A picaretagem e a venda de matérias não são problemas exclusivamente brasileiros. Publicações como a Metrópole e tantas outras, que vivem de achacar empresários e poder público, oferecendo entrevistas, reportagens e o que mais o freguês quiser, existem em todos os países.
Mas existem, além dessas aberrações, problemas sérios envolvendo jornais, revistas, emissoras de rádio e TV e a captação de recursos para sua manutenção.
Esta semana, o Comitê para Cultura e Educação da União Européia divulgou um relatório que contém um alerta sobre o perigo que corre a mídia privada, de deixar de ser uma guardiã da democracia.
[Para ler a notícia sobre o relatório (em inglês) clique aqui ou aqui]
O perigo estaria nos esforços que os veículos de comunicação privados estão fazendo para aumentar seus lucros, literalmente a qualquer preço. E o comitê recomenda que a Comissão Européia e os estados membros adotem leis que estimulem a concorrência na mídia, para garantir o pluralismo dos pontos de vista.
O relatório também defende a clara separação entre os departamentos editorial e comercial. E advoga que proprietários, acionistas ou governos sejam impedidos de interferir no conteúdo editorial, recomendando que os ombusdman atuem para proteger a liberdade dos media.
A estoniana Marianne Mikko, que assina o relatório, afirma que trata-se de estabelecer “salvaguardas para a democracia”. “É preciso encontrar uma forma de garantir o pluralismo dos canais de midia e assegurar o equilíbrio entre quantidade e qualidade, no mercado de comunicação”, diz ela.
O relatório não tem peso legal, mas oferece uma diretriz para as instituições executivas européias.
Só que, se lá eles estão preocupados e discutindo isso, aqui a discussão está muito longe de ser levada a sério. Todos sabem que só existe idependência editorial com independência econômica e que os pequenos veículos de comunicação sofrem imensas pressões: ou se adaptam aos anunciantes, ou morrem de inanição.
De uma certa maneira, os governos, as empresas estatais e os empresários privados, em sua maioria, sentem-se compelidos a aplicar as verbas publicitárias (e mesmo as pseudo-publicitárias) em veículos sobre os quais tenham algum tipo de controle.
Para o público, é o pior dos mundos. Porque fica sem acesso à informação equilibrada. A prioridade deixa de ser atender o direito que todos temos à informação, para dar ao anunciante o que ele quiser. E isto pode ser desde uma foto da filha na coluna social, a reportagens sobre os assuntos e enfoques que lhes sejam mais adequados.
Nos desesperados esforços para conseguir ganhar mais alguns tostões (ou milhões) de qualquer maneira, os veículos de comunicação acabam corroendo a fé pública que desfrutam na comunidade. O leitor, que não é bobo, acaba percebendo que está recebendo uma informação pasteurizada, filtrada e adaptada a interesses que não os dele, leitor.
A preocupação com a forma como se dá o relacionamento entre governos e empresas e os veículos de comunicação, portanto, vai muito além dos eventuais embates eleitorais, dos partidarismos políticos. Está em jogo a própria democracia.
Em rolos como esse da revista Metrópole, perdemos todos, de todos os partidos e de todas as profissões. Tolerar a picaretagem é demonstrar desprezo pela construção da democracia.
O colapso da Alemanha
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Los errores en sus políticas fiscal, energética e industrial la han
convertido en una economía vulnerable a los cambios económicos y
geopolíticos. Victor...
Há 3 horas
3 comentários:
Tio César,
Parece-nos que dois segmentos empresarias têm substituido os tradicionais apoiadores dos políticos: as agências de propaganda e a imprensa.
Se o primeiro pode-se entender como um segmento empresarial independente, o mesmo não podemos aceitar do segundo.
A imprensa sempre deverá ser "dependente" da liberdade, portanto, sem se corromper pelos governos.
Talvez a internet, ou como defindo por Levy, o cyberespaço, nos levará à esta tão sonhada independência.
Veja você, como sobreviverias sem teu blog. Onde chegariam tuas reflexões, opiniões, críticas, elogios, graça, compromisso com a verdade; sem um blog?
Quanto aos financiadores de políticos via agências de propaganda um solução radical: proíba-se! Cada estrutura de poder crie seu próprio departamento e façam suas divulgações de forma pública!
Anônimo das 6:24, não esqueça que este blog é transcrição da minha coluna no DIARINHO (tenho adicionado aqui algumas coisas, mas o importante sai lá também). E o jornal tem me assegurado a mais completa e irrestrita liberdade. O blog complementa, porque não tem as limitações físicas de distribuição do jornal (que circula de Barra a Velha a Florianópolis, nos municípios do litoral), mas, no caso específico desta coluna, é importante registrar a coragem que o DIARINHO (em especial sua diretora editorial, Samara Vieira) tem tido, ao honrar seu compromisso histórico com a independência editoral.
Tio César,
Realmente o Diarinho faz algo diferente. Aliás, parece que ele faz parte do sonho da época de tua fase universitária, -em cada esquina um jornal!
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