[Nota do Editor: na estrada, sem tempo pra coisas novas, deixo uma daquelas coisas velhinhas, para entretê-los. Esta crônica é de agosto de 2004. Have a nice day]
Existem coisas cuja utilidade é evidente. Sobre um saca-rolhas, por exemplo, não existe muito o que discutir. À medida em que os objetos, pessoas e animais vão se sofisticando, tudo começa a ficar mais complicado. Porque além da finalidade básica, a imaginação humana, com u'a mãozinha do diabo de plantão, trata de adicionar outras.
Hoje ninguém mais tem muita certeza da utilidade correta das coisas. E as interpretações variam e até divergem. Basta ver, por exemplo, o marido. Cada mulher vê o marido de sua forma particular. E trata de utilizá-lo conforme acha que é a melhor maneira. Algumas acreditam que o marido descende do cachorro e usam com ele os mesmos imperativos com que se faz o Totó rolar, sentar, deitar, fingir-se de morto.
Outras têm certeza que marido é invenção recente, criado para substituir as empregadas domésticas para todo serviço que dormiam no emprego e que hoje, graças aos avanços sociais, estão rareando ou tornando-se muito caras. O marido é barato e em muitos casos habilidoso. Erra vez por outra na goma da blusa de linho egípcio ou salga demais o souflê de rabanete, mas no geral atende bem às necessidades da dona de casa.
Não há, portanto, concordância sobre a utilidade de muita coisa. Nem se sabe se há alguma utilidade em tantas outras. Muito menos se encontram manuais para ensinar como usar ou para que serve isto ou aquilo. A vida, desta forma, vai recheando de dúvidas e mistérios os caminhantes que por aqui trafegam.
Na Internet residem centenas desses enigmas. A própria Internet é uma caixinha de surpresas. Quem se dedicar a entender para que serve tanta informação, tanta página, em que isso pode melhorar a vida de um pobre mortal que tem um cronômetro interno que pode parar a qualquer momento, certamente entrará em parafuso. E em pouco tempo estará chamando urubu de orkut.
Mesmo quando a vida era mais simples, na época em que Jesus viveu, a humanidade não conseguia compreender direito o sentido da vida. Naquela época, vocês lembram, bastava uma sandália de couro de cabra e uma túnica de algodão rústico, ambas feitas pelo próprio usuário ou sua mãe, para que a pessoa estivesse apresentável. Nada de água quente, ducha, xampu, sabonete perfumado, desodorante, creme para barbear, lâmina descartável, papel higiênico, sanitário de louça, mais água, toalha macia, espelho de vidro, pente, escova de dentes, fio dental, cueca, meia, calça jeans, sapato, gravata, paletó e cartão de crédito.
Pois se naquela vida descomplicada nossos antepassados não conseguiam alcançar o sentido da vida, quanto mais agora, quando a vida se tornou um emaranhado de numerosíssimos conceitos, pessoas, coisas e idéias de utilidade duvidosa ou pelo menos desconhecida? Para que serve tudo isto? De onde viemos, para onde vamos? Traduzindo, para que os leitores mineiros entendam: doncovim? proncovô? quemcossô?
Ou seja (resumindo e encerrando, porque a conversa já passou dos limites permitidos e admitidos num saite de Internet): tá cada vez pior pra gente descobrir a utilidade das coisas e mais difícil para saber o sentido da vida. Saco!
Um comentário:
Tio César, marido também tem grande utilidade para forjar o caráter de uma mulher. A infeliz que não tiver nascido com uma boa dose de paciência e capacidade de ceder, vai ficar craque na coisa, rssss..
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