sábado, 27 de outubro de 2007

OPOSIÇÃO É OPOSIÇÃO

Aquele artigo do Alon Feuerwerker que transcrevi aqui, no começo da semana (na edição de terça-feira, dia 23), falando da oposição (“Se o Brasil tivesse uma oposição”) fez o maior sucesso. Só pra relembrar, começava assim:
“Qual deve ser, em tese, a atitude esperada de um partido de oposição? Fazer oposição. E por quê? Porque quanto mais forte estiver o governo menos provável será que a oposição chegue ao poder. Acho que vem do tempo do regime militar a nossa mania de adjetivar a oposição. “Responsável”, “autêntica”, “propositiva”, “moderada”. Haja adjetivos. Oposição é oposição, e ponto final. Ela é contra o que o governo propõe, por definição.”
O artigo foi escrito, naturalmente, pensando na situação nacional. E acho importante trazer a discussão para a situação estadual. Também nos estados (e nos municípios) seria bom para a democracia que alguém fizesse oposição.

E, como muito bem lembrou o Alon, sem a hipocrisia das adjetivações.

Quando o deputado Manoel Mota (líder do PMDB na Assembléia) reclama dos discursos do Ponticelli e de outros pepistas, dizendo que aquilo não é oposição, que oposição não seria ofensiva, ou insistente, ou chata, na verdade parece que está sonhando com um mundo ideal, onde não haja oposição.

A tal “oposição construtiva” que todo governo deseja, nada mais é do que uma manifestação própria de aliados. Porque só aliados têm o dever de contribuir para que as ações de governo dêem certo. Oposição, como ficou claro no artigo do Alon, existe para mostrar que o governo não sabe governar.

E aos deputados da situação resta ter habilidade para demonstrar que o governo sabe governar, de tal forma que o eletor perceba que a oposição está errada. Só não vale dizer que o erro está no fato da oposição fazer... oposição. A tática de desqualificar o oponente é geralmente usada por quem não tem argumentos sólidos de defesa.

Os eleitores deveriam ter a possibilidade de fazer “recall” de seus candidatos, sempre que eles dessem defeito.

Um dos motivos mais claros de recolher um deputado ou vereador ao seu pijama e à sua casa de praia, tirando-o da tribuna, deveria ser quando ele, na oposição, começasse a fazer as tais “críticas construtivas”, a falar em “oposição propositiva” e a fazer discursinhos água com açúcar.

Estes são sinais claros de adesismo. Mostram que o parlamentar, por incompetência ou excesso de apetite, cansou da vida dura da oposição e quer colaborar com o governo.

A vida na situação também não é fácil. Estar no governo, fazer parte da tal base aliada, significa ter o telhado de vidro, e, às vezes, até as partes pudendas expostas na janela. Exige talento, coragem e, principalmente, inteligência democrática, fazer com que as pedras da oposição não trinquem as telhas.

Todo político verdadeiramente democrata sabe que este é o jogo: a oposição tem as pedras e a obrigação constitucional de jogá-las; a situação tem o telhado e a obrigação constitucional de mantê-lo íntegro e transparente.

Portanto, senhores e senhoras, não cabe à oposição manter a integridade do governo. Nem cabe à situação esmigalhar as próprias vidraças. O resto é conversa pra boi dormir.

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