Na semana passada ganhei um presente espetacular: o livro “Esquinas da minha ilha”, do Alexandrino Barreto Neto (o Xandoca). E foi o próprio autor que me mandou um exemplar autografado. Tinha ouvido falar, mas não tinha lido. E nem conseguiria ler tão cedo, porque a edição (de 2001) está esgotada.
O Xandoca, ao ler aqui a crônica sobre a Felipe Schmidt, as colegiais e as calotas dos fuscas, achou que eu mereceria conhecer os esquineiros e fez a gentileza. Mergulhei no livro assim que chegou e só o larguei ao terminar. O autor, caso vocês não tenham relacionado o nome às artes, é um dos fundadores do Clube Paineiras, da Orchestra Philarmônica Desterrense (a grande e original atração do carnaval da Ilha), radialista dos tempos do Campo da Liga e da Anita Garibaldi, entre outras memoráveis atividades.
Acho que todos os que ainda não o leram deveriam fazer fila na esquina da Editora Lunardelli, para pressionar por uma nova edição, como quem exige a preservação de um patrimônio histórico. Ia até fazer uma resenha, mas aí vi que o Alfredo Gentil Costa, ele próprio um personagem do livro, disse tudo no texto que foi publicado nas orelhas (do livro). Reproduzo-o a seguir (logo abaixo do mapa que indica a esquina onde tudo começou – se clicar sobre o mapa, abre-se uma ampliação), para deixá-los babando de inveja:
“Entre as muitas esquinas de Florianópolis, uma ocupa um lugar especial nas minhas lembranças da mocidade. Ali, no encontro das ruas Anita Garibaldi com Saldanha Marinho, onde hoje existe um moderno prédio de escritórios, reunia-se uma turma de rapazes de idades variadas, para bater papo, falar da vida alheia, discutir futebol, contar proezas e jogar baralho de quarteto.
O autor deste livro, meu primo Alexandrino Barreto Neto, o nosso Xandoca, o irmão mais moço e, o saudoso João Batista “Caterva” Barreto, o Abílio Noronha; o Alceu “Tico” Mendes, o João Batista Ribas, o Rui Gonçalves, o Cláudio “Cocha Branca”, o José Roberto “Zé Bia” Peixoto, o João Moura Neto eu e alguns outros “habitues” sentados na calçada e encostados no muro da casa da família Fialho, à sombra de velhos pinheiros e ciprestes, passávamos horas a fio na mais pura e ilhoa malandragem.
No outro lado da Saldanha Marinho moravam os Curi, Michel e Zé, que, embora um pouco mais velhos, às vezes tomavam parte naquela confraria de desocupados.
De vez em quando saía uma “pelada” ou uma partida de “bola de mão ou taco, ali mesmo na rua, até porque o trânsito se resumia à passagem do ônibus “Circular” da empresa do “seu” Frederico Veras. que descia a Anita Garibaldi de meia em meia hora, e a esporádica presença de algum automóvel ou carro de cavalo.
À tarde, logo depois do almoço, passava o caminhão da fábrica de gelo do Hoepcke, deixando de casa em casa aquelas barras grandes que eram usadas nas “geladeiras” antigas.
Pois este livro do “Xandoca” tem, para mim e para todos que viveram aquela época nas tantas esquinas de Florianopolis, um sabor todo especial de saudade gostosa dos tempos em que não havia televisão e se tinha mais tempo para os amigos.
O que ele retrata, com a graça tão típica do falar ilhéu, são experiências vividas pelo autor ou por figuras conterrâneas e contemporâneas da Florianópolis dos anos cinqüenta e sessenta, numa época em que o Máximo da diversão era assistir as intermináveis sessões de faroestes e seriados do Cine Roxy, nas tardes de sábado, ou dançar de rosto colado no “Encontro dos Brotinhos” de domingo, no Clube Doze da João Pinto, ao som da orquestra do maestro Castelan.
Durante a semana, além das aulas, freqüentavam-se as esquinas, “inticava-se” com o Corvina e com a “Barca a Quatro”, jogava-se botão, soltava-se pandorga, ou se programava uma “excursão’” ao alto do Morro da Cruz.
O “Xandoca” , com seu jeito especial de contar essas histórias, resgata a memória de figuras que marcaram a Florianópolis daqueles tempos, como o Nego Querido, o Adolfo e outros que tais.
Assim, se o leitor viveu aquela época e conheceu os personagens, tanto melhor; e, se for mais moço, certamente valerá a pena saber como nós, os moços daquele tempo, “curtíamos” a vida...
Alfredo Gentil Costa
Professor de Inglês da UFSC – Aposentado”
Um aperitivinho do que vocês podem encontrar no livro: três esquineiros com uma fantasia improvisada, para entrar no Baile Municipal, do Doze, que exigia smoking ou fantasia de luxo. Eles conseguiram até ser premiados pela “originalidade”, com os “Satânicos do dr. No” (referência ao sucesso cinematográfico da época). Irreconhecíveis debaixo das camadas de graxa de sapatos preta Nugget, misturada com pomada Brüggeman, desfilaram o Xandoca, Antônio Romeu Moreira e o Cabrita (Paulo Brito).
Ah, queres saber quem são aqueles que estão na capa do livro? Segundo o Xandoca, “eles também 'escreveram' um pouco da história da Ilha”.
1. Alfredo Gentil Costa; 2. Tico Mendes (filho do Cel. Mendes); 3. Alexandrino Barreto Neto (o Xandoca, autor do livro); 4. José Roberto da Silva Peixoto (Zé Bia); 5. Rui Neves Gonçalves; 6. Cláudio Silva (filho do Osmar, ex-gerente do Cine Ritz); 7. João Batista Barreto (“o melhor baterista do mundo”) e 8. João Batista Ramos Ribas (filho do Cel. Lara Ribas).
E não esqueçam de cobrar da Editora Lunardelli a reedição do livro.
Um comentário:
Quantos ainda estão vivos? todos bem, como direi?, apessoados, né?
Lia
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