atenção para o organograma que está publicado no site do Deinfra. Ali tem, junto à Presidência, uma tal de “Consultoria Técnica”. Num órgão basicamente de engenharia, os consultores técnicos do presidente deveriam ser... técnicos de algumas das áreas de atuação do Deinfra, para apoiá-lo nas decisões e demais atividades.

Pois é só clicar lá que aparecem os nomes de uma bibliotecária e de um publicitário. Cá entre nós, se foi esse publicitário que sugeriu, executou ou aprovou o folheto sobre “segurança na estrada”, seria bom o Presidente trocar rapidamente de profissional.

E sobre a “cartilha”, leitora comenta que o Deinfra faria muito pela segurança no trânsito, se mantivesse as estradas estaduais em boas condições, adequadamente sinalizadas.

Qualquer dia, quando tiver tempo, vou tentar descobrir por que a menção do Deinfra desperta tantas emoções em tantos leitores e leitoras.

FERIADOS

Um leitor, que é servidor público, mandou um comentário que é uma espécie de defesa prévia contra aquela turma que gosta de generalizar e diz que barnabé é tudo malandro (e por falar nisso, na nota de ontem não insinuei nada: é que eu gosto muito de feriado, acho que a gente trabalha melhor quando está descansado e todo começo de ano gosto de saber quantos feriados teremos). Mas, fora isso, ele levanta uma questão séria, boa pra pensar:
“Caro Cesar e demais leitores, sou professor da rede pública catarinense e, todos os dias ‘enforcados’ que fizemos, o fizemos porque o governo desconta do nosso salário os ‘extras’ salariais, ou seja, se formos trabalhar, mesmo assim seremos descontados. Porque dia não trabalhado é economia para o Estado. Dentro desta perspectiva, LHS está pouco ligando para o povo catarinense. E essa situação acontece em todas as repartições, não só na educação. Nós da educação somos os únicos funcionários que temos que cumprir um calendário de 200 dias letivos, então quanto mais feriado e paradas, mais espremido vai ficando nosso calendário. Muitos de nós no ano passado queríamos trabalhar nos dias ‘enforcados’ (aqueles que ficam entre o feriado e o final de semana), mas, às vezes, éramos desestimulados pela direção, que dizia que não receberíamos. Dessa maneira, quem é responsável por todos os dias parados é o próprio governo e não seus funcionários. Não descarto porém, que tem muito funcionário público que não é chegado ao batente, mas uma boa parte é. Então tomemos cuidado para não colocar todos na mesma situação. Abraço. Geff Sbruzzi”

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

MINI METRO ITALIANO

Pra não dizerem que eu só critico o LHS, vou dar a ele pretexto para mais uma viagem. Desta vez a Peruggia, na Itália, que inaugurou ontem um mini metrô de superfície que é uma gracinha (fotos acima). São 25 carros sem condutores, que levam até 50 passageiros cada. A linha tem dois terminais e cinco estações intermediárias, ao longo de três quilômetros. O percurso inteiro é feito, em média, em onze minutos. Só que tem uma coisa: levou dez anos para planejar e construir (a construção propriamente dita levou pouco mais de cinco anos). Afinal, ele é a espinha dorsal do plano de transporte coletivo da cidade, não podia ser feito de qualquer jeito.

[Informações mais detalhadas, em italiano, aqui] [aqui] [e aqui]

Ah, mas aqui tem que estar parte pronta em 2010 por causa da eleição e outra parte em 2014 por causa da Copa? Não tem problema. É só comprar alguma coisa pronta e instalar. Planejamento detalhado é para otários.

Update da madrugada: o Minimetro custou 95 milhões de Euros (cerca de R$ 250 milhões), numa parceria público-privada.

O ANO DA ESCASSEZ

Um dos documentos mais aguardados por milhares de servidores públicos estaduais e suas famílias, todo início de ano, é o decreto que estabelece a lista oficial de feriados e pontos facultativos.

Imagino que vocês já tenham descoberto que 2008 é um daqueles anos esquisitos, em que alguns feriados caem no domingo ou no sábado. E não houve ainda uma boa alma que estabelecesse, na Constituição, uma norma pétrea do tipo: “feriado que cair em final de semana será automaticamente transferido para a segunda-feira”.

Bom, mas mesmo com o gosto amargo da falta de feriados, vamos examinar o que diz o Decreto nº 1.021, de 15 de janeiro de 2008. E ver de que forma poderemos planejar o lazer, a preguiça e, por que não dizer, a vagabundagem. No bom sentido.

FEV – começa com o Carnaval, que tem ponto facultativo até o meio dia da quarta-feira, dia 6. Aproveitem bem, porque é um dos únicos feriadões do ano.

MAR – o feriadão da Páscoa começa dia 21, sexta-feira. E o dia de Florianópolis (23), um potencial feriado, cai justamente no domingo de Páscoa.

ABR – Ôba, outro feriadãozinho: o dia de Tiradentes, 21, cai numa segunda-feira.

MAI – Dia 22, quinta-feira, é dia de Corpus Christi, feriado nacional. Se valer a tradição do governo LHS, a turma será liberada na sexta (“para compensar depois, uma hora por dia”) pra emendar. Planejem com cuidado, porque terão pela frente quatro meses (ou mais se vocês não forem servidores públicos) sem um único feriadinho.

JUN a SET – seca completa. O dia do estado de Santa Catarina (11 de agosto) cai em dia de semana, mas é automaticamente transferido para o domingo seguinte (!?). E o 7 de setembro cai num domingo.

OUT – O dia de Nossa Sra. Aparecida (12), também cai num domingo. Os professores estaduais terão folga no seu dia (15, quarta) e os servidores públicos (os professores incluídos) folgam no dia 28 (terça). O restante dos mortais continua na seca.

NOV – Pra não variar, finados e todos os Santos (1 e 2) caem no sábado e no domingo. E o feriado da Proclamação da República (15), num sábado!

DEZ – O Natal cai numa quinta-feira. A quarta, 24, é ponto facultativo. O decreto não fala nada sobre a sexta, 26, mas provavelmente a turma ganhará folga até o começo do ano. Naturalmente, a quarta-feira seguinte, 31, também é ponto facultativo.

ÉTICA? QUE ÉTICA?

Os petistas, e principalmente os lulistas, ficam chateados quando a gente fala mal do governo. Alguns, com educação, reclamam, alegando que há um exagero. Outros já enfiam os dois pés na porta e nem querem conversa.

Mas o que a gente pode fazer se o governo faz uma coisa da qual poderia se orgulhar e sobre a qual poderíamos falar bem e, assim que a coisa começa funcionar, o próprio governo se encarrega de esculhambar?

Refiro-me especificamente à Comissão de Ética Pública da Presidência da República, criada como parte de um esforço para moralizar o comportamento das principais autoridades públicas brasileiras.

Como bem lembra a Lúcia Hippolito, a recomendação da Comissão para que Carlos Lupi escolhesse entre a presidência do PDT e o cargo de ministro, está completando sete meses de desmoralização. O pedido para que o ministro seja demitido repousa numa das gavetas da mesa do presidente Lula.

A Comissão de Ética Pública da Presidência da República elaborou o Código de Conduta da Alta Administração Pública, que as autoridades se comprometem a respeitar quando assumem um cargo. E é com base nesse Código, que as recomendações são feitas.

Como o presidente, que é quem deveria prestigiar a Comissão e o Código (que seriam importantes para livrar o governo de vexames, micos e malas), não está nem aí, os demais ministros também começam a chutar o balde.

Publiquei ontem aqui um resumo das recomendações da Comissão para o Carnaval. E leio hoje na Lúcia que o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, já desafiou a Comissão, declarando que vai, sim, freqüentar todos os camarotes para os quais for convidado, públicos ou privados. E que espera ser convidado para muitos.

E tem ainda o caso da farra dos cartões de crédito corporativos e os gastos da ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro (mais de R$ 180 mil reais só em 2007). Que é, no mínimo, um problema ético, se não for coisa pior (espera-se que um dia alguém investigue). Mais um escândalo que ninguém liga.

A omissão (hesitação? tibieza? falta de interesse?) de Lula diante da desmoralização visível e acelerada da Comissão de Ética Pública, é uma daquelas coisas que produz, sozinha, um bom estrago. O presidente não precisa de inimigos nem de adversários. Ele sabe como criar seus próprios problemas.

SEGURANÇA RETÓRICA

O “esforço” estadual para reduzir acidentes nas estradas está, segundo informa o Deinfra, resumido numa “cartilha” com dez recomendações “para um trânsito seguro” [aqui].

Transcrevo-as abaixo para que vocês mesmos leiam (ou podem ler aqui). Depois me digam se não é uma coisa tosca, amadora, uma reunião de obviedades de comprovada ineficiência. Claro que devem ter produzido material impresso, aos milhares, para distribuição nas estradas. Afinal, dinheiro é o que não falta.
Recomendações para um trânsito seguro
durante o Carnaval 2008


1. Verifique as condições das estradas que farão parte do seu trajeto; o Departamento de Infra-estrutura (DEINFRA) disponibiliza através do site www.deinfra.sc.gov.br/rodovias/ informações atualizadas sobre as condições de tráfego nas rodovias estaduais.

2. Antes de “pegar” a estrada, verifique as condições do seu veículo e o nível de combustível.

3. Verifique seus documentos pessoais e do veículo antes de viajar.

4. Quando for dirigir não beba; se for beber, não dirija.

5. Seja prudente nas ultrapassagens.

6. Use sempre o cinto de segurança, inclusive no banco de trás.

7. Respeite as leis de trânsito e a sinalização rodoviária.

8. Se você é condutor e acha que faltam motivos para ser mais prudente no trânsito, considere ao menos a importância de preservar sua integridade física e a de outras pessoas. Dê preferência à vida.

9. A Polícia Militar Rodoviária (PMRv) realiza o atendimento das ocorrências nas rodovias estaduais. Para contatar a PMRv ligue para o número 198.

10. Em caso de emergência nas rodovias federais, ligue para a Polícia Rodoviária Federal no número 191.”
Não é inacreditável? Os itens 9 e 10, são de fato, fundamentais para evitar acidentes. Mas o imbatível é o item 8. Depois de lê-lo você, que é condutor, preservará, com certeza, sua integridade física. Cá entre nós, alguém acredita que os acidentes ocorrem porque o cara pensou, pensou e não encontrou “motivos” para ser prudente?

Que coisa!

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

UM ICEBERG NO MEIO DO CAMINHO

Estava em Florianópolis ontem, mas posso imaginar que o impacto da “Operação Iceberg” em Itajaí deve ter sido semelhante àquele produzido, na capital, pela “Operação Moeda Verde”.

Ainda é cedo para entender o papel que o ex-superintendente do Porto teve no esquema, se é que teve alguma participação. Mas é sempre chocante ver ocupantes de cargos de responsabilidade sendo detidos pela polícia. Mesmo que seja só para prestar depoimento.

Na semana passada, ao dar uma entrevista para o Paulo Alceu, o governador LHS teve que responder uma pergunta sobre o envolvimento de auxiliares com investigações policiais. Disse, algo como “quem fez, que pague” e repetiu que esses são “casos isolados”.

É o andar da carruagem: em ano eleitoral, depois deste rolo, niguém estranhará se LHS tentar se descolar de Rebello. Com a mesma desenvoltura com que, antes, manteve-se sempre ligado a ele. A política é, antes de tudo, a arte do pragmatismo.

Da mesma forma é cedo para saber que efeito o caso terá sobre o prefeito Morastoni e sua campanha à reeleição. O meu colega JC, aqui na página ao lado, certamente acompanhará, ao longo dos próximos dias e semanas, os eventuais desdobramentos e a repercussão na política local. Não sei se estou equivocado, mas tenho a impressão que boa parte dos formadores de opinião relacionam o peemedebista Rebello mais a LHS do que ao prefeito petista. Rebello parecia ser uma espécie de enviado especial do PMDB e do LHS ao governo do PT.

O EMBAIXADOR

Dois incidentes quase tiram o brilho da rápida passagem pré-carnavalesca do embaixador LHS (vamos chamá-lo assim porque o governador de Santa Catarina, nestes dias, é o Pavan, de papel passado e tudo) pela Europa:

1. A capenga reportagem do jornal O Estado de S.Paulo sobre as viagens dos governadores ao exterior;

2. A prisão do amigo e correligionário Wilson Rebello, como suspeito de envolvimento em esquema para fraudar a Previdência.

A reportagem é capenga porque só fez o levantamento do atual mandato. Deixaram de fora o anterior, onde LHS também não fez feio. E é capenga porque só incluiu governadores que forneceram as informações. Isso empana um pouco o brilho da vitória de LHS. Alguém pode pensar que um dos governadores que sonegou informações poderia ter mais milhas voadas do que ele. Não tem, mas a falha na apuração deixa essa sombra, a macular a consagração do primeiro lugar que, de outra forma, seria inconteste.

A prisão ocorreu justamente no dia em que LHS praticamente lançou a pedra fundamental de um centro cultural francês e foi inspecionar, conhecer e recolher dados técnicos de um metrô de superfície parisiense. Não fosse o noticiário produzido em torno do icebergue, os florianopolitanos ficariam sabendo, com mais detalhes, destes gestos de amor pela capital. Afinal, LHS dedicou boa parte do seu escasso tempo, a Florianópolis. Cidade que tem um teatro estadual (o CIC) caindo aos pedaços, mas vai ganhar um centro cultural francês novinho em folha.

RECORDAR É VIVER!
ABAIXO, ILUSTRAÇÃO PUBLICADA NA COLUNA DE 14 DE JANEIRO DE 2006

MANUAL DO CARNAVAL

Nestes tempos bicudos, em que qualquer coisinha vira “operação” com direito a busca e apreensão, não custa ficar atento. A Comissão de Ética Pública do governo deu entrevista coletiva ontem, para lembrar que mesmo nas festas momescas continua valendo o Código de Conduta da Alta Administração Federal, em vigor desde 2001.

Segundo relata o repórter Diego Amorim, no blog do Noblat, presidente da Comissão, Marcílio Marques Moreira, afirmou que vai ficar de olho:

– O nosso trabalho é para dar um basta nessa história de “sempre se fez, e daí?”

Tá lá no blog do Noblat:
“1. Freqüentar camarotes particulares, de cervejarias, veículos de comunicação ou qualquer outra empresa privada? Só se pagar, se for por contra própria. De graça, como cortesia, brinde, presente, nem pensar! De acordo com o Código, isso pode “gerar dúvida sobre a probidade ou honorabilidade” da autoridade – o suficiente para configurar falta de ética.

2. Autoridade pública aceitar de particulares ou empresas privadas hospedagem em hotéis e passagens aéreas para ele e para toda a família, ou mesmo simples convites para assistir a desfiles ou a passagem de trios? Na-na-ni-na-não! Pode não! Só se a grana sair do bolso da autoridade. E nada de vestir camisetas dessas empresas. Também poderia suscitar dúvidas na população e, portanto, vir a ser um gesto considerado falta de ética.

3. E se o convite partir de uma entidade pública estadual ou municipal? Convite para curtir a festa em camarotes do governo ou da prefeitura, por exemplo? Aí tudo bem, passe livre. Não há qualquer restrição nesses casos.”

domingo, 27 de janeiro de 2008

É CAMPEÃO!

DEU NO ESTADÃO

“Governadores ficam 373 dias no exterior

Soma feita pelo ‘Estado’ é resultado de viagens internacionais feitas por 21 chefes de Executivos estaduais no ano passado; Luiz Henrique (SC) lidera

Silvia Amorim

Com uma agenda de compromissos no exterior bastante intensa em início de mandato, governadores passaram o equivalente a um ano fora do País, em 2007, em viagens oficiais. O campeão dessas incursões é o governador de Santa Catarina, Luiz Henrique (PMDB), que gastou quase um quarto do primeiro ano de sua nova gestão - ele foi reeleito - com visitas internacionais. Foram 56 dias de um total de 246 dias úteis.”

(Para ler a íntegra da reportagem clique aqui ou compre o Estadão de domingo)

sábado, 26 de janeiro de 2008

É O FIM!

Ô morro e não vejo tudo. Tinha escutado no rádio uma entrevista do secretário de Transportes da capital, o Stroisch, mas não levei a sério. Afinal, posso ter entendido mal o que ele estava tentando dizer, com as voltas que habitualmente dá ao explicar o inexplicável. Daí, depois li nos jornais e nos e-mails indignados e vi que a coisa era mesmo grave.

Parece que eles enlouqueceram. Não sei se a demência atinge todo o primeiro escalão da prefeitura, se é localizada, nem se já se alastrou para outros níveis hierárquicos. Mas, sem dúvida, tem que chamar urgentemente o SAPSIU, que é o serviço de atendimento psiquiátrico de urgência (por falar nisso eles têm modernas ambulâncias equipadas com divãs e paredes acolchoadas, adquiridas em convênio com o governo federal).

Antes que vocês pensem que estou exagerando, leiam esta frase, atribuída ao secretário e, até onde consegui saber, não desmentida: “O secretário de Transportes e Terminais, Norberto Stroisch, ameaça cassar a concessão de 11 linhas da empresa de transporte coletivo Emflotur, em Florianópolis, se a operadora não reajustar a tarifa”.

Reajustar para cima! A empresa não quer cobrar mais dos seus clientes, e a prefeitura faz ameaças extremas, para que ela aumente a passagem. Digam se isto não é, em ano de eleição municipal, um sintoma de telha corrida (pelo menos no sentido do bom senso político)?

DESINTEGRAÇÃO
O transporte coletivo é mesmo uma coisa indomável, impenetrável e insondável. Pelo jeito não existe, nos quadros da prefeitura, quem consiga produzir uma proposta que leve em conta o interesse dos usuários.

O Stroisch é capaz de falar horas para tentar explicar por que as linhas mais curtas devem ser relativamente mais caras que as mais longas. Afinal, “uma tem que subsidiar a outra”. E elogia o crescimento acachapante do norte da ilha, tentando relacioná-lo com o fato da passagem para longos trechos ser “mais barata”. Acha que o usuário que tem a infelicidade de morar mais perto do trabalho, deve ficar feliz por estar pagando parte da passagem dos coitados que moram lá na casa do chapéu (e levam duas horas pra chegar, mas isto é outra história).

E acha, ainda, que todos ficarão muito felizes porque ele, ou alguém acima dele, teve a brilhante idéia de localizar o aumento anual justamente em janeiro: chegou a falar, literalmente, que é o mês dos aumentos, como o do IPTU e então seria “normal” ter o reajuste dos ônibus.

O desarranjo do “sistema integrado” e sua dissociação dos interesses dos usuários já prejudicou candidatos à prefeitura e tem tudo para ajudar o seu Dário a descer a rampa. Porque, ou o sistema é bom e os encarregados de comunicar suas vantagens às empresas e à população são uns incompetentes, ou o sistema tem problemas e alguém acha que pode empurrar uma coisa cheia de farpas garganta abaixo.

Mas, como dizia minha tia, contra fatos não há argumentos. Respondam aí:

Ficou mais fácil andar de ônibus na cidade?
Os ônibus são melhores?
Os motoristas são mais atenciosos e circulam a uma velocidade razoável?
Quando o ônibus freia ou faz uma curva o pessoal continua em pé?
Os ônibus têm ar condicionado?
A escada abaixa para o passageiro poder subir?
Há veículos adaptados para cadeiras de rodas em número suficiente?
Os idosos são tratados com cortesia?
É fácil levar a bicicleta no ônibus?
Já resolveram o problema das áreas centrais ocupadas por estacionamentos de ônibus?
É mais barato e cômodo ir de ônibus trabalhar do que comprar um automóvel e arcar com todas as suas despesas?

Se a resposta à maioria das questões for sim, então tudo não passa mesmo de intriga da oposição invejosa.

MUNIÇÃO

Transcrevo trecho de mensagem distribuída pela vereadora Ângela Albino (PCdoB), candidata a candidata a prefeita, que, naturalmente, aproveita pra chutar a bola que os sensíveis homens do Dário deixaram quicando:
“Numa época em que se discute tanto a mobilidade urbana, o Secretário de Transportes, ironicamente, vai na contra-mão dessa discussão e desse processo. Depois desse aumento, utilizar o automóvel sai mais em conta para as famílias que têm essa possibilidade, e deixam de optar pelo transporte coletivo. A medida da prefeitura em si já é um retrocesso, e usar de intimidação para conseguir o que se quer é uma atitude, no mínimo, despropositada”.

NÃO É COM ELE

O prefeito de Florianópolis informa que a culpa pelos cartazes ufanistas, que colocavam a capital como “referência nacional” em iluminação pública (aqueles que o Ibope disse que estavam errados), foi “do consórcio que administra a iluminação pública da Capital, formado pelas empresas Sadenco, Quantum e Enerconsult”.

Pro prefeito não ficar achando que a gente o persegue, nem vamos entrar no detalhe que, para plantar os cartazes em áreas públicas municipais, o consórcio deve pelo menos ter comunicado ou pedido permissão à prefeitura.

Bom, sendo o malfeito de iniciativa de terceiros, é claro que o prefeito acredita que a ele não cabe responsabilidade. Tanto que ele não sabe informar por que a retificação pública, solicitada pelo Ibope, não foi feita. Muito menos se e quando será. Mas tem leitor, desconfiado e maledicente, que já está apostando que, no fim, a conta será paga por nós.

Agora, tem uma coisa que o prefeito disse ao jornal dos gaúchos, que me deixou preocupado: “O consórcio quis apenas divulgar o trabalho deles. E não dá para reclamar, a cidade está muito bem iluminada”.

Como assim “não dá pra reclamar”? Não dá pra reclamar que os caras tenham adulterado o resultado de uma pesquisa, usado dados sem autorização, feito uma interpretação errada e divulgado publicamente um fato, em essência, mentiroso? Se a iluminação está assim tão maravilhosa, pra que fazer essa patacoada?

Sei que o Dário quis dar uma força pro consórcio (a propósito, quanto é mesmo que a gente paga pra eles?), mas no afã de minimizar o problema, disse uma leviandade, misturou uma coisa com outra coisa. E isso é grave, porque, em terra de manezinho, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

QUALIDADE DE VIDA

O jornalista Moacir Pereira, decano dos colunistas, com a autoridade que suas cãs lhe conferem, acertou na mosca, em uma das notas de seu blog, intitulada “Praças”. Foi na pleura. Olha só:
“Bairros e distritos da Ilha de Santa Catarina crescem e incham numa incrível velocidade, criando múltiplos problemas. Os prédios avançam, e os poucos espaços públicos, oficiais ou informais, desaparecem. Pergunta que não quer calar e vale para todos os municípios do Estado: há quanto tempo seu prefeito não inaugura uma praça pública, um campinho de futebol, um parque infantil, uma quadra de tênis, um pequeno teatro, uma concha acústica?”

DOIS GOVERNADORES?

O governador LHS “passa o cargo” hoje às 11 da manhã, no Balneário, para o vice Pavan. Isso de “passar o cargo” para o vice ou para outro, na linha de sucessão, é de um formidável anacronismo. E cria um paradoxo: se o governador é o Pavan, o cidadão LHS não pode negociar, na Europa, como se governador fosse. E se LHS continua governador enquanto tenta convencer escolas estrangeiras a se instalarem em SC, o Pavan não pode assinar nada como se fosse governador.

Não é exatamente isso que a lei prevê, mas na prática é isso que se dá: nesses períodos, o estado tem dois governadores. Um em algum lugar do mundo, outro na festa pomerana

FALA, LEITOR!

Um leitor que não quer ser identificado, porque é funcionário público, pede que eu repita a foto de ontem, daquela estrada no norte do estado, para poder mostrar, aos demais leitores, um outro problema sério que atinge praticamente todas as estradas administradas pelo Deinfra.

Taí então, acima, de novo a foto da SC-280, em plena “Operação Tapa Buraco II”. Ele diz que é pra gente olhar com atenção e ver que não é só a sinalização para proteção dos trabalhadores que está faltando: “falta ali toda e qualquer sinalização”.

E dá uma informação importante: “sabe por que vocês não vêem nenhuma faixa pintada no piso? Porque há pelo menos um ano o Deinfra não compra o material necessário para fazer a sinalização horizontal das rodovias”.

Uau, se isso for verdade, as rodovias estaduais não estão sendo recuperadas adequadamente. Mas, cá entre nós, também pode ser só uma fofoca de algum desafeto político. Vou esperar que os leitores que circulam pelas “SC”, me contem se as estradas estão mesmo jogadas às traças.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

E DÁ-LHE VIATURA

O Aderbal Machado [aqui] já falou nisso, dia desses: o governo faz tanta festa na entrega das novas “viaturas” para a polícia, que um desavisado pode até pensar que ali está a solução para os vários problemas da segurança pública.

Na foto acima, por exemplo, a chamada “cúpula” da segurança (o secretário da segurança é facilmente identificado porque só usa óculos de grife), acompanhados pelo prefeitoDário, pelo irmão deputado e pelo secretário regional, festejam a entrega de mais um lote de “viaturas”.

O comandante da polícia Militar até acena com a chave de um dos veículos, certamente orgulhoso de poder participar desse momento lindo.

E daí? Quantos litros de gasolina ou álcool estarão disponíveis para a nova frota? Quantos novos policiais, para reforçar as patrulhas, pilotar os veículos e manter a presença nas ruas? Os sistemas de controle e manutenção da frota estão funcionando adequadamente? Será que todo esse necessário entorno foi planejado e viabilizado?

E olha que nem falei na remuneração dos praças e em outras questões igualmente cabeludas...

É ótimo poder comprar veículos novos, é importante que a idade média da frota seja baixa. Mas também seria bom que esses atos de rotina (renovar parte da frota é coisa que tem que ser feita todos os anos, pois não?) fossem tratados como o que realmente são: atos de rotina, de certa forma obrigatórios para que se mantenha a força policial em condições de operação normal.

O IBOPE CHIOU

A prefeitura de Florianópolis colocou, em alguns locais da cidade, uma placa muito estranha, se auto-felicitando como “referência nacional” em iluminação pública. Aqui na coluna publiquei até uma nota que um leitor mandou, com a foto da placa, estranhando. Pois não deu outra, o Ibope não gostou e ontem distribuiu uma nota dura contra o ato da prefeitura. Leiam só:
“COMUNICADO À IMPRENSA

No último dia 16, o Grupo IBOPE tomou conhecimento da instalação de placas da prefeitura de Florianópolis, afirmando que o IBOPE teria constatado, por meio de pesquisa, que 99% (noventa e nove por cento) da população local aprovaria o sistema de iluminação pública, tornando a cidade uma “referência nacional” neste quesito.

Esclarecemos que se trata de umapesquisa encomendada pelo Grupo RBS TV e divulgada em 01/10/2007. Porém, comunicamos que a informação publicada nas placas não corresponde ao resultado correto do estudo, mas sim, a uma interpretação equivocada feita pela Prefeitura de Florianópolis.

Na pesquisa, foi solicitado que os entrevistados apontassem os três principais problemas da cidade, foram mostradas 17 (dezessete) opções de resposta e os respondentes escolhiam aquelas que mais os preocupavam. A opção “iluminação pública” foi citada por apenas 1% dos entrevistados, o que não significa que se pode concluir que os outros 99% que não escolheram esta alternativa aprovem o serviço, como está explicitado na comunicação feita pela Prefeitura.

Além disso, ao se auto-nomear “referência nacional” de iluminação pública, a Prefeitura de Florianópolis também extrapola completamente os limites geográficos da pesquisa, uma vez que não houve uma comparação com outros municípios do País.

O IBOPE já notificou a Prefeitura para que não use o nome da empresa com a finalidade de se promover e pede para que o órgão retifique publicamente junto à população as informações interpretadas de forma incorreta, sob pena de serem tomadas as medidas judiciais cabíveis.

Atenciosamente,
Valéria Segato Covre Fernandez
Gerente de Comunicação do Grupo IBOPE”
Foi mal, hem, prefeito?

REMENDO PERIGOSO

A foto acima é de uma “Operação Tapa Buraco II” no norte do estado, na SC-280. Afora o fato dos buracos terem que ser tapados “emergencialmente” pela segunda vez (remendo sobre remendo), o que chama a atenção, nesta foto, é a falta de sinalização.

Não sou especialista em segurança de trânsito, mas achava que, ao interromper meia pista de uma rodovia, seria necessário colocar uns cones ou coisa parecida, para proteger a área em que os operários estão trabalhando.

Depois, se ocorrer um acidente, não dá pra falar em “fatalidade”.

RAIO X DO LHS

O colega Paulo Alceu gravou uma grande entrevista com o governador LHS e a está exibindo aos poucos, durante esta semana, no noticiário da noite da Rede SC, futura RIC, ou SBT, futura Record.

O formato (a longa entrevista) permitiu que eles conversassem com calma sobre uma grande gama de assuntos e a edição, para apresentação em vários segmentos, sintetizou o que havia de mais importante. Alie-se a isso a praticidade da internet, que permite que a gente veja os vários programas a qualquer hora e em qualquer ordem, no site da emissora (pra ir pra lá, clique aqui).

Além das tiradas típicas de LHS, “SC está em estado de graça” (animado com a previsão de investimentos privados de US$ 12 milhões nos próximos cinco anos), tem vários momentos importantes.

Por exemplo, quando ele reconhece que a oposição tem que cumprir o seu papel: “quando a oposição denuncia, presta um serviço relevante ao governo. Já houve muitos casos em que a oposição denunciou, alertou, e as coisas foram corrigidas”.

É sempre importante que um líder político reafirme essas coisas, porque a sobrevivência da democracia depende justamente da compreensão, pelos políticos e pela comunidade, dos papéis de cada um.

Também foi muito interessante conhecer as várias sugestões do LHS para uma reforma política. Ele defende o voto distrital. E afirma que é preciso eliminar uma das principais fontes de despesa das campanhas, que são os programas de TV elaborados, produzidos com antecedência: “devia ser ao vivo, sem pré-produção”.

Não deixa de soar estranho: afinal, as campanhas de LHS valeram-se, e muito, desses recursos, dessa “pré-produção”. Mas é auspicioso que ele defenda uma redução dos custos das campanhas, assim como uma reforma que dê mais força aos partidos.

Ah, ele deu um nome novo para a penca de partidos que o apoia: “poli-aliança”. A forma com que ele pretende preservar a penca é tratando a eleição municipal como um evento isolado: não sobe em palanque onde mais de um partido da base tiver lançado candidato. E volta a defender seus amigos envolvidos na operação Moeda Verde.

Algumas das afirmações do governador sobre salários de professores e de militares já estão gerando uma intensa repercussão. Segundo Paulo Alceu, na próxima semana ouvirão os setores que têm comentários a fazer sobre o que LHS falou.

O último “capítulo”, com assuntos pessoais, será levado ao ar hoje, a partir das 18h50min. Seria legal se a emissora mantivesse o formato, ouvindo outras personalidades.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

MULTIDÃO

SEM CONVERSA

Olha só que história interessante: o Ministério Público Estadual (mais precisamente a sua área que cuida da Moralidade Administrativa) tentou fazer um acordo com a prefeitura de Florianópolis, para resolver o problema de nepotismo explícito que ali ocorre.

O MPE teve sucesso em muitos municípios. Vários deles promoveram verdadeiras demissões em massa, como resultado. Mas, na capital, não teve conversa. O prefeito bateu pé e disse que não podia viver sem a Dona Rose no governo.

O jeito foi ir pra Justiça. E desde novembro de 2007 corre uma ação civil pública pedindo que o senhor juiz resolva a questão. O número da ação, para aqueles que gostam de jogar no bicho ou de acompanhar a tramitação, é 023.07.143980-6.

Sei que os irmãos Berger não vão gostar muito, mas eu, na qualidade de livre pensador, observador e palpiteiro, gostaria de dar uma pequena sugestão: tira o Dário e deixa a Rose.

Não sou grande conhecedor nem de um, nem de outro, mas pelo que já vi e ouvi, em suas aparições públicas, ela dá de dez. O Dário às vezes fica se lamentando, meio paralisado, decepcionado com isto ou aquilo e ela não. Vai à luta e conduz seus projetos com agilidade e inteligência.

Então tá. Se daquela família tiver que ficar só um, voto para que seja a Dona Rose (sim, eu sei que na prática não é possível, que o Dário foi eleito, tem mandato, etc... mas livre pensar é só pensar).

Em todo caso, as eleições estão aí e os candidatos ainda não estão definidos. Quem sabe o pessoal pensa um pouco e escolhe, dos Berger, o melhor articulado. Que é a Dona Rose.

SOB INVESTIGAÇÃO

Ontem falei aqui sobre as denúncias feitas pela bancada de deputados estaduais do PP, a partir de 2004, sobre compras sem licitação na Secretaria de Estado da Saúde. E o Ministério Público Estadual informa que as denúncias foram transformadas numa investigação, que ainda está em curso.

Uma das providências dos procuradores foi pedir ajuda ao Tribunal de Contas do Estado, que tem um corpo técnico qualificado para examinar justamente as... contas. Um convênio, entre o MPE e o TCE, permite que os dois órgãos colaborem nessas investigações e se complementem, na busca de identificar os malfeitos. Quando o TCE percebe alguma coisa mais malcheirosa, avisa o MPE e quando o MPE investiga alguma coisa na área do TCE, também comunica. Assim, evitam de “bater-cabeça” e duplicar esforços.

Pois bem, aquela dinheirama toda usada para compras com dispensa de licitação está, portanto, sendo investigada. Neste exato momento, segundo o MPE, a bola está com o TCE. Quando o Tribunal der as informações solicitadas e a investigação for concluída, caberá ao MPE propor, se for o caso, uma ação civil, para reparar o dano e uma ação criminal, para punir eventuais responsáveis.

Ontem não consegui saber com detalhes como anda a coisa no Tribunal de Contas, porque a turma está de férias (recesso, como eles chamam), funcionando em regime de plantão e não deu pra achar o fio da meada.

Embora a gente, como contribuinte, não tenha muita paciência para esperar, o importante é que a investigação está correndo (hum... melhor dizer que está andando). Agora a gente só espera que, num prazo razoável (ou seja, a qualquer momento), alguém diga se as suspeitas têm ou não algum fundamento e dê o próximo passo. Afinal, em junho a denúncia completará quatro anos. É bastante tempo, né não?

AU REVOIR

Antes de cair na folia em Florianópolis, Joaçaba e Laguna, o carnavalesco governador LHS vai dar uma respirada ali na França. O passeio, como sempre, recheado de compromissos e negociações. E é claro que não viaja sozinho: leva o Quirido (que é o secretário das relações exteriores), o Diomário (presidente da Fapesc) e o Derly (sobre cuja cabeça sobrevoam boatos que ora o colocam na Celesc, ora na Fazenda).

Mas é coisa rápida, só pra praticar um pouco o francês, ver as novidades e trazer um pouco mais de cultura e tecnologia do velho mundo para esta terra inóspita.

QUATRO ANOS. JÁ?

Na última terça-feira, dia 22, completaram-se quatro anos da morte do manezinho-mor Aldírio Simões (na foto à direita). Responsável pela popularização de um movimento que, este sim, elevou a auto-estima dos nativos da Ilha, Aldírio foi (e é) um personagem importante da vida da cidade.

Como Manezinho juramentado, no jornal mais manezinho do litoral, não podia deixar passar a data sem pelo menos fazer uma referência saudosa a esse nosso amigo.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

E NO NEPOTISMO, NADA?

Assim que botei os olhos nesta foto, que mostra uma bucólica cena familiar, com a Dona Rose e o Seu Dário despachando em torno de uma mesa com toalha rendada, lembrei que vários municípios tiveram que afastar os parentes da administração municipal. Itajaí, por exemplo.

Segundo o Ministério Público Estadual, há nepotismo em 88% das prefeituras catarinenses. Pelo menos umas 68 prefeituras firmaram acordo com o MPE se comprometendo a desempregar os parentes. E uns 20 municípios sofrem ações públicas para acabar com o nepotismo.

Mas não se fala em Florianópolis. Pelo menos não encontrei nenhuma referência, a não ser no diagnóstico inicial, que confirma que o município tem comissionados com parentesco. Vai ver que aqui o fato do marido ser prefeito, e a mulher secretária municipal, não configura nepotismo grave. Pecado venial, do qual o MPE se ocupará mais tarde, com calma.

PRESSÃO ALTA

A bancada do PP, exercendo seu legítimo jus sperniandi diante do que considera estranho ou mesmo cabuloso, encaminhou uma denúncia ao Procurador Geral de Justiça do Estado, em junho de 2004: alertava para o excesso de compras sem o devido processo legal na Secretaria de Estado da Saúde.

Na primeira denúncia, o PP somou todas as compras feitas de março de 2003 a junho de 2004 com “dispensa de licitação” ou enquadradas como sem exigência de licitação. O total era de R$ 218,6 milhões.

O tempo passou e nada aconteceu. Quer dizer, não aconteceu nada de novo, porque o que acontecia, continuou acontecendo: a Secretaria da Saúde continuou preferindo comprar sem os incômodos burocráticos e de outra ordem que as licitações sempre representam.

Aí, em novembro de 2005, a bancada apresentou ao Procurador Geral um aditivo à sua denúncia. Sim, porque os números continuavam crescendo. Atualizaram então o total para R$ 374,9 milhões.

E o bonde da desmoralização das licitações seguiu seu curso. De tal maneira que, em agosto de 2006, a bancada do PP, teimosa, voltou a fazer a denúncia ao Procurador Geral de Justiça. Desta vez, é claro, o total já era outro: R$ 417,5 milhões. E juntaram 41 planilhas com o detalhamento de todas as compras.

Segundo o documento, de março de 2003 a junho de 2006, a Secretaria recorreu ao expediente da dispensa de licitação 1.390 vezes, em 1.170 dias. Se a matemática não me falha, dá uma média, por compra não licitada, de cerca de R$ 300 mil. E quase uma por dia. Hum... R$ 300 mil por dia, durante 39 meses, sem precisar submeter-se à incômoda lei das licitações? Tsk, tsk, tsk...

É claro que a gente precisa levar em conta que quem fez a denúncia foram os deputados de oposição. Vai que existe algum atalho que permita ao governo deixar a lei de licitações esquecida numa gaveta e a gente não sabe, né?

Agora, que é da gente ficar meio desconfiado com tanta facilidade para gastar nosso rico dinheirinho, lá isso é.

PARDAIS A VALER

Vários leitores da capital comentaram o novo bando de pardais que o prefeitOdário instalou sem aviso.

Um deles, o Marcelo, que é dentista e militar, fez algumas considerações bem interessantes. Ele diz que é bom motorista, assim como sua mãe. Ela dirigiu 44 anos sem levar uma multa e sem se envolver em acidentes. E ele, durante 10 anos também nunca foi multado.

Mas, com os pardais, isso mudou. E não foram multados por excesso de velocidade, mas porque a função de registrar a passagem no sinal vermelho estaria, segundo ele, desregulada. Alguns sensores são acionados antes de acender o vermelho quando, teoricamente, ainda se pode passar.

Quando o sinal começa a mudar, o motorista fica diante de um dilema: ou freia e se arrisca a causar um engavetamento ou acelera e se arrisca a ser multado por excesso de velocidade e/ou por ultrapassar o sinal vermelho que ainda não está vermelho.

Como o interesse da prefeitura não é (e há quem garanta que nunca foi) educar ou manter o trânsito fluindo com cortesia, é claro que as reclamações não vão levar a lugar nenhum.

Ah, e a tal guarda civil, que deveria cuidar do trânsito, ou mesmo a polícia rodoviária militar: não conseguem dar bons flagrantes nos ases do volante que aterrorizam as madrugadas (ah, os rachas acontecem fora do expediente comercial...) e raramente aparecem nos engarrafamentos (é mudança de turno). Mas a-do-ram (principalmente os engomadinhos da GC) passear de moto e multar carros mal estacionados.

REMENDO DE AÇÚCAR

Essa estrada aí não é em Santa Catarina, é a BR 364, que liga Mato Grosso ao Acre. A rodovia recebeu, do PAC (que aniversariou ontem), R$ 21 milhões. Suficientes para deixá-la melhor do que estava, mas ainda com esses remendos que, de resto, são comuns a várias das nossas estradas aqui. Remendos mal feitos, aliás, são um sintoma claro de canalhice. Afinal, existe tecnologia que permite reparar rodovias de tal forma que o conserto tenha a mesa resistência do restante do pavimento. Mas se a empreiteira, além de fazer o serviço, ainda tiver que deixar uma “reserva” para atender “necessidades de tramitação” ou que nome tenham as proprinas e subornos, naturalmente vai querer fazer uma obra barata. Ou então, só tapeia porque sabe que não será fiscalizada nem punida.

PRA VIAGEM

O presidente Lula editou mais uma MPIIV (Medida Provisória de Impacto pra Inglês Ver), proibindo comercialização de bebidas alcoólicas à margem das rodovias. Sem fiscalização rigorosa e adequada, os efeitos da lei serão praticamente nulos. Tomara que reduza o número de bêbados ao volante, mas há pelos menos 51 maneiras fáceis de burlar esta lei.

QUE COINCIDÊNCIA...

O convênio de saúde que atende os servidores estaduais, administrado pela Unimed, é o SC Saúde. O endereço da secretaria da Saúde na internet é saude.sc.gov.br. Saude.SC.

Pois agora algum empreendedor inventou um “cartão de descontos” que tem o coincidente nome de SAUDESC. Não é plano de saúde nem nada, apenas mais uma daquelas empresas que se oferecem para intermediar o pedido de descontos em clínicas, médicos e outros estabelecimentos.

Como em outras “ofertas” deste tipo, o “cliente” paga R$ 10,00 por mês para ter “descontos” variáveis nos “estabelecimentos conveniados”.

Não tenho nada com isso, cada um tenta ganhar dinheiro como pode e cada um dá seu dinheiro a quem quiser. O que incomoda é o fato do nome do “cartão” sugerir que ele possa ser um plano de saúde. O nome parece ter sido pensado para reforçar essa semelhança.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

HISTÓRIA ANTIGA

PARDAIS A VALER

O prefeitoDário, de Florianópolis, é mesmo um sujeito engraçado. Não dá pra gente escrever nada do que ele fala. Quando assumiu a prefeitura, a Tia (que é como uma galera se refere à prefeitÂngela) tinha deixado um bando de pardais planejados e plantados.

Quem viu o Dário reclamando dessa “herança”, no comecinho, teria acreditado que ele não instalaria mais pardais.

Pois não é que na surdina, sem avisar, o Dário completou a passarinhada? Vários locais que até dezembro não tinham o equipamento, de uma hora para outra passaram a ter.

São várias sinaleiras ao longo da beira-mar norte, que tinham ficado sem pardal e que, da noite para o dia, receberam os sensores, que já estão ativados e, com certeza, multando os incautos.

Não sou contra pardais, mas sou contra administração pública feita em silêncio, na calada da noite. Parece sacanagem.

MORATÓRIA? HUM...

E por falar no prefeitoDário, a cada novo detalhe dessa tal proposta de “moratória” (que alguns já estão chamando de “defeso”) que a gente fica sabendo, mais se consolida uma certeza: eles estão brincando com a gente.

Só pode ser. Tá dito lá que não pode construir, mas, se o prefeito (ou a Câmara) achar que vale a pena liberar, está autorizado a abrir uma portinha. O que regula as exceções não é o interesse público, mas “o interesse dos poderes públicos”.

A partir de hoje vamos ter que prestar atenção ao que fazem nossos vereadores. A discussão destas propostas esquisitíssimas do Dário vai mostrar quem é quem.

Lembrem-se que estamos em ano eleitoral municipal e iremos votar em vereadores e prefeitos. Se tiver tempo, dá uma chegada na Câmara para ver e ouvir ao vivo como eles se comportam e o que falam. Ou tenta ver na TV Câmara, que funciona em dias alternados no mesmo canal da TV Alesc, na TV a cabo.

Florianópolis é uma cidade complexa, sob todos os aspectos. Da geografia à ecologia, nada é simples, numa ilha que caiu nas graças de meio mundo e virou atração turística. Nossos representantes não podem ser simplórios, ingênuos ou falsamente espertos. Chega de vereadores que acham que tudo o que o eleitor florianopolitano precisa é uma carrada de brita, alguns sacos de cimento e um favorzinho de vez em quando.

Ou então, vereadores que vivem procurando um saco pra puxar. A turma do “hay gobierno? tou dentro!” Que adora um paparico, uma mordomia, faz sua casa sobre o riacho, na área de preservação e depois sai arrotando que é “a favor da moral e dos bons costumes”. Saco!

CAIXA PRETA A MIL

Já que o prefeitoDário está ocupando um espaço recorde desta coluna, vamos continuar com ele. Esses dias o Carlos Damião chamou a atenção, no seu blog, para a entrada em vigor do aumento das tarifas dos ônibus.

“Quem usa cartão vai pagar R$ 0,08 a mais. Quem paga em dinheiro (uma discriminação nefasta) desembolsará R$ 0,10 em cada viagem.”

Dez centavos a mais, para quem usa ônibus uma vez ou outra, não representa muita coisa. Mas os coitados que moram longe e dependem disso pra poder chegar (e voltar) do trabalho, sabem como custa.

Como lembra o Damião, “tomar um ônibus para atravessar a ponte até Coqueiros ou Estreito custa, ida e volta, R$ 5,00”. Façam as contas: num mês, são R$ 100,00 (isso se não trabalhar sábado nem domingo e nem morar longe ou em outro município).

Não vai ser desta forma, enfiando a mão no bolso do usuário e prestando um serviço cada vez pior (não esqueçam que o prefeitoDário baniu o ar condicionado dos ônibus da capital turística do Mercosul) que conseguirão reduzir o volume de automóveis nas ruas.

Mas é claro que a alguém a indestrutível caixa preta do transporte coletivo deve beneficiar. Senão, não se manteria firme e cada vez mais forte.

SEÇÃO DE CARTAS

Bilhetinhos do final de semana, a propósito da coluna/aula:

Meus parabéns a você que faz parte da equipe do DIARINHO, que gosto muito. Envio também, por seu intermédio, os meus parabéns à direção e funcionários, pelos 29 anos.
Paulo Dutra
No início da aulinha já pude detectar o “problema” do jornalismo. É a falta de bares com chope de qualidade, gelado e por preços acessíveis.

Essa carência de bons botecos, que também sejam atrativos aos mais jovens, é um problema social. É sério. A falta de um ambiente nesses moldes prejudica a convivência, tão necessária para uma simples troca de informações.

César, você detectou onde está a ferida da comunicação social. Bares, suas mesas e seus sagrados balcões, testemunhas e cúmplices da história.

Um abraço e cumprimentos pelas autênticas colocações.
Luiz Carlos Schneider
Antigamente o repórter chegava na redação com um furo bombástico e o editor-chefe logo ia dizendo: “vamos publicar, pois ninguém tá falando nisso.” Hoje chega o repórter com a novidade e diz o editor: “não vamos publicar pois ninguém tá falando nisso.” É a mudança nos últimos trinta anos do jornalismo, salvo o valente e heróico Diarinho. Isso é história. Abraços.
Osvaldo
Não esqueça a sintaxe, Cesar. Depois que aboliram a revisão e deixaram a coisa “por conta”, valha-nos Deus! A gente lê cada barbaridade que custa a acreditar que um cristão assim passou no vestibular e se formou. Tivesse o jornalismo um “Detran”, esse pessoal todo teria de fazer reciclagem, nem que fosse moer na máquina...
Jânio

A UFSC E O RACISMO

A Universidade Federal de Santa Catarina, com seu reitor à frente, vai até o fim na defesa da separação de estudantes por raça (isto não é uma forma de racismo?). Pretende derrubar a liminar que, na sexta-feira, mandou parar com a segregação das vagas.

O nó do problema é que a UFSC resolveu implantar as tais cotas raciais mesmo sem que exista uma lei federal sobre isso. O MPF acha que a UFSC não pode, com uma simples resolução, estabelecer coisas que competem à União fazer, por intermédio de leis.

Num país de mestiços como o Brasil, as cotas raciais são ainda mais problemáticas do que foram em países com maior divisão racial, alguns dos quais estão revendo essa política.

Em vez de garantir um ensino público e gratuito de qualidade, a partir da pré-escola, os petistas, que estão no governo mas agem como se não estivessem, preferem adoçantes artificiais. Com a ilusão que as cotas criam, adoçam artificialmente a boca dos pobres esforçados, enganando-nos a todos. E dando uma força pro racismo.

UDESC? QUE UDESC?

O Carlos Andrade deixou um comentário, na nota abaixo, que, por algum motivo saiu truncado. Quebrou justamente num link que remetia a um texto muito interessante a respeito de uma curiosa omissão: na solenidade do governo do estado, para assinar a lei de inovação tecnológica, a Udesc não foi citada.

Em vez de simplesmente colocar o link [aqui] e mandar vocês pra lá, trago pra cá o texto do Valmor Pizzetti, que é assessor de imprensa da Udesc:

16/01/2008
Reitor da UDESC protesta contra omissão da universidade em solenidade do Governo
O reitor em exercício da Udesc, Arlindo Carvalho Rocha, encaminhou nesta quarta-feira (16) ofício ao secretário de Coordenação e Articulação do Governo do Estado, Ivo Carminati, com cópia ao secretário da Educação, Paulo Bauer, protestando com que ele denomina de “imperdoável omissão” perpetrada pelo cerimonial que conduziu a solenidade de assinatura da Lei Catarinense de Inovação Tecnológica por não fazer qualquer referência a Udesc durante a solenidade, realizada na terça-feira (15) no Teatro Álvaro de Carvalho, em Florianópolis.

O reitor lembra que a Udesc teve participação ativa na discussão e estruturação da lei, além de desenvolver parcela importante e significativa das pesquisas realizadas no Estado, �muitas das quais citadas pelos oradores em seus discursos�.
“Não se trata aqui, Sr. secretário, de mencionar o reitor, seu representante ou quem quer que seja, mas sim a instituição Udesc”, ressaltou Arlindo de Carvalho.

“Tenho absoluta certeza de que o lapso cometido pelo cerimonial ao omitir a referência à participação da Udesc na solenidade, não foi mais do que apenas isso, um lapso, e é nesse sentido que me dirijo a V.Exa., como já o fiz pessoalmente ao governador Luiz Henrique ao final da referida solenidade, pois que tais situações, além de indelicadas são um forte desestímulo ao trabalho dos professores, pesquisadores e técnicos que tanto têm colaborado para o desenvolvimento científico e tecnológico do Estado e do País e têm conseguido ombrear a Universidade do Estado de Santa Catarina às melhores instituições do ensino superior do Brasil”, ressalta o reitor em exercício da Udesc.

E acrescenta: “Ademais, numa cerimônia em que tanto se falou em ciência e tecnologia, em pesquisa e inovação, na qual a Universidade Federal e a Acafe foram tantas vezes citadas e homenageadas – com justiça, diga-se – omitir-se a participação da única universidade pública do Governo do Estado passa a impressão à sociedade catarinense e ao resto do país, de um certo desprezo do Governo para com as suas próprias instituições, o que, evidendemente, não é o caso”. O documento foi encaminhado também ao presidente da Fapesc (Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica de Santa Catarina) Diomário de Queiroz.
Assessoria de Imprensa da Udesc

sábado, 19 de janeiro de 2008

O JORNALISMO, ESSE DESCONHECIDO

[CHI... LÁ VEM O TIO CESAR COM MAIS UMA DAQUELAS AULINHAS CHATAS!]
Este nosso DIARINHO, que fez 29 anos semana passada, reúne hoje, em algum aprazível local à beira-mar, seus jornalistas para uma confraternização e um almoço de aniversário. A rigor, eu deveria enviar o texto abaixo apenas para os participantes da reunião. Mas resolvi publicar porque achei que talvez alguns de vocês pudessem ter curiosidade sobre as entranhas dos jornais. E sobre o que a gente conversa quando não tem leitor por perto.
Uma das manias mais chatas que os velhos jornalistas têm, é a de achar que os novos jornalistas querem ouvi-los ou pelo menos conhecer suas experiências. Isso tem levado vários de nós, anciãos, às universidades e faculdades, para fazer de conta que somos professores, na ilusão de ter algo a ensinar ou de encontrar quem queira “aprender”.

Outros, quando ainda nas redações, dão discursos ao redor da mesa do cafezinho, com maior ou menor sucesso. Às vezes, a rodinha se desfaz rapidamente, às vezes a turma fica por ali, como se realmente estivesse interessada no que o velho jornalista fala.

O fato é que aquela lenda urbana, segundo a qual jornalismo se aprende fazendo, não se sustenta. Primeiro, porque as redações estão tão “enxutas” que ninguém tem tempo de conversar trivialidades, quanto mais de fazer transmissão de tecnologia e vivências. Depois, porque há cada vez menos jornalistas experientes (ou velhos, como queiram), nas redações.

Boa parte da minha formação jornalística deu-se, ou consolidou-se, em mesas de bar. Não que o álcool ou as frituras tenham algo a ver com isso, mas pelo simples fato que, depois do expediente, os velhos e os moços iam para o mesmo lugar: o botequim mais próximo da redação. E a conversa invariavelmente passava pelos bastidores e meandros do exercício profissional. Só depois, bem mais tarde, é que se jogava conversa fora.

Hoje, na irreal suposição que ainda houvesse gente de cabelos brancos nas redações, à noite há uma divisão clara de destinos: a moçadinha não freqüenta mais botequins. Vai pra balada, pra “night”. Mesmo porque os bares clássicos, na esteira dos velhos jornalistas, estão desaparecendo rapidamente.

Os poucos jovens remanescentes que ainda teriam prazer em compartilhar uma didática e proveitosa noitada em torno de algumas cervejas ou chops, ganham tão mal que não podem se dar a esse “luxo”. Só se for uma vez por mês, no dia em que sai o pagamento. E olhe lá.

Só por essa lenga-lenga acima vocês já perceberam que eu sou um velho jornalista. E que daqui a pouco vou começar a “compartilhar” minhas experiências e falar coisas que talvez não encontre mais quem queira, voluntariamente, ouvir.

Tinha pensado em simplesmente colocar, como título, “Carta a um(a) jovem jornalista” e começar a arenga, mas acabei fazendo esse enorme nariz-de-cera (coisa típica de velho jornalista). Mas como nunca é tarde demais para recomeçar, vamos lá.

Meu jovem amigo (ou amiga, que afinal as mulheres são maioria), permita-me deixar aqui, sob o formato de pretensiosos conselhos de um macróbio, duas ou três coisas que acho que aprendi ao longo da estrada.

1. Cadê a informação?
A única coisa que tem valor, em qualquer veículo de comunicação, é a informação. A notícia. E será mais valiosa quanto melhor apurada.

A gente pode saber se a reportagem será boa ou ruim mesmo antes dela ser escrita. Basta conversar com o repórter. Se ele souber tudo a respeito do assunto que foi investigar, inclusive detalhes importantes que amadores distraídos ou jornalistas incompetentes geralmente “esquecem” e souber contar a história em poucas palavras, sabendo do que está falando, então teremos uma boa matéria.

Mesmo que ele, ou ela, acabe não fazendo um texto brilhante, se tem as informações essenciais, um editor habilidoso consegue consertar o texto. Mas, se faltam informações, não tem quem salve a matéria. Fica uma coisa capenga, daquelas que afugentam o leitor ali pela altura da terceira linha.

Quando vocês forem a um prédio, de onde caiu um operário, tentem ver o local onde ele estava, onde acabou indo, procurem entender o que aconteceu, conversem com todo mundo, informem-se de tudo. Detalhes da roupa, do que estava fazendo, o martelo que ficou no chão, o prego pela metade, a marca da botina na poeira, a marmita num canto, a idade, a família, a trajetória de vida. Tudo.

Os mais pragmáticos dirão: “vai ser uma nota curta, não cabe tudo isso!” E os mais experientes dirão: mesmo pra gente escrever uma frase sobre alguém, é preciso saber tudo a respeito. E quanto mais se sabe, mais fácil fica para sintetizar, resumir.

Jornalismo é, em essência, um trabalho de tradução. A gente vai à esquina onde o container tombou em nome dos 40 mil leitores diários deste jornal, que não podem ir até ali ver o que aconteceu. E depois temos de contar tudo o que conseguimos saber. De tal forma e com tal competência, que o leitor sinta-se transportado até o local e experimente as mesmas sensações que sentiria se tivesse ido até lá.

É uma enorme responsabilidade. Uma nobre e dificílima tarefa que não pode ser tratada com leviandade. Quando estiverem colhendo informações para uma reportagem, imaginem que logo mais vocês terão que ir para o centro de um estádio, pegar um microfone e explicar, bem direitinho e sem enrolar, para 40 mil pessoas, o que aconteceu. Imagina esquecer um nome, uma circunstância, a hora, a data, o local? É vaia na certa.

A vaia, no caso do jornal, é silenciosa, mas fatal: o leitor deixa de comprar o seu exemplar diário. Ou, o que é pior, acaba achando que jornalista é tudo a mesma bosta.

2. Cadê o povo?
Povo é esse pessoal que habita as cidades, que freqüenta escolas, anda de ônibus, de moto, de bicicleta, de carro, vê televisão, namora, compra bobagem, vai ao supermercado, fala mal do governo e bem do Lula, reclama com razão e sem razão, ouve pagode, come churrasco e torce contra o time dos inimigos.

Não tem como fazer um bom jornal, interessante, gostoso de ler, cheio de informações relevantes, se a gente não ouve o povo. Se não faz como o Dalmo Vieira, que conversava todos os dias com dezenas de pessoas de todos os tipos.

Repórteres e editores que se prezam, de vez em quando, fazem um trajeto diferente do habitual prestando atenção, usando da sensibilidade que têm obrigação profissional de ter, para ouvir as conversas, entender o que está acontecendo e o que está preocupando essa gente que vive ao nosso redor e que lê nosso jornal.

Não basta dar as “notícias” que sabe-se lá quem decidiu que eram notícias (e que todos os jornais e TVs dão ao mesmo tempo, como se fossem feitos pela mesma pessoa). É preciso dar as informações que realmente interessam e que podem fazer alguma diferença na vida de todos.

O velho Dalmo dizia uma coisa fundamental (e de certa forma revolucionária) que precisa ser repetida sempre, para que a gente não esqueça:
“Nossos repórteres têm a orientação de, ao cobrir qualquer evento, não dar o costumeiro destaque que a imprensa ‘boazinha e complacente’ dá aos poderosos. Nossos repórteres têm a recomendação de sequer dar o nome das autoridades presentes. Mas dar destaque às pessoas do povo presentes.”

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

E LÁ SE VAI O RESTANTE DO MORRO...

O Canga (identidade secreta do jornalista Sérgio Rubim) mandou estas fotos, que ilustram uma denúncia sobre uma nova área explorada pela Pedrita (que é uma pedreira e empreiteira de obras públicas). Transcrevo o recado na íntegra:
“Domingo saí de casa, no Campeche, e fui até o Rio Tavares pela Lagoinha. De repente a surpresa: desmatamento da parte superior da metade, que resta, do morro da Pedrita.

Da Lagoinha já dá pra ver o avanço da Pedrita sobre o morro. Mando as fotos para que vejam o impacto visual que já está causando a “limpeza” da área e a tirada da cobertura vegetal.

Nesses tempos de arroubos preservacionistas do nosso prefeito, seria de “bom alvitre” perguntar a quantas andam as licenças ambientais da Pedrita e se está autorizada a comer o morro todo.”

GRANDE FESTA

O PSDB de Joinville está divulgando, com alarde, os detalhes da super-hiper-mega festa com que os puxa-sacos, amigos, parentes e filiados homenagearão o prefeito de Joinville, Marco Tebaldi, que faz 50 anos no próximo dia 31 (convite acima).

Em ano eleitoral, ninguém quer perder as oportunidades de fazer barulho e divulgar o candidato. No dia do aniversário será lançado, numa livraria de shopping, um livro sobre a vida do prefeito que tem, segundo a propaganda da festa, “um currículo impecável”.

A festança, à noite, nada deixará a dever aos grande showmícios da época em que a legislação eleitoral ainda permitia fazer showmício: entre outras atrações, tem “show com Osvaldir e Carlos Magrão e baile com Irmãs Passos”.

O único senão é que os convivas pagam suas bebidas. O resto é grátis. Mas o convite não fala se haverá alguma coisa pra comer.

Se alguém quiser participar da festa tucana, é só aparecer, a partir das 20h, no Centro de Eventos Sítio Novo (tudo é centro de eventos, em Joinville), perto do aeroporto.

A VOLTA DA CPMF

Deu no Estadão (O Estado de S.Paulo): “Planalto discute recriação da CPMF com os Estados”.

A reportagem, assinada pelo Leonencio Nossa, informa que “o Palácio do Planalto começou ontem a discutir com secretários estaduais de saúde proposta que recria a Contribuição sobre Movimentação Financeira (CPMF), extinta pelo Senado no mês passado. Para facilitar o diálogo com o PSDB e o DEM, o governo não se envolverá oficialmente no debate. Tanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quanto os ministros procuraram ressaltar que estão fora das negociações”.

Eles não são umas gracinhas?

FALA, LEITOR!

“Cesar, O Dário está colocando placas pela cidade, como a da foto, informando que a prefeitura é referência nacional em iluminação pública.

Será que ele está querendo nos fazer crer que onde tem placa foi ele que instalou a iluminação, ou é apenas o reconhecimento do trabalho das administrações que o antecederam, executados na avenida da Saudade, na Via Expressa Sul e na Via Expressa Continental?

Além do mais, o §1º do artigo 37 da Constituição Federal é claro:
‘A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanha dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos’.

Atenciosamente,”
Riederer

DÁ PRA CONFIAR?

Lembram que o prefeito Dário disse que só não vetou a lei das cobaias, porque perdeu o prazo? Mas entraria imediatamente com uma ação para anulá-la? Que nada, era tudo cascata. A lei está em pleno vigor e ele nem tchuns.

O PREÇO DO PICOLÉ

Não sei isso ocorre em todo o litoral, mas aqui na capital muitos comerciantes não respeitam o preço máximo que as distribuidoras de sorvetes colocam como sugestão nos displays. Rasuram, colam etiquetas por cima ou cobram mais na caradura mesmo.

O jornalista Alexandre Gonçalves, que levantou o assunto no seu blog Coluna Extra, recebeu uma carta da Joice Sabatke, que é gerente comercial da Catarinense Distribuidora, que há 21 anos distribui com exclusividade os sorvetes da marca Nestlé em Santa Catarina. E aí a gente vê que não se trata apenas de estupidez dos comerciantes. É sonegação mesmo:
“Essas adulterações, além de serem um desrespeito ao consumidor, configuram uma sonegação fiscal. Assim como o cigarro, o sorvete é um produto regido pela Substituição Tributária (ST). Adulteração de tabela-padrão é uma prática que atinge tanto a Kibon quanto a Nestlé ou marcas regionais. Quando falamos de ST subentende-se que o ICMS é retido na hora que a carreta sai da fábrica, no Rio (Nestlé) ou em São Paulo (Kibon). A tabela-padrão é a referência que a fábrica utilizou para calcular todos os impostos. Sendo assim, qualquer adulteração configura um “por fora” deste cálculo.

A adulteração é uma forma de o comerciante do ponto de venda engordar sua margem (que, nas marcas nacionais, gira em torno de 28%).”
Ao cobrar acima da tabela, o comerciante deixa de vender mais, afeta o seu bom nome e o das empresas que ele representa e passa para o consumidor final aquela sensação, já nossa velha conhecida, de que estamos sendo sempre roubados.

Será que os idiotas acham que os poucos reais que roubam em cada picolé compensam a fama de ladrão?

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

OS PRIMEIROS 30 MESES DA GRANDE OBRA...

Quando o LHS comprou o Centro Administrativo do BESC para instalar ali o Centro Administrativo do governo, encontrou no prédio principal um grande auditório, de uns 400 lugares. Era usado com freqüência para várias atividades. Como, por exemplo, as solenidades da Semana do Servidor, que a foto acima, de junho de 2005, mostra.

Mas, em determinado momento, LHS resolveu que o auditório não servia mais e que, no lugar, deveria construir o maior e melhor teatro que Florianópolis já teve. E no mesmo junho de 2005, LHS deu o pontapé inicial. Claro que, para não dar muito na vista, LHS assinou, na mesma data, a “revitalização” do maior teatro da capital, o do CIC, que estava (e continua) bem maltratado.

A grande obra começou, em novembro de 2005, naturalmente com a destruição do auditório e a construção da caixa do palco do teatro. Mesmo que provisoriamente, ficou o Centro Administrativo sem o seu grande auditório.

No dia 21 de novembro de 2005, o secretário regional, Valter Gallina, anunciava, satisfeito, que o teatro Pedro Ivo, no Centro Administrativo, seria inaugurado em agosto de 2006, com área de 2.340 m2 e 760 lugares. Custaria, segundo as estimativas daquela época, R$ 2,7 milhões.

Mas as águas passaram por debaixo e por cima das pontes, o ritmo das obras tornou-se irregular e, pelo jeito, o fluxo de recursos também.

Em janeiro de 2007 fiz essa foto aí, onde se via que, um ano e pouco depois, a estrutura de concreto estava praticamente concluída e as paredes começavam a ser erguidas.

Ontem dei um passadinha lá para registrar como anda a obra. Vê-se que as paredes já foram erguidas, que o reboco já tem marcas do tempo que passou. E que, no tapume, foi pintada a marca registrada do governo LHS.

Como disse Gallina, no distante novembro de 2005, “o teatro Pedro Ivo Campos é mais uma prova de que o Governo do Estado investe, e muito, em Florianópolis, como em toda a região”.

Agora, cá entre nós: alguma coisa deve ter dado muito errado, para que a obra tenha ficado nesse estado de semi-paralisia (era pra ter sido inaugurada em agosto de 2006!). Imagina só, um troço desse tamanho, bem ao lado do gabinete do governador, com um tapume que vai até à entrada principal do Centro Administrativo, se arrastando por 30 meses e sem prazo para concluir.

No meu tempo se dizia que quando alguém começava uma coisa sem planejar direito e não conseguia terminar, é porque tinha dado “um passo maior que as pernas”. O fato é que, se fosse na minha casa, eu ficaria muito envergonhado, porque os vizinhos, que são umas flores de pessoas, certamente ficariam falando mal daquele troço inacabado bem na entrada da casa. No mínimo diriam que eu estava falido.

TÁ, E AÍ, COMO FICA?

Não sei vocês, mas eu estou por aqui com essas operações que acabam demorando muito pra se resolver. Vejam a Moeda Verde: não aconteceu nada de nada, depois da espetaculosa prisão dos suspeitos. Nem os presos entraram com ações contra as presumidas injustiças, nem a Justiça deu os passos seguintes, que todos esperamos com ansiedade.

Agora, com esta operação estadual, parece que teremos o mesmo roteiro: os advogados, cheios de recursos, vão libertar seus clientes. Os inquéritos seguirão indefinidamente seu tortuoso curso. E a gente, aqui de fora e de longe, fica se sentindo meio logrado.

Afinal, se foi mesmo verdade que os suspeitos meteram a mão numa grana preta, terão todo o tempo do mundo para arrumar suas vidas e de seus parentes.

Alguns carros, da turma da Moeda Verde, estão presos na Polícia Federal, mas parece que não fazem falta. Os tais suspeitos indiciados já estão circulando com carangas novinhas. E a gente, vocês e eu, passando um cortado pra pagar as prestações do Fiesta, do Corcel, do Celta. Ou da moto.

E as construções sobre as quais havia a suspeita de terem comprado licenças ambientais e modificações no Plano Diretor, estão aí, prontas e faturando. O supermercado Bistek, uma chaga vermelha na paisagem, visível a quilômetros de distância, funciona normalmente. A boate que abriu uma fenda na mata nativa, no Jurerê, funciona a toda, logrando os otários que vão lá: com suas instalações improvisadas e o péssimo serviço, que não valem um décimo do preço cobrado.

E assim por diante. Parece que os espertos descobriram que a lentidão da Justiça, os furos da Lei e as inúmeras chicanas que todo advogado razoavelmente competente conhece, são suficientes para reverter aquele velho ditado: “o crime não compensa”. Compensa, sim, e muito.

DIZE-ME COM QUEM ANDAS...

GRANDE MINISTRO 1
O novo ministro das Minas e Energia, senador Edison Lobão (PMDB-MA) tomará posse na segunda-feira às 19h. O suplente dele no senado é seu filho Edison Lobão Filho (DEM-MA). Sobre ele pesam acusações de usar “laranjas” para ocultar sua sociedade em uma empresa atolada em dívidas.

“Ele vai assumir [a vaga de senador] mas deve se licenciar para se defender fora do Senado”, explicou o zeloso pai, à saída da audiência com Lula no Palácio do Planalto.

No lugar de Lobinho entrará Remi Ribeiro (PMDB-MA), indiciado pelo Ministério Público sob a acusação de peculato (apropriação de recursos públicos).

Este é o grande ministro que Lula colocou para cuidar do apagão de energia.

GRANDE MINISTRO 2
O dublê de ministro do Trabalho e presidente do PDT, Carlos Lupi, não satisfeito com a polêmica ética sobre sua dupla militância, criou outra área de atrito: quer instalar, em várias partes do mundo, “Casas do Trabalhador”, para fazer atendimento clientelista aos brasileiros que vivem no exterior. Oferecerá música brasileira e comidinha caseira (feijão, arroz, essas coisas). E nós todos, idiotas, imbecis, pagando a conta de mais este delírio sem noção.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

CORRUPÇÃO NA SAÚDE

OOPS!
A nota que publiquei ontem, sobre a operação que prendeu servidores e comerciantes suspeitos de... falcatruas na secretaria de estado da Saúde, tinha dois erros.

No primeiro, inexplicável, cometido por mim num daqueles minutos de bobeira a que estamos todos sujeitos, em vez de dizer que a operação foi realizada pelo Ministério Público Estadual de Santa Catarina, falei no Ministério Público Federal, que não teve nada a ver com a história.

O outro foi dizer que a operação se chamava Falcatrua. Este é mais fácil de explicar: só depois que enviei a coluna para o jornal é que o MPE divulgou nota explicando que não tinha batizado a operação e que o nome foi dado por algum veículo de comunicação.

Perdão, leitores.

PARABÉNS

E já que estamos falando na operação, não custa parabenizar o promotor de Justiça Assis Marciel Kretzer, da Promotoria da Moralidade Administrativa do Ministério Público (MP) do Estado em Joinville. Mostrou com quantos paus se faz uma canoa. E ajudou, com sua ação desassombrada e independente, a justificar a confiança que a população tem no Ministério Público.

E AGORA?

Mas enquanto o promotor Kretzer leva adiante uma investigação sobre propinas na liberação de recursos da saúde, o Ministério Público Estadual mantém em banho maria, há pelo menos três anos, denúncias feitas pelo PP sobre uma absurda quantidade de dispensas de licitação da mesma secretaria de estado da Saúde. O jornalista Paulo Alceu informa que a grana envolvida nas dispensas de licitação pode chegar a R$ 500 milhões.

Segundo o advogado Gley Sagaz, as dispensas eram assinadas pelo mesmo Ramon Silva, que foi preso segunda. O que mostra uma outra faceta interessante do esquema: o mesmo servidor que dispensava a licitação, era o que autorizava os pagamentos.

Talvez o MPE não tenha achado muito relevante o fato da secretaria não fazer licitação para comprar remédios, por exemplo. Só que, pela legislação, só se pode comprar sem licitação quando existe urgência. Uma epidemia, um desastre natural, coisas desse tipo.

Pela quantidade de dispensas, provavelmente Santa Catarina é um dos estados com maior número de epidemias e desastres. Porque a toda hora tinha que comprar “às pressas”, alguma coisa. E, pior, segundo as denúncias do PP, “não compravam diretamente dos laboratórios, mas de atravessadores”.

O fato é que uma dispensa de licitação deve ser sempre olhada com cuidado: as chances de haver algum desvio numa operação como essa são grandes. E, quando há corrupção aí, o volume de dinheiro envolvido pode ser superior ao das propinas que geraram a operação da segunda-feira.

E O TCE?
Como, ao que tudo indica, perguntar não ofende, permitam-me uma perguntinha: não caberia também ao Tribunal de Contas do Estado dar uma olhadinha nessas dispensas de licitação?

BOMBA NO COLO
O secretário municipal de saúde de Joinville (e virtual candidato a candidato a vice-prefeito), Norival Silva, também foi preso na mesma operação que grampeou o Ramon Silva (parentes?). Apesar de terem sido apreendidos documentos e computadores da sua atual repartição e de ter sido encontrada certa quantia em dinheiro na sua casa, é claro que os amigos dos amigos já começaram a dizer que a culpa é do Amin: “ele foi secretário adjunto estadual da saúde no governo anterior!”

Como em tantos outros casos, que se investigue o que tiver para investigar, mas não nos chamem de idiotas: se apreenderam documentos atuais, a investigação é sobre fatos recentes, ocorridos nos últimos anos.

Da mesma forma, o secretário Dado Cherem torna público, agora, que estava sitiado, na secretaria, por servidores de confiança do secretário anterior, Fernando Coruja. Ora, ao assumir um posição de risco (ser secretário nominal, sem poder sobre seus subordinados), o deputado deve ter pesado bem os prós e os contras. E avaliado a possibilidade real de que alguma bomba, plantada sem o seu conhecimento, explodisse no seu colo.

Assim como, na época, o secretário Max Bornholdt, tanto o prefeito Tebaldi quanto o secretário Dado dizem que não sabiam de nada. Desconheciam o fato de seus subordinados cobrarem um “por fora” para liberar dinheiro a fornecedores .

Os peemedebistas raivinhas, que querem que a penca exploda, devem estar adorando o escândalo: pega o Coruja, do PPS (de quem Ramon Silva foi chefe de gabinete) e os tucanos Dado e Tebaldi. E, como em todas as outras vezes, ainda podem dizer que tudo começou no governo anterior.

PIROTECNIA

O governador LHS subiu nas tamancas quando a Polícia Federal conduziu, presos e algemados, seus amigos na operação Moeda Verde.

Pois na segunda-feira foi a vez da polícia do governador LHS fazer a sua pirotecniazinha: prendeu, algemou e ainda (o que muitos consideraram abusivo), em vez de levar o preso para a delegacia, desfilou com Ramon algemado dentro da secretaria da Saúde. Até o momento em que escrevi isto, não li ou ouvi o governador reclamar da sua polícia. Que, de resto, portou-se à altura da missão que lhe coube.

DIVERGÊNCIA

Os fofoqueiros de plantão comentavam ontem sobre os percentuais das propinas. Acham que os valores divulgados (3% a 5%) são irreais: “normalmente o empresário só chia quando passa de 20%”, diz um “expert”. Até esse valor, o custo estaria embutido no preço.