Não é à toa que a secular sabedoria humana constatou que o “o olho do dono engorda a boiada”. A ausência do governador, ou a sua falta de apetite para tomar as rédeas da administração estadual, vai acabar permitindo que cada chefete se sinta dono e senhor da situação, tocando a música conforme acha que deve ser tocada. E aí, em vez de uma orquestra afinada, que preste um bom serviço aos contribuintes, teremos uma verdadeira Philarmônica Desterrense, cuja característica principal é a completa desafinação e a absoluta falta de conjunto.
Vejam só um caso pequeno, localizado, noticiado hoje no blog do Moacir Pereira:
“PrisãoIsto é o tipo de coisa que o governador, se estivesse presente e atento ao que ocorre de sério no estado, deveria cobrar do Secretário da Segurança. Que história é essa de um delegado regional assumir a função de censor? Desde quando o estado de Santa Catarina, de gloriosa tradição republicana, abriga entre seus servidores gente com esse nível de intolerância?
Prisão do radialista Paulo Schmidt, pelo delegado regional de Brusque, Ademir Bras de Souza, motivou editorial da Rádio Cidade contra o ato considerado arbitrário.
O profissional, segundo nota da emissora, foi detido quando fazia a cobertura de um acidente de trânsito para a Rádio Cidade, em companhia da jornalista Liliane Dias. O delegado alegou que a emissora só divulga notícias sensacionalistas, dando voz de prisão a Ademir de Souza.”
Mas não adianta o Benedet sozinho tentar dar uma chamada no delegado/censor. É provável que nem tente fazer isso. Brusque não faz parte da sua base eleitoral e ele talvez não esteja preocupado com o que possa ocorrer lá, em relção à imagem do governo. Teria que chegar um recado claro à hierarquia policial, vindo do comandante supremo das polícias, o governador, informando que há leis neste estado, há Constituição a ser respeitada neste País e que nenhum servidor público pode fazer Justiça com suas próprias mãos.
Mas temo que o governador em Paris, preocupado em pronunciar corretamente as palavras no idioma de Napoleão, animado com a perspectiva de trazer mais uma filial estrangeira para Santa Catarina, sequer tome conhecimento de coisas pequenas como esta, que embora contribuam para corroer a autoridade do Estado, podem não ser suficientes para chamar à razão sua Excelência.
Só espero que, quando acordar desse sonho de governar sem precisar colocar a mão na massa, não seja tarde demais.
Um comentário:
César, você colocou o dedo na ferida. Luís XV, agindo ao modo lusitano na época da colonização, fatiou o nosso Estado. Ao invês de "Por toda Santa Catarina", melhor seria dizer "Esquartejou Santa Catarina". Com as 36 SDR, o Estado foi dividido em "paróquias"; nelas, quem manda são as "lideranças locais", que fazem e acontecem. Os Secretários Centrais não apitam na escolha de cargos locais (portanto, não tem condições de exercer autoridade). Em síntese, é o "rabo abanando o cachorro" (ou o "poste mijando no cachorro").
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