A rede pública de rádio dos Estados Unidos (npr.org) divulgou hoje uma entrevista com o editor executivo do The New York Times, Bill Keller sobre o momento que vivem os jornais, com essa crise e tudo o mais (leia o resumo e ouça, aqui, em inglês). E o blog do Forum Mundial de Editores chama a atenção para um detalhe importante da entrevista: a escassez do que ele chama de “jornalismo de qualidade”.
E a questão central é o fato de que jornalismo não é barato. Fazer um blog de opinião é uma pechincha, não se gasta quase nada, a não ser a paciência dos leitores. Mas fazer jornalismo é caro. Como diz Mr. Keller, “não se encontra blogs ou websites sem finalidade lucrativa capazes de instalar um escritório em Bagdá”.
Bom jornalismo é caro mesmo. Esta é uma constatação a que muitos donos de veículos de comunicação já chegaram. E não é à toa que fazem o que fazem. Há um descompasso grave entre o que os esquemas comerciais das emissoras conseguem faturar com o bom jornalismo e o seu custo.
Claro que não seria necessário descer aos porões fétidos em que alguns departamentos de jornalismo se meteram, produzindo uma coisa gosmenta que chamam de “jornalismo positivo” ou “entretenimento informativo”, mas a verdade é que se espalhou uma convicção perniciosa, de que jornalismo só dá prejuízo.
E o bom jornalismo, além disso, aparece, para os incultos dirigentes de vários veículos de comunicação, como um risco permanente. Isso de ter que noticiar o que for notícia e o que possa interessar à maioria, é muito perigoso. E se algum anunciante, um amigo da casa, o filho nervosinho de alguma autoridade envolver-se com a lei, com o crime, meter os pés pelas mãos? O dono da empresa quer ter o poder de adocicar a notícia, de fazer o fato curvar-se à sua vontade e entregar uma versão rósea de parte do mundo. Da mesma forma, dependendo de quem se trata, eles sonham pintar com cores fortes e catastróficas uma coisa que, de outra forma, nem seria notícia.
O resultado dessa convergência perversa de fatores é que o leitor, espectador, cidadão que depende de informação para cumprir sua parte na organização e manutenção da vida em sociedade, recebe uma alimentação pobre de nutrientes. Em vez de um feijão com arroz e bife, salada, suco, sobremesa e mais uns tantos complementos saborosos e saudáveis, acaba sendo submetido a uma dieta rala, de sopinha insossa, sem a proteína e sem as fibras que as informações bem apuradas e bem apresentadas geralmente contém.
E para os (bons) profissionais a pior conseqüência é que muita gente passa a acreditar que jornalismo é isso aí, que é apresentado como sendo. E se não se produz jornalismo de qualidade, então não há necessidade de jornalistas de qualidade. Pra fazer o que muitos veículos usam para preencher os espaços “jornalísticos”, de fato, qualquer um serve.
Mas não deixem-se abater pelo tom aparentemente negativo deste comentário. O editor do NYT, quando perguntado, na entrevista que citei acima, qual seria a manchete do jornal, para este momento, nesta conjuntura, respondeu: “Nós sobreviveremos”.
O momento não é dos mais felizes, para aqueles que se preocupam com a qualidade da informação que está disponível para a maior parte da população, os esforços daqueles que tentam prestar um bom serviço não são reconhecidos, mas também gosto de pensar que acabaremos sobrevivendo.
Portugal: o problema do 25 de Novembro.
-
O problema do 25 de Novembro é que a sua história e celebração obrigariam a
oligarquia a reconhecer que a democracia assentou numa coligação diferente
da...
Há 12 horas
2 comentários:
Desejo externar uma opinião pessoal. Quando nos dermos conta de quantas árvores são cortadas e picotadas, para que tenhamos uma edição de jornal?
O povo em geral vai saber e entender o quanto custa espalhar tinta sobre as folhas.
Na minha modesta opiniõa, e como diria o NOBLAT, "jornal já morreu e esqueceu de deitar".
Acredito em Jonalismo, acredito em blogs e tem mais, acredito que falaremos cada vez mais das nossas coisas e da nossa região, da nossa cultura, da nossa cidade, do nosso bairro e da nossa rua.
Volto a enfatizar, e valorizo que é uma opinião pessoal. Na minha modesta opinião, esta é a nossa nova e definitiva realidade. Vão acabar as grandes reportagens de emissoras de Rádio, TVS e Jornais, os custos serão insustentáveis. Receberemnos materiais produzidos por gente de cada localidade, para aproveitamento e exibição nacional. Sobre tudo e seremos mais específicos. Vamos falar cada vez mais das nossas coisas, daki.
Enviado por Ricardo Noblat - 8.12.2008| 17h29m
New York Times anuncia intenção de hipotecar sua sede
Em meio a uma séria crise no setor editorial norte-americano, o jornal New York Times anunciou nesta segunda-feira a intenção de hipotecar a própria sede, para conseguir arrecadar US$ 225 milhões.
O jornal divulgou hoje em seu site a intenção de hipotecar o arranha-céu projetado pelo arquiteto italiano Renzo Piano em Manhattan para fazer frente a uma dívida de superior a US$ 1 bilhão, gerada em parte por causa da forte retração no mercado dos anúncios publicitários.
Ao mesmo tempo, crescem os boatos de que o grupo Tribune Co., que controla os jornais Los Angeles Times e Chicago Tribune, se aproxima de uma possível falência. O grupo McClatchy, por sua vez, estaria interessado em vender o Miami Herald. Leia mais em New York Times anuncia intenção de hipotecar a própria sede
Postar um comentário