quinta-feira, 15 de maio de 2008

O MANTRA

Sempre que eu faço um comentário um pouco mais crítico sobre o governo estadual, tem uma criatura (ou várias) que, anonimamente, dizem sempre a mesma coisa, com pequenas diferenças: “quanta hipocrisia, vocês acham que no governo do Esperidião era diferente?”

Quando a crítica é ao governo municipal, em vez de Esperidião falam na Ângela, ou simplesmente na “Tia”.

A coisa se repete como um mantra (uma invocação religiosa hindu, geralmente em sânscrito, que usa a repetição de sons para afastar o mal ou atrair o bem), sem levar em conta o pequeno detalhe essencial: nunca afirmei que o governo LHS era melhor ou pior que o de seus antecessores.

A minha crítica, em geral, não é feita em base comparativa. A comparação decorrente dela é feita por conta e risco do leitor. Infelizmente não era colunista político antes de 2005 e portanto não posso pedir que leiam o que escrevi sobre governos anteriores. Resta-me esperar que ainda esteja escrevendo sobre política quando e se mudar o governo.

Aí, as queixas virão dos fãs do novo governante. E as contribuições com as mazelas, dos fãs do governante desalojado. É assim que ocorre quando o colunista não tem compromissos com este ou aquele: interessa observar os feitos e malfeitos de quem detém o poder. Não importa se é A, B ou C. Assim que toma posse, passa a merecer atenção redobrada. Instala-se sobre sua pessoa e suas circunstâncias uma lente de aumento, um macroscópio e um alarme de BNJ.

O alarme é muito útil para chamar a atenção quando, por querer ou sem querer, o governante da vez coloca a bunda (ou de algum de seus pares) na janela. BNJ é igual à bola quicando. Não dá pra deixar passar. Nem pra fazer de conta que a gente não viu.

Portanto, consolem-se: a gente só critica o LHS porque ele é o governador. Fosse ele um ex-governador, não receberia tanta atenção. E decidam-se: vocês preferem estar no governo (e ter que tomar cuidado com a BNJ e as telhas de vidro), ou ficar fora do governo, pra poder atirar pedras despreocupadamente?

O DISCO ARRANHADO
Disco arranhado, no sentido que eu quero dar, é coisa muito antiga. Do tempo do vinil. A agulha ficava presa e pulava, repetindo sempre a mesma frase... a mesma frase... a mesma frase... a mesma frase... Até que alguém gritasse “muda o disco!” ou fosse lá parar com a cantilena.

Os discos ópticos (CD e DVD) quando arranham nem sempre produzem o mesmo efeito. Às vezes até repetem um mesmo trecho, mas podem acontecer vários desarranjos, inclusive nada: só para, silenciosamente, de tocar.

Então, além da turma do mantra (“no tempo do Amin, ou do FHC, ou da Tia, era igual”) tem a turma do disco arranhado: volta e meia repete que eu sou deste ou daquele partido. Desde criancinha.

Quando recomendo alguma nota interessante que li no ex-blog do Vieirão, por exemplo, sempre tem alguém que escreve uma cartinha: “sabia que eras do PP, nunca me enganastes”.

Quando comento o Coturno Noturno, aparece na caixa postal que “já não consegues disfarçar tua filiação ao DEM”.

Ou seja, eles não admitem que o governo (municipal, estadual ou federal) possa cometer algum erro, equívoco ou abrigar algum mal-intencionado. Acreditam que quem faz qualquer avaliação negativa ou simplesmente comenta um deslize o faz, certamente, porque pertence a algum partido ou facção que perdeu a eleição e que está tentando derrubar “ilegalmente” o governante bonzinho, justo e sábio.

Muda o disco, ô!

CHORO INTERNACIONAL
O interessante é que tanto o mantra quanto o disco arranhado não são exclusividades brasileiras. São fenômenos universais. Veja a recente briga do primeiro-ministro francês com a para-estatal Agencia France Presse (AFP) e, por tabela, com a imprensa, a quem responsabiliza pela queda da sua popularidade.

Em todo lugar onde existe imprensa livre, existem governantes tentando atribuir às críticas (e não aos erros criticados) seus problemas de popularidade. E muitos falam exatamente a mesma coisa que já ouvimos por aqui: “a imprensa está fazendo o papel da oposição”.

No Brasil do presidente Lula, no entanto, há uma curiosa particularidade: governo e o partido do governo reclamam da imprensa “golpista”, mas nunca nessepaís o presidente esteve tão bem nas pesquisas. Incensado pelos banqueiros, amado pelos mais pobres e agora adorado pelos agropecuaristas da Amazônia, Lula não depende do que dizem os jornais, mas vive incomodado com as críticas. Vá entender...

9 comentários:

Anônimo disse...

Que comentário sob o título de o mantra. Você sempre sabe avaliar e é comum a situação não aceitar os comentários da página. A gente tem que ter a grandeza de fazer a crítica, inclusive, dos "nossos" e tomar atitudes. Na minha cidade querem dar aumento aos vereadores com a benção de todos. Todos vão parar na justiça não importa se são amigos, colegas, partidários, pois, a defesa é do dinheiro público das políticas públicas e não das pessoas. Essa coisa de defender a pessoa x ou y que deve ser mudada. Errou, responde e pronto porque a sociedade é qeu deve estar protegida e não os amigos. Isso é um sonho da minoria.

Anônimo disse...

A verdade doi, revolta, mas continua sendo a VERDADE.

Carlos Damião disse...

Ah, sim, virou pecado fazer referência a Esperidião e Angela Amin em Florianópolis. Não precisa nem elogiar, é só mencionar os nomes dos dois. Absurdo. É por essas e por outras que não suporto mais certos assessores governamentais e prefeiturais que adoram ficar mandando torpedinhos anônimos para os blogs independentes. Eu sei bem quem eles são. Não digo o nome em público, mas te conto diante de uma Bohemia ou Original. Abraço, Damião

Anônimo disse...

Nunca antes nesse país, nesse estado e nessa cidade, se comprou a imprensa como agora, para falar bem do Presidente, do Governador e do Prefeito ! A grande imprensa não cobra as promessas não cumpridas e abafa as irregularidades.
Como nossos governantes se julgam os "perfeitos", buscam rotular quem não lhes diz amém !
Apesar de declararem que combateram o regime militar, eles tem o DNA da ditadura ! Não gostam de ser contrariados, aliás, um deles costuma jogar o celular a cada contrariedade, até dentro do avião !

Anônimo disse...

César, isso é a mescla do ranço com o desespero. É, ainda, um despreparo que leva a fuga. Sim, sem argumentos sobre o assunto criticado, fogem em busca de artifícios no passado.
São como crianças que para justificar seus erros acusam as outras.
Neste espaço e em outros, ainda não lí nenhuma argumentação lógica em defesa, por exemplo, do LHS. Seus "sonhos" como metrô de superfície, conselho superior e etc, NUNCA foram JUSTIFICADOS por algum comentarista. Nem o processo no TSE, à exceção daquela história surrada e desprovida de que havia renunciado.
Por que não argumentam? Por que não justificam? Por que não explicam? Por que não esclarecem?
Das duas uma: porque são muito despreparados ou não há o que argumentar.

Anônimo disse...

A regra é bem simples Cesar, não entendo como voce com tanta experiencia ainda não aprendeu.
Se o antecessor fez cagada, o atual não foi eleito para resolver isso, ele veio pra fazer as dele, e pode fazer sem ninguém reclamar muito, ora bolas.
Só falta agora nós eleitores ficarmos exigindo que os atuais governantes não cometam os mesmos erros dos anteriores, se permitirem isso vamos acabar virando uma democracia. heheh

Anônimo disse...

César, continue fazendo o papel que se espera de uma verdadeira imprensa livre: ser os "olhos da Nação" (como já dizia Rui Barbosa).

Anônimo disse...

Cesar, acho que esse trechinho que colei lá do blog Imprensa Marrom, embora tratando de um outro assunto, define um pouco isso: É a tática do "ele é pior que eu; logo, eu não sou mau". É a lógica achada na rua. A "lógica bituca".

Anônimo disse...

Boa Noite Cesar,

Meu nome é André Teobaldo Borba Alves, sou advogado e moro em Araranguá. A cidade fica a 200 km de Fpolis e 240 de Porto Alegre, fica perto da praia, pois a 10 km temos Morro dos Conventos ou Arroio do Silva. Também estamos pertiho da serra pois os canyons ficam a 40 km mais ou menos. Ou seja, podemos curtir praia no verão ou neve e frio no inverno sem gastar muito. Conclusão: com um pouquinho de criatividade podemos fazer programas fantásticos por aqui. Infelismente o Vale do Araranguá é a segunda região mais pobre do estado e o que é pior ninguém se junta pra resolver isso. Ah, Não sou político profissional, mas tenho envolvimento com política e já exerci várias funções públicas, inclusive hoje exerço o cardo de Diretor Geral da SDR de Araranguá. Mas acho que o teu comentário foi extremamente preciso. Ninguém aceita crítica quando está no poder. Na realidade o estado brasileiro está montado para atender as oligarquias. E veja que o conceito de oligarquia não é aquela história da família talmandando ou da outra família que agora está mandando. Mas sim de grupos que se alternam no poder. Vejamos o recente caso do governo federal cujo inquilino se elegeu batendo nas oligarquias e agora...montou seu próprio esquema. Pois é, enquanto isso os programas de governo , as metas, os problemas a serem resolvidos esperam para serem discutidos na nova campanha. Se eleitos os atores da discussão novamente se esquece do assunto.É isso aí meu irmão. Continua com a lucidez/acidez das críticas que a democracia agradece.Abraço aqui do sul. André Alves