terça-feira, 2 de setembro de 2008

GRAMPOS A GRANEL

Esta é a Pátria do grampo. No dia 7 de setembro, D. Pedro I gritou “Independência ou Morte” à beira de um riacho, afastado da cidade, à frente de um pequeno grupo de soldados. E adivinha o que aconteceu? Foi grampeado e num instante todo mundo já sabia que a família real de Portugal tinha aberto uma franquia ao sul do Equador.

Durante o final de semana fiz enorme esforço para levar a sério esses episódios envolvendo grampos ilegais de autoridades da República. Mas não consigo. Me desculpem aqueles que acham que tem certas coisas sobre as quais não se deve fazer piada, mas essa história de grampos é a própria essência do país da piada pronta.

Pra começo de conversa, deixa explicar que embora tenha usado, para ilustrar lindamente esta página, grampos de roupa e de cabelo, eu sei que na origem da mais recente crise estão grampos de outro tipo. Aqueles que permitem que se ouça os telefonemas dos outros.

O grampo telefônico, no Brasil, é igual à tortura nas delegacias e nos camburões. Todo mundo faz de conta que não existe até que algum figurão é atingido e aí dá uma m... bem grande. E fazem cara de espanto, como se nunca tivessem ouvido falar ou nunca tivesse acontecido.

Colocar escuta no telefone dos outros é uma prática disseminada (ou vocês acham que tem até CPI do grampo por quê?). E, dependendo do caso, até tolerada, mesmo quando se sabe que não faz parte de nenhuma investigação autorizada judicialmente.

E ninguém (das “autoridades constituídas”) mete a mão no abelheiro, porque sabe-se lá o dia de amanhã, né? Vai que precise escutar algum desafeto...

O presidente Lula, mais uma vez, ficou quieto no seu canto o quanto deu. Anunciada a m... na sexta-feira, manteve-se em silêncio. Uma das vítimas do grampo, o presidente do Supremo Tribunal Federal, subiu nas tamancas já no sábado. Os senadores estavam indignadíssimos. Nada disso atrapalhou o final de semana do presidente.

Só ontem no final da tarde, depois de muita pressão de senadores, de ministros e de ministros dos tribunais superiores, decidiu-se Lula pelo afastamento da cúpula da Abin (sucessora do SNI). Mas, a seu estilo, afastou o diretor elogiando-o. “Lacerda é um homem de bem”, disse o presidente.

Por essas e outras que não dá pra levar a sério: afinal, quem é o culpado das indignidades e ilegalidades? O homem de bem que, a visível contragosto, Lula afastou? Ou algum grupo que estava em conflito com a direção afastada?

Os grampos não foram feitos por nenhum dos três Poderes. Todos negam. E todos também negam a existência de grupos fora de controle. Está tudo sob controle. Ora, então a culpa é, como sempre, da Veja. E se Veja mentiu, por que Lula afastou Paulo Lacerda e turma?

É mais um escândalo que provavelmente acabará como os demais. Apurações pela metade, punições indefinidas, um ou outro bode expiatório entregue aos leões. E daqui a alguns meses os arapongas legais e ilegais estarão de volta ao seu cansativo trabalho de escutar as bobagens que falamos ao telefone.

Eu, há muito tempo, falo ao telefone como se estivesse num auditório. Só digo coisas que diria em público. E olhe lá.

2 comentários:

Anônimo disse...

O presidente do executivo afastou o diretor da ABIN porque o presidente do STF requisitou que uma investigação fosse aberta nesse sentido. Agora, é de se espantar que o Gilmar Mendes se ache no direito de acusar a ABIN só porque uma revista que já possui um histórico de denúncias furadas (muitas delas baseadas em grampos) publicou uma matéria sem oferecer prova alguma.

Anônimo disse...

Seguindo a lógica do pedido do presidente do STF, ele mesmo deveria ter mantido o daniel dantas preso. Dois pesos, duas medidas!