terça-feira, 4 de julho de 2006

TERÇA

CURSINHO TIO CESAR DE AUTO-AJUDA ELEITORAL
Aprenda a votar em
seis lições rápidas e fáceis


A pior coisa que a gente pode fazer, para os maus políticos, é aprender a votar. Nenhum deles quer que vocês se interessem por política, todos fazem questão que a gente nem queira saber o que está acontecendo. Um eleitor consciente, que sabe dos seus direitos e sabe o que quer é tudo o que os maus políticos odeiam.

Por isso, reuni algumas dicas que acho importantes para tentar ajudar o pessoal a fazer justamente aquilo que a quadrilha de corruptos não quer: endender um pouco mais de política e votar sabendo do que está fazendo.

1. A IMPORTÂNCIA DO VOTO

Não tem nenhuma outra oportunidade ou lugar em que pobre, rico, milionário, desempregado, culto, ignorante, esperto e burro sejam tão iguais quanto no momento do voto.

O voto de um cidadão é exatamente igual ao voto do outro, tem o mesmo peso. E ninguém “dá” esse direito pra gente. A gente adquire esse direito ao nascer no Brasil ou se naturalizar.

E pra “tirar” da gente esse direito é preciso ter cometido algum crime cuja pena seja a perda dos direitos políticos.

Ou seja, o voto é um dos principais e mais valiosos bens que a gente tem. Só que nem todo mundo sabe disso ou acredita nisso.

Pra perceber o valor do voto é só notar como tem gente atrás dele. Como eles gastam dinheiro pra conseguir o nosso voto. Como eles fazem qualquer negócio pelo nosso voto.

2. A IMPORTÂNCIA DA ELEIÇÃO

Praticamente tudo, na nossa vida, tem a participação dos políticos. Todas as leis são feitas por políticos. Da velocidade máxima na estrada ao imposto, da exigência de planta pra construir a casa à obrigação de andar vestido na rua, tudo, em algum momento, passou por um parlamento.

No município as leis são feitas e modificadas na Câmara de Vereadores, no Estado, na Assembléia Legislativa, no País, na Câmara dos Deputados e no Senado (que formam o Congresso Nacional). E toda essa gente que mexe com isso está lá falando em nosso nome. Eleitos e pagos por nós.

E nas prefeituras, no governo estadual e na presidência da república, os caras que gerenciam o dinheiro dos impostos e os serviços públicos, os que executam as tarefas que sejam necessárias para que a vida da gente seja melhor, também são políticos. E também são todos eleitos e pagos por nós.

Dá pra entender, então, como é importante o momento da eleição: é a única chance que a gente tem, em geral a cada quatro anos, de tirar quem não trabalhou direito e de colocar quem parece que nos representa melhor.

3. A IMPORTÂNCIA DE SE DAR AO RESPEITO

Se eu tenho esse poder, de escolher meu representante e de mantê-lo como meu representante pelo tempo que eu achar necessário, o poder de tirá-lo (ou a ela) de lá assim que sentir que não está trabalhando direito, então não posso me apequenar. Não posso ficar de cabeça baixa como se não fosse ninguém. Não posso dar, emprestar ou vender meu voto como se eu fosse um merda qualquer.

Por acaso você empresta sua mulher pra qualquer um que pedir? Por acaso você deixa seu marido ir pra noite com qualquer uma que lhe prometa um emprego? Você conta sua senha do banco pro primeiro que apertar sua mão? Você libera a chave do carro em troca de um cartão de boas festas?

Pois tem gente que entrega o voto em troca de um aperto de mão, de um cartão de feliz aniversário, de uma promessa de emprego. Ou de uma dentadura, ou de um sapato. Ou de vinte reais.

E, muitas vezes no desespero das dificuldades, a gente nem se lembra que é muito possível que estejamos assim, na pior, porque o voto dos pobres sempre foi dado em troca de um prato de comida. E enquanto continuar assim, nada muda.

4. A IMPORTÂNCIA DE ENTENDER A POLÍTICA

De tanto ver maus políticos roubando e fazendo pouco de nós, é natural que a gente crie um certo nojo de política. E quando a gente deixa de prestar atenção e se desinteressa, aí mesmo que a bandidagem engravatada se esbalda: nosso desinteresse significa que não terão problemas para se reeleger ou para se eleger.

Eles também gostam de dizer que política é coisa complicada, que não é pra qualquer um, que só pessoas “especiais” (eles!) podem se meter em política. E não é nada disso.

Política é uma das coisas mais simples e antigas do mundo. A gente aprende a fazer política em casa mesmo. Quando o filha quer sair e o pai não quer deixar, a menina vai conversar com a mãe, explica seus motivos, faz uma cara de tristinha. A mãe então vai falar com o marido, com um jeito que só ela tem. E o pai, que é brabo mas não é de ferro, acaba deixando.

O que aconteceu aí? um exercício político, uma negociação política. Algúem, em defesa de seus interesses, tentou e conseguiu modificar a posição de um opositor, usando argumentos e um aliado, no caso uma aliada. E o grupo com maior poder (mãe e filha) reverteu a decisão.

O pai, politicamente, cedeu para não perder autoridade e para manter outras posições de prestígio, com a patroa ou com a filha, com quem poderá se aliar mais adiante.

Portanto, não acredite em quem diz que política é complicada. Ela é trabalhosa, mas não é complicada.

5. A IMPORTÂNCIA DOS PARTIDOS POLÍTICOS

Na nossa democracia, a participação da gente no governo começa pelos partidos políticos: não posso me candidatar a nenhum cargo se não for filiado e indicado por um partido político. Por isso, não adianta se interessar por política e pela valorização do voto só às vésperas da eleição.

Em geral um ano antes da eleição termina o prazo de filiação a um partido político para quem quer concorrer.

Cada partido faz reuniões municipais, estaduais e nacionais, para escolher e indicar seus candidatos. Isso quer dizer que a primeira luta política se dá dentro dos partidos.

Num partido que tenha “dono”, que o manda-chuva seja o Coronel Fulano, só serão candidatos aqueles que o “dono” do partido quiser.

Isso explica a nossa surpresa, quando olhamos a lista de candidatos a vereador ou deputado ou mesmo governador e vemos ali umas criaturas que não têm a menor condição de representar nem uma manada de mulas, quanto mais uma comunidade como a nossa.

É que, como a gente não presta atenção ao processo político inteiro, e só presta atenção na política na véspera das eleições, perde a parte que talvez seja a principal: a escolha dos candidatos pelos partidos.

Há partidos que não têm “dono”, cujos filiados indicam livrevemente seus candidatos, é feita uma votação e os nomes representam de fato o que a maioria do partido acha que tem de melhor pra oferecer. Mas mesmo aí, onde tudo funciona direito, só votam os filiados, aqueles que participam da vida partidária.

Portanto, os nomes que vão aparecer nas propagandas políticas, os candidatos, não nasceram das ervas: eles vêm de partidos políticos, indicados com maior ou menor nível de seriedade.

6. A IMPORTÂNCIA DE FICAR ESPERTO

Tem alguns candidatos que são indicados só porque são ricos e os partidos não têm muito dinheiro para a campanha e precisam que alguém banque as despesas. Tem outros que são indicados porque já são muito conhecidos e podem garantir um número grande de votos para o partido (e isso ajuda aos demais candidatos da mesma legenda).

Lembram que falaram em indicar o Sílvio Santos pra concorrer à presidência? Pois é, radialistas, apresentadores de TV, jornalistas e artistas podem ser muito simpáticos e parecer muito bonzinhos ou muito lindos, mas nada disso significa que saberão nos representar direito, que não vão meter os pés pelas mãos. Uma coisa é animar um programa de auditório. Outra é dar palpite em coisas que afetam nosso bolso, nosso bem estar e nosso futuro.

Nas campanhas eleitorais, os candidatos mal intencionados não só prometem de tudo, como prometem coisas que eles não têm a menor condição de cumprir. Por isso, agora é a época de começar a ficar esperto.

Ninguém resolve todos os problemas sozinho. Nem o Lula conseguiu, nem o FHC, nem o Amin, nem o LHS. Não tem como fazer milagre. Por exemplo, se o sujeito vier prometendo emprego pra todo mundo, não leve a sério: mais emprego depende do crescimento da economia e de uma série grande de outros fatores. Ou seja, tá prometendo o que não teria como cumprir, mesmo se quisesse.

Abra o olho, procure saber quem é e de onde veio o(a) candidato(a) e principalmente se é honesto e sincero. De corrupto bem falante a gente já tá cheio.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bem! É o Diarinho dando aula de civilidade e política para seus leitores. Esse artigo deveria ser transcrito também na "grande imprensa", aquela que geralmente imprensa a gente contra a parede. Um abraço.