terça-feira, 11 de novembro de 2008

TERRA DE NINGUÉM

O grande problema das viagens (em todos os sentidos) do governador LHS não é nem a utilidade ou importância de sua agenda internacional, é mesmo a ausência. Por mais que seus auxiliares, investidos de responsabilidades de chefe do Executivo se esforcem para suprir a falta do titular, a verdade é que nenhum deles recebeu, das urnas e do TRE, o mandato, a caneta, o Poder.

Não é à toa que a secular sabedoria humana constatou que o “o olho do dono engorda a boiada”. A ausência do governador, ou a sua falta de apetite para tomar as rédeas da administração estadual, vai acabar permitindo que cada chefete se sinta dono e senhor da situação, tocando a música conforme acha que deve ser tocada. E aí, em vez de uma orquestra afinada, que preste um bom serviço aos contribuintes, teremos uma verdadeira Philarmônica Desterrense, cuja característica principal é a completa desafinação e a absoluta falta de conjunto.

Vejam só um caso pequeno, localizado, noticiado hoje no blog do Moacir Pereira:
Prisão

Prisão do radialista Paulo Schmidt, pelo delegado regional de Brusque, Ademir Bras de Souza, motivou editorial da Rádio Cidade contra o ato considerado arbitrário.

O profissional, segundo nota da emissora, foi detido quando fazia a cobertura de um acidente de trânsito para a Rádio Cidade, em companhia da jornalista Liliane Dias. O delegado alegou que a emissora só divulga notícias sensacionalistas, dando voz de prisão a Ademir de Souza.”
Isto é o tipo de coisa que o governador, se estivesse presente e atento ao que ocorre de sério no estado, deveria cobrar do Secretário da Segurança. Que história é essa de um delegado regional assumir a função de censor? Desde quando o estado de Santa Catarina, de gloriosa tradição republicana, abriga entre seus servidores gente com esse nível de intolerância?

Mas não adianta o Benedet sozinho tentar dar uma chamada no delegado/censor. É provável que nem tente fazer isso. Brusque não faz parte da sua base eleitoral e ele talvez não esteja preocupado com o que possa ocorrer lá, em relção à imagem do governo. Teria que chegar um recado claro à hierarquia policial, vindo do comandante supremo das polícias, o governador, informando que há leis neste estado, há Constituição a ser respeitada neste País e que nenhum servidor público pode fazer Justiça com suas próprias mãos.

Mas temo que o governador em Paris, preocupado em pronunciar corretamente as palavras no idioma de Napoleão, animado com a perspectiva de trazer mais uma filial estrangeira para Santa Catarina, sequer tome conhecimento de coisas pequenas como esta, que embora contribuam para corroer a autoridade do Estado, podem não ser suficientes para chamar à razão sua Excelência.

Só espero que, quando acordar desse sonho de governar sem precisar colocar a mão na massa, não seja tarde demais.

Um comentário:

Anônimo disse...

César, você colocou o dedo na ferida. Luís XV, agindo ao modo lusitano na época da colonização, fatiou o nosso Estado. Ao invês de "Por toda Santa Catarina", melhor seria dizer "Esquartejou Santa Catarina". Com as 36 SDR, o Estado foi dividido em "paróquias"; nelas, quem manda são as "lideranças locais", que fazem e acontecem. Os Secretários Centrais não apitam na escolha de cargos locais (portanto, não tem condições de exercer autoridade). Em síntese, é o "rabo abanando o cachorro" (ou o "poste mijando no cachorro").