Imagino que todos saibam que o trigo (Triticum) é uma semente, ou grão, aplicada no fabrico de pães e massas. Uma coisa útil, portanto.
E o joio, caso não saibam, é uma planta gramínea (Lolium Temulentum) que nasce entre o trigo, parece até com o trigo, mas o danifica. Uma legítima erva daninha, ou erva danadinha, como dizia minha filha quando pequena.
E o problema principal é que, ao crescer, o joio se enraiza com o trigo. Se for simplesmente arrancar o joio, provavelmente danificará o trigo. Situação difícil. Por isso, o fazendeiro da parábola diz para esperarem até a colheita, quando poderão, então, separar o joio do trigo.
Parece óbvio, portanto, que o surgimento do joio, de alguma espécie de malfeitor, é inevitável. Sempre tem um trapaceiro, um picareta, um mala qualquer. E nem sempre é fácil saber quem é quem. Mas tem que ter uma hora, em que essa distinção seja feita.
Explicada a parábola de origem agrária para esta gente urbana, vamos ao fato em si, sobre o qual acho que ela se aplica.
Nos vários bairros de Florianópolis (e de tantas outras cidades) há, aqui e ali, pequenos jornais honestos, feitos com capricho, por gente dedicada a servir à sua comunidade. São o trigo.
Nos mesmos lugares, ou próximo, surgiram alguns jornais carregados de má intenção, voltados exclusivamente para o lucro fácil. Picaretagens em cujas páginas não há outra coisa a não ser matéria paga. Vivem exclusivamente de sugar anunciantes, em especial aqueles que usam dinheiro público. São, evidentemente, o joio.
Tal como na parábola, sempre que surge uma denúncia de mau uso do dinheiro público nesses joios, os governos retiram seus anúncios também do trigo. E até a população, lograda às vezes por um joio, deixa de confiar no trigo.
Gostaria de apelar ao espírito humanitário e cristão dos governantes e dos empresários da capital, para que recomendem a seus homens e mulheres de comunicação que leiam a parábola que reproduzo ao lado. E depois façam um exame criterioso de consciência e da planilha de distribuição de anúncios dos governos e das empresas estatais e privadas.
Vejam lá (não é preciso muito esforço, basta folhear um ou dois exemplares de cada jornal), se os verdadeiros jornais de bairro, os que têm compromisso duradouro com suas comunidades não estão morrendo à míngua, enquanto que aqueles criados momentos atrás, exclusivamente para mamar nas vossas tetas o doce e morno leite do dinheiro público, engordam a olhos vistos.
Agora gostaria de me dirigir diretamente ao LHS e ao Darío: vocês dois têm secretários de Comunicação que são do ramo e que, se quiserem, podem perfeitamente identificar o que é joio e o que é trigo. Não deixem que os malignos oportunistas que vivem cercando o Poder lancem seus encantos e obscureçam as vistas de quem distribui as verbas.
Um anúncio publicado num jornal de verdade, que tenha credibilidade junto a seus leitores, é visto por leitores de verdade e produz efeitos reais. Ao passo que um anúncio publicado numa arapuca caça-níqueis compromete o anunciante. Mancha sua reputação, porque passará a ser conhecido como financiador/cúmplice de um joio indesejável.
Aqui, no mundo material e imediato, a colheita se dá nas eleições. E, aos poucos, o cidadão vai aprendendo a separar o joio do trigo. É de todo prudente, portanto, que aqueles governantes que são realmente bem intencionados tratem de olhar com atenção se não estão nutrindo e engordando o joio e matando o trigo.
O DINHEIRO ABUNDA
Recuso-me a admitir que a facilidade com que os joios engordam e a dificuldade que o trigo encontra para manter-se de pé seja algum preconceito contra jornais e jornalistas, que acabe favorecendo aventureiros de boa lábia.
E não deve ser falta de dinheiro. É apenas má distribuição. Ou generosidade mal dirigida.
Aliás, já que estamos falando em jornais, o Diário Oficial do Estado de 15 de fevereiro, publica a renovação de assinaturas, pela Secretaria da Educação, dos jornais da RBS, pela bagatela de R$ 2,6 milhões (aumentinho de apenas 30% em relação à última renovação).
A idéia de permitir às escolas acesso a jornais era boa: cada escola teria jornais da sua região. Poderiam discutir as notícias locais e a forma como são apresentadas. Mas, no estado da descentralização, centralizaram a coisa: as escolas não têm acesso aos jornais locais e regionais (que são algumas dezenas). Apenas aos jornais da RBS. E da RIC.
Até quando os maltratados trigos independentes que florescem nos bairros da capital e em alguns municípios continuarão longe das salas de aula, afastados do bolo publicitário, esmagados pela insensibilidade política e postos na fogueira equivocada das vaidades míopes?
O 25 tipo de Novembro: redação do ensino bué básico.
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A setôra explicou que o PS já não é tecnicamente fascista e está bué à toa
de ter sido. O PS, que agora é “cool” e mano dos democratas do PCP e do BE,
pe...
Há 3 horas
6 comentários:
Tio César,
Parabéns por continuares na luta contra a tirania estabelecida no poder de SC e cercanias!
Certamente poucos colherão o trigo separado do joio, por isso “Grande é a messe, mas poucos são os operários”.
Parabéns, novamente, operário da messe!
Bela e oportuna dissertação, César. Se o dinheiro público na mídia já é um problema, imagine quando entra o joio na jogada.
Há publicações que existem apenas em função do dinheiro público. É o joio semeado pela mão da política, o mais "danadinho" deles. Essa erva nasce e cresce bem em Floripa e no Interior.
E não são apenas jornais, como bem abordou o Vitor Santos no site "A Política Como Ela É", mostrando os entrelaces da revista Perfil Magazine e Governo do Estado.
Mas, deixando os inços de lado, o bolo publicitário é muito grande diante das reais necessidades de veiculação do serviço público. Esse bolo tem a força de um quinto poder. Ou seja, o bolo é a arma do Executivo para ter ao seu lado (calar)o quarto poder. Basta conferir contratinhos como esse da Sec. da Educação e outras "parcerias", para compreender a conduta editorial. Nesse caso é o trigo em alta escala das grandes lavouras. Com subsídios, é claro.
Eu tenho uma parábola boa também: editores são aqueles profissionais que separam o joio do trigo. E publicam o joio.
TUA PERGUNTA: Até quando os maltratados trigos independentes que florescem nos bairros da capital e em alguns municípios continuarão longe das salas de aula, afastados do bolo publicitário, esmagados pela insensibilidade política e postos na fogueira equivocada das vaidades míopes?
A RESPOSTA: Até o dia em que, como os beneficiados pelos contratos, se sujeitarem a publicar matérias enviadas pelas Assessorias de Imprensa, tal e qual são escritas.
E aí, não serão mais independentes.
Anilse
Perfeito entendimento quanto a propaganda institucional na antecipação de tutela de processo contra o prefeito Dario. A gente se pergunta porque o Ministério Público não toma atitudes quando a sociedade inteira e os juízos sabem que de propaganda institucional não existe nada. Esse dinheiro faz falta na segurança, educação e saúde. São montanhas de dinheiro com propaganda PESSOAL. Se cada um de nós fizesse algo para impedir a propaganda que não é institucional, denuciasse ao Ministério Público, quem sabe nosso Estado cumpriria melhor seu papel. Cada um de nós temos a resposansabilidade de colocar um "tijolinho" nas mudanças já que a quem compete não vemos disposição. É muito triste ver milhões de reais sendo gasto com a promoção de políticos enquanto milhões de pessoas ficam sem a presença do Estado em áreas como a segurança, saúde e educação. Será que por um segundo na vida eles não param e pensam " o que estou fazendo? o que fiz com milhões de pessoas que precisam de mim? Quem sabe que um dia sejam tocados por aquele que realmente tem poder já qeu pelas mãos dos homens as atitudes não acontecem.
E quem tem tempo para ler os jornais nas escolas?
Já fez uma pesquisa?
Mesmo chegando bem cedo para dar uma vista d'olhos( que ler mesmo...),os jornais DC e AN vão primeiro para quem??
Para as diretoras e demais fora de sala de aula...Lá pelo meio-dia é que vai para a sala dos professores, já remexidos,e quem quiser que escolha entre forrar o bucho(esquentar a comida que leva e lavar panelas e pratos) e ler o jornal...quem não fica preso na escola e vai para outra(s)não lê nem o horóscopo...Sem falar que não pode levar para sala de aula e fazer leitura com alunos...De fato, a zona fica pior do que já é de hábito.
Quem quiser que leia on line, em casa, ou compre.
O tal convênio é só pra encher as canastras das donas Beijas do Jornalismo.
Lia
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