quarta-feira, 5 de abril de 2006

QUARTA

O SÓCIO OCULTO

A notícia do dia, em Florianópols, é a compra do mais antigo jornal em circulação, o quase centenário O Estado, pelo empresário Adriano Kalil e um “sócio oculto”, conforme informou ontem o colunista Cacau Menezes, no Diário Catarinense. Kalil é o mesmo empresário que há alguns meses, com o mesmo “sócio oculto”, comprou o Diário da Cidade, em Itajaí.

Kalil, na verdade, lida com muitos jornais. Ele dirige a seção catarinense da Associação dos Diários do Interior (ADI), que representa a maioria dos jornais diários do estado. Mas essa investida para tornar-se, ele mesmo, um proprietário de jornais é mais ou menos recente.

Kalil estaria negociando ainda, na Grande Florianópolis, com um semanário de boa circulação e teria adquirido uma emissora de rádio na região de Joaçaba e Luzerna entre outros negócios na área.

Na foto, o secretário de Comunicação, Derly Anunciação, que nega ser o “sócio oculto”, mas não pode negar que tem sido o “amigo de todas as horas” da maioria dos veículos de comunicação.

IMPULSO VITAL
Os boatos, até agora não confirmados, dizem que o “sócio oculto” que municia Kalil com o imprescindível apoio e o fundamental impulso vital para essas aquisições é o ainda Secretário de Estado da Comunicação, Derly Massaud de Anunciação.

Esses boatos não são novos e Derly nega sua participação nos negócios de Kalil. Diz que não tem sentido arriscar o patrimônio que conseguiu em sua bem sucedida carreira na iniciativa privada em aventuras como essas.

Em todo caso, uma das fontes de alimentação desses boatos são as visitas diárias de Kalil ao secretário Derly, que às vezes duram várias horas. E isso por anos a fio, praticamente desde a posse, em 2003. Ontem mesmo ele ficou no gabinete do Secretário por bastante tempo. A justificativa para esse contato estreito é a relação que o governo mantém com a ADI.

E, a bem da verdade, se assiduidade no gabinede do secretário significasse sociedade, Derly também poderia ser considerado sócio do Marcelo Petrelli, do Raineri Bertoli (presidente da Acaert), do Osmar Schlindwein (A Notícia) e de vários outros empresários ou dirigentes de entidades, que batem ponto na SECOM.

OBRA DE ENGENHARIA
Essa “associação” entre a ADI, a Acaert (Associação Catarinense de Emissoras de Rádio e Televisão) e governo do estado, gerenciada pessoalmente pelo secretário Derly merece ser examinada com mais atenção não por que eventualmente possa ocultar alguma irregularidade, mas porque se trata de uma engenhosa articulação.

Ao centralizar verba publicitária e distribuição de conteúdo, articulando as duas coisas e funcionando como agência de publicidade e de notícias, a ADI, por exemplo, consegue distribuir material sem custo para os associados, sendo remunerada pelas comissões recebidas pela publicidade veiculada.

Em princípio nada há de condenável nessa operação. Mas a parede que separa os vários interesses envolvidos é excessivamente fina e permeável e não é possível garantir, à distância, que algum vazamento não ocorra.

A “MÍDIA TÉCNICA”
Os veículos têm legítimos interesses comerciais e o governo tem legítimos interesses políticos. Por intermédio da ADI de Kalil o governo tem mantido, com os veículos, uma proveitosa interlocução. E parte dos próprios veículos a iniciativa de oferecer generosos espaços ao noticiário favorável ao governo.

Até onde consegui ver, não existe, na história, uma “venda casada” explícita tipo “ganhas anúncio se falares bem”. Mas existe um inegável receio, de muitos veículos, que a fonte seque caso o jornal seja desagradável ao governo. Coisa até agora não comprovada, até porque a grande maioria é sempre muito simpática e cordata.

Mas mesmo jornais independentes, como o DIARINHO, que não fazem concessões mas têm boa circulação, acabam publicando anúncios do governo. É a tal “mídia técnica” implantada por Derly, que pretende desvincular a posição editorial do jornal da programação da publicidade oficial.

E este é o grande trunfo do governo LHS: os jornais e as emissoras de rádio e TV, que em outros governos foram, de uma ou de outra forma escanteados, agora estão sendo contemplados de uma maneira que eles próprios consideram mais justa.

E, infelizmente para os leitores, retribuem reduzindo espontaneamente a visão crítica de suas matérias. São, aparentemente, mais realistas que o rei.

OOPS!
Quem acompanhou o processo de compra do jornal de Itajaí não se surpreendeu com a compra de O Estado. É que, segundo relata pessoa próxima às negociações, na última hora alguém notou que havia um erro no contrato que transferia 40% do jornal para Kalil e sócios: em várias linhas, em vez de “Diário da Cidade” aparecia “O Estado”. Usaram o mesmo contrato que estava sendo negociado com O Estado.

Só que, aparentemente, José Matusalém Comelli foi mais duro na queda e demorou mais tempo a ceder. O contrato foi refeito rapidamente, com o nome correto do jornal de Itajaí e tudo acabou bem. E agora, finalmente, puderam utilizar aquele onde constava o nome do “mais antigo”.

O TEMPO DIRÁ
A verdade é que o relacionamento das aquisições do Diário da Cidade e do jornal O Estado com a ADI parecem demonstrar que há algo mais no céu além dos aviões de carreira. Mesmo que não se confirmem os estreitos laços que parecem unir Kalil ao secretário Derly.

Mas este estranho ano eleitoral, que se encaminha, em Santa Catarina, para uma campanha sem opositores (PSDB, PFL, PMDB e PP estão a poucos milímetros de formar um grande acordo), não vai ajudar quem gostaria de ver essas operações todas examinadas com maior detalhe.

Um velho ditado diz que nunca se deve querer saber como são feitos os jornais, as guerras, as lingüiças e as leis. E as aquisições de jornais (ou de parte deles) também poderia entrar. Às vezes é apenas uma operação comercial como qualquer outra, sem nada demais. Às vezes tem tantas entrelinhas que é melhor nem saber.

========================= (nossos comerciais, por favor!)

“CARO TIO CESAR: ONDE POSSO COMPRAR O DIARINHO EM FLORIANÓPOLIS?”

Cara sobrinha, tem DIARINHO na cidade toda!

CENTRO: Banca Amizade; Banca ARS; Banca Catedral; Banca Central 1; Banca Central 2; Banca da Hora; Banca Doce Revista; Banca Entrelaços; Banca Esteves Junior; Banca Estrelinha; Banca Gama D'Eça; Banca Hippo; Banca Ilha Bela; Banca Panorama; Banca Praça XV; Banca Praça Pereira Oliveira; Banca Shop; Banca Stilo; Banca Tio Patinhas; Banca Touring; Banca Três Poderes; Banca Vip; Banca Xerox; Farmácia Rafael; Hospital Celso Ramos; Mercado Fabiano; Mercado Gomes; Mercado Pioneiro; Mini Mercado Trav. Carreirão; Padaria Sabor e Pão; Padaria Super Pão; Supermercado Angeloni.

AGRONÔMICA: Banca Agronômica; Banca Sacolão; Mercado Tropicana 1 e Supermercado Angeloni.

CAPOEIRAS: OK Supermercado; Revistaria A Noticia; Supermercado Angeloni; Supermercado Big; Verduraria Piuli.

CARVOEIRA: Banca Carvoeira.

COQUEIROS: Banca Imperatriz.

ESTREITO: Banca de Revista Samuka; Banca Estreito; Banca Mercado Rosa; Banca Passtempo; Banca Santos Saraiva; Banca Shop.

ITACORUBI: Supermercado Rosa.

KOBRASOL: Conveniência Charles.

BAIRRO DE FÁTIMA: Banca Nossa Senhora de Fátima.

RIO TAVARES: Banca Culturar.

RODOVIÁRIA RITA MARIA: Banca Floripa; Banca Zanine.

SANTA MÔNICA: Supermercado Angeloni.

SERRINHA: Mercado Manhattan.

TRINDADE: Banca Comper; Banca Rafael; Banca Virando a Página.

3 comentários:

Anônimo disse...

Caro Cesar
Enfim caiu a máscara. A publicidade do Governo agora está restrita ao alcance de poucos. Uma verdadeira picaretagem. E os pequenos jornais como é que ficam? E a promessa feita pelo governador Luiz Henrique em descentralizar a publicidade e publicar os anúncios nos pequenos jornais? As eleições estão ai e não se esqueçam: pode dar chabú!
Um abraço Gilberto Gonçalves

Anônimo disse...

O "sócio oculto" por acaso não seria o próprio Comelli?

Cesar Valente disse...

Não, anônimo, o Comelli não participa dessas aquisições em Itajaí e Joaçaba. E no caso de O Estado, até onde sei, ele continua sócio, sim, mas nada oculto.