sexta-feira, 1 de agosto de 2008

OS NOVOS FLORIANOPOLITANOS

Quando Florianópolis era menor e a gente conhecia muita gente, ninguém se sentia muito ameaçado com os poucos forasteiros que chegavam. Depois da grande invasão gaúcha da década de 70, muita gente ficou meio traumatizada. E achou que iria perder para estrangeiros o seu bem mais precioso: a vida pacata, na cidadezinha à beira mar.

Claro que perdeu. Perdemos todos. Aquela Florianópolis acabou. Teria acabado mesmo sem aquela invasão. Talvez a gente demorasse um pouco mais a perder a inocência se logo no começo não tivessem vindo algumas criaturas que chegavam com uma mão na frente outra atrás, certos que aqui vivia um bando de tolos e que seria fácil tirar proveito desses caipiras movidos a pirão d’água. Mas o crescimento natural da cidade, mesmo sem aqueles episódios, acabaria por trazer-nos ao que somos hoje: uma grande e bela incógnita.

Depois da leva de gente que não trouxe nada e só veio para se aproveitar e tentar tirar vantagem, criou-se um justo sentimento de indignação. A expressão mais eloqüente dessa resistência foi o movimento que o Aldírio Simões e vários manés, amigos das rodas de bar, iniciaram meio de brincadeira: o troféu Manezinho da Ilha. Forma inteligente de dizer “péra aí, eu tou aqui, cheguei antes, me respeita!”, o movimento ajudou a elevar o moral da tropa, a recuperar a auto-estima dos nativos e a superar alguns dos traumas da grande invasão. E nunca mais passou um dia sem que chegasse à cidade gente nova. Nascidos aqui e trazidos pelos mais diversos motivos. E a gente andava na rua e não via ninguém. Ninguém conhecido. Mas gente aos montes.

No final da década de 90 e início do novo século, começou a chegar outro tipo de gente. Um povo que, bem estabelecido em suas cidades, com a vida resolvida, escolhia, dentre todas as possibilidades que estavam ao alcance de suas posses (num leque que, em muitos casos, tinha também Miami, praias do nordeste, Provence), viver na Ilha de Santa Catarina. Reconheciam, aqui, uma terra que ainda guardava alguns valores importantes da vida comunitária. Respeitavam o que se conseguiu preservar. Queriam fazer parte dessa vida e dessa luta.

Esses novos florianopolitanos já podem ser encontrados em algumas associações de moradores, entrosados com seus vizinhos, vivendo suas vidas com o cuidado de não piorar a nossa. Não sei quantos de nós, nascidos aqui, que sofreram as dores do crescimento da cidade, estão percebendo que existem diferenças entre os recém-chegados. Não dá mais para gritar palavras de ordem genéricas e abrangentes: “fora paulistas, fora gaúchos, fora paranaenses!” Porque a luta, agora mais que nunca, não é mais entre os nativos e os estrangeiros.

Existem aqueles que, independentemente de etnia, cor, gênero, local de nascimento, idade ou sotaque, gostam da nossa Ilha. Querem fazer parte do grande esforço que todos teremos que fazer para manter o pouco que ainda resta e usar de forma inteligente nossos recursos, para que sejam duradouros, para que a Ilha não se descaracterize irremediavelmente. E existem aqueles – com alguns manezinhos que a gente conhece incluídos – que são capazes de vender as fortalezas centenárias pedra a pedra, para ter um lucrinho imediato. Mesmo que daqui a dois meses não sobre nada para se ver. Nenhum registro histórico para se apreciar e de onde aprender. Gananciosos. E burros. Assassinos da galinha dos ovos de ouro.

Portanto, acho que não tem mais sentido falar em rixa entre os nativos e os de fora. Porque tanto num quanto no outro lado tem gente gananciosa e estúpida. E tanto num quanto no outro lado tem gente inteligente que sabe dar valor ao que é importante.

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns César! Seu ponto de vista traduz um sentimento que grande parte de nós, nativos de Florianópolis, de famílias centenárias nesta Ilha, como no meu caso, mas de qualquer forma estrangeiros de além mar na origem, pois são raros os Carijós, temos em relação aos recém chegados de boa fé! Abraço e sucesso!