sábado, 31 de maio de 2008

TV CULTURA, CANAL 6

Na foto acima (de 2005), o grande Darci Lopes (à direita), conversa com o Roberto Alves e com a Sílvia Hoepcke da Silva (rádio Guarujá) num evento na Assembléia Legislativa.

O Moacir Pereira, em seu blog, lembra-nos que há 38 anos o sinal da TV Cultura, canal 6, entrou no ar. Não é um aniversário qualquer. Nem é data pra gente deixar passar sem uma referência, e várias reverências.

Conta Moacir que foi o Roberto Alves, na coluna do DC, que comentou o fato. E cita os diretores da emissora: Darci Lopes, Lauro Caldeira de Andrada, Leon Schmigelow, Arno Schmidt, Frederico Buendgens e Ody Varela.

Quem faz TV hoje em Florianópolis, na verdade, precisa ter muito cuidado com o que coloca no ar, para não desmerecer a história de seu surgimento na cidade. Uma história que faz bonito em qualquer parte do mundo e que, parece, nem todos conhecem ou nem todos valorizam como deveriam.

Até mesmo a fantástica aventura da verdadeira TV pirata (aquela que foi ao ar sem a devida concessão) do Silvestre, que funcionou bem ali na esquina do Senadinho merece estudo e respeito, porque mostra uma forma de ver e fazer televisão que não é comum. E não foi mera coincidência que do grupo reunido na Sociedade Amigos da Televisão, inicialmente responsável pelas repetidoras das emissoras de outros estados, tenha saído a primeira TV. Eram amigos da TV, que a trataram com grande carinho nos primeiros anos, permitindo que a cidade se visse e se reconhecesse.

Mauro Amorim, Marisa Ramos, Pacheco, Roberto Alves e Oscar Berend são alguns dos pioneiros que consigo lembrar sem esforço. Eram tempos românticos, amadores no bom sentido, da TV Cultura. O Roberto Alves, aliás, é um capítulo à parte. Uma das personalidades brasileiras de TV mais adaptadas e adequadas ao veículo, o Roberto parece estar mais à vontade na frente da câmara do que em sua própria casa. Algumas pessoas fotografam bem, outras são esforçadas, mas são muito poucas as que “funcionam” na TV naturalmente, com o timing exato, a noção clara da intimidade com o telespectador, o uso correto das inflexões. Este é o Roberto Alves, que sobreviveu às mudanças que a TV florianopolitana atravessou as várias fases, com maior ou menor tempo de programação local. E que é bem a nossa cara.

O fato da TV Cultura ter sido colocada no ar por um grupo de pequenos e médios empresários, é único. O “normal” é que as concessões sejam dadas a grupos poderosos, com conexões políticas amplas. E o espaço que abriu para as coisas da cidade ajudou a transformar aquela cidadezinha provinciana, mexeu com a capital.

Fui um atento observador da Sociedade Amigos da Televisão: ficava de binóculo, da minha casa, no Estreito, no final da tarde, vendo a Rural do Darci Lopes subir o Morro da Cruz para ligar a repetidora da TV Piratini. Era um tempo de TV escassa, imagem ruim e antenas domésticas enormes. Mas eles iam lá em cima, todo dia, por amor à camisa.

Depois, quando ganharam a concessão e colocaram no ar as primeiras imagens da fase experimental, com aquele 6 que formava um olho, a emoção foi grande. Era, também, ainda muito jovem, um espectador fiel da TV Cultura.

Quando a TV Cultura foi fazer a primeira transmissão de Carnaval a cores, fiz uma coisa que parece ter azedado, para sempre, a minha relação com aqueles pioneiros. Era cronista do jornal O Estado e metido, como até hoje, a ser crítico e independente. Assisti à transmissão do Carnaval na praia, em Canasvieiras, de bloquinho na mão. Anotando os deslizes que ocorrem em toda longa transmissão ao vivo. E publiquei as anotações numa crônica, sob o título: “TV Cultura. Cultura?” O jornal, na época, era o principal veículo de comunicação da cidade, lido por “todo mundo”.

Pra quê?

Nunca mais consegui consertar o estrago daquela exposição, por escrito, do que foi dito no ar. Até onde fiquei sabendo, os citados (Oscar Berendt, Roberto Alves e Marisa Ramos) ofenderam-se. À exceção de Marisa Ramos, que já era minha amiga e até hoje é muito gentil quando nos encontramos (e nunca se queixou daquele episódio), os demais, acredito, passaram a me ver como um inimigo. Sorte que o tempo ajuda a esconder o passado sob uma neblina e alguns fatos acabam perdendo a importância que um dia tiveram.

Em todo caso, independentemente do que aquela crônica possa ter sugerido sou, como sempre fui, fã de carteirinha desses talentos e admirador da forma como surgiu a televisão em Florianópolis. E queria deixar aqui, nesta data tão especial, os parabéns e um abraço de gratidão a todos esses pioneiros.

NOVA GALERIA

Troquei (finalmente) as fotos da micro-galeria alí ao lado. Sai a Catedral, entra flor de maio, que aqui em casa só floresceu agora, nos últimos dias do mês. Fica rodando, como um slide-show, mas se clicar ali abre-se o álbum com as fotos maiores.

Bom finde.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

RETRATO DE UMA CHANTAGEM (final)

Nos posts anteriores demos uma espiada em algumas partes do livro “A Descentralização no Banco dos Réus” e agora, pra encerrar, farei alguns comentários sobre o que vimos nessa estranha e mal ajambrada história.

O livro é uma caminhada pelo submundo da corrupção e, ainda que mal escrito, deixa entrever os porões onde os limites entre o público e o privado foram eliminados.

Curiosamente, o livro não faz referência às edições 39 e 40 (de janeiro e abril de 2006) da Metrópole, que foram as revistas incluídas no processo que pede a cassação de LHS e tramita no Tribunal Superior Eleitoral. Nesse sentido, o “material” apresentado é, do ponto de vista jurídico, novo. E oferece, aos advogados e procuradores, possibilidade de uma ampla gama de enquadramentos nos vários códigos.

Há inúmeros fatos que precisam ser apurados. Por exemplo, aquela história do presidente do TJSC que pediu ao governador um jatinho para ir ao lançamento da revista que tinha sua pessoa na capa, se verdadeira, é um escândalo por si só.

Mesmo que se diga, como já se está dizendo, que o acusador é um “desqualificado”, é preciso atenção, porque, ao que parece, foram feitos negócios com este “desqualificado”. Por que então se aliaram a ele? Por que encomendaram-lhe “serviços”? Por acaso não sabiam com quem estavam tratando? Agora não tem muito mais o que fazer, a não ser esperar que as ações que serão propostas a partir das novas informações, tenham uma tramitação demorada e que a população esqueça o incidente.

A Metrópole não é a única e não será a última revista a se aproveitar da generosa (com o nosso dinheiro) vaidade de políticos, juristas e empresários. E enquanto, por um lado, o dinheiro subtraído para a promoção pessoal faz falta em ações de governo, por outro a população passa a acreditar que todos os veículos de comunicação agem da mesma forma. E que são jornalistas esses comerciantes. Ninguém ganha, quando se rasteja na lama, exceto os ratos. E, pelo que se lê no livro, às vezes até os ratos ficam no prejuízo.

Deixo-os com a edificante leitura, abaixo, de um texto que está na última página do livro. Escrito como uma espécie de auto-propaganda do material, revela o pecado original que resultou neste imbroglio: o governo, proibido de anunciar por decisão judicial, resolveu encontrar uma “alternativa”. Deu no que deu.

RETRATO DE UMA CHANTAGEM 3b

Tinha esquecido, no post anterior, de mostrar as páginas referentes à revista do Badesc. São também muuito interessantes.

RETRATO DE UMA CHANTAGEM 3


Continuamos dando uma espiada no livro “A Descetralização no Banco dos Réus”, do dono da revista Metrópole, o Nei Silva.

Uma das partes mais curiosas do livro é quando o autor resolve trazer as edições anteriores, falando um pouco sobre cada uma delas e mostrando suas capas (e contracapas). Relata, com clareza cristalina, o comércio feito em cada uma delas. Presidentes do Tribunal de Justiça, candidatos a vice-governador, presidentes de estatais, todos podem ter seu momento de glória na revista. Desde que acertem o preço. As reproduções, acima e abaixo, todas de páginas do livro, são auto-explicativas.

Se estiver difícil para ler os textos, clique sobre eles que se abre uma ampliação.



O trecho abaixo não fala de alguém que tenha “comprado” uma edição inteira para si, mas revela, a ser verdadeiro o relato, como essas publicações se nutrem das vaidades e das ambições políticas, para ir abastecendo suas burras. Tolamente (ou espertamente), há quem concorde em pagar para ser entrevistado. E o dinheiro envolvido, no caso específico, não era exatamente público, mas de uma entidade que tem fé pública.

RETRATO DE UMA CHANTAGEM 2

Foto de uma da páginas do livro, onde é transcrita uma carta que Nei teria enviado ao secretário da presidência do Badesc, Fábio, em 16 de outubro de 2007, tentando cobrar do Banco e, ao mesmo tempo, ameaçando com a circulação da revista que poderia “complicar o governo”. (Para ver melhor, clique sobre a foto que se abre uma ampliação)

Uma das principais dúvidas que resta depois da leitura do livro “Descentralização no Banco dos Réus”, do Nei Silva (Ivonei Raul da Silva) é sobre a veracidade daquelas histórias. Há fotos de pacotes de dinheiro, montes de notas, que podem perfeitamente ter sido feitas em qualquer lugar, com qualquer dinheiro. Da mesma forma, o autor afirma que gravou (naturalmente sem conhecimento de seus interlocutores) as conversas que relata, mas por enquanto trata-se apenas da palavra dele. Que reage ofensivamente, explicitamente movido por um desentendimento sobre o valor de seus créditos.

As “transcrições” de gravações feitas de conversas ao telefone, são, em sua maioria, conversas que aparentemente foram feitas mesmo para serem gravadas, para comprovar, de alguma maneira, que aquele personagem tomou conhecimento da revista ou esteve envolvido com o “projeto”. E foram colocadas no livro, naturalmente, para mostrar a seus interlocutores que ele gravou. Não parece muito importante que o conteúdo não seja relevante. O importante é apenas apresentar as armas. Como em toda chantagem.

Outra das características de chantagem do livro é a insinuação, repetida, de que LHS teve um relacionamento, digamos, mais próximo, com a repórter da revista, Margara Hadlich. Há afirmações dúbias sobre “o envolvimento do Governador com a repórter”. Segundo Nei, LHS teria acertado diretamente com ela o valor de R$ 500 mil pelo “trabalho”.

Como que para reforçar a insinuação e demonstrar o envolvimento de LHS com a produção do material, o livro traz fotos da “repórter” (coloco entre aspas porque, no meu dicionário de Jornalismo, ela não age como repórter) com o governador, que reproduzo abaixo.

RETRATO DE UMA CHANTAGEM 1

Vou tentar sintetizar o enredo do livro “A Descentralização no Banco dos Réus”, para dar uma idéia geral do que se trata e depois, aos poucos, durante a tarde, vamos dando uma espiada nos detalhes.

1. O empresário Nei Silva (foto ao lado), dono de uma, como direi, “revista de oportunidades” chamada Metrópole, que vive de fazer edições “especiais”, onde as “personalidades” precisam pagar para aparecer ou para não aparecer, teria acertado, com LHS, um certo “Projeto Descentralização”. Por módicos R$ 500 mil, publicaria três revistas, colocaria dezenas de out-doors pelo estado e faria “pesquisas de opinião” (como ele mesmo diz, “sem registro, apenas para conhecimento de LHS”).

2. O esquema, clássico desse tipo de publicação, seria o seguinte: o governo, através de um de seus secretários centrais, “estimularia” os secretários regionais a abrirem as portas dos empresários fornecedores e amigos do governo para que o Nei Silva pudesse faturar.

3. Em algum momento, entrou água no esquema. Segundo Nei Silva, o então presidente da Codesc (e tesoureiro do PMDB) Içuriti Pereira e o Secretário de Comunicação, Derly Anunciação, disseram, em junho de 2006, que ele parasse de “cobrar” as faturas dos “anunciantes” porque era véspera de eleição e não seria legal executar devedores/apoiadores.

4. Sempre segundo o relato de Nei Silva, publicado no livro (distribuído em cópias xerox), teria ficado acertado que ele deixaria os empresários em paz e o pagamento devido seria feito diretamente pelo governo. E conta que recebeu uma primeira parcela, de R$ 40 mil, no diretório do PMDB de Florianópolis, de Miguel Bertolini. E duas parcelas de R$ 40 mil na empresa Renaux, do ex-secretário Armando Hess de Souza.

5. Ancorado no valor inicial, que teria sido “acertado” de R$ 500 mil, Nei Silva não se satisfez com os R$ 120 mil e começou então a cobrar o que faltava.

6. Em julho de 2007, mesmo com o problema do projeto “Descentralização”, que gerou ações na Justiça e muito rolo interno, o Gentil da Luz, então secretário regional em Criciúma, chama Nei para fazer uma revista “como aquela do governador” para Eduardo Pinho Moreira e ele próprio. Eduardo como pré-candidato a 2010 e ele como candidato a prefeito de Içara.

7. No livro, a operação “Força do Sul” é relatada exaustivamente. E acabou mal, quando a edição foi distribuída em Gravatal, numa reunião do Colegiado, em setembro de 2007. A revista causou enorme mal-estar entre os presentes, todos escaldados com os problemas anteriores. Leonel Pavan teria olhado a revista e dito a frase famosa: “isto vai dar merda!” A distribuição foi suspensa.

8. Com dificuldade para receber o “restante” e agora com o prejuízo da nova revista, Nei Silva aperta o cerco ao governo. Conta várias negociações, que diz ter gravado, com Armando Hess e Ivo Carminatti. Até que, por algum motivo que não ficou claro, resolveu colocar a história no papel e distribuir à imprensa. No livro há pelo menos dois trechos em que fica evidente que a possibilidade de “contar tudo” foi usada como chantagem.

9. Lê-se o livro com engulhos, nojo e pena. Pelo menos foi assim comigo, que exerço jornalismo há 36 anos e não consigo deixar de me indignar com essas publicações picaretas, que só publicam matérias pagas, não fazem jornalismo, apresentam produtos de má qualidade editorial e gráfica e mesmo assim conseguem faturar horrores. E com as “autoridades” dos três poderes que, ingênua ou malandramente, abrem os cofres para esse tipo de publicação com enorme facilidade. Enquanto isso, veículos sérios e profissionais são fechados porque não conseguem respaldo do mercado publicitário.

10. Bom, em resumo é isso. Uma história nada dignificante, que pode ser sintetizada da maneira mais chula possível: o cara jogou merda no ventilador.

[Neste blog, basta clicar sobre as fotos que se abre uma ampliação]

DECISÃO DIFÍCIL

Vocês sabem que as notas que estão aqui são, normalmente, aquelas publicadas na coluna De Olho na Capital, na página 3 do jornal Diário do Litoral, o DIARINHO. E lá, como em todo jornal de papel, o espaço é finito. Num blog não é, basta rolar a tela e continuar escrevendo.

Por isso, tive que dar, no jornal, a seguinte explicação:

“Recebi ontem uma cópia do livro “A descentralização no banco dos réus”, em que Nei Silva, da revista Metrópole, entrega as negociatas que fez com o governo LHS. Um escândalo. Depois de muito pensar, decidi deixar o espaço da coluna para as boas memórias de 1968. O escândalo ficou pra amanhã.”

É possível que, com esta decisão, tenha deixado de publicar primeiro, ou pelo menos junto com outros colegas, alguma coisa sobre esta bomba que acaba de estourar no colo do governo. Mas pensei cá com os meus botões: escândalo tem todo dia. Este não será o último. E entre recordar um tempo em que estávamos unidos em lutas que pareciam mais dignas e cortar o material para caber a lama do dia, preferi manter o espaço todo para 1968.

Como a coisa é muito quente, provavelmente não conseguirei esperar até amanhã. E isso beneficiará os leitores do blog, que talvez tenham aqui notas sobre isso hoje, ao longo do dia, à medida em que for preparando o material do jornal. Uma inversão: em vez de ler aqui o que foi antes enviado para o jornal, lerão primeiro aqui o que depois será mandado para lá.

UMA SESSÃO ESPECIAL

O Zuenir Ventura, que escreveu “1968, o ano que não terminou”, disse que, por causa do sucesso do livro, a cada dez anos (78, 88, 98...) é convidado para inúmeras mesas redondas, seminários, homenagens e palestras, no Brasil todo. E aí, para surpresa de todos, afirmou que a solenidade de ontem em Florianópolis, na Assembléia Legislativa, foi original e o emocionou de forma especial, porque não foram reverenciados ali os fatos de 1968, mas alguns dos personagens que fizeram 1968.

Na verdade, como ele também disse, “há um 68 em cada canto”. Ou seja, em todo lugar tem alguém que tenha vivido de forma marcante aquele ano e o que ele representou. O próprio deputado Édison Andrino, manezinho da Lagoa que convocou a sessão especial de homenagem aos 40 anos dos movimentos de 1968, foi um dos estudantes catarinense que foram ao histórico congresso da UNE em Ibiúna.

“A originalidade deste evento está em que se homenagearam os sobreviventes, os personagens e não os fatos”, disse o escritor, ao agradecer o convite.

Foi, de fato, uma solenidade bonita, emocionada. Talvez os jovens que estavam por lá não tenham sentido toda a carga emotiva que umedecia os olhos dos que viveram aquela época. E é possível que o público em geral (mesmo os meus queridos leitores e leitoras) também ache que um ano que já se esfumaça na distância não merece tanto rapapé.

A História, todos sabemos, não é uma disciplina em que os brasileiros sejam especialistas. E sem um conhecimento mínimo de história, de fato, 1968 foi apenas aquele ano que ocorreu entre 1967 e 1969. E também sem alguma cultura geral, noções de política, sociologia e, por que não, filosofia, deve parecer uma grande inutilidade perder tempo e, como é o caso aqui, espaço, com essas lembranças.

OS PERSONAGENS

Da esquerda para a direita, deputado Edison Andrino, Zuenir Ventura e Sérgio da Costa Ramos.

Derlei de Luca sendo abraçada pela presidente da FCC, Anita Pires e aplaudida pela deputada Ada de Luca

Rogério Queiroz, ex-presidente da União Catarinense de Estudantes Secundaristas (na década de 60!) com o atual presidente da entidade; e Zuenir com Romário José, autor da poesia que transcrevo no post abaixo.

O grande problema de toda homenagem é que sempre falta alguém. Mas a listinha dos que receberam placas comemorativas, ontem, ainda que não seja exaustiva, é bem representativa.

Derlei Catarina de Luca
Derlei nasceu em Içara. Estudou na UFSC. Presa por três vezes, contou o que sofreu em seu livro “No corpo e na alma”. Em 1973 exilou-se. Voltou ao Brasil com a anistia, em 1979. Participa do grupo Tortura Nunca Mais e da Comissão Nacional dos Familiares dos Mortos e Desaparecidos.

Marcílio Ramos Krieger
Advogado formado pela UFSC, iniciou sua atuação política universitária, como militante da Juventude Universitária Catarinense (JUC) e da Ação Popular (AP). Em junho de 1968 foi preso em São Paulo. Foram quase três meses de prisão e tortura. Exilou-se em dezembro de 1969 e voltou para o Brasil dez anos depois.

Nelson Wedekin
Jornalista, advogado e hoje administrador de empresas, natural de Mondaí, SC. Em 1968 era militante do movimento estudantil na UFSC. Nos anos que se seguiram ao golpe de 1968, foi réu de um demorado processo na lei de segurança nacional. Foi também advogado de praticamente todos os presos políticos de Santa Catarina. Foi deputado federal e senador constituinte, em 1982 e 1986.

Roberto Motta, in memoriam
Natural de Criciúma, o “Motinha” sempre esteve ligado a movimentos estudantis e políticos. Foi presidente do diretório central de estudantes da UFSC de 1968 a 1969. Foi preso e condenado com base na lei de segurança nacional.Em 1982 elegeu-se deputado pelo PMDB, sendo líder da bancada em 1985.

Rogério Queiroz
Presidente da União Catarinense de Estudantes Secundaristas, nos anos de 1959 e 1960. Realizou em Florianópolis o conselho nacional da União Nacional dos Estudantes em janeiro de 1964 e em abril do mesmo ano foi destituído pelos militares do cargo e preso em duas ocasiões, sob a acusação de subversão e enquadrado na lei de segurança nacional.

Romário José Borelli
Foi a principal vítima de um ataque à peça Roda Viva, quando esta se apresentava em Porto Alegre, em 1968. Catarinense, é um dos personagens vivos citados no livro “1968, o ano que não terminou”, de Zuenir Ventura. Duramente espancado, sofreu lesões que lhe custaram meses de recuperação.

Salim Miguel
Foi preso dia 2 de abril de 1964, “quando tomava um cafezinho no Ponto Chic”. A livraria Anita Garibaldi, da qual tinha sido sócio, foi arrombada e com os livros fizeram uma fogueira no meio da rua. Contou o episódio no livro “Primeiro de Abril – narrativas da cadeia”. Em 1968 estava no Rio de Janeiro, atuando como jornalista.

Sérgio da Costa Ramos
Escritor e jornalista, filho do jornalista Rubens de Arruda Ramos. Preso em dezembro de 1968, foi indiciado na lei de segurança nacional. Processado por dois textos: “Por que morre Édson Luiz” e “Artur e eu na calada da noite”, este uma crônica satírica e o outro um libelo contra o assassinato do jovem estudante no Rio, estopim para a “passeata dos cem mil”. Passou seis meses no cárcere.

1968

Letra da música “1968” que Romário José cantou ontem, em Plenário, na sessão especial
em homenagem aos 40 anos dos movimentos de... 1968


Naquele tempo as palavras tinham asas
E escapando por janelas e frestas das casas
Iam voando, murmurando, sobre os vales
Sobre os rios, sobre os campos e florestas.

Naquele tempo as palavras tinham cores
E cobriam de repente as cidades com flores
Iam pintando, murmurando, sobre os cenhos
Sobres as bocas, afastando as tempestades

Naquele tempo as palavras tinham fogo
E acendiam nos lares a ternura em todos
Iam queimando, murmurando, sobre as camas
Nos cabelos, desatinos da loucura.

Naquele tempo as palavras davam vivas
E bebiam nas taças madrugadas festivas
Iam cantando, murmurando, nas tavernas
Nos poemas, nas estrofes das baladas.

Naquele tempo as palavras tinham ninhos
E investiam disparadas com lanças contra moinhos
Iam lutando, murmurando, cavalgando,
Tresloucadas, mensageiras de esperanças.

Mas de repente as palavras sem fronteiras
Acordaram entre muros, assustadas, prisioneiras...
Vieram juízes com mordaças,
Com sentenças no papel
Homens com tochas e lenha
Ah, quantos dias de fel!

Arrastando as correntes, murmuradas com segredo
As palavras tinham senhas, ah quantas noites de medo!
Quanta agonia, para abrir de novo as asas
Para replantar as flores e reconstruir Babel.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

PREFEITURA PERDE DE NOVO

O grande patrimônio deste blog são seus leitores e comentaristas. De vez em quando eles suprem as falhas deste relapso autor, enviando informações, dicas e notas prontas. Como é o caso desta, que transcrevo abaixo, enviada pelo famoso Anônimo, o comentarista mais assíduo deste blog:

“Caro Cesar, para conhecimento:

Terceira derrota da Prefeitura na Justiça. Após o Juiz Hélio do Valle Pereira em caráter liminar, proibir qualquer publicidade de obras e eventos da Prefeitura Municipal de Florianópolis, com multa diária de R$ 50.000,00 em caso de descumprimento, e após extinguir mandado de segurança desastroso por inépcia da inicial já que não era a via adequada (para que serve uma procuradoria???), agora, com a interposição de recurso cabível (agravo), mais uma vez a Prefeitura tem negado seu pedido, dessa vez pelo Desembargador Domingos Paludo que declarou que decisão em sentido contrário caracterizaria por certo o dispêndio de dinheiro público de forma desnecessária.”


Para acessar a tramitação do processo clique aqui.

HOLLYWOOD É AQUI

[Clique sobre a foto para abrir uma ampliação]

AS PUTAS DO MERCADO

A região central de Florianópolis tem sido terra fértil para uma das mais antigas profissões do mundo. As prostitutas circulam durante o dia nas proximidades do Mercado Público Aldírio Simões e tomam conta do pedaço.

Uma boa reportagem sobre isso está no site do curso de Jornalismo da UFSC (cotidiano.ufsc.br). Escrita por Mayara Vieira, mostra que os comerciantes dos demais ramos estão cabreiros com a abundância das profissionais do sexo.

[Para ler, clique aqui]

E quando tiverem ido até o site, aproveitem para dar uma olhada em outras reportagens que tem por lá. Como a de Flora Pereira, sobre o lixo eletrônico (computadores fora de uso) que se acumula nos corredores da UFSC [aqui]. Chega a ser assustador notar que uma universidade daquele porte ainda trate com tal amadorismo um problema sério como este, da destinação final dos computadores e monitores que não funcionam mais.

RECORDAR É VIVER

Hoje, às quatro da tarde, a Assembléia Legislativa realiza uma sessão especial para lembrar 1968 e os movimentos em defesa da liberdade de expressão e da democracia. A iniciativa foi do deputado Édison Andrino (PMDBdaLagoa).

O jornalista e escritor Zuenir Ventura vai apresentar seu novo livro “1968, o que fizemos de nós” e receberá homenagens, junto com outras personalidades catarinenses, que tiveram participação destacada naquela época.

No livro, que é uma seqüência de “1968, o ano que não terminou”, grande sucesso, lançado há 20 anos, Zuenir resume os motivos que o levaram a escrever a nova obra: “A geração de 68, que dizia não confiar em ninguém com mais de 30 anos, está completando 40. Ainda dá para confiar nela? 1968 terminou ou não terminou? Que balanço se pode fazer hoje de um ano tão carregado de ambições e de sonhos? O que restou de tantos ideais?”.

Na lista de homenageados da sessão especial estão o jornalista e cronista Sérgio da Costa Ramos, os escritores Salim Miguel e Romário Borelli, o ex-senador Nelson Wedekin, o ex-deputado Roberto Motta (in memoriam), o advogado Marcílio Krieger, a ativista Derley de Luca e o ex-presidente da UCE, Rogério Queiroz.

HELOÍSA HELENA DE VOLTA

A presidente do PSOL Heloísa Helena estará em Florianópolis amanhã. A ex-senadora e ex-candidata à presidência na última eleição conversa com jornalistas às 14h30 na sala de imprensa da Assembléia e às 19h fala sobre “Socialismo e poder local” no Auditório da Catedral Metropolitana (antigo Cine Roxy), às 19h. Entrada grátis.

OS IMPOSTOS E A GASTANÇA

Escondido atrás dos recordes de arrecadação, o governo despreza a prudência e nem pensa em cortar gastos. Ao contrário, sonha com novos e maiores impostos.

BAIXINHO NO SUPERMERCADO

[DA SÉRIE: VELHAS CRONIQUINHAS QUE ESTAVAM ABANDONADAS
NO FUNDO DAQUELE BAÚ CHEIO DE CUPINS]


Ontem foi um dia daqueles. Quando percebi, estava num supermercado, diante de uma gôndola (eram prateleiras, mas eles chamam de gôndola, fazer o quê), parado, olhado para a prateleira mais alta e imaginando: “quem tem menos de 1,60 m, mesmo que estique a mão, não vai conseguir pegar essa, como é que é mesmo? moço, por favor, me alcança essa lata ali de cima?” E quando a gente tem esse tipo de pensamento às dez da noite num supermercado é porque foi, de fato, um dia daqueles.

A ciência ainda não descobriu o que causa esse acúmulo de problemas, de tempos em tempos, num só dia. E também não explica direito como é que a gente faz de conta que não é com a gente. Se tivesse descoberto e tivesse explicado, com certeza ontem eu não acharia o livro ou a revista em que saiu a notícia e o Google não encontraria o saite.

Esses dias sempre começam um pouco mais tarde. O despertador não toca porque a pilha acabou. O carro não pega porque o filho que saiu com ele ontem conseguiu coincidir a chegada na garagem com o final do final da última gota de gasolina do tanque. Saio e olho para ver se não tem pneu vazio. Pneu vazio na garagem leva o “dia daqueles” para outro patamar, 9 pontos na escala Ai Jesus!

Mamãe, senhora idosa cujo principal divertimento é ver leilão de gado e corrida de cavalos na TV, telefona dizendo que a tv cabo saiu do ar. Devo ter esquecido de pagar. E ser assinante desde o tempo em que o cabo era feito de imbira não conta, nessas horas, nesses dias.

É nesse dia, também, que a gente consegue bater, com toda a força, o ossinho do tornozelo na quina do último (ou primeiro?) degrau da escada no momento em que tomava cuidado para não escorregar e bater com o queixo no corrimão.

Por sorte olhei antes de colocar a pasta na escova de dentes. Trocar a pomada contra queimadura por pasta de dentes também tornaria o dia insuportável. Satisfeito por não ter cometido pelo menos esse erro, enfiei a cara no blindex do box. Foi dia de faxina e ele estava bem limpinho e transparente. Sorte que estava sem óculos.

Os óculos. Tenho dois, um de reserva. Para jamais acontecer de pisar num (sem querer, claro) e ficar sem poder ler as letras pequenininhas dos títulos dos jornais. A lente praticamente inquebrável não resiste a uma pequena queda, no máximo três metros, e racha. Tenho, bem guardado, óculos sobressalente. Onde foi mesmo que coloquei?

Evito usar o sal, no almoço, porque sei que nesses dias a chance da tampa do saleiro soltar ou estar solta é enorme. Tomo muito cuidado quando percebo que estou naqueles dias. Mas não consigo evitar que um movimento de mão derrube o copo sobre o prato. Sorte que era guaraná Pureza e tem mais na garrafa. Só que o último pedaço de lombo, tão arrumadinho, com o molho e a farofa, agora está mais úmido. Quem sabe se esquentar no microondas não fica bom? Não tem gente que usa cerveja para cozinhar? Por que não Pureza?

E o dia ia andando, como diziam antigamente, “do jeito que Deus é servido”. Aproveitei que estava no computador, sem conseguir acessar os saites que precisava, sem conseguir fazer o céu da foto ficar menos fúcsia, e fui olhar meu blog, para ver se tinha novos comentários, ou talvez apenas para ler mais uma vez meu próprio nome na telinha. E vejo, com estupor e incredulidade, que as fotos desapareceram. Retângulos com um x vermelho marcam os locais dos falecimentos.

Remendado o problema é que finalmente arranjei tempo para ir ao supermercado. E foi onde nós começamos esta conversa: eu parado diante da gôndola (não me conformo que o Lula até hoje não me ligou para cumprir a promessa de campanha de me mandar para ser porteiro na embaixada brasileira em Veneza), filosofando sobre o problema que aquele fabricante de não sei que teria para vender para a multidão de baixinhos (ou menos altos) que circula por ali.

Desisti e tratei de ir embora logo, sem levar aquela coisa lá de cima. Chega. Mas quem disse que o cartão funcionou na hora de pagar a conta? E o carro, onde está o carro?

quarta-feira, 28 de maio de 2008

PRESIDENTE BOA VIDA

O Juscelino era o “presidente bossa-nova”. Pois cada vez mais acho o Lula com jeito de “presidente boa vida”. Nada é com ele. Quer dizer, nada de ruim. Os tais “movimentos sociais” estão infernizando a vida da Vale do Rio Doce e de outros grandes empregadores, atrasando produção, depredando locomotivas e criando problemas para o funcionamento normal de setores da economia, mas o presidente ignora olimpicamente essas afrontas à lei.

Ontem, numa solenidade na fábrica de locomotivas da GE, em Minas, parecia uma criança pequena com brinquedo novo. Em mais de uma foto aparece brincando com funcionárias (bonitas) da GE (pra ampliar é só clicar sobre a foto). Fez pose na cabine da locomotiva, como é seu hábito. E, como acontece também sempre que está ao lado do governador Aécio (MG) ou do governador Cabral (RJ), ri a bandeiras despregadas, sabe-se lá do quê. Espero que não seja da nossa cara.

DR. MOREIRA INVESTIGADO

Aquele pedido de investigação que o Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Florianópolis protocolou no Ministério Público de Santa Catarina, com a suspeita de que o Dr. Eduardo Pinho Moreira Filho tivesse sido funcionário fantasma da secretaria de Saúde da prefeitura da capital, está fazendo água.

A denúncia tem um “pequeno” problema: afirma que o Dr. Moreira Filho “não é conhecido no posto de saúde de Canasvieiras” (uma praia no norte da Ilha). Só que, até onde consegui apurar, o médico, nos meses em que trabalhou na prefeitura, esteve lotado nos postos de saúde do centro e da Agronômica. Parece lógico, então, que a turma de Canasvieiras nunca o tenha visto por lá.

O Dr. Moreira (pai), me disse ontem que há documentos e testemunhas que comprovam que o moço efetivamente trabalhou, até janeiro de 2006, quando saiu para iniciar sua residência médica.

OS MÉRITOS DO ODACIR

O ex-ministro dos Transportes, Odacir Klein, recebeu a mais importante condecoração catarinense num gesto carregado de gentilezas. O governador e várias outras autoridades catarinenses foram até o município gaúcho de Erebango (terra natal do homenageado) para entregar-lhe, na segunda-feira, a medalha Anita Garibaldi. Agora Klein está ao lado de Ulysses Guimarães, os dois únicos não catarinenses a receberem a honraria.

O governo catarinense fez vistas grossas aos episódios controversos, nebulosos e peculiares que marcaram a vida pública e privada do ex-ministro e premiou-o por algumas medidas que teria tomado em favor de Santa Catarina, como a municipalização do porto de Itajaí, em 95 e 96.
LHS, porém, no seu discurso, disse que “a maior construção de Odacir Klein é ele próprio, tendo sua vida baseada em ética e dignidade”.

Ora, o episódio que o derrubou do ministério não é coisa lá muito digna: o ministro estava no carro que seu filho dirigia quando atropelou um servente de pedreiro, em Brasília, e fugiu sem prestar socorro. A vítima morreu com o cérebro esfacelado. Ministro responsável, entre outros, pelo programa de redução de acidentes, Klein teve que pedir demissão dois ou três dias depois do acidente.

[Para ler o que a IstoÉ de 14 de agosto de 1996 publicou sobre o caso, clique aqui]

E a reportagem com que Renan Antunes de Oliveira ganhou o Prêmio Esso de 2004, contando a morte do outro filho de Odacir (caiu da janela do apartamento onde estavam os dois, sozinhos) não o deixa muito confortável, como modelo a ser homenageado.

[Para ler a reportagem do Renan, clique aqui]

GOLPE NA IMPUNIDADE

A consultora Janine Alves lembra, no seu blog (janinealves.blogspot.com), a rapidez com que o processo administrativo sobre o desfalque na Epagri foi realizado e os responsáveis identificados e demitidos. O processo agora está no judiciário, mas a empresa, ao não fechar os olhos nem colocar panos quentes, demonstrou raro apreço pelo dinheiro público.

terça-feira, 27 de maio de 2008

POBRE DONA TILINHA

Amigo que levou o filho pequeno ao parque infantil que fica na Praça Getúlio Vargas, no centro da capital (foto acima), descobriu, horrorizado, uma garrafa quebrada, enfiada na areia bem no lugar onde as crianças que usam o escorregador caem, ao final da descida.

Há muito tempo que aquela praça, embora situada diante do Quartel General da Polícia Militar, virou território de ninguém. Ou melhor, território de mendigos e desocupados de uma maneira geral.

Antes, era bom evitar a praça à noite, mas agora é impossível freqüentá-la durante o dia. A sujeira, os brinquedos quebrados, os restos das noites (camisinhas, garrafas, excrementos, etc) estão lá para demarcar o território e mostrar para os contribuintes e eleitores quem é que manda naquele pedaço nobre da cidade.

O Carlos Damião, em seu blog (carlosdamiao.zip.net) de vez em quando toca no assunto dos mendigos que moram nas ruas da capital. Parece que é um assunto no qual a prefeitura não tem tido muito sucesso. Eles preferem continuar na rua a ir para algum albergue ou abrigo e essa vontade tem sido respeitada, como se esse fato não causasse problemas sérios para os direitos dos cidadãos que pagam impostos.

O parque Dona Tilinha e a própria praça Getúlio Vargas envergonham a cidade, mas parecem não causar a menor ruga de preocupação no prefeito, nem nos vereadores ou mesmo no comando da Polícia Militar, que tem ali, diante de seus olhos e sob seus narizes, um desafio e tanto.

Devolver aquela praça ao lazer do florianopolitano seria uma ótima forma de provar que a prefeitura consegue lidar com coisas mais complexas do que uma camada de asfalto.

Atualização da manhã: tinha esquecido que, do outro lado da PM, tem o Ipuf. Um leitor atento, nos comentários, não só corrige esta falha, como adiciona novas informações.

“Cesar, até o ano passado eu esperava a minha filha que saía do ex-Colégio Coração de Jesus ao meio-dia, e quase todo dia eu via gente sentada nos bancos da praça fumando maconha. É uma vergonha, já que o comando da Polícia Militar está logo ali, do outro lado da rua. Pelo jeito, eles só se ocupam de tocar corneta na entrada e saída do Coronel, e o resto que se dane.

Outro órgão omisso é o IPUF, que parece que ainda não se deu conta que existe uma grande escola ali, há mais de cem anos, e nunca se preocupou em sinalizar o local com a placa de "Devagar - Escola". Liguei duas vezes para o IPUF para reclamar providências, mas eles disseram que eu teria que fazer um requerimento ao órgão, como se não fosse obrigação deles sinalizar as vias.. Questionei a direção do CCJ e eles também disseram que pediram várias vezes, sem obter solução. O ridículo disso é que a placa deveria ser colocada exatamente na frente do prédio do IPUF!”

DR. MOREIRA INVESTIGADO

Calma, não se trata do Dr. Moreira ex-governador e presidente da Celesc. O pedido de investigação protocolado pelo Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Florianópolis (Sintrasem) no Ministério Público de Santa Catarina refere-se ao Dr. Eduardo Pinho Moreira Filho.

O filho do Dr. Moreira, segundo denuncia o Sintrasem, teria sido contratado sem concurso para o Programa de Saúde da Família, da prefeitura da capital, com lotação no Posto de Saúde de Canasvieiras. E teria recebido o salário, de R$ 4,5 mil, de maio de 2006 a janeiro de 2007. Os contracheques estão anexados ao ofício pedindo a investigação.

Até aí tudo bem. Nada muito grave. O problema, o caroço, o nó da coisa, é que, segundo o Sindicato, o Dr. Moreira Filho seria um fantasma. Os servidores municipais do posto de Canasvieiras chegam a afirmar que ele nunca apareceu para trabalhar.

Como o Sintrasem não tem como investigar os indícios de fantasmagoria, pediu ao MPSC que mobilize sua equipe de “ghostbusters” (caça-fantasmas) para esclarecer o caso. Vai ver o moço é tão discreto que conseguiu ir trabalhar todos os dias sem que seus colegas o notassem.

E essa história de que os proventos eram depositados numa conta bancária de Criciúma também pode ser apenas intriga da oposição. Afinal, hoje em dia pode-se perfeitamente movimentar a conta de qualquer lugar do mundo.

Atualização da tarde: o Dr. Moreira (pai) me disse, há pouco, que os servidores do posto de Canasvieiras não conheciam seu filho pela simples razão dele estar lotado no posto do centro e, quando este fechou para reforma, no da Agronômica. Segundo ele, o filho trabalhou normalmente na prefeitura até janeiro de 2006, quando saiu para fazer a residência médica.

NINGUÉM DESCE DO TREM

A prefeitura de Florianópolis não dá muita bola pra decisões judiciais. Nem para acordos ou compromissos. Vejam só, por exemplo, o caso dos fiscais da secretaria da Saúde que estavam em desvio de função: a prefeitura havia se comprometido com o Ministério Público de Santa Catarina, num Termo de Ajuste de Conduta (TAC), que até meados de janeiro de 2007 mandaria de volta aos cargos originais os servidores (médico, odontólogo, assistente social, etc) que tinham sido nomeados como fiscais sem prestar concurso.

Notaram a data? janeiro de 2007. Pois agora, dia 20 de maio de 2008, o juiz Hélio do Valle Pereira teve que dar uma liminar para fazer a prefeitura cumprir com a palavra. E estabeleceu multa diária de R$ 5 mil para punir a desobediência.

Ora, se a turma voltar para a origem, perde a gratificação. E todo trem da alegria só existe por causa do benefício financeiro. É claro que ninguém quer desembarcar e o prefeito, de olho na reeleição, não quer contrariar nenhum afilhado.

A prefeitura, como boa mãe, chegou até a nomear 50 fiscais concursados. Mas não cumpriu o acordo de acabar com a pouca vergonha dos fiscais sem concurso. Segundo o MPSC, “a prefeitura não cumpriu o TAC e continua desrespeitando a Constituição Federal.

E tem outro trem na mesma secretaria da Saúde da prefeitura, desta vez com servidores do estado, cedidos para a cobiçada vaguinha de fiscal que, pelo jeito, também só será esvaziado debaixo de vara.

Para ler a nota divulgada pelo MPSC, clique aqui.

O GOLPE DA UNIMED

Espertalhões estão abordando pessoas idosas, na capital, dizendo-se do programa de lazer para a terceira idade da Unimed. Pedem cpf, identidade e um “adiantamento” da “anuidade”. Além da grana, eles ficam com os dados da pessoa, pra usar no comércio e em outros golpes. Avisem seus pais, mães, tios e avós. E chamem a polícia. Registrem BO e depois levem o BO no SPC, pra evitar que eles usem os dados.

Atualização da manhã: o Evandro, que é empresário e leitor da coluna, mandou a descrição de outro golpe que andam tentando aplicar nas pessoas jurídicas.

“1) a vítima recebe uma ligação da empresa Lista Neg Empresarial Ltda, de SP. Nessa ligação, eles dizem que estão a serviço da Brasil Telecom e que precisam confirmar os dados de um contrato de figuração (publicidade), que eles enviam por fax. No contrato, vem um valor que é multiplicado por 12 parcelas. Quando a pessoa pergunta sobre o valor, eles dizem que é só para constar e que não precisa se preocupar, pois quem vai pagar é a própria BRT, com recursos provenientes das contas telefônicas. Tudo mentira, obviamente.

2) dias depois, a vítima recebe um fax intitulado “Termo de Quitação de Publicidade”, pedindo autorização para emissão de um boleto bancário.

3) o próximo passo é o envio de um novo fax, esse com o título “Notificação”, onde a empresa golpista informa sobre uma ordem de execução e protesto de títulos, num valor absurdo de quase R$5.000,00. Nesse mesmo fax, eles ameaçam colocar o nome da empresa vítima no SERASA/SPC.

4) caso a empresa entre em contato com eles pedindo o cancelamento do tal “contrato de figuração”, eles enviam um novo fax informando, com a maior cara de pau e arrogância, “que não será concedido o cancelamento da autorização”, como se fosse um favor e não uma obrigação deles cancelar um contrato que uma das partes não mais tem interesse em firmar (que na verdade só foi firmado baseado na mentira do item 1).

Uma funcionária minha caiu na bobagem de assinar e devolver o fax. Fiquei uma semana inteira resolvendo o problema, fui à Polícia Civil registrar BO e também ao Procon protocolar uma reclamação.”

O GOLPE DA LISTA TELEFÔNICA

O Schneider mandou e-mail contando a experiência deles com os picaretas das “listas telefônicas”, golpe feito por quadrilhas bem organizadas que têm certeza da dificuldade que é colocar na cadeia estelionatários, sempre beneficiados por penas leves, recursos infindáveis e outros tantos desvãos sombrios.

“Recebemos em média dois ou três telefonemas de listas telefônicas por semana. Mas esse número às vezes aumenta e nos ligam até três vezes por dia. A maioria dessas ligações têm procedimentos comuns:

- Quase todas ligações são da "LISTA TELEFÔNICA", sem especificar o nome da publicação;

- A maioria ainda complementa com a palavra OFICIAL, ou seja, LISTA TELEFÔNICA OFICIAL;

- Não oferecem um espaço para anúncio. SEMPRE falam apenas em ATUALIZAÇÃO DE DADOS CADASTRAIS ou CONFIRMAÇÃO DOS DADOS. (Como gravam as ligações, ao confirmar que os dados estão corretos estaríamos também confirmando a publicação);

- Em alguns casos falam em RENOVAÇÃO da FIGURAÇÂO na lista, mesmo que NUNCA tenha participado da publicação;

- Outra modalidade é a do PAGAMENTO EM ATRASO, informando que uma parcela está em aberto há tantos dias e irá para protesto. Sugerem o envio de novo boleto para regularização;

- Como as "táticas" acima já não enganam mais, agora argumentam sobre renovação ou pagamento em atraso afirmando que FIGURA NA LISTA HÁ TRÊS OU QUATRO ANOS.

Se a pessoa que atender a ligação não estiver atenta, acaba por confirmar e, assim, autorizar a inserção. Já tenho uma seqüência prontinha: primeiro pergunto QUAL a lista. Em muitos casos sequer dizem o nome da publicação e acabam desligando. Quando falam em LISTA OFICIAL, insisto em saber por que é oficial? Oficializada por quem? E, em seguida, afirmo que não existe lista oficial. Até aqui 90% já desligou. Restam as ligações que falam em pagamento em atraso e/ou protesto. Pergunto o CNPJ e quase todas desligam. Se passarem o CNPJ informo que não temos cadastrado como fornecedor. Se insistem também digo que a ligação está sendo gravada e, aí sim, aproveito para desestressar e solto os cachorros.”

PARA QUE SERVE UM JORNAL

“Um jornal serve para servir. Servir principalmente a uma cidade.

Um jornal se for só papel serve para cobrir o chão quando pintamos a casa ou embrulhar peixe no mercado. Um jornal se for só negócio serve apenas para crescer em lucros, máquinas e construções. Um jornal se for mero símbolo, tradição e história serve para discursos pomposos mas ocos de compromisso com a vida. Um jornal grife funciona só para o marketing ou propaganda de empresa líder de mercados. Mas o que faz um jornal servir é algo além da mercadoria ou da imagem que projeta.

Um jornal não tem senhores, domínios, posses ou posessões. Um jornal serve quando não é escravo até do seu próprio sucesso. Então pra que serve um jornal, mesmo? Um jornal serve para publicar o que se fala, refletir o que se publica, aprofundar o que se opina sobre o publicado e ampliar TODAS as opiniões sobre o dito e o refletido.

Um jornal serve para servir ao seu eixo principal de credibilidade: o leitor. Um jornal serve para ir além da notícia quando busca suas relações, seu contexto, as circunstâncias que geraram o fato e até avaliar suas conseqüências. Um jornal serve para pensar. E ser pensado por gente livre e não administrado por máquinas servis. Um jornal serve quando desperta atitudes. Quando analisa os atos que sofre mas também é ator nada passivo. Serve quando é veículo dos muitos meios, modos, culturas e linguagens componentes de uma sociedade.

Serve e é estimulante e rico quando abriga e convive as contradições. E só estará vivo em intensa atividade se servir aos que o lêem e o mantenham. Um jornal serve quando não teme. Nem o conflito natural das divergências nem o confronto acintoso de quem tenta intimidá-lo. Serve quando se expõe até a equívocos mas busca avançar quando a prudência confunde-se com o medo. Um jornal serve como serviço público que é a definição mais básica de imprensa como instituição!

Um jornal serve para reagir, para admitir e apontar erros, para estabelecer todas as linhas de diálogos com todas as representações organizadas de uma cidade.

Serve também para o indivíduo que não adquiriu voz partidária, sindical ou até mesmo de classe tal a sua exclusão no convívio social. Um jornal serve também para emocionar, dar prazer, informar por inúmeros suportes do fato além do texto, deleitar, entreter, indignar, comover e demonstrar que vive intensamente o seu tempo e a sua região. Um jornal não é só um amontoado de linhas, textos, fotos e traços, um jornal serve quando se torna fundamental, preciso, precioso, indispensável para o quê na verdade o mantem vivo: sua credibilidade.

Um jornal serve para reconhecer seus talentos e sua vocação maior de comprometimento com o seu serviço primordial: um jornal serve para servir!”

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O texto acima, de Tetê Catalão, foi publicado na capa do jornal Correio Braziliense de 19/7/1999 – Brasília (DF) – lembrado ontem por Ricardo Noblat (www.noblat.com.br), como “um dos mais felizes artigos que já li sobre jornalismo e liberdade de imprensa”.

Foi publicado originalmente em resposta ao então governador do Distrito Federal Joaquim Roriz (PMDB). Ele pedira à população de Brasília que abandonasse a leitura do jornal que tanto o criticava.

Reproduzo-o aqui porque sempre é útil discutir, afinal, para que serve o jornal.

sábado, 24 de maio de 2008

ESPÉCIE EM EXTINÇÃO

Morreu ontem o senador Jefferso Péres (PDT-AM). Baixinho, franzino, com olhos esquisitos, era um dos políticos mais bem quistos da República. Tornou-se conhecido por não ser igual aos outros. Rrepresentava, de certa forma, aquilo que a gente gostaria que todos os nossos representates fossem. Certamente não era um santo, mas com certeza não fazia parte dessa escória que se aproveita do mandato para proveito próprio, sem eira nem beira, malfeitores que, se este fosse um país sério, estariam na cadeira ou, no mínimo, longe do Congresso.

Pode-se dizer, sem ficar muito longe da verdade, que morreu de desgosto. E, como que fazendo uma última troça sobre seu cadáver, o ministro Carlos Lupi (do trabalho, ex-presidente do PDT), o presidente do Senado, mais sete senadores e outros “notáveis”, vão a Manaus às custas do contribuinte, em avião da FAB.

Algumas opiniões, de jornalistas, sobre Jefferson Péres:

JOSIAS DE SOUZA:
“Com sua figura miúda, exercia no Senado o papel de contraponto. Oferecia à platéia a certeza de que a Casa não abergava apenas uma súcia de picaretas.

O mandato de Jefferson Péres findaria em fevereiro de 2011. Ele não agüentou até lá. Pena. Em meio a tantos homens de bens, foi-se um homem de bem. Tinha a petulância da honestidade.”

LÚCIA HIPPOLITO:
“Jefferson Peres era uma das últimas referências éticas do Congresso Nacional, num momento em que a ética parece ser artigo em extinção na política brasileira.

Homem sério, sisudo mesmo, econômico nos gestos e nas palavras, Jefferson Peres destoava da tendência à teatralidade que marca os políticos brasileiros.

Teve atuação destacada em CPIs, sempre moderado, sensato, porém sempre severo e intransigente na defesa da coisa pública.

Nos últimos tempos andava meio recolhido, já que seu partido passou a compor a base aliada do governo.

Recolhido também por constrangimento, porque nos últimos tempos o PDT só tem criado problemas. Primeiro com a insistência do ministro Lupi em desafiar a Comissão de Ética Pública – Lupi resistiu o quanto pôde a abrir mão da presidência do partido.

A partir daí, o PDT passou a ser figurina carimbada nas páginas policiais. (...).

Pobre senador Jefferson Peres. Não merecia ter um fim de vida vendo seu partido arrastado na lama dessa maneira.

Pobre país!”

RICARDO NOBLAT:
“Que tal ser derrotado por Jáder Barbalho (PMDB-PA) na eleição para presidente do Senado em 2001?

Jefferson Péres (PDT-AM) foi.

E que tal ser derrotado pela maioria dos seus pares quando recomendou no ano passado a cassação do mandato de Renan Calheiros (PMDN-AM), acusado de ter se valido de um lobista de empreiteira para pagar despesas da ex-amante?

Jefferson também foi.

Eleito senador em 1994 pelo PSDB, abandonou o partido contrariado com os elevados gastos com publicidade do governo Fernando Henrique Cardoso.

Apoiou a eleição de Lula em 2002. Inconformado com o escândalo do mensalão e a reeleição anunciada de Lula, anunciou em discurso histórico que abandonaria a política em 2010 tão logo terminasse seu segundo mandato de senador.

Foi candidato a vice-presidente da República em 2006 na chapa de Cristovam Buarque (PDT).
Jefferson perdeu a maioria das batalhas políticas que travou ao longo da vida – pela ética, pela seriedade na vida pública, pela preservação da Amazônia.

Porque sempre se manteve do lado do bem, sai da vida como referência de homem íntegro e digno.

Quer dizer: ao fim e ao cabo, venceu.”

LAUS NAS BIBLIOTECAS

A Confraria dos Bibliófilos do Brasil reuniu contos do escritos catarinense Harry Laus e fez uma edição de arte, em tiragem limitada, tipografia artesanal, papel especial e encadernação manual (foto acima). Distribuído apenas para os associados da Confraria, o livro tem ilustrações do artista plástico Jayro Schmidt, também catarinense.

A família Laus vai doar exemplares dessa obra preciosa, para bibliotecas públicas de Santa Catarina, com o objetivo de tornar o livro mais acessível. A solenidade de doação será dia 27 de maio, às 18h30min, na sala Harry Laus do Museu de Arte de Santa Catarina, situado no CIC (aquele centro de cultura que o governo LHS/Kanaesel trata tão mal).

Maiores informações no blog/memorial harrylausvivo.blogspot.com.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

ESPÉCIE EM EXTINÇÃO

VERGONHA! TIO CESAR MATA O SERVIÇO!

Perdão, leitores, mas hoje não tem a coluna De Olho na Capital, hóspede habitual desta página 3, de terça a sábado.

Explico: é meu aniversário e tomei a liberdade de enforcar o dia de trabalho. E para não deixar simplesmente a página em branco ou fazer com que os colegas da redação tivessem que trabalhar um pouco mais para ocupar o espaço, deixo-os com duas das minhas crônicas antigas (que, aqui no blog, estão logo abaixo, basta rolar a tela).

Numa sexta-feira enforcada, transformada em feriadão pelos funcionários públicos e umas tantas categorias, ter material de leitura talvez não seja de todo ruim. O lado bom (além daquele lado ótimo, de dar-me folga) é que fugimos um pouco das mazelas do dia-a-dia da política.

Desculpem mais uma vez pela enrolação, bom feriado e até amanhã.

[O Alfred Beermann achou esta preciosa ilustração e me mandou. Obrigado: na minha idade bolos e doces em geral não são aconselháveis, mas a cerveja, por suas propriedades medicinais, pode (e deve) ser consumida sem restrições. Cheers!]

PROCURA-SE!

(Versão levemente modificada de uma crônica publicada em 29/7/2004)

Aproveito para fazer um pedido a todos e todas que mais ou menos fazem o mesmo trajeto que eu: perdi, não sei onde, a esperança que tinha desde pequeno. Acho que todo mundo já viu ou teve esperança, por isso imagino que não seja necessário explicar muito como é que ela é. A minha, como a de tanta gente, cresceu se alimentando desde pequena com as idéias de Monteiro Lobato, fortaleceu-se, na adolescência, com aqueles ideais humanísticos de um mundo civilizado e, já adulta, vivia movida pela certeza de que a barbárie é passageira, mas a cortesia e a gentileza são permanentes.

De uns tempos pra cá tinha notado que a minha esperança andava meio chateada, abatida, pensei que fosse só uma anemia. Ofereci espinafre, feijão, óleo de fígado de bacalhau. Mas não vi progresso. Mesmo assim, ela era muito divertida. Vocês sabem como é: com a esperança não tem tempo ruim.

Na segunda-feira, ao voltar do trabalho, procurei por ela e não a encontrei. Olhei no sótão, no porão, nos lugares mais quentinhos da casa, no jardim e nada. Fui dormir com uma sensação amarga e um aperto no peito: nunca tinha perdido a esperança, mas agora não sabia onde ela estava.

Sem a esperança, a leitura do noticiário é muito dolorosa. Jovens baleados por nada, gente morta por dois merréis, bombas, ódio racial, ódio religioso, ódio econômico. É o fim dos tempos, a derrota da civilização, o triunfo do mal. Não há saída. Desliguei a TV, fechei o computador, botei o jornal no lixo.

Estou muito assustado. Não consigo imaginar como será possível enfrentar o mundo, do jeito que ele anda, sem esperança. Volta, esperança! Por isso, se alguém tiver visto por aí a minha esperança ou souber como se faz para encontrar a esperança perdida, por favor me mande um e-mail.

Volta, esperança!

UÊBA!

(Publicada originalmente em 26/11/2002)

Eu sabia que essa sensação não me era estranha. Custei um pouco para localizar exatamente, mas finalmente achei. Era década de 70. Eu estava começando a publicar o que escrevia e desenhava. O Brasil era uma ilha de paz e tranqüilidade num mundo corrompido por ideologias exóticas. Mas aqui na ilha dentro da ilha a gente sabia de tudo o que era pra gente não saber. As gavetas estavam cheias dos bilhetinhos aqueles “de ordem superior fica expressamente proibida qualquer menção sobre a visita que D. Helder Câmara fez à sua (dele) tia”. As conversas de corredor, falando baixinho, contavam dos mortos e mutilados. As receitas de bolo nos ensinavam os versos de Camões.

E todas as vezes que a gente ia escrever uma gracinha, contar as coisas bonitinhas que fez com a namorada, comentar o por-do-sol, vinha aquela sensação. Essa mesma que agora parece que me voltou. Foi lá que eu senti isso, a mesma coisa. Não dá pra brincar, escrever bobagem (o desenho ao lado eu fiz assim: rabisquei num papel enquanto falava ao telefone, depois escaneei e colori no fotochop), com tanta coisa séria acontecendo. Parece que se a gente não levar tudo a sério, alguma coisa ainda mais grave pode acontecer. Era isso que eu sentia. E foi assim que tantas e tantas vezes arranquei a lauda da máquina, amassei, joguei fora. E recomecei, sério, responsável, políticamente comprometido, coerente... e chato.

Não tenho mais idade para render-me a essas sensações de medo, de receio de ser considerado alienado (alienado é bem daquela época). Tanto tempo de vida tem que ter-me ensinado alguma coisa. Não será mais uma cara feia, mais um semblante (semblante? de onde tirei isso?) carregado, mais alguns parágrafos hirsutos (credo!) e novas reflexões azedas que irão resolver os problemas do mundo.

Mas, quem sabe, uma boa história bem contada, uma música alegre, piadas irresponsáveis ao redor de copos de chope que balançam e quase caem com as gargalhadas, ah, o bom humor, quem sabe isso também não ajude? O alegre encontro de amigos antigos, rindo-se um do outro (que cabelo é esse, quem cortou? foi o pombo? sim, porque merda na cabeça quem faz é pombo), piadas sem graça que naquele momento ganham risadas e produzem substâncias químicas e movimentam as glândulas todas e exercitam os músculos da face, dão mau jeito nas costas ao abaixar-se para pegar os óculos que a risada derrubou. E vão os dois, rindo-se, atrás de um quiroprático (quem? o Mário. Que Mário?).


Há algum tempo comecei a achar que a gente vence os problemas e os problemas criados pelos de-mal-com-a-vida atirando a nossa alegria na cara dos outros, mostrando que nada que eles façam pode nos derrubar. E chegei a falar isso, em público, uma vez. Não deu muito certo e tive que fazer alguns ajustes, mas acho que, no fundo, é isso mesmo.

Não, não vou contar, fiquei com muita vergonha. Tá pensando que eu vou me expor assim? Tá bom, eu conto. No ano passado, na greve da Gazeta Mercantil, em São Paulo, chegou o momento de voltar para a redação. Alguém levantou, na Assembléia, a questão de como deveríamos nos comportar, porque os fura-greve poderiam fazer provocações. O bem humorado aqui, este alegre bobo que vos fala levantou-se e fez um discurso daqueles.

Sabe quando a gente fala o que tem vontade e depois que termina de falar descobre que deveria ter pensado melhor? Sabe quando a gente, depois que termina, fica com aquela sensação de que deveria ir imediatamente visitar aquela tia distante, bem distante, no Acre, por exemplo? Pois é: falei que a gente deveria ignorar os fura-greve, “esmagá-los com a nossa alegria” (sic) porque fizemos um movimento bonito, agimos decentemente, etc e tal. Como se diz modernamente, “oh my God!”

Dois dias depois fomos todos demitidos por justa causa, por telegrama. Imagino que muitos colegas, esmagados com a crueza do gesto da empresa, que nos colocou para fora sem pagar nada de nada (nem os atrasados que motivaram a greve nem os direitos que a demissão motivou), devem estar até hoje lembrando-se daquele idiota que, com um timing “perfeito”, recomendara usar a alegria como arma. [O cartum acima apareceu num blog feito durante a greve, foi desenhado por um dos grandes ilustradores que a Gazeta demitiu. Como ele não assinou o desenho na época e não pude falar com ele pra ver se agora ele quer assinar, mantenho assim, de autoria oculta.]

De lá pra cá fiz alguns ajustes nos procedimentos, mas continuo achando, por incrível que pareça, que não devemos deixar de falar, escrever, desenhar, pintar e bordar bobagens só porque estamos cobertos de trevas (agora não é a ditadura aquela, mas é a falta de dinheiro, a falta de emprego, a falta de ânimo, a falta de respeito pela cultura e pela liberdade). Utópico como todos os palhaços, gosto de imaginar que destas brincadeiras todas (eu perco o amigo mas não perco a piada, não tem?) pode nascer alguma fagulha que ajude a transformar esse breu, uma luz tímida que se junte a outras e nos ilumine um pouco mais.

É claro que, hábil como sou para enrascar-me, acenderei a tal centelha, o pequeno lume, numa sala cheia de explosivos, tal e qual nos desenhos animados, e enquanto estiver indo pelos ares, despedaçado, provavelmente pensarei (num dos 300 pedaços dispersos do meu cérebro voador alguns neurônios ainda funcionavam), “bem que eu podia ter ficado calado, pelo menos desta vez”.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

A ARTE DE IMOBILIZAR MORIBUNDOS

A exposição, nos jornais de ontem, da “estratégia” de defesa do vice Pavan no moribundo que rasteja no TSE, foi um primor de desrespeito ao sistema Judiciário, uma cusparada na cara dos otários contribuintes e eleitores, um tapa sem luva na cara dos ministros do TSE.

Ou vocês não acham que quando os ilustríssimos advogados de LHS/Pavan dizem (ainda que à boca pequena, mas de tal forma que saia nos jornais), que vão “bombardear o TSE com recursos para protelar ao máximo a citação de Leonel Pavan” não nos transformamos todos, imediatamente, em palhaços?

A “estratégia”, que mesmo antes da ampla divulgação de ontem já era conhecida, tem um único objetivo: evitar, a todo e qualquer custo (e bota custo nisso), o exame do mérito. Adiar, empurrar com a barriga, o moribundo, para que o mandato chegue ao final sem dar chance que os ministros do TSE se pronunciem.

Um parágrafo da reportagem publicada no Diário Catarinense resume bem o nível pragmático com que o caso é tratado:

“Segundo o ex-ministro do TSE Walter Costa Porto, os recursos disponíveis na legislação podem arrastar o processo. “Eles (Pavan e Luiz Henrique) podem usar o processo jurídico para isso. O direito permite”.”

Estão pouco ligando se os cidadãos de bem querem, com o direito que a Constituição lhes atribui, saber, afinal, se a eleição foi limpa ou não. Os ilícitos foram mesmo cometidos ou as acusações são infundadas? Jamais saberemos. A “estratégia” da defesa é justamente impedir o julgamento.

E é tal a ênfase que puseram no esforço protelatório, que estamos todos autorizados a pensar que não há defesa. Sim, porque imagino, na minha ignorância processual, que nas causas indefensáveis, deve o advogado agarrar-se com unhas e dentes aos recursos. Todos e mais alguns. Inovando, até. Se possível até obtendo alterações de jurisprudência. Cada minuto vale ouro. Literalmente.

REMINISCÊNCIAS OUTONAIS: ALMA ARDE?

Hoje, 29 de julho de 2003, ao sair para o almoço, passei em frente ao antigo cinema São José (que depois abrigou dezenas de igrejas evangélicas e agora está fechado, com placas de aluga-se). Na entrada do velho cinema, que tantas lembranças traz aos florianopolitanos, alguns mendigos dormiam. Acho que eram alguns. Totalmente cobertos com um velho carpete, não dava pra ver quantos eram.

Tinha recebido, pouco tempo antes, um e-mail de uma amiga, a respeito de uma crônica antiga, de 1974, republicada no blog em 2003, que falava sobre mendigos e minha indignação diante dessas injustiças:

“Sabe o que eu gostaria de saber? Se tu escreveria sobre o mesmo tema, com o mesmo ardor, hoje. Se tua alma ainda queima, ou se o tempo... sabe? É só uma curiosidade. Vamos supor que Tê da Silva tivesse morrido ontem: mereceria uma crônica tua? E como seria escrita? Tô sendo impertinente?”

Já tive, em jornais e blogs, algumas discussões com esse Cesar versão 74. É claro que o Cesar 2003, com mais 29 anos de janela e de esquina vê as coisas de um outro jeito. Conduz suas lutas de uma outra forma. Leva sua vida em outro ritmo. E escreve diferente. Mas ao contrário de tanta gente, não peço que esqueçam o que escrevi.

Por mais que eu brinque dizendo que o Cesar 7.0 usa este espaço à revelia do Cesar 20.03, ainda somos a mesma pessoa e o mais velho é que autoriza as aparições do mais novo. Ele nunca dirá, aqui, nada com que eu não concorde. Ele nunca disse, por falar nisso, nada sem estarmos antes de pleno acordo. Ele e eu somos, literalmente, a mesma pessoa.

Pois bem, estava imerso nesses pensamentos quando passei diante daqueles companheiros mendigos, deitados sob o carpete, dormindo no tímido calor do meio-dia (a noite deve ter sido longa, a julgar pelas garrafas jogadas ao lado). Por que fui buscar um texto antigo (ou velho) em vez de produzir um novo?

E, pairando acima de tudo, brilhando como um painel luminoso da Faria Lima, estava o âmago da questão: “tua alma ainda queima?”

O epitáfio que mandei escrever no túmulo do meu pai, a pedido dele (pedido feito antes de morrer, claro), é “Que importa restarem cinzas/ se a chama foi bela e alta?” Essa história de queimar, arder e virar cinzas, portanto, é uma preocupação familiar.

Mas, como dizia, passei diante dos mendigos e não senti nenhuma urgência em escrever alguma coisa parecida com o que fiz há 29 anos. Mesmo assim, não acho que dentro do peito tenha apenas um carvão apagado ou uma brasinha que nem para acender cigarro dê. Talvez a compreensão que tenho hoje do processo que leva a esta situação, somado ao fato de que naquela época havia o claro e o escuro com uma estreita faixa de lusco-fusco, me leve a outro tipo de ação.

Ou vai ver que, de fato, a alma apagou e tudo o que faço aqui é lembrar uma velha chama. E as cinzas, sabe-se lá, chegaram antes do tempo. E o que senti ao passar por aquela gente, um cansaço, uma dor repleta de impotência, uma tristeza de doer nos ossos, seja o máximo que eu consiga fazer. Antes de chegar ao restaurante ainda tive de enxugar, disfarçadamente, constrangido, uma lágrima fria que escapou por baixo dos óculos.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

VAI UMA LICENÇA AÍ?

PACIÊNCIA ESCASSA

Por obrigação profissional, ouvi atentamente, olhando de vez em quando, a sessão da CPI dos cartões corportativos. A postura e o discurso de alguns parlamentares deram-me engulhos e fizeram com que a minha paciência acabasse mais rápido do que bateria velha de celular antigo.

Os tais de Carlos Wilson (PTC-MG) e Sílvio Costa (PMN-PE) por exemplo, foram fenômenos inacreditáveis. A impressão que fica é uma só: eles têm absoluta certeza que a gente é idiota. Somos todos desprovidos de inteligência. Ofendem-nos com a maior desfaçatez.

Ofendem-nos, por exemplo, ao pretender que doissê e banco de dados sejam coisas muito diferentes. Se você dá uso político para um conjunto de dados, convencionou-se que estaria formatando um dossiê. Mas qualquer reunião de dados também pode ser chamada de banco de dados. Portanto, é absolutamente irrelevante a discussão semântica.

Ofendem-nos tentando instalar uma nova versão para o caso, que foi uma “quebra de confiança entre amigos”. O coitadinho do Zé Aparecido teria passado, em confiança, um banco de dados seletivo para um amigo querido que, ingrato e desamoroso, só porque era assessor da oposição, passou o documento para um senador (que daí completou a “traição”, divulgando para a imprensa). E, com base nisso, deve-se premiar a vítima (o Zé da Casa Civil) e punir os demais (a turma da oposição). Pode?

Ou então: como os dados se referiam a gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e foram passadas para um senador do mesmo partido, não houve qualquer problema, “crime nenhum”. Problema seria se tivessem sido passadas para a senadora Ideli, que é do PT. Senti-me com seis anos de idade, assustado com a estranhíssima relação entre o coelho de páscoa (um mamífero) e aqueles ovos coloridos que lhes eram atribuídos. Sem falar na confusa confluência entre Papai Noel, suas renas e símbolos pagãos e o nascimento de Cristo.

E o tal do Zé Aparecido é um santo. Uma criatura inenarrável, que tem a acompanhá-lo uma auréola de desenho animado e, se prestarmos atenção nas costas dele, havia um par de asas angelicais. De fato, uma pobre vítima, iludida e enganada. Cujo computador anexa arquivos sem que ele tenha conhecimento e os envia enquanto ele estava distraído. Nem sei como sobrevive em Brasília, que é uma selva onde o burocrata maior sempre tritura o menor. Tadinho.

PÉROLAS REGIONAIS

Da leitura do Diário Oficial do Estado sempre brotam curiosidades, anedotas, coisinhas estranhas. Uma delas surge da leitura da dispensa de licitação 17, da SDR de Jaraguá do Sul. Trata da contratação de empresa para serviço de telefonia fixa.
Na justificativa para não precisar fazer licitação é que está a cereja do bolo. Prestem atenção: “a contratada é fornecedora exclusiva desse serviço em todo o território nacional”. Uau, então tem uma empresa que detém o monopólio da telefonia fixa? E a gente achava que com a privatização isso tinha acabado, né?

FURO NO CASCO

A tal aliança entre PMDB e PSDB no governo estadual está fazendo água rapidamente. Pelo menos na região de Florianópolis. Caneladas de parte a parte estão abrindo um furo no casco do barco em que ambos os barcos estão.

O secretário da SDR de Florianópolis, Galina (PMDB), deu uma rasteira no Pavan e nos tucanos. Aí o PSDB tomou-se de brios e foi se queixar para o LHS, pra não deixar barato o desaforo. Aí, por pura coincidência, “vazou” um documento onde Pavan se dirige aos comissionados tucanos, pedindo que contribuam financeiramente com o partido em termos, como direi, incisivos.

Bom, levando em conta que a campanha propriamente dita ainda não começou pra valer, isso vale como aperitivo do que nos espera. Resta saber se depois de um esfacelamento para a eleição municipal, a polialiança do LHS conseguirá cicatrizar as feridas e consertar os ossos quebrados a tempo de concorrer em 2010.