As bancadas do PT, PP e PV criaram um espaço para ouvir, na manhã de hoje, o dono da revista Metrópole, Nei Silva. Da base do governo o único deputado que apareceu por lá foi o Edison Andrino, mas não ficou muito tempo nem fez perguntas. Na mesa, além de Nei, os líderes das bancadas que promoveram a conversa (Sílvio Dreveck do PP, Pedro Uczai do PT e Ivan Naatz do PV).
Presente ao depoimento de Nei Silva, o delegado Renato Hendges animou a festa. O depoimento do dono da Metrópole, em si, não teve novidades, exceto o fato de permitir que se ouvisse, de viva voz, o que estava escrito no livro, com poucos detalhes a mais.
Na foto o delegado é aquele de braços cruzados e jaqueta marrom, ao lado do Paulo Alceu, atrás do deputado Jandir Bellini.
Rolou um certo frisson no auditório às 9:54h, momento em que o delegado entrou. O depoimento já tinha começado. Bem humorado, Renatão sentou perto do jornalista Paulo Alceu. Um zum-zum que tinha circulado pouco antes do depoimento iniciar, falava que estaria sendo preparado o retorno do Nei à prisão. Ficou um climão na sala até o Adelor Lessa, da rádio Som Maior e do jornal A Tribuna, de Criciúma, perguntar ao Nei se a presença do delegado o constrangia.
Nei disse que não se sentia constrangido, porque até fez amizade com o delegado, no tempo em que esteve preso. “Prova que foi bem tratado”, disse Renatão. Todos riram e a coisa aliviou. Mas aí surgiu outra questão, a história daquele documento fajuto que levaram para o Nei, na manhã da prisão em flagrante. Era um papel do governo e o carimbo, sob a assinatura, era do secretário Ivo Carminatti, mas a assinatura não era dele. Alguém falou que a “assinatura teria sido falsificada pelo delegado”.
O delegado então pediu a palavra e explicou que estava ali justamente porque achava que alguém poderia citá-lo. E explicou que não houve falsificação da assinatura: “assinei ali o meu próprio nome”. O objetivo do papel era ajudar na configuração da extorsão que o governo estaria sofrendo. Um recurso, que segundo o delegado, nada tem de ilegal, necessário para que a polícia pudesse realizar seu trabalho. Na hora de receber o dinheiro, Nei topou assinar o que o ex-secretário Armando Hess lhe entregou para assinar e como um dos papéis era a quitação, teria que haver um outro, do governo, fechando o negócio, como contrapartida. Esse, “do governo”, é que foi assinado pelo delegado e está nos autos do processo.
O delegado aproveitou para esclarecer sua posição (“não sou filiado a partido nenhum, nunca tive cargo comissionado, não estou aqui para defender o governo”) e leu trecho de um texto que ele escreveu no inquérito que encaminhou à justiça (na foto acima, ajudado pelo Paulo Alceu, que segurou o microfone, o delegado lê o que escreveu nos autos).
Ao terminar de ler, sintetizou o caso com a sabedoria de 40 anos de vida policial: “parece aquela história do sujeito que quer receber dívida do jogo do bicho na Justiça”. Claro, basta folhear as revistas para ver que ali existem indícios de ilícitos e imoralidade. Era um acerto feito à margem da lei, para atividades tão ilegais que o Tribunal Superior Eleitoral aceitou examiná-las para decidir se será o caso de cassar o mandato do governador. Desse mar já por si só proceloso, emerge, a certa altura, o Nei Silva e suas cobranças. Cobranças relativas a um calo muito dolorido e incômodo.
De todas as dúvidas levantadas na conversa de hoje, acho que tem uma que continua sem resposta satisfatória: por que o livro? Se os pagamentos estavam sendo feitos (veja cronograma abaixo), por que distribuir o livro? É óbvio que a publicação daquele material iria causar um problema ainda maior.
Até agora a única explicação plausível é a que nos dá o próprio delegado: Nei queria mais. No momento em que tinha sido acertado o pagamento de cerca de R$ 330 mil da dívida que inicialmente era de R$ 500 mil, a conta mudou. Foram acrescidos “lucros cessantes” e outros penduricalhos, fazendo com que a pedida tivesse pulado para quase R$ 1,5 milhão. O livro serviria como acesso a esse novo patamar. E o processo de extorsão se fundamenta nesse momento em que “o olho teria crescido”.
Mas aí, na minha cabeça, o problema embaralha novamente: não teria por que distribuir o livro. Talvez entregar cópias ao próprio governo, para demonstrar o tipo de coisa que ele estaria disposto a contar. Por isso que, embora o Nei diga que foi ele mesmo que mandou distribuir cópias aos jornalistas, acho que alguma coisa saiu do controle. Perguntei a ele como a distribuição do livro se enquadraria no esquema de cobrança e ele não respondeu claramente. O fato é que a publicação do livro, aqui neste blog, causou um cataclisma: os pagamentos mensais que ele vinha recebendo foram suspensos, o governo pediu socorro ao Renatão, que identificou, nas diligências que fez, indícios de extorsão e deteve o elemento.
Mas também é fato que a prisão do Nei deixou o governo em situação extremamente incômoda. O assunto rende a cada dia um fato novo, ganhou uma exposição espetacular e por mais que o deputado Herneus de Nadal (PMDB) se queixe de falta de espaço para a defesa do governo, nada de consistente foi produzido para contestar a lama que foi colocada no ventilador. E se tiver alguém do governo com algo a dizer sobre o caso (além da história de “dar corda pra ele se enforcar”), é claro que somos todos ouvidos.
Um leitor tinha perguntado, nos comentários, sobre o cronograma de pagamentos ao Nei. Vamos lá:
Junho de 2006: R$ 40 mil
Outubro de 2006: R$ 40 mil (estes dois pagamentos iniciais, segundo ele, foram feitos pelo PMDB).
5 de setembro de 2007 (dois dias após LHS ter mandado incinerar a revista “A Força do Sul”): R$ 40 mil
31 de janeiro de 2008: R$ 90 mil
29 de fevereiro de 2008: R$ 42 mil
30 de março de 2008: R$ 42 mil
30 de abril de 2008: R$ 42 mil
E no dia 2 de junho, quando tinha acabado de colocar a mão nos R$ 42 mil referentes ao pagamento de maio, foi preso. E ficou sem essa parcela.
Total recebido, se a calculadora não me falha: R$ 336 mil. E isto só na, como direi, “segunda fase”, quando eles foram proibidos de ir “levantar recursos” junto a fornecedores do governo.
Caracas! R$ 336 mil! É bastante dinheiro, né não?
11 comentários:
No futuro os historiadores citarão este curto período da vida pública catarinense como a "Era Descentralizadora de LHS". E serão abordados dois personagens: Marlene Rica e Nei Silva.
O que começou na Marlene Rica está terminando com o Nei Silva.
Concordo com tudo, mas pode acreditar que vai sair um enorme e seguro acordo, por baixo do pano e fica o dito pelo não dito!
Eu também estava na assembléia hoje e pra mim, quem matou a pau, foi o Joares Ponticelli quando disse que diferentemente do governo, os bicheiros eram sérios, pois pagavam suas dívidas.
Sinceramente, não me importa qual a motivação do Nei Silva para escrever o livro, nem se ele fez algo certo ou errado ou se ele queria ou não mais dinheiro. O que importa é que a imoralidade e a sacanagem do governo LHS vieram a tona, e é isso que deve ser investigado.
Merreca. Grana tá rolando lá com o Dantas.
César,
Obrigado, e os recursos junto aos fornecedores???
Ô 8:50, aí é dinheiro privado, que ele não conta (e talvez nem contabilize direito). Teria que pegar cada revista e fazer uma estimativa, em cima dos anúncios e das matérias.
Meu Caro Cezar.
Sou leitor assiduo de seu Blog,tenho o total respeito por vc como jornalista, mas tenho que discordar de vc nesta questão.Eu estava presente no Plenárinho, e na minha opinião, quando foi levantando a questão do Delegado Renatão ter assinado um documento sobre o carimbo do Ivo Carminati(o que pra mim, é falcificação nua e crua), ele tremia como vara verde, tanto que o Paulo Alceu teve que segurar o microfone para ele, sem falar nas gaguejadas, totalmente ao inverso do Nei Silva, que foi firme e não trasnpareceu nenhum nervosismo. Acho que o Renatão não matou a pau, mas quase levou umas pauladas verbais do plenário!
é merreca mesmo perto dos 3 milhões de reais em assinaturas do DC e da revistinha dos Petrellis para secretaria de educação.
Coisa de amador!
Antônio Carlos
Peraí, César !
Pode até ser dinheiro privado, mas:
1º- acontece é que a justiça eleitoral proibiu a propaganda da descentralização e foi proposto esse desvio através da Metrópole
2º- foi uma forma combinada com o governador em Itá, e ele viu, gostou e mandou os secretários acionarem as empresas que recebem do governo para pagarem
3º- que interesse teria a iniciativa privada de anunciar numa revista que só fazia elogios aos governantes, senão por pressão do governo ?
4º- não deixa de ser uma forma de cobrar comissão das empresas que prestam serviço para o governo
5º- As empresas do governo também foram usadas para patrocinar, contrariando a Constituição Estadual no que se refere à publicidade
Ou seja, como disse Joarez Ponticelli, não é briga do mocinho contra o bandido, é briga de gangues mesmo !
"Parece aquela história do sujeito que quer receber dívida do jogo do bicho na Justiça", disse o delegado. Peraí!!! No caso em epígrafe, o sujeito que quer cobrar é o Nei, e o contraventor é o Governo de SC. É bem isso, ou eu é que entendi errado??? Estaria o senhor delegado querendo dizer isso???
pena que os ex-funcionários da revista metrópole que hoje tem ação trabalhista contra o 'Dr' Nei Silva não verão a cor desse dinheiro...
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