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OS TEXTOS
Olho esquerdo:
Rosa é uma trabalhadora esforçada, lutadora. Com o marido, também trabalhador, criam três ótimos filhos. Vivem com simplicidade, dificuldade e dignidade como tantos milhões de trabalhadores brasileiros. Ontem ela foi ao BESC da Palhoça, depositar um dinheirinho na poupança. Deixou a bicicleta no cadeado, no estacionamento do Banco. Quando voltou, tinham roubado. O gerente do banco disse que todo diam roubam bicicletas ali. O policial na Delegacia, ao registrar a ocorrência, disse que todo dia roubam bicicletas ali. E a Rosa, que usava a bicicleta para ir trabalhar e fugir das tarifas escorchantes do transporte coletivo, ficou se sentindo uma palhaça: se todo mundo sabe que todo dia um sujeito rouba bicicletas e as coloca para vender nas lojas de móveis usados, por que ninguém faz nada? Não prendem o desgraçado ou pelo menos avisam “favor não deixar bicicletas aqui”?
Olho direito:
Eduardo é um jovem esforçado, que achou que cumpria seu dever de guarda municipal ao multar aqueles motociclistas transgressores da lei. Acabou demitido por justa causa, sem direito a defesa. Seu único erro, não quis saber quem estava multando. Multou Alexandre Rafael Elias, filho do prefeito de São José e outro figurão local, que são, conforme fizeram o pobre Eduardo ver, cidadãos acima do bem e do mal, que não admitem ser advertidos na cidade onde sua família manda. Todos aqueles que já receberam multas de trânsito estão agora se sentindo verdadeiros palhaços. E mais uma vez as “autoridades” provam que quem cumpre a lei é palhaço, otário. Que só serve para votar nessa gente que nos faz, todos os dias, de palhaços. Com a demissão do guardinha, os contraventores de São José receberam um recado claro: a Lei só existe para quem não é amigo nem parente do prefeito.
Nariz:
O governo fez desabar toda a sua fúria e rigor sobre a cabeça do pobre caseiro que ousou dizer que viu o Palocci na casa de Irene. Ele está sendo investigado como não foram aqueles que lavaram milhões de dólares roubados, encurralado como nunca foram aqueles que fizeram pouco das leis, triturado como nunca fizeram com verdadeiros criminosos. O PT e o governo têm absoluta certeza que somos todos palhaços. Imaginam que basta provar que o outro é desonesto, para que automaticamente fiquem livres da própria desonestidade. E dançam e se alegram com a impunidade: “os da minha turma não são desonestos, estão sendo apenas caluniados”, cantam eles, enquanto nós, aqui no picadeiro, comemos serragem e ainda temos que pagar os salários de todos eles.
Boca:
Os prefeitos se elegem, em cidades de administração complicada como Florianópolis (uma Ilha, portanto com área limitada, cheia de ecossistemas frágeis e que exerce enorme atração turística), sem se preocupar com o futuro, com o planejamento, com soluções eficientes e duradouras para os problemas. Egoístas, concorrem porque é bom para a carreira política ter administrado a capital. E são acompanhados pelos vereadores mais “espertos”, que arregalam o olho, abrem a mão e recolhem, sem vergonha, as “contribuições” por terem votado assim ou assado. E a cidade vai se enchendo de entulho, de gente, de prédio, de asfalto e de problemas cada vez mais insolúveis. E nós, os palhaços, pagando os impostos que pagam os salários de todos eles!
ATÉ QUANDO?
3 comentários:
Sensacional!
Não tanto o conteúdo das histórias, que são beeem tristes, claro, mas a idéia.
E tb não por ser sua fã, mas porque está muito bom messs.
Falar nisso, assistiu ao vídeo da dança-da-deputada-baleia-sebosa? Eu não tinha visto (a tal é uma barangona-pizzaiola, argh!); acabei de assistir o replay (que hoje está cortado, por algum motivo, no YouTube) e estou deveras enjoada.
Bjão
Gin de niki
Oi Giniki, obrigado. Vi, sim, mas gostaria de não ter visto. No blog do noblat tem o vídeo inteiro. Beijão.
Caro César, No Brasil se combate muito lentamente o abuso dos poderosos porque somos tarados por conciliação. Não gostamos de sair às ruas gritando "NÃO!", ou "BASTA!" - mas sair para gritar "PAZ" (agora sem exclamação) é conosco. Sim, os problemas de Fpolis são enormes, e a cidade está entregue aos lobos. Mas que tal escolher um ponto, uma só questão - e, sempre que ela for tocada, manifestar-se? Sugiro a questão do asfalto. Sempre que se inaugurar um viaduto, uma autopista, etc., alocando o nosso precioso dinheirinho em mais asfalto ao invés de ciclovias, ferry-boats, bondes modernos e outras "velharias", que tal juntar um conjunto de boas almas dispostas a ir protestar publicamente - e dizer das suas razões? Eu ia, e ajudava. A começar pelas inaugurações dos dois novos elevados, que vão agravar o problema das máquinas infernais no nosso território mais adiante. Abraço, Rafael
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