sábado, 27 de setembro de 2008

O BALDE DE ÁGUA FRIA

Passado o primeiro impacto da decisão da juíza Ana Cristina Krämer, a sexta-feira amanheceu cinzenta, é verdade, mas sem as nuvens escuras do entardecer de quinta. A claridade do dia sempre ajuda a ver melhor o que nos cerca e também o que ameaça cair sobre nossas cabeças.

Há grandes possibilidades que a anulação do período inicial das escutas não venha a ter uma influência decisiva sobre a absolvição ou condenação dos que forem acusados. Há mais provas do que apenas aquelas escutas. E há escutas mais recentes, autorizadas pela Justiça Federal.

O que teria levado o juiz Sandri a não cumprir o rito que a juiza o acusa de não ter cumprido? Como não estou em Itajaí e o jornal traz reportagem sobre este assunto, com a palavra do juiz, não quis falar com ele. Mas trato de ir adiante: ouso formular uma hipótese sobre o que pode ter acontecido, mesmo sem ter conhecimento dos detalhes. Apenas olhando de longe e do alto da minha arrogância de palpiteiro profissional.

E se, por acaso, em tese, algum personagem, nas escutas, tivesse dito, como disse Daniel Dantas naquelas outras escutas, algo como “tenho os juízes na minha mão”? Dantas teria falado que tinha medo dos juízes de primeiro grau, porque nos tribunais superiores a coisa seria mais fácil. Então vamos admitir, para tornar verossímil esta hipótese, que exista, nas gravações, alguma coisa parecida. Isto poderia levar o juiz a temer que, se o processo caísse em outras mãos, as investigações poderiam perder força, interesse e nenhuma outra escuta seria autorizada.

Bom, mas isto é uma coisa que será resolvida em breve, com a confirmação ou reforma da decisão da juíza Ana Cristina, pelo Tribunal Regional Federal. O que existe de concreto, sobre o juiz Sandri, é que ele vem sendo ameaçado e em função disso não só mantém a Polícia Federal informada, como teve que tomar precauções de segurança. Sinal claro que, de uma forma ou de outra, ele mexeu em algum abelheiro. De abelhas muito grandes e ferozes.

NO RASTRO DA SUNDOWN
Os advogados dos suspeitos e indiciados da operação Influenza já estavam preparando recursos contra os grampos telefônicos, na mesma linha daquele que refrescou a situação da turma da Sundown: o entendimento dos tribunais superiores, que o grampo telefônico não pode ser renovado indefinidamente. No caso Sundown, os suspeitos de trambicagem financeira foram “ouvidos” por dois anos.

Animados com a “forcinha” dada pela juíza que anulou parte das escutas, os advogados anunciavam, ontem que já na segunda-feira entrarão com os recursos que pedem que todas as escutas sejam varridas para debaixo do tapete.

O balde de água fria, portanto, continua cheio e no alto das cabeças das pessoas de bem, pronto para ser derramado a qualquer momento, de um ou de outro jeito. Seja porque o juiz Sandri descumpriu a Lei, seja porque há precedentes de impunidade por causa de divergência na interpretação da Lei, seja porque, afinal, lugar de bacana não é mesmo na cadeia.

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