sábado, 7 de janeiro de 2006

SÁBADO E DOMINGO

LAR, DOCE LAR
Passear ou viver em Florianópolis é o sonho de milhões de pessoas, de várias partes do País e do mundo.

A gente sabe que a cidade, que continua linda e sedutora, já sofre os efeitos desse assédio.

E fica com medo, a cada verão, que a Ilha afunde, com tanta gente, tanto carro e tanto olho gordo.

Quando começamos a ouvir todos os dias histórias sobre assaltos a casas alugadas por argentinos, a gente sabe que a temporada de verão em Florianópolis começou. Quando a conta do restaurante habitual, mesmo com a pedida de sempre, quase dobra de valor, a gente sabe que a temporada começou. Quando as ruas engarrafam inexplicavelmente e é preciso montar esquemas especiais para ir e vir, a gente sabe que a temporada...

Pobre Florianópolis...
Cidade de veraneio que não nasceu pra isso. Tratam-na como se fosse assim uma Balneário Camboriú, que cresceu exclusivamente em função do verão e do pessoal que chega no verão. Florianópolis é apenas uma cidadezinha pacata, habitada por criadores de curiós, pescadores de tarrafa, contadores de histórias e funcionários públicos. Não está preparada para ser o objeto de cobiça de um país inteiro. Muito menos de um País do tamanho do Brasil.

A cidade está dividida entre os que esperam ansiosamente pelo verão, meses escassos de calor em que poderão tirar o pé da lama, ganhando o dinheiro que os sustentará no restante do ano e aqueles que não agüentam ver essas hordas de veranistas pra lá e pra cá, com seus carros cheios de gente e tralha, suas infinitas latas de cerveja, seu som alto, seu desrespeito pelos anfitriões.

Pobre Florianópolis...
Estou também dividido, porque não sei se torço para que chova e faça frio o verão inteiro ou se quero receber os amigos, que sempre vêm, com o sol e o mar que sempre tivemos. Fosse rico, poderia fugir daqui nesta época. Ir para alguma dessas cidades que ficam vazias no verão. E ficar lá por dois ou três meses.

Talvez fosse uma boa instituir a reciprocidade: cada vez que um turista fizer xixi no meio da rua na Lagoa, alguém vai a Sorocaba fazer xixi na frente da casa dele. Cada vez que um vândalo arrebentar placas, jogar papel no chão e derrubar luminárias, alguém vai a Ponta Grossa ou que outra cidade seja, dar-lhe o troco. Cada vez que um carioca estacionar sobre a calçada, alguém vai ao Rio...

Pobre Florianópolis...

Mas é claro que isso não vai adiantar, porque esse pessoal que não nos respeita, também não está nem aí para a cidade deles. Falta-lhes, como a tantos, em tantos países, educação para a vida em sociedade. Muitos movem-se com o mesmo combustível que inicia as guerras: a intolerância assentada numa base sólida de ignorância.
Ainda bem que a temporada este ano é mais curta: o Carnaval é em fevereiro. Só precisamos sobreviver mais uns 52 dias.

CHATICES DE VERÃO
De vez em quando algum leitor, leitora, amigo ou parente, comenta comigo que acha chatas aquelas notas que tratam apenas de política partidária. Aquela história de “Pavan isso, LHS aquilo, a candidatura do fulano, as chances do beltrano”.

No começo eu achava que isso era papo de gente que não quer saber do que está acontecendo ao seu redor. Mas nos últimos dias eu também estou achando essa entressafra muito chata. Tá todo mundo com a cabeça em férias, mas os políticos continuam a mil, plantando notinhas sobre possibilidades, chances, sonhos e coligações.

Nada do que se está dizendo sobre política hoje está valendo. É tudo pra consumo interno. Um candidato a deputado querendo assustar o outro da mesma região, um candidato a governador que parece puxar o tapete do outro, mas que na verdade quer uma parceria. Nada de concreto.

FILME ANTIGO
Essa história do álcool ficar caro e escasso justamente quando os carros a álcool começam a ficar populares é um filme antigo, que a gente já assistiu e, até onde sei, ninguém gostou.

Os usineiros de açúcar e álcool parecem ser ainda mais “espertos” que os donos de postos de combustíveis de Florianópolis. Vivem querendo levar vantagem às nossas custas.

Quando acabaram-se os carros a álcool, ficaram chorando pelos cantos. Depois, quando voltaram os carros a álcool, atraídos pelo preço baixo do combustível, os usineiros rebobinaram a fita e puseram de novo o mesmo filme, velho e gasto.

A trilha sonora também é a mesma: “A procura pelo álcool cresceu muito, estamos na entressafra, tem que subir o preço, queremos dinheiro barato a juros subsidiados, tem que pegar no colo e cantar nana nenê”. Senão eles deixam todos os tolos que acreditaram – de novo! – no álcool, na mão.

TAPA BURACOS
Eu sei que a gente não é idiota, mas devemos ter cara de idiotas. E sempre aparece um querendo fazer-nos de mais idiotas ainda. Nem bem passou a fase aguda do escândalo do mensalão, o governo federal já está arranjando outro problema.

É simples: primeiro deixa as estradas ficarem bem esburacadas. Daí, declara estado de emergência (como se os buracos tivessem surgido de uma hora para outra, depois de uma tsunami). E, para felicidade geral dos envolvidos, pode gastar milhões sem licitação, contratando as empresas dos amigos de sempre, pra fazer remendos que durem até outubro.

UM DOS PIORES
Falei ontem que o aroporto de Ezeiza, em Buenos Aires, se acha “o melhor da América do Sul”, embora tenha vários problemas. Não poderia deixar de citar o absurdo estacionamento do aeroporto Hercílio Luz, em Florianópolis, monumento à desinteligência, ícone do desrespeito com que a cidade é tratada pela Infraero. Até o estacionamento da rodoviária é melhor. As filas enormes causadas por um sistema medieval de cobrança parecem não preocupar a administração do aeroporto e muito menos à terceirizada (de Joinville) que fornece a mão de obra. Mais uma vergonha federal.

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