quarta-feira, 9 de novembro de 2005

QUARTA

[Nunca é demais lembrar: se clicar nas fotos, abre-se uma ampliação]
O TRATOR DO GOVERNO
Sempre que tem votação na Assembléia Legislativa, os deputados da oposição falam que o governo “vai passar o trator”. Fiquei muito curioso, porque também ouço falar que as estradas estão paradas, que a duplicação desta não anda, daquela não sai... Então que trator do governo seria esse que tanto o Vieirão, o Ponticelli, o Afrânio, o Eccel e outros reclamam?

Pode prestar atenção: dia de votação é dia de choro. A maioria dos projetos que o governo coloca em votação acaba aprovada. E aí a oposição bota a boca no trombone, esperneando e se queixando do tal trator que passou por cima dela.

Claro que o governo também se queixa. Parece que é do jogo: todo mundo chora e todo mundo reclama. O governador diz, de vez em quando, que os deputados da oposição criam montes de problemas para a administração estadual. Colocam areia no bom andamento da máquina. Muita areia.

Pois não é que ontem finalmente consegui um registro fotográfico dessa história toda? Taí, na mão do Vieirão (PP), o tal trator que o governo usa sempre que tem votação. E, na foto do trator, dá pra ver a quantidade de areia com que a oposição atrapalha o LHS.

TEATRO NO CARANDIRU
O pessoal chique da Fazenda, que não se conforma em trabalhar no Saco Grande, chama o Centro Administrativo de “Carandiru”, o que é uma grande maldade. Ainda mais agora que o Tribunal de Contas liberou a licitação das obras do Teatro Pedro Ivo Campos que será construído onde hoje existe o auditório do CA.

Será uma sala de espetáculos de primeira, o maior teatro da cidade, o mais lindo, pra ninguém mais dizer que LHS não gosta de Florianópolis. E pra não ficar muito chato, o governo também vai dar uma guaribada no teatro do CIC, que está abandonado, com goteiras, teias de aranha e cheiro de mofo. Mas, infelizmente, a direção da FCC vai continuar a mesma.

AMIGOS DO FIDEL
Nem Maradona, nem Chavez, nem Zé Dirceu: os verdadeiros amigos de Fidel são os Estados Unidos. O absurdo embargo que impõem à ilha, além de criar dificuldades de todo tipo para os habitantes de Cuba, ainda atrasam um processo de democratização que, de outra forma, seria irreversível. Só o Bush não vê.

Ontem, numa votação esmagadora, a Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas solicitou aos Estados Unidos, pelo 14º ano consecutivo, que acabe com os 44 anos de embargo comercial contra Cuba. A votação foi de 182 votos contra o embargo e apenas quatro a favor (EUA, Israel, Palau e Ilhas Marshall). Houve uma abstenção (Micronésia). Quatro países (El Salvador, Iraque, Marrocos e Nicarágua) não indicaram posição alguma. No ano passado, a votação foi de 179 a quatro, com uma abstenção.

SEM ESCOLA NÃO TEM SAÍDA
Uma das coisas que demonstram se um País é atrasado ou não é o tempo que seus habitantes passam na escola. E além da medida em anos de escola, o tempo em que, no ensino fundamental, pelo menos, a garotada fica ocupada na escola. Não tem como combater pobreza, criminalidade, violência, fome, o que seja, sem colocar todo mundo pra estudar.

Em 2003 Santa Catarina tinha 18 escolas e 7 mil alunos da rede estadual em horário integral. Hoje já são 85 escolas e a meta é chegar a 150 em 2006.

É pouco (o estado tem mais de mil escolas estaduais), mas o programa anda ainda mais devagar no Brasil inteiro. E enquanto isso não for modificado, não tem polícia que dê jeito. E tem que ser escola boa, com bons professores. Coisa que custa caro, exige capricho dos governantes e fiscalização dos contribuintes.

É isso mesmo: ensino fundamental de qualidade é coisa de primeiro mundo. Que nunca vem de mão beijada. A gente tem que exigir, cobrar e bater pé.

CELESC À VENDA?
Ontem o governo passou o trator na Comissão de Constituição e Justiça e aprovou o projeto de “verticalização da Celesc”. Antes que alguém pense que se trata de um projeto para construir um prédio bem alto (verticalização, certo?), explico que se trata da separação da Celesc em duas empresas, uma que distribui energia outra que gera energia. Pra facilitar a venda.

Irritado, meio amassado pelo trator, Afrânio Boppré (PSOL) soltou os cachorros: “LHS tem pressa em neoliberalizar Santa Catarina”.

CASAN À VENDA?

O mesmo Boppré, que depois que saiu do PT parece que tirou um peso das costas (e tirou mesmo, porque carregar Delúbio, Lula e Marcos Valério não deve ser fácil), caiu de pau no LHS por causa da Casan. Ele não se conforma com o desmanche da Casan.

O vice-governador, por falar nisso, está de partida para o Japão: vai buscar dinheiro para saneamento. Pra Casan decerto não é, porque os municípios cujos prefeitos são do PMDB e do PSDB estão caindo fora da estatal.

NÓS E O VERÃO
Os habitantes das cidades litorâneas, principalmente aquelas catarinenses, com belas praias, lindas paisagens e mar espetacular, sempre sofrem no verão.

Claro que sofreriam mais se não tivesse verão, se os turistas não aparecessem, se não morassem em lugares tão bonitos. Mas a verdade é que os verões na Ilha de Santa Catarina, em especial, são bem complicados pra nós.

Primeiro porque tanto a prefeitura quanto o governo do estado acham de fazer obras justamente na temporada. Decerto para que os turistas “vejam” que aqui se trabalha. E dá-lhe engarrafamento.

Depois porque os comerciantes sempre acham que precisam enriquecer em dois ou três meses. Tocam os preços lá em cima pra esfolar o turista e a gente, que mora aqui, acaba pagando o pato, o marreco, o presunto e o pão que o diabo amassou.

ESTRUPIÇO
Quando a gente vê a prefeitura fazendo das tripas coração para agradar o turista, fica com uma sensação de que a gente não tem muito valor. A gente vota, a gente elege e depois só tem benfeitoria para os turistas.

Posto de saúde 24h? polícia na rua? delegacia especial, sem fila? só pros turistas. O contribuinte passa o ano todo só pagando seus impostos para que, no verão, o turista tenha do bom e do melhor.

Mas, pra compensar, quando a temporada termina os comerciantes não baixam os preços. A gente passa o resto do ano pagando o supermercado mais caro, a gasolina mais cara do país, até o taxi é um roubo.

A gente é só um estrupiço que mora no lugar errado: eles querem o terreno da nossa casa pra construir um hotel resort chique. Eles querem o espaço que a gente ocupa na rua para pode colocar mais turistas. E eles querem que a gente ainda sorria e seja gentil.

ABAIXO A ARAPUCA

Pra não deixar a impressão que eu sou um velho ranzinza que odeia turista, que não entende que eles trazer riqueza e sustentam tanta gente, deixa eu dizer mais umas coisinhas: quando a cidade é bem tratada o ano todo, quando as benfeitorias são feitas para que se viva bem na cidade, quando o contribuinte sente que seus impostos estão sendo bem aplicados, a cidade ganha um clima diferente.

O turista, quando chega e vê que o pessoal está satisfeito, que a cidade está bem cuidada, percebe que está num bom lugar. Não é uma arapuca construída só pra pegar turista tolo. É uma bela cidade, bem administrada, que vale a pena visitar e voltar sempre. Uma cidade verdadeiramente turística.

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