Advertência aos leitores: esta coluna começa o ano mal humorada e pessimista. Se vocês ainda estão no embalo do reveillon, à procura de palavras inspiradoras e bons augúrios, desculpem, mas não encontrarão nada disso aqui.
Estava meio constrangido de começar o ano sem qualquer dose de otimismo, quando li a mensagem que o Papa Bento, ele próprio, divulgou a propósito da passagem, ontem, do Dia Mundial da Paz. A parte leve da mensagem é a que fala nas nuvens escuras que aguardam a humanidade, envolvida até o pescoço em conflitos, guerras e desinteligências de todo tipo.
Ora, se o Papa começa o ano com uma mensagem sombria, por que eu não poderia também falar sobre as incertezas e certezas que me apertam o coração e ressecam a alma?
Até porque não consegui ver, no horizonte, nada que pudesse fazer-me crer que começa um ano novo. O ano que começa (e tomara que esteja errado) é apenas mais um daqueles a que já nos acostumamos.
CRISE? QUE CRISE?
Não é preciso ter bolas de cristal para “predizer” que as várias crises nacionais serão enfrentadas com mercuro cromo, esparadrapo, panos quentes e outros remendos que não farão nem cócegas nas causas dos problemas.
A única forma encontrada até hoje no mundo para reduzir as desigualdades sociais e econômicas, que é a educação, não é levada a sério aqui. Anos de desleixo com a escola, em todos os níveis, transformaram o Brasil nessa coisa complicada de administrar.
Analfabetos com diploma universitário, ignorantes com mestrado, imbecis dando aulas e, pior, sendo levados a sério, são algumas das conseqüências mais visíveis.
Mas ninguém se importa com isso, porque parece que a maioria acredita mesmo que é possível fazer-se por si mesmo, vivendo longe da escola. Quem já teve a oportunidade, cada vez mais próxima e freqüente, de disputar vagas com estrangeiros, sabe que para os brasileiros poderão sobrar, no mercado globalizado, apenas vagas de trabalho braçal.
E o pior é que não falta, à maioria dos cidadãos e cidadãs brasileiros, coragem, vontade e inteligência: eles vão atrás, fazem cursos, mas as escolas são faz-de-conta. Mesmo as particulares (e, às vezes, principalmente elas). Os professores são de brincadeirinha. E o coitado do aluno sai pior que entrou. Entendendo menos e achando, com razão, que foi logrado.
O ANO DOS MUNICÍPIOS
Este é mais um ano eleitoral. Durante a ditadura militar a gente sonhava com um tempo em que as eleições fossem regulares, gerais, livres e freqüentes. Agora, já tenho minhas dúvidas.
O que muda a cada eleição? Sabe-se, meses ou anos antes, que serão eleitos os que tiverem mais recursos. Seja em dinheiro vivo não contabilizado, ou em “máquina”.
E as “propostas”? Ora, até mesmo o político mais vasilha, mais cabeça oca e mais oportunista, fala que fará uma “campanha propositiva”. As palavras perdem sentido. E as mudanças são mais lentas do que deveriam. Há uma ou outra surpresa, aqui e ali, mas são apenas exceções.
O POVO QUE SE...
Os candidatos a prefeitos e a vereadores não são diferentes dos demais políticos. Enchem a boca pra falar no “povo” durante a campanha, mas vivem namorando e sentando no colo dos financiadores das campanhas.
São capazes mesmo de prejudicar fisicamente seus eleitores, para agradar a quem realmente interessa.
Florianópolis tem um exemplo concreto e inacreditável: a prefeitura da capital turística do mercosul, da cidade que atrai milhões de tolos todos os anos e topou regredir no tempo para beneficiar os empresários do transporte coletivo: autorizou que os ônibus que, por um descuido qualquer, tenham ar condicionado, circulem com o aparelho desligado. E autorizou as empresas a comprar apenas ônibus sem ar condicionado.
As desculpas são as mais esfarrapadas e nem vale a pena reproduzi-las, de tão cretinas. O fato é que um equipamento indispensável numa cidade com as temperaturas que Florianópolis tem durante boa parte do ano, foi banido com a bênção (e sabe-se lá se não com a iniciativa) da prefeitura, e a cumplicidade (sempre) dos vereadores.
O contribuinte que precisa do transporte público, além de não ter uma malha de transporte que facilite sua vida, é maltratado nas linhas que existem.
Os empresários morrem de rir de nós. E, satisfeitos, topam aplicar parte da economia que fizeram às custas do suor dos florianopolitanos, na campanha municipal. E aí os candidatos “premiados” juntam-se ao riso frouxo e fácil daqueles que vão lavar a égua em 2008.
E aquela brincadeira com uma caixa de papelão preta fazendo as vezes da “caixa preta” do sistema integrado de transporte coletivo, que o Dário “abriu” em fevereiro de 2006, parece que era mesmo só uma brincadeira.
CORAGEM EM 2008
Como vocês, que tiveram a paciência de ler até aqui puderam ver, tem assunto de sobra. Poderia encher várias páginas com anotações recheadas de pessimismo e embaladas em mau humor.
Falta-nos fazer as coisas direito. Até uma coisa aparentemente boa, como a extinção da CPMF, foi feita de um jeito atravessado: o governo não aceitou a derrota e provavelmente tentará “compensar” com arrocho em alíquotas e criação de novos tributos. Ninguém fala em cortar despesas.
Da mesma forma, ninguém fala em repassar ao consumidor o alívio bancário. Mas já estamos acostumados: os preços sobem a qualquer pretexto, mas nunca mais baixam. Ou, se baixam, é sempre lentamente e numa proporção menor. Vide preços dos combustíveis.
Resta-nos, diante disso tudo e de mais um pouco, reunir toda a coragem disponível, para enfrentar mais este ano. Que não terá nada de novo.
Bom, espero que pelo menos alguns de vocês tenham sucesso, que, apesar dos pesares, muitos encontrem alegria e prazer e que todos possam, em dezembro, dizer que me enganei e que 2008 foi, de fato, um ano novo.
Quem resolve a pobreza é o capitalismo, não os burocratas do G20 com as
garras no Estado.
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O sistema capitalista se mostrou o mais eficiente na criação de riqueza,
desmistificando a ideia de que economia é um jogo de soma zero. Alan Ghani
para ...
Há 5 horas
9 comentários:
Ola galera,
Os comentarios sobre educacao da coluna de hoje me fizeram lembrar de um adesivo que leio de vez em quando nos carros aqui dos EUA:
"You think education is expensive? Try ignorance"...
Matias Boll
Caro César,
Começas bem!
Sem a hipocrisia da maioria!
Pelo que vejo, não teremos só "imprensa oficial" funcionando em 2008!
E viva o Papa Bento XVI, que também não se furtou em afungentar a falsidade!
Abraços,
Luiz Fernando
Cesar,
Feliz e próspero 2008 a vc e sua familia. Sempre haverá algum motivo para rir, inesperado como o bebado dormindo na frente de uma parada com o governador discursando, como vc mostra na foto de post anterior. Ou aquela viagem virtual (mas não sabiamos que era virtual) que vc fez começando pela França e acabando no Canadá, lembra?)
Talvez a política tenha piorado muito quando passou a ser propositiva. Só se discute as "propostas" (e é muito fácil propor) e não se discute o caracter do candidato (que é o que realmente importa).
"Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não."
Manuel Alegre
Nossa ilha está igual a um navio que bateu num (ice) berger e está afundando.
Em alguns locais faltam água, em outros faltam luz.
No dia 31 aquele show de fogos com musica orquestrada me lembrou o Titanic que está afundando, mas a orquestra não para de tocar.
Na Antiga Roma, os Imperadores providenciavam para a satisfação do povo romano que nunca faltasse pão e circo.
Assim, aqui também nossos políticos acreditam que com fogos e shows musicais o povo vai esquecer da corrupção na administração pública, da degradação do meio ambiente e dos desmandos na nossa cidade.
Olá Cesar,
O comentário sobre a educação não poderia retratar melhor a realidade. É impressionante o descaso que tanto os alunos quanto as instituições de ensino no brasil tem pela boa qualidade. São raros os casos dos professores que realmente cobram algo dos alunos, e nesses casos, sempre sobra para o professor, que tem que ouvir desculpas e pedidos que vem de cima para "dar mais uma chance".
Engraçado como só os políticos não vêem isso. Enquanto todo mundo estiver feliz passando sem ter que fazer muito trabalho (mesmo que nunca terá condições de competir num mundo globalizado), parece que todos acham mesmo que está tudo bem.
Pelo que prometem, o ano será dos melhores. Vejam só:
-Teremos, enfim, as obras do trem urbano na Grande Florianópolis, que LHS chama de "metrô de superfície";
-O Diáriio Oficial on-line estará finalmente on-line, pois quem não deve não tem medo de transparência;
-LHS fará novas viagens internacionais e trará soluções e recursos para acabar com todos os problemas de SC;
-O experiente presidente da Celesc e o simpático presidente da Casan irão ampliar a capacidade dos serviços. Água e energia à vontade.
Viram só como é fácil? Basta acreditar em nossos intrépidos governantes.
Cesar,
Ainda falando em educação, se somar o que foi gasto com a decoração do Centro Administratigo do Governo, com o gasto dos fogos e das bandas do reveillon, certamente daria para construir mais uma escola na cidade.
Abarcos
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