Aos 45 anos, a UFSC adota oficialmente o chimarrão
APAES NO FUNDO
O governador LHS (PMDB) sancionou ontem o projeto que o deputado Júlio Garcia (PFL), presidente da Assembléia, encaminhou com grande empenho.
Santa Catarina tem 185 Associações de Pais e Amigos dos Excep-cionais, que atendem cerca de 15 mil pessoas. E a partir de agora essas entidades receberão 1% de tudo o que o Fundo Social arrecadar.
À parte o legítimo direito das Apaes a um apoio estatal, essa Lei adiciona, às discussões sobre a legalidade do Fundo e à própria CPI, um componente emocional: como ser contra um Fundo que beneficia as Apaes?
LHS TÁ COM O PALUDO ATRAVESSADO
A decisão do juiz Domingos Paludo, da Vara da Fazenda Pública, proibindo a veiculação da campanha Santa Catarina em Ação caiu como uma bomba sobre o Centro Administrativo. O juiz, ainda por cima, bloqueou os bens do governador LHS, do secretário da Comunicação e do publicitário Wilfredo Gomes.
Na verdade estamos assistindo a uma espécie de trailer do que será a batalha eleitoral. Este foi um cruzado de direita que o PP acertou. O governo vai tentar derrubar a liminar e revidar o golpe.
CALENDÁRIO MALUCO
Com a maior naturalidade, algumas dezenas de professores da UFSC decidiram “desvincular o calendário letivo do ano gregoriano”. Ou seja, esse calendário que o resto do mundo adota, com 12 meses, iniciando em janeiro e terminando em dezembro, já não serve mais pros ex-grevistas. Até atrapalha.
Pra facilitar, então, eles vão tocando as aulas e, quando terminar, acabou. Daí tiram uns dias de fé-rias e continuam. Sem ligar se é agosto, maio, novembro ou março. E sem se preocupar se é 2006 ou 2007. Os estudantes, que vêem seus prazos irem pro espaço, até agora não chiaram.
TUDO É FESTA
Ano eleitoral é fogo. O prefeito de Palhoça, Ronério H. (PMDB), foi entregar para uma empreiteira a ordem de serviço de pavimentação de menos de 10 km de estrada (entre as praias da Pinheira e do Sonho). Aparentemente nada de muito extraordinário.
Pois o troço virou festa e comício, como se a obra já estivesse pronta e acabada. A quantidade de político que apareceu pra tirar uma casquinha da “reivindicação antiga atendida” foi uma grandeza.
Estavam lá o vice-governador Pinho Moreira, o ex-governador Paulo Afonso, os deputados Edison Andrino e João Henrique Blasi, o secretário regional Galina e naturalmente o pessoal local, vereadores à frente. Teve palanque e faixa agradecendo “o compromisso cumprido”. Isso que ainda não tinha começado o serviço.
Não foram confirmados os eventos para comemorar a primeira pá de asfalto e a primeira caçamba atolada, mas a inauguração (depois de terminada a obra) vai ter uns três dias de festa e discursos.
CONCHAVO DIGITAL
O governo Lula está dançando de rostinho colado com as grandes redes de TV: prometeu financiamento do BNDES, a juros baixos, para que eles comprem o equipamento para adaptar-se ao sistema de TV digital. E também está fazendo o jogo de interesses poderosos na escolha do sistema que o Brasil vai adotar. Lulinha é fogo!
PARA BOM ENTENDEDOR...
Publiquei a crônica abaixo, pela primeira vez, em 8 de dezembro de 1972 – há 33 anos! – no jornal O Estado, de Florianópolis, SC. Como o Natal é o mesmo todo ano, de vez em quando, como agora, republico pra ajudar a avivar a lembrança do que esta data significa.
Pela calçada meio esburacada, lentos como a folha de jornal que caía de um viaduto, vinha um casal de caipiras. Seis horas da manhã e os caminhões já passavam enormes, levando tudo o que o dinheiro pudesse comprar. O pó que os pés dos recém-chegados à cidade grande levantava não era tanto quanto o pó armazenado nas suas roupas. A cadência quase morta com que o casal andava era a evidência de que aquela seis horas não os apanhara bem dormidos e descansados. Ela estava grávida, mas andava leve, embora com passos meio lerdos. Seus olhos não pareciam pertencer àquele corpo nem àquele homem. Ele não deveria ter sensibilidade para entender a doçura daquele olhar de mulher bonita.
Pararam em um boteco. Pediram duas médias com leite. Ela cavocou numa sacola e catou dois pedaços de pão caseiro. Uma vez na cidade, a luta seria pela pousada. E se fosse só ele, qualquer canto servia. E ela neste estado. Se ao menos ele tivesse recebido o dinheiro daquelas mesas... Ele era carpinteiro. Muito procurado no lugarejo onde morava. Mas tudo gente pobre, o ganho era pouco. Agora, as mesas tinham sido encomendadas para a casa de praia de um madereiro. Gente de posses.
O dia inteiro, fugindo do sol de dezembro sob as marquises, eles procuraram onde ficar até “amanhã”. Para eles a cidade não teve portas nem janelas. Só paredes. Já anoitecia, os carros paravam para que embarcassem moças de vestido muito curto. De tarde tinham visto uma oficina abandonada. Voltaram. O assento traseiro de um Buick estava lá, jogado, e serviu de cama para ela, de olhar doce. Ele, homem, ficou em qualquer canto. Olhando o nada e esperando as seis horas pra pegar a fila. Uma das filas. Não se falaram, apenas trocaram pensamentos ternos.
De repente, um clarão iluminou tudo. Ele pulou em pé. Os vizinhos, que estavam na janela com insônia, telefonaram para os bombeiros. Ela, com o suor brilhando no rosto, acabara de ter seu filho. A oficina velha continuava clara, mas ele não ligava, só se preocupava em acomodar a criança, desajeitado, sem saber o que fazer exatamente. Chegaram os bombeiros, esperando, no mínimo, fogo e destruição. Encontraram uma nova vida, mais uma vida. Ninguém achou ruim o alarme falso.
Os vizinhos curiosos que entraram junto com os bombeiros, providenciaram roupinhas e assistiram à primeira alimentação do neném. O tumulto não houve. Assim como se existisse paz e boa vontade.
Um dia, lendo o jornal, o homem que chamou os bombeiros soube da morte de um indivíduo cujo nome – esquisito – era igual ao dado pela mãe àquela criança nascida na oficinal velha (hoje existe um edifício de apartamentos no lugar). Ele foi morto pelas suas idéias, leu, ele pregava um reino de amor, uma utopia possível, a vida plena, sem escravizações.
O homem, agora velho, recostou a cabeça, pensou naquela noite. Lembrou e gostou das lembranças.
Reuniu seus filhos e netos à meia-noite numa ceia e todos ouviram o velho homem contar, entre lágrimas, o que havia sido aquela Noite Feliz.
Um comentário:
Erico Verissimo contou em "Um Lugar ao Sol" que, em dada maternidade da Porto Alegre, as parteiras envolviam os recém-nascidos em jornais velhos, isso porque os pais eram tão pobres que não tinham dinheiro para comprar roupas ...
Coitadas destas "bem-desaventuradas" criancinhas .. desde cedo enroladas em desgraça! Muitas continuarão vivendo de notícias e até farão sucesso no ramo: temidos personagens das sessões policiais.
Eis o mote do meu auto de natal!
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