terça-feira, 3 de janeiro de 2006

TERÇA

Vocês acham que tem muito argentino na Ilha de Santa Catarina? Na curta temporada do verão uruguaio (geralmente concentrada em janeiro), Punta del Este se transforma, literalmente, em território argentino: mais de 90% de todas as propriedades do balneário pertencem a argentinos. O restante é de brasileiros.

E dos 200 mil veranistas que se estima que apareçam, a esmagadora maioria é de argentinos. Moram na cidade durante o resto do ano, cerca de 20 mil pessoas.

E a característica principal de Punta del Este é que seus freqüentadores são todos milionários (ou pensam que são e gastam como se fossem). A cidade se gaba de um baixo índice de crimes e que a maioria das casas, mesmo as mansões, não têm cercas nem muros.

A costa do Uruguai é muito bonita, mas também muito ventosa e o mar não é exatamente de águas quentes. Parece muito com o mar do Campeche, na Ilha. Tem dias com temperatura legal, mas quando resolve esfriar não tem sol que conserte.

Portanto a temporada se baseia, principalmente, em festas e mais festas. O pessoal vai à praia se queimar, fica pela areia, nos bares e pouca gente se arrisca a tomar banho. E à noite dá-lhe festa. A cidade é muito calma pela manhã e até umas 16h, que é a hora em que o povo dorme (tem lojas que só abrem às 16h). E ferve do final da tarde até às seis da manhã.

Próximo a Punta (que é uma península) tem uma outra ponta, chamada de Punta Ballena (Ponta Baleia), onde um dos mais famosos artistas plásticos uruguaios, Carlos Paez Villaró tem sua casa (Casapueblo), seu estúdio (foto acima) e um pequeno hotel. Todos construídos no estilo arquetetônico consagrado por Gaudi e inventado pelo João de Barro (o passarinho), usando mais as mãos e menos o prumo e o esquadro. Também em Punta Ballena a dona do Grupo Clarín (o mais importante jornal argentino) tem sua pequena mansão de veraneio. Com essa vista aí. É dura a vida, né?

O navio (que tinha antes feito escala em Florianópolis) descarregou centenas de brasileiros nas ruas de Punta. Na praia, o vendedor oferece vestidinhos feitos no nordeste brasileiro, igual que em todas as praias do nosso litoral. Se duvidar o sujeito é paraibano.

ESSES URUGUAIOS...
Desde o começo do século passado que uruguaios com visão empresarial atraem argentinos para desfrutar o sol e o mar (ou o rio). Primeiro foi o Francisco Piria, que criou um balneário ao qual, modestamente, deu o nome de Piriapolis. Ele chamou a avenida à beira mar de Rambla de los Argentinos, construiu um hotel sutilmente denominado Argentino Hotel e um porto para receber os barcos que traziam seus clientes de Buenos Aires.

Piriapolis foi um sucesso e teve sua época dourada nas primeiras décadas do século XX. Nos anos 50 entrou em decadência, embora ainda se mantenha como uma das principais praias para as famílias uruguaias.

Punta del Este, junto a Maldonado, um pouco mais ao norte, é coisa recente. Mas obedece à mesma lógica empresarial: dar aos argentinos, sedentos de sol e férias, um lugar onde se sintam em casa. E neste caso especial, tem atraído quase que apenas gente com muito dinheiro.

ESSES BRASILEIROS...

As mansões de Punta são construídas com esmero, como se fossem luxuosas casas de moradia. Mas ficam fechadas o ano todo. Abrem e hospedam seus donos, quando muito, por três meses, em geral apenas um.

Um dos bairros mais caros e chiques se chama... Beverly Hills. E é quase todo de brasileiros muito, mas muito ricos. É onde, por exemplo, o dono da Grendene (que faz a sandália Melissa) tem sua casinha. E é onde se constrói uma casa enorme, luxuosíssima, de milhares de metros quadrados, que os guias de turismo de Punta comentam, em voz baixa, que é de um barão da droga brasileiro, mas não citam o nome. Pode ser só uma lenda...

O Uruguai é um paraíso fiscal, com impostos baixos e contas bancárias secretas e cassinos. Isso pode explicar, em parte, a atração que tantos milionários brasileiros têm por Punta. Outro motivo seria a segurança: em que praia brasileira se pode andar tão despreocupado quanto em Punta?

Trânsito engarrafado no mar. Ainda bem que nem todas as lanchas saem ao mesmo tempo... Nas ruas a coisa só complica no final da tarde e à noite, perto dos lugares da moda.

Um comentário:

Anônimo disse...

Estou adorando poder conhecer e literalmente viajar pelos recantos do "Sulzão" com o amigo.Estou aprendendo com suas viagens oq eu eu nao sabia nestes meus 28 anos de vida. Parabéns ta lindo o trabalho. Forte abraço, feliz ano novo e que bons ventos o levem mas o tragam de volta a ILha logo, logo.

Nielsen Ubiratã