segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O RECADO DA CORA

A jornalista Cora Rónai, do Rio de Janeiro (O Globo e blog InternETC), estava numa torcida básica pelo Gabeira. E ontem, depois do resultado da apuração, publicou o texto abaixo:
A derrota de Paes
Abrindo mão das próprias convicções (se é que um dia as teve), aliando-se ao que há de mais podre no estado, gastando rios de dinheiro, jogando sujo, usando descaradamente a máquina estadual, federal e universal, beneficiando-se até de um feriado mal intencionado, enfim, com tudo isso, Eduardo Paes só conseguiu ganhar de Gabeira por 50 mil míseros votos.

Como vitória política, já é um resultado extremamente questionável; mas do ponto de vista pessoal, é uma derrota acachapante.

Eduardo Paes levou a prefeitura, sim, mas de contrapeso ficou com uma quadrilha de aliados que não deixa nada a dever àquela que ele acusava o presidente Lula de comandar.

Vai ser prefeito, sim, mas vai ter de arranjar boquinhas para o Crivella, para o Lupi, para o Piciani, para a Clarissa Garotinho, para o Roberto Jefferson, para a Carminha Jerominho, para o Babu, para o Dornelles, para a Jandira... estou esquecendo alguém?

Conquistou um cargo, é verdade, mas conquistou também o desprezo mais profundo de metade do eleitorado.

Em compensação, como carioca, perdeu a chance de viver um momento histórico, em que a prefeitura seria, afinal, ocupada por um homem de bem, com idéias novas e um novo jeito de fazer política; perdeu a chance de ver o Rio de Janeiro sair do limbo a que foi condenado nas últimas décadas, e ganhar projeção pela singularidade da sua administração.

Se Gabeira tivesse sido eleito prefeito, o Rio, que hoje não significa nada em termos políticos, voltaria a ter relevância, até pelo inusitado da coisa. Um prefeito eleito na base do voluntariado, do entusiasmo dos eleitores e da vontade coletiva de virar a mesa seria alguém em quem o país seria obrigado a prestar atenção.

Agora, lá vamos nós para quatro anos de subserviente nulidade, quatro anos em que o recado das urnas será interpretado, pela corja que domina esta infeliz cidade, como um retumbante "Liberou geral!"

Nojo, nojo, nojo.

Conheci o Eduardo Paes numa reunião da executiva nacional do PSDB, que assisti meio por acaso, em 2004 (ou teria sido 2003?). Lembro bem porque me chamou a atenção o discurso articulado, culto e sagaz daquele moço, que desconstruía o governo Lula com grande conhecimento. O Paes foi na pleura, parecia, de fato, um promissor oposicionista. Usava números, demonstrava conhecer a economia, tinha, afinal, um discurso consistente, que deixou todos os presentes à reunião admirados e entusiasmados. De Santa Catarina estavam lá, se não me engano, o então senador Leonel Pavan e o ainda não deputado Marcos Vieira.

Quando começaram a falar na candidatura dele pelo PMDB, achei engraçado. Queria ver como ele faria para se desconstruir a si próprio. E o fez da maneira mais rasteira, pedindo mil desculpas, entregando cartinhas em mãos à Dona Marisa, um fiasco. Donde, a meu ver, a indignação da Cora é compreensível e justificada.

15 comentários:

Anônimo disse...

Como é que isso de estar numa reunião do PSDB nacional "meio que por acaso"?

Anônimo disse...

Realmente estamos vivendo um novo tempo. Vide PP junto com o
PT e PCdoB e PMDB(ou seria o velho MDB de guerra como alguns gostam de falar) junto com o PFLê.

O mundo está acabando, só não vê quem não quer.

Anônimo disse...

Tio César,

Que bom que alguns jormalistas tomam partido.
Parabéns à Cora.
Enquanto por aqui, independência só nos blogs e jornais locais. E de uma minoria, como você!

Anônimo disse...

também adorei esse texto da Cora!!! muito lúcido!!!
abraços
Vera

Anônimo disse...

Prezado Cesar,
Este comentário cabe por aqui tbém.
O JBN sonhava em ser prefeito e vai ser prefeito e terá o seu pior pesadelo.
O Esperidião após os resultados da apuração estava com o semblante leve. Aquela leveza de quem estava com a consciencia limpa, de ter cumprido um compromisso. Afinal um povo que o quer tão bem ( não esqueçamos que foram 8 partidos a maioria fortes contra 2 em tão fortes assim) não poderia esperar que por causa de um ajuntamento destes fosse se negar a colocar a sua inteligencia e capacidade a disposição de nossa querida Florianópolis, amada pelos que aqui nasceram e pelos os que a escolheram. Aposto que teve uma boa noite de sono, de quem fez a sua parte, de quem não precisa derrotar ninguem para ser feliz. Florianópolis agora é lugar comum, pra quem sonha com asfalto e não percebe a beleza e vulnerabilidade do ambiente em que moramos.

Cesar Valente disse...

Ô das 8:20: é que não fui a Brasília para ir à reunião do PSDB. Mas passei por lá antes de outro compromisso e acabei assistindo, meio sem querer, parte da reunião.

Anônimo disse...

Ai, ai...esses exercícios de ter que conviver com os diferentes, um exercício quase dialético...é dose.. (apesar de não existir contraponto, tendo em vista que não votei no Dário - anulei por não ter estômago de votar em nenhum dos dois) ter que ler isso:


"O Esperidião após os resultados da apuração estava com o semblante leve. Aquela leveza de quem estava com a consciencia limpa, de ter cumprido um compromisso. Afinal um povo que o quer tão bem ( não esqueçamos que foram 8 partidos a maioria fortes contra 2 em tão fortes assim) não poderia esperar que por causa de um ajuntamento destes fosse se negar a colocar a sua inteligencia e capacidade a disposição de nossa querida Florianópolis"

é de doer...tadinho do bem dotado intelectualmente! Exatamente o dicurso dado na primeira entrevista, logo após a boca-de-urna e após a consumação da terceira derrota acachapante...

Partido não é povo, cidadão! "oito partidos contra dois", ah, que discursinho tosco! Se o "povo que o quer tão bem" , queisesse tao bem mesmo, ele teria sido eleito...e não teve nem 100 mil votos! Foi-se o tempo!

Volto a dizer: triste pq DEB e LHS/XV venceram e feliz pq Amin perdeu...

LesPaul disse...

A indignação é pertinente e interessante, pois, o Brasil não carioca conheceu o Paes na época do mensalão e das granas na cueca e em maletas e jatinhos suspeitos. Não sei se o poder corrompe tal qual diz o adágio, mas, a vaidade e a ambição não raras vezes dá a exata medida de um rato. Parte do que aconteceu no Rio reflete o ocorrido cá na província, pois, não podemos dizer que teríamos no Dão um jeito diferente de fazer política. Não quer dizer que Amin não tenha dormido um sono tranqüilo. Quem precisará de habilidades pra tecer no bilro a camarilha que grudou no mata-mosca é o vencedor.

Anônimo disse...

Agora o Gabeira virou santo para alguns.
Se ao invés de Dário, Gabeira fosse o candidato contra o Amin, o verdelongo seria chamado de maconheiro e bicha pelos mesmos que o santificam.
Quem vota no Amin é gente mais velha, presa ao passado cada vez mais distante, os chamados "caretões".

Anônimo disse...

Parece que muitos não vêem que é a campanha do Luiz 15 para o senado que está começando e, tal qual na publicidade de um cartão de crédito, "isso não tem preço" !
Vale qualquer coisa, como dar aposentadoria de ex-governador ao Pavan renunciando 8 meses antes da eleição, como fez com o Pinho Moreira !
Falta descobrir qual foi o preço do "Kaiser", que só se elegia nas costas do Amin, mas cujo partido traiu Angela em 1995, foi vice dela em 2000, indicou o vice do Chiquinho e o abandonou no fim da campanha !
E o Luiz 15 dá entrevista dizendo que o Amin precisa "se reciclar" se quiser ganhar uma eleição !
Re$$$$$iclagem ?$?$?
Articula$$$ão ?$?$?

Anônimo disse...

E tem há nômimus que sente orgulho em divulgar que votou em branco ou anulou o voto.
Afinal, deu de graça prá quém?
Bem...a ignorância também é parte da política.
Strix.

Anônimo disse...

ô anônimo 8:47 h, votei no Amin, pela primeira vez na vida, e tou bem longe de ser caretão.

Anônimo disse...

Cesar,

O melhor para a biografia do Gabeira era perder a eleição, assim desse jeito que perdeu. Lutando, e no "disco final".

Se vencesse teria que administrar uma cidade com graves problemas que em sua maioria terão que serem resolvidos pelos Governos Estadual e Federal.

Já sobre a nossa cidade, quero me despedir pois estou me mudando para Nova Zelandia. Com o Avaí na primeira divisão e o Figueirense na série B, o Dario na Prefeitura, estou de mudança para Tauranga na Noza Zelandia onde passarei os próximos quatros morando com os Maoris.

Pra quem fica Boa Sorte! FUI!!!


Pedro de Souza

Mário Medaglia disse...

Caro César:

Qualquer semelhança do Rio com o que aconteceu por aqui na vitória do Dário é mera coincidência, Mário Medaglia

Cesar Valente disse...

Um idiota mandou um comentário (que eu bloqueei, claro) insinuando que o texto acima é apócrifo. Ora, ora, tá dito ali que o texto é da Cora Rónai. E, se não ficou claro, foi publicado no blog dela, cujo link está lá na primeira linha.
E por falar nisso, no dia seguinte à publicação aqui o blog do Noblat também o transcreveu.