Aldírio (e) com o Marreco (Érico Neves), garçom do Bar Fala Mané, programa de TV que fez história e deixou saudades. Foto do Olívio Lamas.
NAQUELA MESA TÁ FALTANDO ELE...
Hoje vamos homenagear o inesquecível Aldírio Simões. Manezinho e criador de manezinhos, era visto pelos nativos como uma voz em defesa dos valores que, aos poucos, vão desaparecendo, soterrados por novos costumes, novos sotaques, novas gerações.
Por isso, convidei o grande Chico Amante, com quem o próprio Aldírio se aconselhava sobre assuntos da cidade, para escrever um artigo especial (que está aí embaixo), para que a gente pudesse lembrar do Aldírio a partir de uma visão privilegiada. O Chico é escritor e reuniu em livro a biografia dos homenageados com o Troféu Manezinho da Ilha. Um documento fundamental para ajudar a entender esta nossa cidade.
Aldírio dirigiu a Fundação Franklin Cascaes de 1989 a 1992 e segundo o atual superintendente, Vilson Rosalino, “ele contribuiu de forma expressiva para o resgate e valorização das tradições florianopolitanas, incentivou como poucos a continuidade das manifestações culturais populares, reconhecendo a singularidade da história, do jeito de ser, de se expressar e de se relacionar com o mundo, do autêntico manezinho”.
Nos bares mais simples da Ilha, nos locais onde ainda se pratica o bom esporte da conversa entre amigos, no coração dos florianopolitanos, este final de semana terá, com certeza, pelo menos um minuto de silêncio de reverente e saudosa lembrança.
Aldírio abraça o amigo Chico Amante na Mercearia Ori, no Abraão,
onde hoje existe uma placa em sua homenagem.
onde hoje existe uma placa em sua homenagem.
...E JÁ SE PASSARAM DOIS ANOS
Francisco Hegidio Amante
Manezinho da Ilha
Francisco Hegidio Amante
Manezinho da Ilha
Isso mesmo. Amanhã (22), fazem dois anos que o grande Manezinho da Ilha, Aldírio Simões nos deixou em circunstâncias trágicas.
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E nunca é demais rememorarmos a trajetória dessa figura ímpar, que com dignidade e inteligência soube muito bem representar e defender nossa cidade frente às inúmeras tentativas de distorcer nossos costumes e nossas tradições, com a incursão de culturas alienígenas.
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Conheci o Aldírio nos idos de 1956, quando ele, ainda garoto, ingressou na firma João Moritz S/A., vindo da não menos famosa Confeitaria Chiquinho, para desempenhar as funções de balconista na A Soberana da Rua Felipe Schmidt, esquina com a Praça XV. E ali se notabilizou pela forma carinhosa com que atendia a clientela, notadamente às senhoras a quem fazia questão de chamá-las de “madame”, algo bastante inusitado e uma forma de reverência àquelas pessoas que, aliás, faziam questão de serem atendidas pelo Manezinho.
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Entretanto, a função de balconista era muito pouco para a capacidade e a inteligência dele, que pretendia alçar vôos muito mais altos na vida. Por isso resolveu ir buscar a sorte no Rio de Janeiro, permanecendo por lá por alguns anos. Entretanto, o cheiro característico da maresia da Ilha, aliado às amizades que havia deixado e alguns dos pontos que caracterizavam a rotina de Florianópolis, como, por exemplo, o Miramar e o Mercado Público, juntou sua trouxa e retornou para cá, agora com mais experiência e disposto a trabalhar no ramo jornalístico.
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Assim, visitando as redações dos jornais da cidade, encontrou na pessoa do jornalista Wilson Libório de Medeiros, do Jornal O Estado, recém instalado nos altos da Felipe Schmidt. o “padrinho” que necessitava para dar início a essa nova e fascinante atividade. Mas, como qualquer iniciante, sua primeira função foi de paginador.
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A partir de então sua carreira foi meteórica, passando a atuar não somente na imprensa escrita, como também em rádios e posteriormente na televisão, tendo criado, dirigido e apresentado um sem número de programas, culminando com o inigualável e até hoje insubstituível “Bar Fala Mane”, de saudosa memória.
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Também ingressou na Prefeitura Municipal, onde galgou passos importantes em sua carreira profissional, culminando com a Superintendência da Fundação Franklin Cascaes e a Secretaria de Cultura, Esportes e Turismo. Apaixonado pelo Carnaval, foi seu coordenador oficial por várias décadas, incentivando as Escolas de Samba e os tradicionais Blocos de Sujos, este últimos de tanto sucesso em anos passados.
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Suas promoções transcenderam a mais de uma dezena, e destacando-se a Maratoma, os Torneios de Dominós, a Parufest, os banhos de mar à fantasia, e tantas outras. Criou a famosa Banda Mexe-Mexe, nos moldes da Banda de Ipanema, do Rio de Janeiro, nomeando sua rainha a nossa querida Marisa Ramos. Criou também o Bloco Carnavalesco Ânsia de Vômito, que antecipava os festejos momescos, nos moldes do que hoje faz Bloco Berbigão do Boca.
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E desde 27 anos atrás, tive a felicidade de vê-lo meu vizinho no Abraão, juntamente com outro Manezinho famoso, o poeta Zininho. Daí em diante, consolidou-se uma amizade indissolúvel, e tornei-me, involuntariamente, seu confidente e seu conselheiro, principalmente quando algo sobre nossa cidade fugia de sua memória e ele precisava para ornamentar suas inconfundíveis crônicas no jornal.
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E a Ilha e os Manezinhos, no fatídico 22 de janeiro de 2004, perderam o seu maior porta-voz; uma voz atuante em defesa de nossos interesses culturais, folclóricos, usos e costumes, que não media esforços para manter acima de qualquer coisa, tudo aquilo que sempre nos pertenceu e que diuturnamente “alienígenas” tentam de todas as formas nos roubar. Porém, jamais deixaremos a peteca cair. Em memória do Aldírio, iremos defender com intransigência toda a sua obra, dignificada pela sublime atuação profissional e o comportamento exemplar no seio de nossa sociedade.
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Estejas onde estiveres, Aldírio, já assumimos tua trincheira em defesa de nossa cidade e de nosso povo, na certeza de que, irmanados pelo ideal que sempre norteou tua existência, haveremos de manter viva a tua memória e os sagrados anseios do povão, justamente aquele povão que sempre reverenciou tua pessoa, prestigiou e foi solidário com o teu trabalho.
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Sabemos perfeitamente que a municipalidade está a dever a perpetuação de tua memória, seja através da concessão de teu nome a um logradouro, à altura do teu trabalho de defesa e promoção de nossa cidade e de nossa gente, ou erigir em algum lugar uma estátua que torne perene a tua imagem.
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Aliás, há alguns meses enviei uma foto da estatueta que mandei confeccionar pelo Plínio Verani, para a Fundação Franklin Cascaes, sugerindo sua colocação naquele protótipo do Miramar da Praça Fernando Machado, desde que o mesmo fosse coberto e colocada as muretas em seu redor, porém ninguém na Fundação teve a gentileza de responder à correspondência.
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Descanse em paz, mô Pombo, até um dia na eternidade e um beijo no fundo do teu coração!
Do teu saudoso e eterno Amigo
Chico Amante
Chico Amante
Um comentário:
No texto Já se passaram dois anos, tem a frase "fazem dois anos" quando o correto é faz dois anos.
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