Depois de ler e ouvir o que se tem dito a respeito desse momentoso assunto, fiquei preocupado: parece que nem todos têm uma idéia clara do que seja a picaretagem aplicada à relação entre governo e imprensa, por exemplo.
Talvez seja útil relembrar o que picareta significa. Em dicionários conceituados encontramos:
“Diz-se de, ou pessoa inescrupulosa, cavadora de anúncios. Por extensão, diz-se de, ou pessoa aproveitadora; negociante duvidoso; pessoa que utiliza qualquer expediente para obter os fins ou vantagens desejados.”
E picaretagem é:
“Cavação; negociata. Atividade, nem sempre muito lícita, para obtenção de vantagens. Em propaganda, o trabalho feito por picaretas. Expediente ou ardil para obter favores.”
Visto isso, podemos avançar um pouco mais, eliminando aqueles negócios que não sejam ilícitos ou, pelo menos, duvidosos. Assim, não se enquadra na definição de picareta o dono de um jornal que se habilite para receber anúncios.
Ou seja, se o governo do estado, ou a prefeitura, ou algum órgão federal quer anunciar num jornal, não tem problema. Em princípio se trata de atividade lícita, legal e autorizada.
Começa a virar picaretagem se o editor do jornal, com a finalidade de agradar o anunciante e receber mais anúncios, começa a publicar reportagens puxando-lhe o saco. Ou se o anunciante pede que o jornal pare de criticá-lo (ou passe a elogiá-lo) em troca dos anúncios.
No debate da quarta-feira, no Plenarinho da Assembléia, houve uma certa confusão com esses termos. O diretor de Imprensa do governo, jornalista José Augusto Gayoso, disse que o Nei Silva (aquele da revista Metrópole) não era o único e que tinha fila de picaretas tentando arrancar uma graninha da Secom. Não vi, na afirmação, qualquer referência àqueles representantes ou donos de veículos que, legitimamente, se candidatam a receber peças de alguma campanha oficial Mas teve gente que viu e reclamou.
O exemplo daquele famoso encarte do governo, publicado em dezenas de jornais e que rendeu processo pela cassação do LHS, chegou a ser lembrado.
O fato é que não dá pra chamar de picaretas, indiscriminadamente, os jornais que publicaram os encartes. Ainda mais porque, ao que parece, foram negociados com as associações que reúnem esses veículos.
Se eu sou dono de jornal cadastrado na Secom e o governo quer publicar um encarte, ótimo. Mando o departamento comercial acertar o preço e pronto.
Agora, se para receber tal encarte tenho que fazer matérias de acordo com alguma orientação externa, aí preciso puxar o freio-de-mão e parar pra pensar. Porque neste ponto a transação legítima começa a perder seu brilho e a ganhar os contornos pontudos de uma picaretagem.
No mesmo debate, alguém falou nos “cadernos” de grandes jornais, que são puramente comerciais, sem que disso seja avisado o leitor. Os leigos poderão imaginar que se trata de material jornalístico.
A propósito disso, alguém chegou a dizer que “quem puxa o carro da picaretagem é a grande imprensa”.
Ora, o que separa um negócio de uma negociata é apenas a ética, que, como vocês estão cansados de saber, anda em falta.
A dancinha do trumpismo
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Diferentemente de manifestações polêmicas do passado, como ajoelhar-se
durante o hino nacional, o gesto é visto como celebração patriótica.
Alexandre Bor...
Há 4 horas
3 comentários:
acho que a maioria desconhece o trabalho feito na secom,inclusive o bloguista
Isto já esta me parecendo briga de cachorro grande ou invejinha dos coleguinhas que não conseguiram verbinha nenhuma da Secom. heehehe...
Antônio Carlos
Tudo como antes os políticos são os santinhos e nós o povo os corruptos. Esperamos o Ministério Público de olho.....
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