quarta-feira, 19 de julho de 2006

QUARTA

O “CASO NORTON” AINDA INCOMODA
No último dia 13 escrevi uma longa nota sob o título “O calo de cada um”, onde citava vários assuntos que a imprensa sempre se enche de dedos para tratar. Este era o primeiro deles:
“CASO NORTON – Agora no dia 15 de julho, sábado, o assassinato do colunista social Norton Batista da Silva completa 17 anos sem uma solução. Norton foi “morto com seis tiros exatamente no momento em que Maguila nocauteava Evander Hollyfield”, como relatam, aqui e ali, os jornais. O Ministério Público denunciou seis homens como envolvidos no crime. Mas foram absolvidos por falta de provas.”
Existem vários relatos e algumas lendas envolvendo as matérias feitas a respeito do Caso Norton, como passou a ser conhecido. E no dia do aniversário de 17 anos do assassinato, o caso ganhou mais uma história que tem tudo para, daqui a algum tempo, virar lenda.

O jornal Notícias do Dia, de Florianópolis, publicou uma matéria lembrando o caso na sua edição de final de semana. Não cita o nome dos suspeitos e dos envolvidos, apenas faz um histórico do crime e suas circunstâncias. Mesmo assim, a certa altura do sábado, a direção do jornal teria tomado uma decisão, no mínimo, curiosa: recolher das bancas os exemplares que ainda restavam.

O dono de banca que falou nisso não soube explicar os motivos, apenas que a empresa mandou recolher os jornais depois do meio-dia. E além disso, jornaleiros relatam vendas de até 20 jornais para uma mesma pessoa. Eles achavam que a movimentação teria a ver com os cupons para ganhar um faqueiro ou algum anúncio que teria sido publicado errado.

Na segunda-feira comentava-se, em rodas de jornalistas, que o motivo do estresse era mesmo a matéria sobre o Caso Norton. A direção do jornal teria atendido aos apelos do pai de um dos envolvidos, que ficou incomodado com a exposição, mais uma vez, do caso.

CRIMINOSO(S) IMPUNE(S)
Enquanto o crime continuar sem solução, será inevitável que o assunto volte às páginas dos jornais de tempos em tempos.

Faço um resumo, para quem não conhece o caso: um colunista social famoso, Norton, foi assassinado numa das principais avenidas do centro de Florianópolis, na noite de 15 de julho de 1989. As investigações levaram a um grupo de rapazes, alguns de famílias conhecidas na cidade. Um deles foi defendido pelo atual Ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos (que era criminalista de reputação nacional) e teve seu nome retirado do inquérito. Outros chegaram a ser presos por algum tempo. Mas a Justiça considerou que faltavam provas e não aceitou a tese levantada pela polícia no inquérito. Ou seja, o crime continua sem autoria definida.

Mesmo assim, sempre que se fala no crime, algum ou alguns dos citados na primeira denúncia ficam muito incomodados, ainda que, para todos os efeitos, não sejam mais objeto de investigação ou processo. Foi o que provavelmente ocorreu agora e que teria levado o jornal a tomar essa providência inusitada de se “auto-recolher”.

Quando o caso fez 15 anos, em julho de 2004, o colunista Cacau Menezes publicou uma nota, no Diário Catarinense do dia 13/7, em que rememorava, de forma sintética, o caso. Um trecho:
“O crime rendeu amplos espaços na mídia, chegando a ser tema do programa Linha Direta, exibido pela Rede Globo. (...) Na época, após intensas investigações, seis pessoas foram presas e indiciadas em inquérito policial. A investigação, conduzida pelo delegado Renato Hendges, apontou que tráfico de cocaína, roubo de automóveis, seqüestros, estupros, invasões de domicílio, agressões e sessões de picadas em carros e apartamentos estavam por trás de um crime que abalou a opinião pública de Santa Catarina.”
Um crime, portanto, que tem todos os ingredientes para manter o interesse permanente dos leitores e telespectadores, pelo menos enquanto continuar misterioso, impune e gerando fatos pitorescos a cada vez que é relembrado.

NORTON NA LISTA DA SIP
A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP na sigla em espanhol) faz o registro sistemático dos assassinatos de jornalistas. O objetivo é acompanhar eventuais pressões contra a liberdade de imprensa.

O curioso, no caso específico do Norton, é que embora ele esteja na lista, muito provavelmente não foi sido morto por causa de sua profissão (os colunistas sociais dedicam-se mais a fazer amigos e elogiar personalidades do que a denunciar e investigar), mas os jornalistas que escrevem sobre o seu assassinato não raro se incomodam.

Norton é citado como um dos 299 jornalistas assassinados na América Latina, entre novembro de 1987 e abril de 2006 (está entre os 29 mortos no Brasil neste período) e consta do site da Unidade de Resposta Rápida do projeto Crimes Sem Castigo Contra Jornalistas, da SIP. O objetivo é exercer pressão para que os crimes sejam esclarecidos e em conseqüência, inibir a violência contra jornalistas.

PROBLEMA ADICIONAL
Ontem o fotógrafo Marco Cezar, autor da foto do Norton que o Notícias do Dia publicou (ao lado) estava irritado com o uso do seu material sem autorização. Ele era fotógrafo do jornal O Estado na época do crime e segundo ele a foto utilizada agora estava no arquivo do jornal e ninguém o procurou para negociar a publicação em outro veículo. Isto só mostra que mexer com o Caso Norton é mesmo uma coisa muito complicada e com enorme potencial de confusão.

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BOLSHOI NA RODA
A denúncia do Ministério Público Federal contra a escola Bolshoi brasileira, de Joinville, foi aceita pela Justiça Federal e ontem foram expedidos os mandados de citação dos onze denunciados. Esta aceitação não significa qualquer tipo de juízo de valor, mas informa que a denúncia tem condições de se transformar em ação penal.

Claro que a abertura desse processo em plena campanha eleitoral terá conseqüências políticas. Principalmente porque mexe com a menina dos olhos do LHS, na cidade do seu coração e a denúncia fala em desvio de dinheiro público e formação de quadrilha (fatos que teriam ocorrido entre 2000 e 2003).

O interrogatório dos acusados residentes em Joinville está previsto para 25 de outubro (bem entre o primeiro e o segundo turno da eleição).

O PT DESCE E LULA SOBE
Os candidatos petistas vão mal das pernas em muitos estados, segundo mostra reportagem de Ronaldo Brasiliense publicada no site Congresso em Foco. Ele fez as contas a partir das pesquisas divulgadas neste final de semana Brasil afora. E chega à conclusão que Lula descolou-se definitivamente do partido que ajudou a fundar. Enquanto Lula vai bem, o PT vai mal.

VISITAS ILUSTRES
A vantagem do período eleitoral é que os políticos aparecem para tomar cafezinho, apertar mãos e tirar fotos. Alckmin vem a Santa Catarina no sábado, 22 e desce direto em Chapecó. Depois vai a Criciúma. E Lula, preocupado com o desempenho marromeno que teve por aqui, vem no dia 30, domingo, depois de passar pelo Rio Grande do Sul. Vai vistoriar obras federais.

A possibilidade, cada vez mais concreta, de segundo turno, está enchendo de gás os tucanos e de preocupações os lulistas.

PAU NO BORNHAUSEN
O PT entrou ontem no TSE com uma notícia-crime contra o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen e o senador José Jorge (vice de Alckmin): pede que os dois sejam investigados por terem dito que o PT teria algo a ver com os ataques do PCC em São Paulo.

BANCADA SANGUESSUGA
Saiu ontem a lista de 57 parlamentares investigados por participação no esquema sanguessuga (compra de ambulâncias superfaturadas). Deles, 36 são dos partidos ligados ao esquema do mensalão: PP, PTB e PL. Mas tem também deputados do PMDB, PSDB, PSB, PRB, PSC e um do PPS. Só tem um Senador: o líder do PMDB, Ney Suassuna (PB).

Treze dos envolvidos são da bancada do Rio de Janeiro, dez de São Paulo e 18 são da chamada “bancada evangélica” (dez da Igreja Universal).

Uma ex-funcionária do Ministério da Saúde ligada ao esquema, Maria da Penha Lino, chegou a dizer que um terço do total de deputados federais, cerca de 170, levou grana da Planam para apresentar emendas ao Orçamento da União, mas até agora só existem provas contra uns 70. E a gente respira aliviado porque (por enquanto?) não tem ninguém de Santa Catarina.

As continhas foram feitas pelo blog do Noblat (www.noblat.com.br).

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