terça-feira, 23 de outubro de 2007

ESPERANDO O QUÊ?

A censura, como a ditadura, nos assusta e causa, no começo, uma certa paralisia. Mais por causa da perplexidade do que por covardia. Passado o impacto, assimilado o golpe, é bom começar a pensar e entender o que está acontecendo.

Não sou advogado nem estudo essas coisas, mas tenho a impressão que várias decisões judicias mais ou menos recentes demonstram um entendimento, que pode estar se popularizando, sobre a natureza perigosa (para os outros) do jornalismo.

Em qualquer saite ou blog que publique alguma nota falando contra a censura aos meios de comunicação sempre aparece alguma voz, nos comentários, lembrando os males que as notícias falsas ou mal apuradas podem causar.

A pressa em publicar um fato quente, forte, sensacional, somada a uma certa dose de, digamos, desleixo com o bom nome que todos merecem ter até prova em contrário, tem causado – impossível negar – muitos prejuízos pessoais e econômicos.

O jornalismo e os jornalistas brasileiros, que deveriam enfrentar essas fragilidades e pontos obscuros do exercício profissional com coragem e clareza, passam por um momento de desorganização. Estupefatos, talvez, com a dimensão da crise econômica que atinge a todos nessa área.

Fracos, desorganizados, sem confiar na Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) e sem direito a uma Ordem ou Conselho (como têm a medicina, o direito e a engenharia), os jornalistas e o jornalismo não têm conseguido assumir o controle das discussões sobre sua própria existência e forma de atuar.

Não surpreende, então, que os juízes comecem a achar que devem colocar um pouco de “ordem” nessa casa de ninguém. E aceitem teses – normalmente absurdas – que solicitam uma intervenção prévia “antes que o mal maior e irreversível seja cometido”.

Todos sabemos que os desmentidos, as erratas, as correções na edição seguinte, têm efeito limitado. Ainda mais agora, quando uma notícia incompleta ou falsa pode ser reproduzida rapidamente pela Internet, a possibilidade de dano é enorme e a correção ou retificação praticamente impossível.

A discussão precisa começar urgentemente. Porque estão sobre a mesa, até agora, apenas duas opções: uma é tornar rotineira a prática de obter na justiça a tutela antecipada do conteúdo, institucionalizando a censura prévia; outra é rever práticas e procedimentos profissionais, organizar-se, encontrar formas dos próprios profissionais determinarem os limites éticos e cobrarem a atuação adequada de seus colegas.

É um caminho muito difícil (a fogueira das vaidades, os egos intumescidos...). Mas talvez este seja o momento: estamos literalmente na pior. Faltam empregos, salários e o judiciário começa a tirar-nos a liberdade. Tá esperando mais o quê?

Um comentário:

Anônimo disse...

Cesar, parabens por levantar um tema tão espinhoso. Estive quase 34 anos em veículos de comunicação e agora, transitoriamente, estou como agente público. Não tenho a solução, mas certamente a discussão colocará todos em uma situação melhor e fortalecerá a democracia.
Derly Massaud de Anunciação