[Historinha que contei na abertura do debate de ontem]
Vou começar contando uma historinha que acho que pode nos ajudar a entrar no tema do debate de hoje. No começo da década de 90, Acari Amorim e eu fundamos uma revista de economia, a Empreendedor. Até 1995, quando saí da sociedade e deixei a revista, o Acari cuidava da parte comercial, e eu da parte editorial. A revista era mensal, com circulação nos três estados do sul.
No segundo semestre de 1994 tinha uma pauta em Curitiba que eu achava especialmente interessante, que estava custando a sair. Era a história da dona Esther Essenfelder, herdeira da fábrica de pianos que seu avô criara em 1890.
Com a morte repentina dos tios, que administravam a fábrica, essa senhora teve que deixar uma vida de dona de casa para transformar-se em empresária, num ramo difícil, tocando uma empresa familiar tradicional. Era uma história e tanto. A nossa repórter em Curitiba, Sônia Marques, me dizia que a dona Esther já nem atendia ao telefone, depois de várias recusas aos pedidos de entrevista. Fiquei muito curioso para saber, afinal, por que ela não queria que fizéssemos matéria. E pedi à repórter que fosse pessoalmente conversar com ela. Não mais para pedir uma entrevista, mas apenas para entender por que não queria nos receber.
A resposta foi estarrecedora. A pobre senhora, até com certo constrangimento, explicou que não podia receber a repórter porque a empresa estava passando por uma reestruturação e eles não tinham recursos para pagar a reportagem!
Quando soube que a nossa revista era diferente, que fazíamos jornalismo e ela não teria que pagar nada, imediatamente abriu-se em sorrisos e permitiu que fizéssemos a matéria. A reportagem foi publicada na edição de dezembro de 1994 e ocupou cinco páginas da revista, com um belo texto da Sônia Marques e fotos da agência MultiPress.
Não quero nem de pensar que tipo de experiências anteriores teriam feito a Dona Esther criar a convicção de que jornalismo é feito de matérias pagas. Este é, de fato, o começo do fim de tudo o que imaginamos, sonhamos e lutamos para o jornalismo: acreditar que se alguém aparece numa revista, jornal ou TV, é porque pagou para estar ali.
Em tempo: depois do debate o Jurandir Camargo veio contar que ele e o Belmiro Sauthier, que dirigem um jornal em São José, o Correio de Santa Catarina, tiveram durante anos problemas semelhantes, com vários de seus entrevistados. Não queriam conversa com o jornal com medo de, mais cedo ou mais tarde, terem que “morrer com algum”.
O 25 tipo de Novembro: redação do ensino bué básico.
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A setôra explicou que o PS já não é tecnicamente fascista e está bué à toa
de ter sido. O PS, que agora é “cool” e mano dos democratas do PCP e do BE,
pe...
Há 3 horas
3 comentários:
As revistas Expressão e Empreendedor são os piores exemplos possíveis. 90% das matérias são vinculadas a anúncios.
E na sua época, era igual.
A matéria citada é excessão.
César, seu lado didático exemplificou o cenário. Também sofri com essa idéia que as pessoas têm sobre jornais e revistas. Alguns têm receio em conceder uma entrevista, mesmo não paga, pela possibilidade de estar abrindo as portas para publicidades futuras.
O pior é que essas pessoas não estão erradas. Basta observar as revistas dirigidas à vaidades e amenidades. Assim como as colunas sociais, são sempre convidativas para aqueles que necessitam dar um polida no ego. As revistas obviamente cobram e alguns colunistas sociais idem.
As revistas são picaretagens com tiragens ilusórias. E esses colunistas sociais não são de fato profissionais do jornalismo. Publicações e colunistas têm sua parcela de culpa.
Mas temos também o outro lado. Os que pagam. Há tempos corrompem os meios de comunicação. Patrocinando publicações da picaretagem ou dando presentinhos aos colunistas. São profissionais liberais ou empresários que necessitam aparecer. Quando editor de jornal, era assediado pelos que queriam um espaço na vitrine. Médicos (cirurgiões plásticos) e advogados (criminalitas) lideravam a lista.
Outra "categoria" que não pode ficar de fora é a dos futuros políticos. Meu passatempo na redação era detectar quem, dentre os "lançamentos" , ingressaria na política.
Se há prostituição é porque temos prostitutas (revistas de picaregatem e "escribibas" sociais que se vendem). Mas a prostituição só se mantém porque tem uma forte clientela.
Os dois lados se merecem e não conhecem o ridículo.
Porém quando entra dinheiro público nesse bordel, por política ou "aquilo" no meio, aí ultrapassa o ridículo. Aí é crime.
Ô anônimo das 9:33: Esta aí não foi exceção, era a regra. Na minha época, não só na Empreendedor, como em todos os veículos onde tive algum poder de decisão, nunca fiz a pauta olhando a planilha comercial. Mas é claro que em todos os veículos a rotina é a pressão, do departamento comercial, para que a redação trate bem seus anunciantes. Uns editores resistem mais, outros menos. E nem sempre o fato de se fazer uma matéria sobre tema relacionado a algum anunciante significa, automaticamente, favorecimento. Às vezes existe interesse jornalístico e a reportagem sairia mesmo sem o anúncio.
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