quinta-feira, 7 de agosto de 2008

GENTILEZA GERA GENTILEZA

Há alguns anos, logo no começo da popularização da internet, um dos blogueiros mais conhecidos de então, o “mario av” publicou a regra fundamental de convivência nos fóruns públicos (como nos comentários de blogs, por exemplo): “Gentileza gera gentileza”.

Pois bem, toda convivência exige a obediência a um conjunto de regras. Se as regras forem mínimas e todos as aceitarem, será uma convivência mais leve. Se as regras forem excessivas, a convivência pode ficar tão difícil como quando não ocorre respeito a nenhuma regra. Trata-se, então de uma daquelas coisas fáceis/complicadas da vida em comum.

A discussão, o debate e a polêmica são atividades humanas muito estimulantes. Quando ocorre sem agressões físicas e naquele nível que os antigos chamavam de “no embate das idéias”, é até bonito de acompanhar. Duas pessoas cultas, bem informadas, bem formadas, com pontos de vista divergentes, podem produzir faíscas quando debatem. E ganhamos todos com isso. Mesmo que em alguns momentos as vozes se alterem, que alguém levante da cadeira para falar ainda mais alto. E desde que os argumentos seja esgrimidos como num duelo: não como em monólogos simultâneos.

Quando alguém fala em regras de convivência, a gente sempre tem a tentação de pensar que talvez o silêncio seja mais adequado para evitar problemas. Nem sempre. Uma das principais riquezas da civilização é o progresso que o confronto de idéias pode gerar. A humanidade avança quando as idéias são expostas e discutidas abertamente. E quando todos podem expressar-se.

Claro que existe uma enorme nuvem de utopia cobrindo tudo isso e sempre corremos o risco de descobrir que os seres humanos não são muito afeitos ao progresso intelectual. Preferem a força de um tacape na cabeça de quem discorda das suas idéias.

E tem um outro problema: duas pessoas gritando uma com a outra não significa, automaticamente, que temos aí um bom debate para assistir. Mesmo que estejamos dentro de uma universidade. Ou de um parlamento. Tem muita gente que substitui o tacape pelas palavras, mas o propósito é o mesmo: rachar a cabeça de todos os adversários. E a palavra, sabemos, pode ser instrumento eficiente de morte e mutilação.

Os e as que me acompanham devem ter notado que, ultimamente, ando com a rebimboca da síntese defeituosa. E tive que falar tudo isso para chegar ao assunto que me levou a sentar diante do computador nesta manhã abafada. Um nariz de cera digno do meu próprio. Levei tanto tempo preparando a entrada que acho que até já mesqueci de metade do que pretendia dizer (melhor, ficará mais curto).

Desde o início do Curso de Jornalismo da UFSC foi instituído um Conselho Paritário de professores, alunos e servidores. Era uma coisa ousada, afinal estávamos no início da década de 80 (século passsado, portanto), o controle sobre as universidades ainda era grande. Todos os assuntos importantes eram discutidos nesse conselho e depois o colegiado do Curso, a instância oficial, se comprometia a referendar as decisões e dar-lhes consequência prática. No começo era quase uma democracia direta, porque éramos poucos.

As brigas do Conselho viraram lenda no Curso. Com o passar dos anos, iam entrando mais alunos e cada vez que iam às reuniões do Conselho, no começo, se assustavam. Havia e há, no Curso, como em toda entidade ou instituição, correntes com visões diferentes. Grupos, patotas, partidos, tenham que nome tenham, tinham naquelas reuniões seus momentos de confronto.

As discussões nem sempre valiam a pena. Às vezes a tarde era consumida em bate-bocas estéreis sobre a colocação de um armário que acabara de chegar. Às vezes daí se derivava para um bate-boca estéril onde a competência acadêmica de cada um dos contendores era posta em dúvida (o que equivalia, segundo entendi, a xingar a mãe). Mas às vezes a coisa andava. E da discussão surgia a luz (ou a lâmpada). E nestes momentos a gente esquecia das brigas simples e achava que o Conselho tinha justificado sua existência.

Já comentei que estou com enormes dificuldades para falar pouco? Pois é, depois desse discurso errático e volumoso, acho que consigo resumir e encerrar: desde que obedecidas regras mínimas de civilidade, é sempre melhor uma boa discussão, mesmo que aos berros, que o silêncio obsequioso e fingido.

Um comentário:

Mario disse...

Conhecido de então e ainda hoje ;-)
Pessoalmente, tive três fases no blog. A primeira era agressiva, corrosiva, chamava na cara. Muita gente gostou. Eu comecei a ficar desconfortável com isso. E a perder noites discutindo nos comentários e em fóruns.
Então começou a segunda fase, a da paz e amor. O paradoxo é que nessa fase não evoluí intelectualmente. Sem impasse, sem fricção, não se avança.
Hoje retornei a uma atitude mais na cara, menos tolerante, porém mais responsável com as críticas.
Perdi muita da minha paciência com o que vejo como pequenas atitudes de safadeza ou hipocrisia travestida de mera ignorância. Esta sociedade não progridirá enquanto todo mundo criticar os outros coletivamente e continuar a fazer autoconcessões morais particularmente.
Existe outro ponto, que é a mediocrização da mídia, tanto a mídia comercial estabelecida como a mídia indepentente representada pelos blogs noticiosos. No meu site você acha vários sites pondo em questão o design gráfico, porque a atividade está em crise e alguém precisa meter a boca.