sexta-feira, 2 de dezembro de 2005

SEXTA

O GERME DO TOTALITARISMO
O movimento pelo passe livre, que defende a estranha tese que o trabalhador pobre deve pagar passagem de ônibus, mas os estudantes não, fez uma manifestação no centro da capital esta semana.

Quem ouve ou vê o povo que lidera esse movimento, pode até achar que por trás daquilo está um certo apelo anarquista, no bom sentido. A utopia anarquista é aquela que acredita que todos viveriamos melhor se ninguém mandasse ou tivesse poder sobre ninguém.

Mas a prática desse pessoal, expressa nas faixas que fizeram a gurizada carregar (com erros de grafia e tudo), esquece o sonho e a luta por um mundo melhor, para mergulhar no ódio e na birra infantil de criança mimada.

Como o Tribunal de Justiça decidiu contra os interesses do movimento, passou automaticamente a ser um covil de picaretas. Tivesse decidido a favor, como fizeram, impensadamente, os vereadores, seriam dignos de respeito e elogios. Isso é demonstração do mais puro fisiologismo.

Tal como tantos outros movimentos populares, o do passe livre está começando a mostrar sua verdadeira face, que é feiosa, atrasada, totalitária. Nem um pouco anarquista ou sequer socialista.

Tivesse eu alguma parcela de poder, chamaria às falas os vereadores que aprovaram a lei que agora está sendo contestada pela Justiça. Para agradar o eleitorado, não mediram as conseqüências do ato, fizeram demagógica reverência com chapéu alheio.

O passe livre como está sendo proposto é um absurdo. Seria mais razoável pedir que o uso do transporte coletivo urbano fosse grátis pra todos. Defender que só estudantes, independentemente da sua situação econômica, sejam beneficiados, enquanto os trabalhadores de salário mínimo continuam penalizados, é coisa de quem não tem mais o que fazer.

E as ofensas feitas ao Tribunal de Justiça e ao Prefeito encerram o germe do totalitarismo. Têm a mesma matriz do “quebra tudo!”, dos justiçamentos, do paredão, dos atentados terroristas. Não podem nem devem ser considerados apenas como “brincadeira de adolescentes desocupados”.

LHS E AS VINÍCOLAS
Às vezes parece que o LHS não tem amigos. Será que ninguém ligou pra ele contando que as visitas dele às vinícolas tinham virado assunto na Assembléia e que talvez fosse melhor pular essa parte pra não dar munição fácil pra oposição?

Ou então vai ver que até avisaram, mas o LHS quis demonstrar que o que eles falam não o atinge. E lá foi ele, vistar uma grande vinícola da Califórnia e depois uma menor, de um catarinense.

O cirurgião plástico Brunno Ristow nasceu em Brusque, formou-se no Rio e fez residência com Ivo Pitanguy em 1966. No ano seguinte mudou-se para os Estados Unidos, trabalhou em Nova Iorque e desde 1974 está na Califórnia, onde mantém uma clínica famosa e conceituada em San Francisco (www.brunnoristow.com).

Brunno e sua esposa Urannia compraram, em 1983, um “terreninho” no Vale do Napa (região vinícola da Califórnia) e plantaram a uva Cabernet Sauvignon. Deram ao lugar o nome de Quinta das Pedras (assim mesmo, em português). Uma parte da colheita serve pra produzir o vinho Ristow Estate, que tem um bom nome no mercado, embora produza “apenas” mil caixas por ano.

Na foto acima, que a Secom distribuiu sem dizer quem é quem, imagino que o sujeito com a taça, à esquerda, seja da vinícola. Ao centro, o governador LHS. Ao fundo, um membro não identificado da comitiva degusta o vinho. No canto da foto, o brasão que aparece nos rótulos dos vinhos. Como sempre neste blog, para ver uma ampliação da foto é só clicar sobre ela.

UFSC? COMO ASSIM?
Só pra encerrar por hoje esse assunto da viagem do governador. Ontem ele esteve presente à assinatura de um papel entre uma universidade da Califórnia e a UFSC. Não entendi o entusiasmo do governador com o tal convênio para cursos de pós-graduação. E muito menos a forma como a Secom divulgou o fato: “LHS assina acordo para implantação de cursos MBA na UFSC”.

Primeiro porque a UFSC é federal, autônoma, luta com uma falta crônica de verbas e no momento está parada, em greve de professores e servidores. Segundo porque não tem sentido o governador viajar essa distância toda apenas para ser testemunha da assinatura de um troço que, a rigor, não lhe diz respeito. Claro, como governador catarinense ele fica torcendo para que as portas se abram aqui e ali, etc e tal. Mas, de novo, é munição gratuita para a oposição.

E por falar em UFSC, hoje os servidores decidem se suspendem a greve, atendendo a orientação do comando nacional e acompanhando as demais universidades, ou se continuam, solitários, até terminar o verão. Os professores já decidiram que não voltam tão cedo.

ACESSO FÁCIL PRA QUEM PRECISA
Quem tem que andar de cadeira de rodas sabe como as cidades foram feitas pra atrapalhar e criar dificuldades. O sujeito não pode ir e vir, mesmo que tenha quem empurre, mesmo que tenha motor, mesmo que seja atleta.

Pois não é que a prefeitura de Florianópolis está fazendo uma coisa civilizada que eu nunca esperei que eles fizessem? Botou pra funcionar um grupo chamado “Floripa Acessível”, coordenado pelo IPUF, com a participação da SUSP e de várias associações de portadores de deficiências, arquitetos e OAB.

Mais devagar do que seria desejável, começam a fazer levantamento dos obstáculos que a cidade criou para quem tem dificuldade de andar, para cegos e surdos. E agora, no dia internacional das Pessoas com Deficiência, que se comemora amanhã, já têm alguma coisa para mostrar. Coisa pouca, é verdade, mas a gente dá um desconto porque não faz muito tempo a prefeitura ignorava olimpicamente essa parte da população.

Mais ou menos 14% da população tem alguma deficiência física. É muita gente.

SUPERMERCADOS
O Sindicato dos Comerciários, que está em campanha salarial para os trabalhadores em supermercados, esta semana se “plantou” em cima de um caminhão de som (que de tão grande é praticamente um trio elétrico) e mandou ver. Diziam que a turma dos supermercados atende todo mundo aos sorrisos, mas trabalha domingos e feriados sem ganhar um extra. Sem baixar o volume, meteram o pau no que eles chamaram de "sacanagem".

Esse pessoal da foto estava na rua Esteves Júnior, que tem, próximos um do outro, uma loja do Angeloni (a maior rede da capital) e o Tribunal do Trabalho, onde tiveram audiência com o sindicato dos patrões (os tais, que segundo eles, são os autores da “sacanagem”).

Um comentário:

Anônimo disse...

Acho que o Movimento do Passe Livre errou em dizer que no TJSC há 40 picaretas com anél de doutor ... na verdade os que usam o anél são apenas 28 ...

Não sou anarquista. Nem comunista. Aliás, odeio ideologias. Mas acho que esse movimento tem uma lógica "defensável": se os trabalhadores ganham "vale-transporte", parcela extra ao salário, porque os estudantes também não poderiam ganhar? Quero dizer, se cumpre ao Poder Público facilitar o acesso à educação, estender aos estudantes o mesmo benefício dado aos trabalhadores não é assim tão absurda.

Claro que o método para postular esse benefício não parece ser nada democrático. Mas, enfim, são estudantes. Têm muito o que aprender.

Anônimo para não comprometer minha reputação pelos tribunais da vida ...