terça-feira, 19 de junho de 2007

Terça

A GRANDE FAMÍLIA
Seis meses e 18 dias depois de iniciar o segundo mandato, LHS conseguiu finalmente reunir a família quase toda (secretários de vários níveis, diretores de empresas e outros prestigiados colaboradores). Foi em Lages, ontem.

Mas o governador, na sua mania de fazer sempre mil coisas ao mesmo tempo, passou involuntariamente um recado meio desanimador. Ele ficou lá na tal reunião por um tempo (umas duas horas) e se arrancou. Foi para São Paulo participar de “eventos” na famosa Casa de Santa Catarina.

Fosse eu membro do colegiado, ficaria chateado: afinal, o grande artífice dessa estrutura, que deveria ser o líder, animador e entusiasmado organizador, na primeira reunião da grande família, praticamente completa, cai fora porque tem coisas mais importantes para fazer em... São Paulo?

Claro, o governador deve achar que duas horas com aquela turma é mais que suficiente. Afinal, ele não é governador para ter que aturar aquele bando de pedichão por mais de duas horas. E depois, como tem o tal de grupo gestor, que governa no lugar do governador (ou governa em nome do governador), eles que toquem o bonde.

LHS saiu falando maravilhas da reunião (“é a retomada da descentralização”). E, como em ocasiões anteriores, deixou alguns pedidos que nem sempre a turma ouve e, se ouve, não atende. Um deles é o de não discriminar prefeitos e outras autoridades de partidos que não estão na penca.

Todos estão carecas (com bigode) de saber que Cacá Pavanello, da Fesporte, não atende petistas e pronto. E, como ele, deve ter mais alguns que não querem nem saber dessa frescura de tratar todo mundo igual. Família grande tem disso. Bem fez o LHS que, depois dos recados, tratou de voar para São Paulo.

ITALIANADA AFLITA

A deputada Ada, o governador e mais uma pá de gente, estão porraqui com o consulado italiano de Curitiba, que anda tratando os catarinenses, que querem a dupla cidadania, a pão e água. Tem processo que leva mais de 20 anos.

E, mesmo diante dessa demonstração de burrocracia e pouco caso, a turma ainda tá louca por um passaporte italiano. Querem fazer como a Dona Marisa e arranjar um lugar melhor para viver e criar os filhos. Longe do Brasil.

ADEUS A O ESTADO
O mais antigo diário em circulação em Santa Catarina encerrou, no final de semana, sua história. Deixa de ser diário. Tentará uma sobrevida como semanário. Mas não poderá mais ser chamado de “o mais antigo”.

Comecei a publicar crônicas em O Estado, nos primeiros anos da década de 70. Meu primeiro emprego com carteira assinada foi como redator do Caderno 2 (o suplemento de variedades) de O Estado. No jornal exerci quase todas as funções. Foi nas rotativas de O Estado que imprimi, há 30 anos, o convite do meu casamento. Uma experiência maluca (o convite, não o casamento, que dura até hoje), autorizada pela direção. Nunca antes, nessepaís (e acho que em nenhum outro), fora feito um convite de casamento numa folha de jornal standard.

Entre as idas e vindas, depois de ter trabalhado em Brasília e em Porto Alegre, fui também editor-chefe de O Estado, numa época (1988) em que ainda era possível concorrer com o recém-lançado Diário Catarinense. E em várias ocasiões furamos o jornal dos gaúchos. E em geral vendíamos mais que eles. Meus contemporâneos, em O Estado, lembram-se de mim apenas como aquele chefe murrinha que proibiu a lanchonete do jornal de vender bebidas alcoólicas. Não tem importância.

Mas eu lembro do jornal O Estado, como lembram tantos outros catarinenses, pela importância que ele teve para uma ou duas gerações. O jornal deixou marcas profundas na alma de muita gente. Deve ser por isso que, durante tanto tempo, na longa e penosa agonia do jornal, tanta gente ainda torcesse por uma reviravolta, um milagre, uma retomada, uma ressurreição.

Não vale a pena, nesta hora triste em que O Estado deixa de ser diário, apontar culpas, buscar responsáveis, identificar o momento em que a maionese começou a desandar. Claro, é fácil, a esta altura, esticar o dedo em direção deste ou daquele. Mas não alivia a dor. Talvez mais tarde algum estudioso faça a autópsia e identifique a causa da falência múltipla deste órgão de imprensa. Não agora.

Hoje eu só queria falar um pouco, quem sabe chorar um pouco, abraçado a velhos companheiros que, como eu, têm boas, ou ruins, mas sempre vívidas lembranças daquela redação, que a gente achava que teria uma história longa e gloriosa. O Estado estava doente há muito tempo. Mas não isso não faz com que a notícia final doa menos.

O GRANDE DILEMA

Tenho pensado muito sobre a forma como tanta gente lida com dinheiro público. E, por mais idiota que pareça, acho que, em princípio, temos que acreditar que a maioria das pessoas que assume cargos públicos de responsabilidade e em comissão, seja honesta.

Não dá pra ficar achando que tudo o que está sendo feito tem, no fundo, uma ilegalidade, um arranjo esperto, uma malandragem. É claro que a prática tem mostrado que também não dá para confiar cegamente e acreditar nas boas intenções de muita gente boa.

Mas não vejo como manter a sanidade mental e continuar convivendo nesta sociedade, se de fato acharmos que todos são desonestos. Não se trata de dar um ingênuo voto de confiança, mas de acreditar que os mecanismos de fiscalização, em maior ou menor medida, vão conseguir frear os abusos.

Um exemplo da paranóia é um questionamento que me fizeram: “afinal, a contratação de um parente de um desembargador como consultor jurídico de um órgão do estado não é uma espécie de nepotismo, não tem o perigo de alguma ação contra esse órgão ser prejudicada no Tribunal?”

Complicada, a coisa. A pergunta já faz supor que o desembargador ficará tão grato ao empregador de seu parente, que será capaz até de cometer alguma ilegalidade. E acaba lançando várias suspeitas. Que o sujeito seja mau profissional, ou mal preparado, a ponto de precisar de empregos de favor. Que algum órgão público seja tão mafiosamente administrado que escolha seu pessoal pensando na eventualidade de algum processo judicial.

Por mais que essa situação, em tese, pareça plausível, recuso-me a acreditar que estejamos nesta situação de falência completa dos valores e da ética (ainda que estejam na UTI e respirando com aparelhos). Não dá para entrar nessa e generalizar a maldade. Ou será que dá?

CHEGA DE FALAR MAL
Pois não é que tem gente achando que “a Globo quer crucificar o Renan” e desconfiando de complôs, só porque estão apertando o nobilíssimo presidente do Senado e pegando suas mentiras? A escola Lula de “por a culpa na imprensa” vai acabar fazendo com que se criminalize a crítica e proíba o jornalismo. Pena de cadeia para quem disser que o rei está nu. Só vale elogiar.

5 comentários:

Anônimo disse...

Cesar, dizem que a parte da família que tem dinheiro(E MUITO), vai assumir o jornal, em nome da memória do "Doutor". Já que tem muito........

Cesar Valente disse...

Continuo na torcida. Mas as coisas estão cada vez mais difíceis. Isto de transformar diário em semanário é um passo irreversível. É mais viável e barato criar um jornal completamente novo, do que aproveitar qualquer coisa, mesmo que só o nome, do antigo.

Anônimo disse...

As dividas fiscais invalidam qquer possibilidade de alguem comprar o Jornal O Estado.

Alias acontece com o mais antigo a mesma coisa que aconteceu com o Correio do Povo.

A RBS com a Zero Hora e com o Diario Catarinense é especialista em festas como Planeta Atlantida e nada em Jornalismo.

A parte politica mesmo é um balcão de negócios.

Pedro de Souza.

Anônimo disse...

César,

É mesmo de se lamentar a transformação do "mais antigo diário catarinense em semanário". Não só pelo fim do jornal - apesar da decadência vertiginosa dos últimos 15 anos - enquanto uma das poucas opções que restavam num contexto de monopolização da RBS. Mais ainda mais pelo valor emocional e profissional para dezenas de jornalistas. Lamento tanto quanto você.
Foca e, como a maioria, batalhando pelo pão nosso de cada dia, caí na editoria de Economia do mais antigo, em abril de 86, um mês depois do Diário entrar no mercado.
Que Redação! Guardo as melhores lembranças da minha vida profissional dali. Tive a chance de aprender com quem já tinha tamancas gastas - as "putas" velhas da redação (Toninho Kowalski, Bento Silvério, Paulo Clóvis...). E com um pessoal todo novo, também, iniciantes, todos com muito pique...máquinas imensas, papel por tudo, telex, muita fumaça (de cigarro)...e o trago no bar da tia...é, aquele que você proibiu.Tem também aquela idéia da "vala comum", que você e o Flávio Sturdze introduziram...
O mais antigo dava banhos no Diário, com equipes bem menores. Tínhamos sucursais em várias cidades, o jornal era o primeiro a chegar em Chapecó.Foi o primeiro jornal do Sul do país a fazer circular um Caderno de Informática (em 86 mesmo, sob a responsabilidade desta que te escreve). A Folha tinha lançado em abril ou maio daquele ano. O Estado começou a fazer circular três páginas semanais em outubro, creio (a memória pode não ser exata por motivos compreensíveis, não é mesmo professor?). Com as dificuldades financeiras começaram os cortes em tudo, e o caderno acabou morrendo pouco antes de eu sair, o que aconteceu pouco antes de você assumir como editor-chefe. Esclarecendo para os possíveis leitores deste enorme "comentário", nenhum problema com o editor, apenas recebi uma proposta melhor.E lá fui eu...
A verdade é que foi uma grande escola de jornalismo, depois da Faculdade na UFSC, que me permitiu construir minha atuação profissional nestes mais de 20 anos. Bons tempos, boas lembranças que me motivam a con tinuar insistindo em exercer essa profissão maluca.
Abraço,
Mirela Maria Vieira

Anônimo disse...

César, recebi hoje do serviço de imprensa do governo uma matéria com o Carminati comentando a reunião de ontem em Lages. Teci algumas considerações e estou te enviando.

Será que alguém pode me explicar esta matéria?


Secretário de Articulação faz balanço sobre reunião do Colegiado
Florianópolis, 19/06/2007 12:37:19

O governador Luiz Henrique se reuniu com o Colegiado do Governo nesta
segunda-feira (18), em Lages. O encontro contou com a presença dos 36
secretários de Desenvolvimento Regional e também dos secretários centrais.
Um dos temas em discussão foi o orçamento plurianual.

1) Por que uma matéria sobre um fato ocorrido na segunda-feira, que já foi fartamente abordada pela imprensa, aparece de novo na terça, ao meio-dia? Se ainda tivesse alguma novidade, tudo bem, mas...


De acordo o secretário de Estado de Coordenação e Articulação, Ivo
Carmanti, essa primeira reunião do Colegiado foi de grande valia.
"Importantes decisões foram tomadas", disse. Conforme Carminati, o
governador Luiz Henrique determinou que os secretários regionais e
centrais chegassem a uma decisão consensual em relação à desconcentração
orçamentária e financeira.

2) "Tirante" o erro na grafia do nome do secretário (que, de Carminati, virou Carmanti), algumas considerações. Afinal, os secretários regionais e centrais é quem vão decidir como será a "desconcentração" orçamentária e financeira? O que diz o texto da reforma administrativa (a terceira em menos de cinco anos)?

"Isso significa repassar recursos financeiros
para as Secretarias de Desenvolvimento Regional, para que ações sejam
executadas nas respectivas secretarias, após as prioridades defitidas
pelos Conselhos de Desenvolvimento Regional", salientou Carminati.

3) Ué, mas já não são as SDRs os responsáveis pelas obras? O que fizeram as 30 estruturas espalhadas pelo Estado de 2003 até agora? Só política e promoção pessoal do governador e do secretário?


O secretário de Coordenação e Articulação explicou que 40% dos recursos
oriundos dos fundos que compõem parte da Receita do Estado serão
transferidos para as SDRs. "Outros 40% ficarão com as Secretarias
Centrais, e 20% para a cota pessoal do governador", enfatizou.

4) Esta é a melhor de todas. Cota pessoal do governador? Que diabos é isto? É a comissão? Tem outra: se às secretarias centrais cabe somente planejar - a execução fica por conta das regionais - por que raios elas precisam do mesmo montante de recursos dos fundos? Fundos, aliás, que já levaram um calote tenebroso na passagem de 2006 para 2007.


Carminati avalia que isso significa tornar irreversível a descentralização,
aprimorando-a de mandeira substancial, "porque não há descentralização
administrativa sem que haja desconcentração financeira".

5) Como dizia o Rolando Lero: "Ô quêêêêêêêê?"


Carminati destacou ainda que os secretários saíram da reunião motivados,
já que exatamente o ponto de conflito, que era desconcentrar os recursos
financeiros, foi analisado de forma serena. "Maduramente encontramos uma
posição, conservando todas as partes".

6) Resumindo, todo mundo vai ter uma parte que lhe cabe neste latifúndio. E ninguém precisa reclamar.