segunda-feira, 14 de agosto de 2006

SEGUNDA

O TERROR AVANÇA
O seqüestro do jornalista Guilherme Portanova (foto) e do auxiliar técnico Alexandre Calado, funcionários da rede Globo, mostra a face perversa de um “movimento” pretensamente organizado, falsamente defensor de direitos, que não passa de um bando de criminosos que jogam com a impunidade e com a incompetência oficial para continuar onde sempre estiveram: à margem da lei e fora do alcance de agentes corruptos, ineptos e em muitos casos tão bandidos quanto.

A rede Globo atendeu à exigência dos seqüestradores, de transmitir um video que, “distribuído” dias antes às emissoras de TV, não foi veiculado espontaneamente. Mesmo assim, até o momento em que enviei esta coluna para o jornal, o repórter continuava desaparecido.

Atualização – O repórter foi libertado por volta da uma hora da manhã de segunda-feira. O auxiliar técnico tinha sido libertado no sábado. Trecho do relato do jornal O Estado de S. Paulo de hoje:
“O jornalista foi deixado no bairro do Morumbi, zona sul da capital, e pediu ajuda numa empresa, cujos seguranças o levaram para a sede da emissora, no Brooklin. No caminho, Portanova ligou para os colegas na Globo. O rapaz chegou à emissora por volta da 1 hora de hoje. Segundo informações de jornalistas da emissora que estiveram com Portanova, ele passa bem. Queixou-se apenas de dores no ombro esquerdo, por ter ficado a maior parte do tempo dentro de um carro. Não foi agredido.”
O Guilherme, que já trabalhou em Santa Catarina e estava há menos de um ano na Globo passou, na madrugada do dia 27 de junho, por outro susto grande. O carro da rede Globo parou num posto (perto da TV e a 500 metros de uma delegacia) para a abastecer e um bandido armado anunciou o assalto e trancou todos no banheiro. Levou dinheiro e uma câmera.

A Globo comentou o caso na abertura do Fantástico e não reapresentou o vídeo dos bandidos (transmitido na madrugada apenas para São Paulo). Fez apenas um resumo do conteúdo.

Está na hora dos cidadãos de bem começarem a tomar posição. Porque a prevalecer essa apatia, essa indiferença, essa pasmaceira, a bandidagem vai mesmo achar que já virou o jogo. É preciso parar de tratar os presos como animais, mas é preciso dizer a eles que os brasileiros querem que os mais perigosos tenham, sim, um tratamento mais rigoroso.

FIDEL 80 ANOS
O Comandante fez aniversário ontem, dia 13. Doente, é claro que a grande questão do momento é o futuro de Cuba e do regime que Fidel, aparentemente, vinha mantendo como principal fiador e ícone universal.

O Brasil, mostra a pesquisa publicada pela Folha de S.Paulo, é um país conservador, onde a maioria se diz “de direita” . Mesmo que a maioria também não tenha certeza sobre o que significa ser “de direita” ou “de esquerda”.

Portanto, é compreensível, nesse quadro de geléia geral, que os eleitores votem em Lula e se digam de direita ou até votem em Lula porque o consideram de direita. Imgino então o tipo de salada ideológica que provoca nas mentes brasileiras a simples menção dos nomes Cuba e Fidel Castro.

Com a queda do Muro de Berlim, da União Soviética e a divulgação de escândalos onde líderes “de esquerda” foram pegos com a boca na botija, a mão na massa, corruptos como seus “adversários” de direita, virou moda bater indiscriminadamente em tudo o que lembre a esquerda. Fidel incluído.

O DIREITO DOS POBRES
Reproduzo aqui alguns trechos que acho relevantes do artigo em que o Frei Betto (ex-conselheiro de Lula) comemora o aniversário do comandante:
“(...) Fidel é um homem de esquerda. Não fez, entre 1956 e 1959, uma revolução para implantar o socialismo. Motivou-o livrar Cuba da ditadura de (Fulgêncio) Batista, resgatar a independência do país e libertar o povo da miséria. Em visita aos EUA, logo após a tomada do poder, foi ovacionado nas avenidas de Nova York. (...)

“Cuba é o único país da América Latina que logrou universalizar a justiça social. Toda a população de 11 milhões de habitantes goza dos direitos de acesso gratuito à saúde e à educação, o que mereceu elogios do papa João Paulo II em sua viagem à Ilha, em 1998.

“Seria o paraíso? Para quem vive na miséria em nossos países – e são tantos –, a cidadania dos cubanos é invejável. Para quem é classe média, Cuba é o purgatório; para quem é rico, o inferno. Só suporta viver na Ilha quem tem consciência solidária e sabe pensar em si pela ótica dos direitos coletivos. Ou alguém conhece um cubano que deu as costas à Revolução para, em outra parte do mundo, defender os pobres?

“No trajeto do aeroporto de Havana ao centro da cidade há um outdoor com o retrato de uma criança sorrindo e a frase: "Esta noite 200 milhões de crianças dormirão nas ruas do mundo. Nenhuma delas é cubana." Algum outro país do Continente merece semelhante cartaz à porta de entrada?

“(...)Cobram da Ilha democracia, como se isso que predomina em nossos países – corrupção, nepotismo, malversação – fosse modelo de alguma coisa.(...)

“Cuba é, hoje, o país com maior número de médicos e bailarinos de balé clássico por habitante. E desenvolve um programa para atender, nos próximos 10 anos, 6 milhões de latino-americanos com deficiência visual – gratuitamente.”
(A íntegra do artigo pode ser lida em www.correiocidadania.com.br)

Um País como o nosso, cheio de pobres, analfabetos, excluídos de todo tipo, não pode, em muitos aspectos, considerar-se melhor sucedido que Cuba.

OS NOVOS FLORIANOPOLITANOS

Quando Florianópolis era menor e a gente conhecia muita gente, ninguém se sentia muito ameaçado com os poucos forasteiros que chegavam. Depois da grande invasão gaúcha da década de 70, muita gente ficou meio traumatizada. E achou que iria perder para estrangeiros o seu bem mais precioso: a vida pacata, na cidadezinha à beira mar.

Claro que perdeu. Perdemos todos. Aquela Florianópolis acabou. Teria acabado mesmo sem aquela invasão. Talvez a gente demorasse um pouco mais a perder a inocência se logo no começo não tivessem vindo algumas criaturas que chegavam com uma mão na frente outra atrás, certos que aqui vivia um bando de tolos e que seria fácil tirar proveito desses caipiras movidos a pirão dágua. Mas o crescimento natural da cidade, mesmo sem aqueles episódios, acabaria por trazer-nos ao que somos hoje: uma grande e bela incógnita.

Depois da leva de gente que não trouxe nada e só veio para se aproveitar e tentar tirar vantagem, criou-se um justo sentimento de indignação. A expressão mais eloqüente dessa resistência foi o movimento que o Aldírio Simões e vários manés, amigos das rodas de bar, iniciaram meio de brincadeira: o troféu Manezinho da Ilha.

Forma inteligente de dizer “péra aí, eu tou aqui, cheguei antes, me respeita!”, o movimento ajudou a elevar o moral da tropa, a recuperar a auto-estima dos nativos e a superar alguns dos traumas da grande invasão. E nunca mais passou um dia sem que chegasse à cidade gente nova. Nascidos aqui e trazidos pelos mais diversos motivos. E a gente andava na rua e não via ninguém. Ninguém conhecido. Mas gente aos montes.

No final da década de 90 e início do novo século, começou a chegar outro tipo de gente. Um povo que, bem estabelecido em suas cidades, com a vida resolvida, escolhia, dentre todas as possibilidades que estavam ao alcance de suas posses (num leque que, em muitos casos, tinha também Miami, praias do nordeste, Provence), viver na Ilha de Santa Catarina. Reconheciam, aqui, uma terra que ainda guardava alguns valores importantes da vida comunitária. Respeitavam o que se conseguiu preservar. Queriam fazer parte dessa vida e desta luta.

Esses novos florianopolitanos já podem ser encontrados em algumas associações de moradores, entrosados com seus vizinhos, vivendo suas vidas com o cuidado de não piorar a nossa. Não sei quantos de nós, nascidos aqui, que sofreram as dores do crescimento da cidade, estão percebendo que existem diferenças entre os recém-chegados. Não dá mais para gritar palavras de ordem genéricas e abrangentes: “fora paulistas, fora gaúchos, fora paranaenses!” Porque a luta, agora mais que nunca, não é mais entre os nativos e os estrangeiros.

Existem aqueles que, independentemente de etnia, cor, gênero, local de nascimento, idade ou sotaque, gostam da nossa Ilha. Querem fazer parte do grande esforço que todos teremos que fazer para manter o pouco que ainda resta e usar de forma inteligente nossos recursos, para que sejam duradouros, para que a Ilha não se descaracterize irremediavelmente. E existem aqueles – com alguns manezinhos que a gente conhece incluídos – que são capazes de vender as fortalezas centenárias pedra a pedra, para ter um lucrinho imediato. Mesmo que daqui a dois meses não sobre nada para se ver. Nenhum registro histórico para se apreciar e de onde aprender. Gananciosos. E burros. Assassinos da galinha dos ovos de ouro.

Portanto, acho que não tem mais sentido falar em rixa entre os nativos e os de fora. Porque tanto num quanto no outro lado tem gente gananciosa e estúpida. E tanto num quanto no outro lado tem gente inteligente que sabe dar valor ao que é importante.

Um comentário:

Anônimo disse...

boa dia, prezado jornalista César, gosto muito de sua coluna, mas hoje esta excelente, lembrou-me um professor alemão que aqui esteve em 1980, e uma vez me disse , aqui tem coisa boa e tem coisa ruim, hum, e na Alemanha, do Uber Alles,he,eh, tem coisa boa e tem coisa ruim, pode parecer bobabem, mas muita gente não consegue ver isto, em tudo que é lugar tem coisa boa e coisa ruim, e ou os que defendem a coisa boa se juntam, seja de onde forem, ou vai tudo para o brejo, vide os últimos acontecimentos, bom dia