quarta-feira, 1 de outubro de 2008

TÁ NA HORA!

Os mortais comuns não sabem o que é postar-se diante de uma folha de papel em branco (ou de uma página de processador de texto em branco), com um prazo apertado para escrever aquilo que, amanhã, impresso e indelével, estará nas mãos de milhares de pessoas. Falo em 30 minutos de prazo. É suficiente? Ou vocês estão habituados a trabalhar com pressão ainda maior?

Ao jornalista não é dada a graça de poder manter seus erros em petit comitê. A gente distribui o erro em milhares de bancas, entrega na casa de milhares de assinantes. As emissoras de rádio que apenas recortam e lêem os jornais, difundem o erro para inúmeros automóveis presos em incontáveis engarrafamentos. Tudo porque, naqueles dez minutos finais, de revisão apressada, ajustes superficiais e remontagem da frase de abertura que insiste em ficar confusa, o erro se camufla e esconde.

Mesmo sabendo disso há muito tempo, nunca consegui escrever nada a não ser no último minuto. As crônicas semanais do meu início de carreira eram escritas sem paradas para releitura ou ajustes, porque começava quinze minutos antes do horário final. As matérias do dia-a-dia, mesmo aquelas cuja apuração foi feita de manhã, eram escritas enquanto soavam as badaladas da undécima hora. Sob pressão.

O conjunto completo, portanto, é composto de um teclado, uma folha em branco (virtual ou real) e a pressão do prazo. Sem uma dessas partes, fica muito complicado cumprir a tarefa. Diria mesmo que sem computador sempre dá para escrever à mão ou à máquina, mas sem pressão não tem jeito.

Até aqui nesta coluna, lugar completamente desprovido de qualquer compromisso, tenho que estabelecer-me certas rotinas para que, de tempos em tempos, sinta-me obrigado a colocar no papel (ou que nome tenha), esta meia dúzia de parágrafos.

Quando o prazo se aproxima do final, começo a encontrar rotas de fuga. Um arquivo antigo. Um “link” para o site de alguém. O comentário de um colega. Uma foto ou ilustração. Até que, esgotadas todas as alternativas, só resta a derradeira. “Senta e escreve, seu mandrião!” ordena, com legítimo sotaque de Manezinho da Ilha, a minha consciência. “Ainda tem tempo”, retruca (ahá, estava tentando usar esta velha palavra há meses, sem sucesso) meu corpanzil, imerso em toneladas de preguiça. Respirando com um canudinho de palha (daqueles anteriores aos canudinhos de plástico, do tempo em que guaraná se tomava em taça), tento ficar quieto para que a consciência se esqueça e mude de assunto.

Mas, como é possível ver pela quantidade de letras, palavras, frases e pontuações que adornam esta página, fui mais uma vez vencido. Colocado diante de um espaço em branco, com pouquíssimo tempo, saí-me com esta coisa. Que se não tem nada de excepcional pelo menos fez com que a coluna da quarta-feira tenha saído sem espaços em branco. Quase fora do prazo, mas ainda a tempo.
E hoje começa tudo de novo. Que bom.

4 comentários:

Anônimo disse...

É isso Cesar. Não é a síndrome do papel em branco, pois não faltam condições 'técnicas' e intelectuais. Aliás, os blogs são a crônica contemporânea e instantânea (se disposição houvesse). Essa danada síndrome é outra. Mesmo estando longe do jornalismo como ganha pão, o 'vício' me acompanha noutra que me exige gastar as teclas todo santo dia. Mas não se apressem os açodados em creditar a 'síndrome' ao jornalismo. Colegas de profissão,alguns muito mais experientes e confrades confidentes das letras também se queixam que aquele 'prazinho' acaba sendo cumprido invariavelmente aos 45 do segundo tempo. LESPaul

Anônimo disse...

"Do tempo em que guaraná se tomava em taça". hehehe, ótima lembrança. Tinha esquecido que isso acontecia.

Anônimo disse...

E os canudinhos de palha/capim?
Cacete!
Lá se vão uns "bons"(?) cinquenta anos.
Acredito que 80% dos viventes numca viram e os que conheceram nem mais se lembram, como no meu caso.
Strix.

Anônimo disse...

Enchendo linguiça, hein?