quinta-feira, 10 de novembro de 2005

QUINTA

SURFE COM CERVEJA
Ao contrário da maioria dos esportes, que mantém uma certa distância de bebidas alcoólicas, a rapaziada do surf é patrocinada por duas marcas de cerveja. Uma, multinacional, a Foster’s e uma local, que patrocina as etapas brasileiras, a Nova Schin. Claro que os campeões, na hora de comemorar, preferem a Foster’s. Maldade com a coitada Nova Schin, que não é assim tão ruim. E até ganhou um garoto propaganda empolgado, o Secretário Knaesel, que vestiu a camisa pra sair na fotografia. Em todo caso, se for surfar, não beba. Cair da prancha pode ser prejudicial à sua saúde.

QUE MERDA!
Nós, os florianopolitanos, ajudados pelos demais moradores da cidade, somos uns gênios na hora de administrar essa nossa ilha turística e cheia de praias.

Sabe qual é a primeira coisa que a gente faz pra “valorizar” as nossas propriedades? Liga o esgoto na rede pluvial, pra merda ir pro mar. Geralmente vai pro mar ali perto de casa, onde a gente, antigamente, tomava banho.

E agora, com a praia poluída, a gente fica nos bares xingando os gaúchos e os argentinos que estragaram a cidade.

DESCARGA
Aí o Ministério Público tem que entrar com ações pra obrigar a prefeitura a lacrar os merdodutos particulares. Jogar cocô no mar, em todo caso, é tradição secular. A literatura registra o movimento noturno dos escravos, conduzindo os barris de dejetos pelas ruas da capital para despejar no mar.

Na semana passada a 3ª Turma do Tribunal Regional Federal (TRF) da 4ª Região confirmou a sentença de primeira instância que condenou o município de Florianópolis a “lacrar ligações clandestinas de esgotos que desagüem no mar e proibir despejos na praia de Balneário do Estreito, localizada na parte continental da capital catarinense”. A decisão prevê ainda que seja feito um levantamento dos imóveis existentes em áreas de preservação permanente na região, que sejam proibidas novas construções e que o município mantenha um plano de manutenção e limpeza da praia.

Essa mania de aterro que a gente tem também demonstra a falta de amor pelo mar, pela paisagem natural. Aterrar praia pra fazer avenida é bem coisa de sujeito que emporcalha o mar.

PANORAMA DA CRISE
Lúcia Hippólito, cientista política e comentarista da CBN está hoje em Florianópolis para uma palestra às 19h na Assembléia Legislativa, onde vai traçar um panorama da crise brasileira. Aproveita para lançar aqui seu livro “Por dentro do governo Lula”, que já é um “best-seller”.

Ela vem a convite da Associação Catarinense de Imprensa.

ESSES ANIMAIS...
Cuidar para que os animais domésticos, como cães e gatos, não sofram nem vivam abandonados é questão de saúde pública. Por isso o programa de esterilização gratuita de animais que a Secretaria de Saúde da Prefeitura de Florianópolis mantém é tão importante.

Em dez meses já foram esterilizados mais de mil animais no município. E só não foi feito mais porque é preciso que a comunidade também se mexa: diga onde tem animais abandonados ou leve até lá. Mas isso exige uma consciência social que nem todo mundo tem.

O lugar onde o pessoal do bem estar animal tem maior dificuldade é justamente Jurerê, onde, há algum tempo, animais foram barbaramente torturados. Coisa doentia: pra tomar uma providência que ajude os animais a não se reproduzirem sem controle, não aparece ninguém. Mas pra maltratar sempre tem um voluntário.

PINÓQUIO DA SILVA
Menos de 48 horas depois de ter dito, na TV, que quer apurar e investigar todas as denúncias de corrupção, o presidente da República chamou ao palácio o senador Delcídio Amaral, presidente da CPI dos Correios para pedir-lhe, pessoalmente, que cancelasse o depoimento da Soraya Garcia, a ex-secretária que denunciou o caixa 2 na eleição municipal de Londrina. O depoimento seria ontem às 14h e a moça já estava em Brasília. Perdeu a viagem.

Lula agiu, mais uma vez, para impedir as investigações, naquele seu jogo de falar uma coisa e fazer outra. Desta vez a testemunha poderia implicar o ministro Paulo Bernardo, do Planejamento e o sempre enrolado chefe de gabinete Gilberto Carvalho.

No blog do Ricardo Noblat (www.noblat.com.br), na seção “artigos”, tem uma matéria de Rafaela Ceo que lista as providências concretas que o governo Lula tomou para impedir ou atrasar as investigações nos últimos meses.

OS LIMITES
A ação dos manifestantes contrários à divisão da Celesc, querendo impedir de qualquer maneira que o projeto fosse votado, levanta uma questão importante: qual o limite para a ação dos grupos de pressão?

A reação da presidência da Assembléia enchendo as portas de trancas depois da casa arrombada também fez com que ontem fosse um dia muito estranho por lá.

Durante uma sessão da Comissão de Finanças, um grupo de escolares, ainda crianças, que estava visitando a Assembléia Legislativa, foi impedido de conhecer o Plenário. A segurança estava a postos, dede cedo, para evitar que os manifestantes entrassem.
Claro, aquele bando de crianças poderia perfeitamente pertencer ao berçário de algum sindicato filiado à CUT. Agitadores em potencial. Nunca se sabe.

A verdade é que não tem como construir uma convivência civilizada, democrática e pacífica, sem respeitar as regras do jogo.

NA MARRA?

O fato das regras serem desfavoráveis aos nossos interesses não é suficiente para justificar uma ação violenta.

Na década de 70 fiz parte de um grupo que estava muito descontente com a ação da diretoria do Sindicato dos Jornalistas. E resolvemos tomar o Sindicato. Levamos alguns anos e mais de uma eleição pra conseguir.

Já no começo a gente descobriu que, pra tomar o Sindicato precisaria ter votos. E ninguém da nossa turma era sindicalizado. Não teria adiantado sair na porrada, fazer greve de fome, deitar-se no meio da rua: o jeito foi arregaçar as mangas e trabalhar.

FRUSTRAÇÃO
A verdade é que os movimentos populares, as organizações de defesa dos trabalhadores e tantos outros militantes de causas sociais, estão literalmente sem pai nem mãe. Sem saber pra onde ir.

Sofreram oito anos de um governo de almofadinhas, economicamente mais ortodoxo que crente de saia comprida e acharam que teriam um refresco com o PT no poder. Pelo menos poderiam rediscutir as privatizações, apurar o que ficou mal explicado e encaminhar melhor várias questões que ficaram pelo meio do caminho.

Como todos nós, esse pessoal não acreditou quando o governo começou a mostrar que não estava ali para mudar nada. Estava para manter a política econômica, criar superávit e “honrar os contratos”.

Os únicos contratos que o governo do PT não honrou foram aqueles firmados com a massa que, nas urnas, apostou todas as fichas no Lula. E que agora não confia mais na tal “via democrática”.

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