terça-feira, 1 de novembro de 2005

TERÇA

O DIA DOS MORTOS NO PAÍS DOS MUITO VIVOS
Ainda agora, no cemitério, enquanto esfregava o túmulo dos meus mortos, não conseguia deixar de pensar nos muito vivos que têm infernizado a existência desse povo bom, alegre e trabalhador.

A esta altura, não tem a menor importância se o dinheiro de Cuba é invenção, mentira ou calúnia. Pra mim o pior, o mais triste, o verdadeiro crime, aconteceu logo nos primeiros dias: usar, como defesa, o fato de que outros também erram, erraram e cometem crimes, é o fim do mundo.

Sepulcros caiados, como classifica apropriadamente o Evangelho. Por fora, brilho, charutos, chapanhe, calça de veludo, barba aparada. Por dentro, restos de carne apodrecida, ossos corroídos, festim dos vermes e das bactérias.

Acusados e acusadores se merecem, se equivalem, nivelam-se ao rés do chão, rastejando na lama. As conversas se dão, sem pudor, quase às claras, na base do não investigo isso se não investigares aquilo. Quando não é mais possível adiar, entregam alguns dedos. Mantém os anéis, conservam as burras recheadas do dinheiro ilícito, sacodem a poeira e dão a volta por cima.

Espetáculo patético, ópera bufa de terceira categoria, essa protagonizada pelo ex-guerrilheiro que tenta ganhar minutos, dias, semanas, discutindo filigranas jurídicas, apegando-se aos desvãos do processo. Em nenhum momento consegue demonstrar sua inocência, assim como não está claramente provada sua culpa. Inocência e culpa desapareceram, faz tempo, envoltas numa nuvem de mentira e cinismo que acabou com as linhas divisórias que durante séculos estabeleceram a ética e a moral.

Nos túmulos, nossos mortos sentem pena de nós, que ainda temos que conviver com esses muito vivos de alma apodrecida. Espero que orem por nós.

FERIADÃO MEIA BOCA
O governo federal, o Poder Judiciário, o governo estadual e as prefeituras não deram a devida importância à arte da conversação e do entendimento. Deixaram a população ao desabrigo justamente num dos momentos mais importantes da civilização, que é o feriado.

Ontem e hoje as repartições federais (menos as que estão em greve) e o Poder Judiciário estadual dão expediente normal (deram folga na sexta). A prefeitura e o governo estadual (e o legislativo, claro) trabalharam na sexta e agora estão parados.

Resultado: é o legítimo feriado meia-boca. Tem família que nem teve como dar uma passeada porque uns trabalham e outros não.

VEM OUTRO AÍ!

Teve professor, na UFSC, que ficou tão irritado com esse estado de coisas (e também porque trabalha em Departamento que está furando a greve), que marcou prova pra hoje. E disse que não aceita desculpa que a família e o próprio aluno sejam funcionários estaduais ou municipais. Esforça-se, solitariamente, para azedar a vida de uns tantos.

Feriado é coisa muito séria, que deve ser tratado com o devido respeito. É no feriado que as pessoas reabastecem-se de ânimo, recolhem aqui e ali um pouco de alegria, sentem-se, enfim, um pouco melhores.

Sem ser a semana que vem, na outra (dia 15), tem mais um feriado na terça-feira. Ótimo para emendar. Que tal fechar tudo na sexta e liberar todo mundo pro feriadão? Na quarta voltam todos alegres, cansados de tanta farra, loucos pra trabalhar.

ALMOÇO CARO

Os trabalhadores e assalariados em geral vivem se ferrando. Até quando as coisas são criadas para beneficiar, acabam sendo modificadas de tal maneira que passam a beneficiar uns e outros e a prejudicar a maioria. É o caso do tal tíquete refeição, que a Abrasel e os pequenos restaurantes estão denunciando. Segundo o deputado Afrânio Boppré (PSOL), “enquanto operadoras de cartões de crédito cobram taxas de 2% a 3,5%, as operadoras de tíquetes cobram 8%. Aliados a outros custos, o total pago pelos restaurantes chega a 10% do valor da refeição paga com tíquetes”.

Não tem mesmo cristão que agüente. Os caras conseguem cobrar mais que as operadoras de cartão, que já cobram uma barbaridade. E justamente do pessoal que vive com dinheirinho contado (nos dois lados do balcão).

O Boppré, como outros deputados, tem feito pronunciamentos divulgando o movimento contra esse abuso. Mas, pelo jeito, as empresas que monopolizam o tiquete não estão nem aí.

VINDE A MIM. AMIN?

LHS está, definitivamente, em campanha. Lembram que ontem mostrei uma foto dele abraçando criancinhas no Oeste? Pois aí do lado tem outra, feita dois dias depois, dele abraçando criancinhas no Sul do estado.

O Esperidião também tem percorrido o estado. E teve ter abraçado criancinhas, só que não consegui encontrar as fotos. Mas saiu no jornal que, no final de semana, ele e dona Ângela estiveram em dois casamentos no mesmo dia.

INVEJA
A informação de que em Blumenau a gasolina comum ficou 1,85% mais barata faz com que nós, os florianopolitanos, nos sintamos cada vez mais otários. Palhaços submetidos a um cartel que tabela o preço lá em cima. E em Blumenau, além de tudo, ainda há diferença de quase 4% entre um posto e outro.

DEPENDÊNCIA CRÔNICA

O ex-ministro e ex-petista Cristóvam Buarque publicou ontem artigo onde comenta as diferenças entre o Bolsa-Escola e o Bolsa-Família. Um exige que a criança freqüente a escola para que a família receba o benefício. O outro, não. Um era do Ministério da Educação, outro da assistência social.

“A Bolsa-Escola permitia às famílias um subir na vida; a Bolsa Família garante-lhes apenas o continuar viva. Por isso, elas terminarão conhecidas como Famílias da Bolsa, permanentemente dependentes”, diz ele. O artigo está em www.noblat.com.br na seção “Artigos”. É uma pedrada no PT.

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