quinta-feira, 17 de abril de 2008

SINUCA DE BICO

Quem achou que o Brasil, com os biocombustíveis, entraria pacificamente no clube dos países muito ricos e que as zelites e os governantes nadariam facilmente em dinheiro, errou.

Não se substitui área plantada com alimentos por área plantada com cana ou outra matéria-prima energética assim, de graça e sem pagar um alto preço (econômico e político). Da mesma forma, não se substituem áreas de floresta nativa por monoculturas (seja soja, seja cana) sem que a natureza se manifeste.

E é claro que a cupidez, a ganância e a cegueira provocadas pelo lucro fácil tendem a menosprezar todos os avisos que o bom senso emite. Tal e qual as piadas de bordel, ficam dizendo, para que os ingênuos acreditem, que vão colocar só um pouquinho de cana. Que haverá coexistência tranqüila entre a produção de alimentos e a produção de biomassa para geração de energia. Pois sim.

A choradeira, se interna, é classificada de despeito dos que não aceitam que o governo Lula está “dando certo”. Se externa, rotulada como gritaria dos concorrentes, que não querem deixar que o Brasil se transforme numa potência inigualável.

Bom, mas em todo caso, as advertências continuam: “A produção em massa de biocombustíveis representa um crime contra a humanidade por seu impacto nos preços mundiais dos alimentos”, disse esta semana o relator especial da ONU para o Direito à Alimentação, o suíço Jean Ziegler, em entrevista a uma rádio alemã, segundo conta a agência France Presse.

O presidente Lula, ontem, bem a seu estilo, disse que “é muito fácil alguém ficar sentado num banco da Suíça dando palpite no Brasil ou na África”. E que o aumento de preço dos alimentos se deve ao fato dos mais pobres estarem se alimentando melhor.

São questões muito interessantes e polêmicas, que convivem com a defesa que tem sido feita, do uso de biocombustíveis, largamente menos poluentes que os combustíveis fósseis (petróleo). E, para que a fogueira fique ainda maior, podemos também adicionar as denúncias de que, para produzir álcool, usinas brasileiras estão queimando carvão vegetal, o que favorece o desmatamento. Ou que exploram os trabalhadores, submetidos a rotinas desumanas.

É dura a vida na economia globalizada. Só espero que os brasileirinhos estejam se dando conta que, para ter sucesso e melhorar seu belo País de forma que seus habitantes beneficiem-se com a melhora, é preciso mais do que apenas malandra esperteza e jeitinho para burlar as leis.

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Atualização da madrugada: Dá uma olhada nesta foto aqui pra entender por que os suecos estão porraqui com o etanol brasileiro. Ah, e a Sandra Paulsen, brasileira que mora na Suécia (e publica Cartas de Estocolmo no blog do Noblat) ajuda a explicar melhor:
Cartas de Estocolmo
O Brasil na imprensa sueca

A imagem do Brasil na imprensa sueca de hoje me deixa triste.

Digo isso porque acabo de assistir, na televisão, a um programa sobre as condições de trabalho nos campos de cana-de-açúcar em São Paulo e no Nordeste, com o título: “Eles se matam pelo nosso etanol”.

Uma viúva conta sobre suas condições de vida depois que seu marido faleceu, após um dia cortando 17 toneladas de cana. Um trabalhador descreve o dia-a-dia na lavoura e uma religiosa apresenta a lista de mais de 20 cortadores falecidos nós últimos três anos, no Estado de São Paulo. A maior parte deles de infarto e esgotamento.

A repórter também entrevista menores, de 13 e 15 anos, que trabalham no corte da cana. Depois, telefona para a empresa que, é claro, nega a contratação de menores. Fica confirmado, assim, que a legislação não é seguida e que os menores trabalham clandestinamente.

No programa, vemos também o ministro sueco da agricultura sendo entrevistado e inquirido se continuará a comprar etanol importado do Brasil para abastecer seu veículo.

O acordo assinado quando da visita do Presidente Lula a Estocolmo, no último outono, também é trazido à discussão. O ministro é perguntado por que razão o governo sueco não discutiu, no momento da assinatura do acordo, as condições de trabalho dos cortadores de cana.

2 comentários:

Sergio Rubim disse...

Caro Cesar,
agora entendi porque os suecos estão porraqui com o etanol brasileiro. Fui lá no blog.
É fácil!

Anônimo disse...

Mas Lula conseguiu um de seus objetivos, como salientei no meu post de ontem: conseguiu um assento para o Brasil na ONU. Só que no banco dos réus... Abração.