sexta-feira, 7 de novembro de 2008

POBRE LAGOA! POBRES DE NÓS!

Uma coisa me chamou a atenção, nesse acidente que ocorreu na Lagoa (rompeu uma adutora da Casan na ponte, fazendo o piso ceder numa das pistas, interrompendo parcialmente o trânsito).

Segundo li no DC Online, “As causas do incidente não foram informadas pelo diretor da regional metropolitana da Casan, Jucenir Gualberto Soares, que atribuiu duas hipóteses para o problema: pressão em excesso ou desgaste da tubulação.”

Ora, ora, aqui nestes meus ouvidos leigos, tanto “pressão em excesso” quanto “desgaste da tubulação” soam como coisas previsíveis. E, portanto, evitáveis.

Aviões sofrem grande desgaste com o uso. Mas, para evitar que se despedacem ao aterrissar ou decolar, de tempos em tempos são feitas manutenções preventivas e trocadas peças cuja fadiga esteja se aproximando do ponto de ruptura. Desgaste em equipamentos críticos, portanto, é coisa que a moderna engenharia já tem sob controle. Uma tubulação de água tratada, passando numa pontezinha daquele tamanho, é um equipamento crítico que deveria ter atenção constante e manutenção preventiva.

Pressão em excesso é outra coisa que nos remete à operação da rede. Como assim, excesso? A água adquire pressão nos dutos sozinha e sem controle? Não há válvulas, registros, ladrões, alguém monitorando o que está ocorrendo?

Claro que a Casan daqui a pouco vai dizer que foi uma fatalidade, ocorreu um fato fortuito, que poderia ter ocorrido em qualquer lugar, sem possibilidade de ter sido previsto, que foi só um buraquinho, que estamos chorando de copo cheio porque nunca, nessestado, tivemos tanta água e tão boa. Ou qualquer outra coisa.

O que ocorreu, no entanto, parece ser a mesma coisa que de vez em quando acontece em vários outros locais (como a Av. Madre Benvenuta), onde redes antigas ou mal cuidadas, com manutenção deficiente, são submetidas a pressões inadequadas para que a água chegue a milhares de novas residências que foram acrescidas no mesmo roteiro, sem um adequado planejamento, sem uma preparação da infra-estrutura. Onde havia uma casinha térrea, agora há prédio de 12 andares e uns 40 apartamentos. E não só a rua que passa ali em frente é a mesma: a tubulação de água também não foi alargada.

A cândida confissão do diretor regional, feita com naturalidade, sem pesar adequadamente a força das suas palavras, coloca a questão nos termos exatos. E a partir daí não seria difícil, se houvesse interesse, encontrar o responsável ou responsáveis pelo rompimento da adutora.

CONSULTORIA JURÍDICA DIGRÁTIS

O Ilton Dellandréa, que hoje é blogueiro, mas já foi juiz e desembargador, deixou um comentário que poderá ser útil a quem tiver sido prejudicado por algum desses eventos nada naturais das nossas prestadoras de serviços públicos. Anota aí:
“Nesses casos não há fatalidade e caso fortuito ou força maior também são outras coisas, inaplicáveis na espécie. A Administração Pública é obrigada a fiscalizar suas obras exatamente para prevenir fatos como este. E, se não o fizer, e algo acontecer, é civilmente responsável pelos danos que causar a terceiros. Abraços.”

6 comentários:

Anônimo disse...

César, acho que matastes a charada.
Tentando lembrar das aulas de física, segue minha tradução técnica/meia-boca para a tua explicação:
Olhando o cano de frente, temos a área da seção do tubo (um círculo, pois normalmente os canos são redondos). Para calcular a vazão (litros/segundo ou qualquer outra unidade - m3/h, etc), é simplesmente multiplicar a área da seção pela velocidade de escoamento da água e contar o tempo. É como se pegássemos várias "fatias" instantâneas e fôssemos somando-as. Então, o que acontece? Como dissestes, a rede foi projetada para atender umas casinhas com poucos moradores. Só que ao poucos, vão aprovando a construção de um prédio aqui, outro ali. O que fazer para atender a demanda de água? Tem que aumentar a vazão. Para isso, alguma variável da fórmula tem que ser alterada. Ou o diâmetro dos tubos, ou a velocidade da água (função da pressão). O que fazem? Aumentam a pressão só um pouquinho, que já compensa a nova demanda, originada por um novo edifício, por exemplo. Só que isso tem um limite. Não dá para aumentar a pressão infinitamente. Os pontos fracos do sistema acabam rompendo. E tem outra coisa muito mais importante: Isto é como uma bomba-relógio, pois o aumento de pressão tende a fazer com que o escoamento da água seja mais turbilhonado, o que por sua vez causa um desgaste muito maior das tubulações.
Concluindo, o que estão fazendo é muito pior do que vemos, pois estão "empurrando com barriga" um problema que eles mesmos criam. Assim é facil dizer que a empresa está saneada e com as contas em dia. Não investem no básico! E os próximos administradores que se virem. A população então, esta fica jogada à sorte...

Anônimo disse...

Nesses casos não há fatalidade e caso fortuito ou força maior também são outras coisas, inaplicáveis na espécie. A Administração Pública é obrigada a fiscalizar suas obras exatamente para prevenir fatos como este. E, se não o fizer, e algo acontecer, é civilmente responsável pelos danos que causar a terceiros. Abraços.

Anônimo disse...

Falando ainda em CASAN: Tio César dá uma olhada na seção de cartas do DC, hoje e ontem.
Está lá uma das explicações pro caos no saneamento.
Os ocupantes de cargos públicos, mais especificamente dos cargos de confiança (chefias), não se consideram servidores públicos, portanto nossos empregados. Eles se consideram acima dos reles mortais e que estão nos fazendo um favor em nos prestar serviços. Eles detestam qualquer tipo de crítica, mesmo que positiva. Eles acham que quem critica é da oposição e está tentando derrubá-los, que são "viuvas" dos antigos governantes.
O tom usado ontem na carta do superintendente de meio ambiente da CASAN mostra isto claramente. Mesmo que a critica a qual ele rebate não tivesse fundamento, nunca poderia ter usado o tom que usou. Os missivistas que o criticaram, mesmo que estivessem errados (e não estão), devem ser tratados com respeito, pois afinal são eles que pagam o salário deste superintendente.
Aliás, não era um assunto pra assessoria de imprensa da CASAN responder? Afinal eles são pagos pra isso e creio serem mais preparados para tal, inclusive usando uma linguagem mais adequada.

Anônimo disse...

Muita atenção para a eleição e nenhuma para a manutenção!

Mário Medaglia disse...

Caro César: talvez não saibas mas, além do estrago da Casan na Lagoa, pela manhã houve também episódio da Celesc em Coqueiros e Itaguaçu. Ou seja, faltaram água e luz em três populosos bairros de Floripa. Parece qe estão esperando alguma tragédia acontecer na cidade para alguém levar a sério todos esses problemas que estão fazendo parte do nosso dia-a-dia. Ai cantaremos todos juntos aquela marchinha de carnaval que há décadas brincava com as agruras do Rio de Janeiro: "de dia falta água, de noite falta luz"... Abração, Medaglia

Anônimo disse...

Acho que descobri como essas "otoridades" planejam o nosso futuro: Jogam Sim City.
Para quem desconhece, é um joguinho de simulação de cidades. Quando o prefeito virtual deixa de investir em infra-estrutura, aparecem "foguinhos" em diversas partes, a cidade sofre com chuvas mais fortes e por aí vai. O problema é que o joguinho não reflete a realidade, pois os problemas da vida real são crônicos e não podem ser resolvidos pontualmente, como no joguinho...