Meu domingo começou muito cedo: às quatro e meia da manhã, numa cidade cujo fuso horário é uma hora antes do horário de Brasília: Cuiabá. Na reserva, confirmada, eu iria a Brasília, depois a São Paulo e chegaria a Florianópolis ali pelas 12:30. A tempo de almoçar com a família e poder descansar à tarde. Mas a Gol, vocês sabem, está fundindo seus vôos e horários com a Varig e quem acaba fundindo somos nós, os clientes.
No check-in, sem qualquer aviso, consulta ou comunicado, meu domingo foi pras cucuias. Mantiveram-me, claro, no vôo para Brasília (o único que saía de Cuiabá naquele horário), mas depois era tudo diferente. Chegaria ao Rio (Rio?!) às 12:30 e de lá só sairia às 16:00, para chegar a Florianópolis lá pelas 18:00.
Não deu nem tempo de discutir, porque às seis horas, horário previsto para saída do vôo, o pessoal da Gol ainda lidava com uma fila de uns 30 passageiros que esperavam pelo check-in. Deixei pra discutir em Brasília.
Acima, o Centro de Relacionamento com o Cliente da Gol no aeroporto de Brasília. Enfiado num canto do terminal, sem ar condicionado, cheio de gente furiosa e com uma única mocinha pra dar conta de tanta reclamação, coitada. Tinha alguns casos piores que o meu: vôos cancelados sem aviso, vôos que partiram sem esperar os passageiros da conexão, um caos.
Preenchi uma reclamação (que, é claro, não vai dar em nada) e aproveitei o tempo livre para preencher uma reclamação na Anac, também. Lá, as duas únicas funcionárias, atenciosas e gentis, eram de uma empresa terceirizada. Cada vez mais acho que a Anac é uma ficção.
Um senhor, que também estava registrando reclamação na Anac, elevava a voz, para que todos ouvissem a teoria que ele tinha pros jornais e TVs terem parado de falar na crise aérea: “o Jobim chegou para os jornais e disse que se continuassem a falar na crise, não teriam mais anúncios do governo e aí todo mundo calou a boca e o País inteiro acha que esta esculhambação acabou”. Claro que não concordo com ele quanto à ameaça do Jobim. Mas concordo com ele que a esculhambação continua.
Ah, a explicação da Gol é que estão mudando a “malha” e que o vôo de Congonhas para Florianópolis em que eu estava até ontem, não existe mais. Só tem aquele em que me colocaram, do Galeão para Fpolis, “que está começando hoje”.
Lá fui eu, em mais um trechinho da desventura dominical. Acima, uma área residencial de Brasília, perto do aeroporto. Não sei se é exatamente o caso dessa área aí, mas tem um setor de mansões, de grandes terrenos, que os proprietários loteiam ilegalmente, fazendo “condomínios” de várias residências onde estava planejado ter uma só, com área verde e mais espaço. Em Brasília, vocês sabem, pra tudo se dá um jeitinho.
Para minha surpresa, em vez de apenas barrinha de cereal ou “goiabinha” a Gol serviu “almoço”: um pãozinho com alguma coisa como chester e queijo. Claro, era meio-dia. Ah, e os objetivos do “enxugamento” da malha estavam sendo atingidos: vôo lotadaço.
A estas alturas, ressoava na minha cachola o conselho da ex-ministra e agora candidata quase derrotada à prefeitura de S. Paulo, Marta Suplício: “relaxa e goza”. Ao descer no Rio, bem próximo do Galeão, vi um grande depósito da Itaipava. Ora, a Itaipava é uma cerveja de respeito. E, nas horas amargas, nada melhor que adoçar o bico com uma cervejota maneira. Ainda mais no Riio.
Assim que desembaquei, procurei algum supervisor da Gol, confiando na hospitalidade dos cariocas. E não me decepcionei. O cara se comoveu com a minha desdita e deu-me um voucher (um tíque) para almoçar no Demoiselle. Fartei-me de comes e, naturalmente, matei a vontade de beber uma Itaipava.
Agora só preciso me lembrar de mandar o endereço do blog pro dono da cervejaria, pra ver se ele se comove com tamanha propaganda e manda umas caixinhas de cerveja lá pra casa, né?
Passada a euforia do almoço, de volta à espera. Nos pátios dos aeroportos vêem-se mais aviões da Gol do que da TAM. O que não alivia nada, porque uma ou duas dá na mesma, fica facílimo cartelizar e ferrar o pobre do usuário. Teria que ter mais umas duas, pra que a competitividade pudesse voltar aos ares brasileiros.
Bom, mas depois uma ou duas mudanças de portão, fomos para o ônibus (sim, claro, embarque remoto, longe dos fingers). Entramos e, qual palhaços, ficamos lá algumas dezenas de minutos, sem que a empresa desse qualquer explicação.
No ônibus encontrei meu colega Cacau Menezes, que, como eu, tentava voltar para Florianópolis. Ficamos os dois, no ônibus lotado e estacionado, xingando o Nenê Constantino, a Anac e tudo o mais que pudesse estar causando esse atraso. A foto acima (onde fizemos questão de mostrar como estávamos brabos, de cara feia) foi tirada pelo Manoelzinho, filho do Cacau, que aparece na foto abaixo, no tradicional gesto de “fora, papparazzi!”
A certa altura, também sem qualquer explicação, o motorista do ônibus apareceu, ligou o motor e nos conduziu até a porta de um Boeing 737-300 (comprovando que a Gol mente, quando diz que agora só tem 737-800), com alguns remendos, mas aparentemente em bom estado. Embarcamos atrasados, chateados, irritados (e, no meu caso, cansado), para um vôo que, no mais, foi muito tranqüilo. E a Gol, neste domingo cheio de surpresas, inovou mais uma vez: serviu bolachinhas salgadas em vez de barrinhas de cereal.
Chegamos sãos e salvos à Ilha, com um atraso de “apenas” meia hora ou um pouco mais. O suficiente para que eu ultrapassasse 12 horas de viagem (de vôo mesmo não chegou a quatro horas, o resto foi aeroporto).
Não poder contar com empresas aéreas eficientes, num país do tamanho do Brasil, é um problema seríssimo. Gravíssimo. Mas parece que, tirante as vítimas do descaso, ninguém mais está preocupado com isso.
ATUALIZAÇÃO DA MANHÃ
O Ruy Baron, repórter fotográfico que foi meu companheiro de viagem no Mato Grosso e que estava no mesmo avião em que fui de Cuiabá a Brasília informa, nos comentários, que embora tenha chegado à sua cidade no horário previsto, a mala ficou retida um tempão. Ou seja, nada é fácil com a Gol.
Ah, ô Baron, fiquei sem teu e-mail (e, maleducado, na pressa de ir xingar o pessoal da Gol, nem me despedi direito do amigo, que foi um excelente parceiro tanto no trabalho quanto nos test-drive de chops com matrinxãs e outros petiscos).
5 comentários:
Pena que estragaram a sua programação dominical. A mimha mala levou quase o mesmo tempo da viagem para percorrer os menos de 500 metros que separavam o avião da esteira. Até a próxima. Baron
Pôrra(parafrasenado o Prefeito...) e eu que tava com a carne no fogo desde às 11hs e tive que cuidar da churrasqueira, das geladas, enfim... até às 17hs. A metade da tua viagem... Q sacanagi... Se não mandarem as Itaipavas... dou um jeito de tomarmos algumas. LesPaul
Pê, vcs recebem um up grade desses (de barrinha para sanduiche) e ainda reclamam? Relaxem e gozem, vocês estão no Brasil!
Ah, esse na foto é o Cacau? Achei que fosse o FHC, olha como ficou parecido...
O teu relato é muito parecido com o que já aconteceu comigo, mas em um vôo de Maceió para cá. Mesma companhia. "Inventaram" umas escalas que não estavam explícitas em lugar algum antes de eu comprar as passagens. Para quem gosta de pousos e decolagens, é um barato. Para quem só quer chegar em casa em segurança e rápido, é um saco! E junte a isso tempo ruim em São Paulo com arremetida em Congonhas, espera em Santos, pouso em Campinas, retorno para Congonhas, ônibus para Cumbica, e chega-se a mais que o dobro do tempo normal de viagem. E haja saco...
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