quarta-feira, 3 de outubro de 2007

TÁTICAS URBANAS

“Primeiro a gente mata os arquitetos”
(Texto e ilustrações surrupiados do The New York Times, de 9 de setembro, como uma contribuição para o debate sobre urbanismo em cidades situadas em ilhas. Tradução feita por mim mesmo. Para ler o original, “First we kill the architects”, é só clicar aqui.)

Por Danny Lyon*

Pediram-me para ajudar a desenhar uma cidade. Estou orgulhoso. No passado, este era um trabalho para imperadores e reis. Mas é claro que hoje as coisas são um pouco mais complicadas. Tendo usufruido de uma educação em escola pública municipal de Nova Iorque, 65 anos de vida, e com a paz de espírito necessária para pensar claramente que tenho hoje, morando numa fazenda, onde cultivo meus próprios vegetais e peixes, recomendo o seguinte:

1
Primeiro a gente mata os arquitetos.

2
Daí, queima os shoppings. (Seguindo o exemplo de Alexandre, a gente mantém as livrarias e os cinemas, como ele preservou a casa e a biblioteca de Píndaro, quando queimou Tebas.)

3
Redução de impostos e incentivos fiscais para todas as pequenas empresas que quiserem construir sobre as cinzas ou se instalar no centro.

4
O uso de bicicletas é estimulado.

5
Apenas veículos movidos a eletricidade são permitidos. (Muitas cidades na China já baniram as motocicletas. Apenas as elétricas são permitidas)

6
Deixe a escavação do World Trade Center exatamente como está e use o espaço como um tanque de água doce, cultivado com lírios aquáticos rosa, brancos e amarelos. Encha-o com vários tipos de peixes (bass, sunnies, fat-head minnows) e tartarugas. Pesca permitida só para crianças até 12 anos. (A água doce pode ser bombeada do subsolo, do pântano do Beckman [Beckman’s Swamp], que está enterrado sob as ruas a leste). Uma pequena estátua do Voltaire deverá ser instalada ali, também.

7
Dez por cento de toda a área da cidade deve ser de campo aberto, onde você pode “tocar a terra”. Se isto não for espaço suficiente, podemos demolir os bancos e transformá-los em campos de flores e grama nativos. Um quarto do espaço livre será usado para cultivar verduras.

8
Mascotes são permitidos em todos os edifícios.

9
Polícia do celular, com galões bordados com as palavras “Polícia do Celular”.

10
Incentivos fiscais e prêmios em dinheiro de até US$ 10 mil, para cada pessoa trazida do Outro Lado. Qualquer cidadão que tenha um amigo que seja criminoso, prostituta ou viciado/traficante de drogas e consiga, pela amizade, exemplo, emprego ou estímulo, transformar tal pessoa em um cidadão útil e não predador, receberá o prêmio. Não há limite para o número de pessoas que você pode trazer do Outro Lado, nem para a soma que você poderá ganhar nesse programa social beneficente. Boa sorte.

===============================
* Danny Lyon é fotógrafo, autor de livros como “A Destruição do Baixo Manhattan”, com trabalhos expostos no Museu Whitney de Arte Americana até novembro. Este ensaio faz parte do livro “Quadra a Quadra: Jane Jacobs e o Futuro de Nova Iorque” (Block by Block: Jane Jacobs and the Future of New York) que foi lançado em setembro pela Princeton Architetural Press, simultaneamente com uma exposição na Municipal Art Society. Ilustrações de Stuart Goldenberg.

Nenhum comentário: