Mostrando que a insensibilidade não era acidental, mas institucionalizada, ele argumentava que “a vida continua, por acaso o pessoal vai deixar de pagar a luz, a água, as contas?” Até tentei argumentar que sim, que os atingidos pela enchente estão negociando algum tipo de moratória, mas sem sucesso. Ele insistia que essa turma que está “falando mal” do sindicato só está fazendo isso porque perderam as boquinhas.
“Perderam aquele escritório particular e mesmo assim ficam ligando para pedir dinheiro pra lançar livro, pra viajar, pra fazer isto e aquilo”, disse o diretor. Para ele, a injustiça não é o Sindicato não ter se manifestado sobre os jornalistas atingidos pela enchente e pela enxurrada, mas o que estes estão fazendo com o Sindicato: “tem ex-diretor que está devendo conta telefônica há anos e tem associado que não quer saber de participar das assembléias, mas se inscreve no prêmio Olívio Lamas pra ganhar os R$ 3 mil do prêmio”. Aí, de novo, tentei perguntar se ele estava dizendo que quem não participa ativamente da vida sindical não deveria se inscrever num prêmio aberto a todos os sindicalizados mas, de novo, não consegui saber, porque ele já emendou outra reclamação. Para o Prates a regulamentação da profissão vai acabar justamente porque os jornalistas não se unem. E aí, emendo eu, não pagam o sindicato.
Tenho a impressão que neste telefonema matutino que provavelmente vai me azedar parte do domingo, o diretor não estava disposto a ouvir, apenas a dar o seu recado. E enquanto escutava aquelas frases de quem, aparentemente não tinha entendido o sentido do vocábulo “insensibilidade”, pensava cá com meus botões: por que não me mandaram um e-mail? Por que atendi o telefone? Por que ainda me preocupo com isso?
O LADO SENSÍVEL DO SINDICATO
Na única coisa boa do telefonema fiquei sabendo que, sobre o desastre, “tem coisa lá no site”. Fui ver e de fato, no dia seguinte ao envio da correspondência cobrando as mensalidades atrasadas, o Sindicato colocou, no site, uma mensagem sobre a tragédia. Bem que poderia ter enviado junto, senão na íntegra, pelo menos alguns trechos, para que alguém, além dos frequentadores habituais do site, tomasse conhecimento. Vai ver que quem mandou a cobrança não sabia da nota de solidariedade e vice-versa.
Transcrevo abaixo a nota do dia 28, com o que a diretoria pensa sobre a tragédia catarinense.
“Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina e a tragédia no Estado
O Estado de Santa Catarina vive uma grande comoção por conta da tragédia que se abateu sobre grande parte do território, com mais força no Vale do Itajaí. Uma tragédia anunciada desde a última grande enchente de 1984.
O gasoduto explodiu, morros vieram abaixo, milhares de casas destruídas, mais de uma centena de mortos, danos materiais incalculáveis. Em algumas regiões a desolação é muito semelhante a uma situação de guerra.
Não bastasse toda a desgraça provocada pelas chuvas intensas, que duram mais de três meses, as populações ainda têm de conviver com ocorrências desumanas, como o caso dos comerciantes que estão majorando os preços dos alimentos, da água e do gás, em flagrante crime contra a economia e contra a vida. Há bombas de água, em Blumenau, sendo vendidas a R$ 50.
São as irracionalidades do humano que, infelizmente, aparecem junto com o bravo trabalho dos bombeiros, dos agentes da defesa civil, dos voluntários que não medem esforço para cooperar.
No meio de tudo isso a categoria dos jornalistas tem procurado, em alguns casos limitados às orientações de seus veículos, informar a sociedade sobre tudo o que está se passando. Alguns exageros sensacionalistas sempre aparecem, e só podemos lamentar. Mas, regra geral, a posição tem sido a de dar notícias da tragédia e provocar a solidariedade das pessoas que não foram atingidas para que ajudem e cooperem.
Muitos profissionais da região de Itajaí, Blumenau e adjacências - a mais atingida do estado – inclusive, estão passando pelas mesmas perdas que a maioria da população daquela região. E, ainda assim, estão em campo, noticiando, informando, agindo, ajudando. Esse é o nosso papel.
O Sindicato dos Jornalistas também está mobilizando-se na solidariedade, mas, fundamentalmente, está comprometido com a sociedade catarinense a ser o olho vivo de acompanhamento do pós-tragédia. O dia seguinte - quando as águas baixarem, quando as doações pararem de chegar, quando a vida retomar seu ritmo – também exigirá de todos nós o cuidado.
E, no geral, o que tem se visto é a volta do descaso do poder público, a falta de investimento na prevenção etc... A natureza, sozinha, não provocou o desastre.
Por isso, o Sindicato dos Jornalistas firma aqui um compromisso com os catarinenses. Estará atento e vigilante, não só na solidariedade concreta aos seus filiados que tenham sido vítimas da tragédia, cujo levantamento está sendo feito pelos diretores nas regiões, mas essencialmente no cuidado com a vida dos atingidos, quando seu drama deixar de ser notícia na TV.”
ATUALIZAÇÃO DAS SEIS E MEIA DA TARDE
O Luís Prates mandou e-mail reconhecendo que talvez tenha se expressado mal no telefonema e que a cobrança foi inoportuna. Que bom, então, que chegamos a um acordo. Concordo com ele que é preciso que os associados mantenham-se em dia com sua entidade e ele concorda comigo que agora não era a hora para levantar este assunto.
Quanto ao evidente acirramento do racha entre as correntes de jornalistas sindicalizados, só espero que isto resulte na criação de duas ou mais chapas para a próxima eleição, que permita a oxigenação da luta sindical. E, até lá, se existirem fatos a respeito das gestões anteriores que precisem ser esclarecidos, como sugeriu o Prates em seu telefonema, que esclareçam logo.
8 comentários:
Cesar, acabei de receber telefonema identico, fazendo mensao a seu blog, mas eu fiz minhas argumentaçoes sobre a tragedia e o que estou fazendo e o que os outros blogs engajados estao fazendo, mas nao sei se vai surtir algum efeito positivo.
As unicas coisas que ouvi foi as mesmas que ouvistes.
É uma pena, cheguei a argumentar que varias entidades e sindicatos estao nesta luta, o que eu escutei foi, o que sindicato pode fazer?
como se nao tivesse mais nada a se fazer.
Mais uma vez é uma pena.
Só espero que em vez de eles terem uma reaçao de negativa, realmente tomem pra si a responsabilidade que todos estao tomando, indistintamente de que time é.
Todos sabem onde trabalhei, pra quem trabalhei, mas nesta hora nao estou distinguindo cor de bandeira nem uma, estou desarmado, só quero contribuir de alguma forma para ajudar quem precisa.
A babaquice de sempre Cesar. Pensei até em botar em dia, afinal sou jornalista. Mas como não exerço profissionalmente há longos anos o telefonema foi um estímulo a deixar as coisas como estão. Ranço, acusações (aliás, mal comportamento típico) choramingos rancorosos, dedo hipocrático, feldade biliar, tudo isso azeda qualquer um que tenha bom senso. Mas o tom demanda desprezo. Quanto à nota, vamos cobrar:
"não só na solidariedade concreta aos seus filiados que tenham sido vítimas da tragédia, cujo levantamento está sendo feito pelos diretores nas regiões".
Os diretores já mandaram alguma informação, afinal já passou mais de uma semana...??? que tipo de solidariedade será prestada???
Identificador de chamadas resolveria o problema todo e evitaria o domingo mais azedo. :)
Oração dos Catarinenses de Coração.
Santa Catarina de graça, beleza, força e parceira de Deus.
Rogai por nós.
Proteja-nos.
Deixai que nossos velhos, moços, crianças e visitantes, tenham força e coragem para enfrentar o que nos foi reservado.
Santa Catarina!
Rogai por nós, para que possamos vencer as intempéries, as cheias, os deslizamentos e façais com que todos, e todos nós, possamos aceitar e agradecer seus esforços,
junto ao Pai Eterno e a nosso Senhor Jesus Cristo.
Santa Catarina!
Rogai por nós, teus habitantes naturais, os que escolheram tuas mansas paisagens e teus domínios, e livrai-nos de todo o mal.
Amém.
****Repassem essa oração em favor do estado de SC e de tds as pessoas q hoje sofrem um calamidade dessa....
Obrigado...
Há moradores em Blumenau, Itajaí sem falar nos catarinenses.
Mas a maioria é de "adjacentes", sem dúvida a classe mais sacrificada.
Gaspar, Brusque, Luís Alves, ILHOTA, Pomerode, Timbó, Rio dos Cedros e outros "periféricos", são agora também adjancências.
Lutemos, pois, pela inclusão dessas "rebarbas" no mapa da tragédia.
Talves, aí, sobre "un$zinhos" prá tapar buracos.
Strix.
Adiamento judicial
A situação de crise em Santa Catarina é de tal proporção que o Tribunal Superior Eleitoral pode ficar sem condições de colocar em julgamento o processo que trata da cassação do mandato do governador Luiz Henrique.
O TSE examina a possibilidade de deixar o caso de SC para 2009, como forma de evitar novo sobressalto no Estado.
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
eSSA EU SABIA...O OMI TEM SRTE ATÉ C/ ADESGRAÇA DO POVO Q ELEGEU ELE....
Tio César. O Sindicato dos Jornalistas tá uma dor de cabeça só.
Era aparelho?
neguinho e branquinho pediam dinheiro e não estavam em dia?
Era um sindicato bem petista né não tio?
Mas que punhenta. Quem mais reclama são aqueles não sindicalizados. Ou seja, esses não têm direito a reclamar nada, pois não pagam, não podem chiar. E, alguns, precisam voltar à escola para dominar a língua pátria, que ainda é o português.
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