terça-feira, 19 de setembro de 2006

TERÇA

Segurando o espeto, Jorge Lorenzetti, misto de diretor do BESC e churrasqueiro presidencial, o catarinense que desde ontem faz parte do noticiário do dossiê.

A CONEXÃO CATARINENSE
Até hoje o Jorge Lorenzetti só tinha aparecido nas páginas dos jornais como o churrasqueiro preferido do Lula. Fez churrasco pro Fidel e pro presidente chinês, fez churrasco até pro Fernando Henrique, em dezembro de 2002, na Granja do Torto, quando Lula quis fazer um agrado no presidente que dali a poucos dias lhe passaria o cargo. Ex-professor da UFSC, Diretor Administrativo do BESC, militante petista de primeira hora, Lorenzetti era, acima e além de tudo, um sujeito discreto.

Quando Jorge se candidatou, não teve grande votação. Em 1982, só teve 1.065 votos, na sua campanha a deputado federal. Claro, eram tempos bicudos para o PT. Em 1986, melhorou um pouco, teve 3.297 votos e ficou como suplente de deputado estadual. O PT só elegeu, nesse ano, para a Assembléia, a Luci Choinacki.

Lorenzetti está licenciado do BESC para trabalhar na campanha de Lula. Segundo o blog do Noblat, no passado ele foi responsável “pela ligação entre a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e organizações trabalhistas internacionais. Arrecadava dinheiro para a CUT”. E em 1999 dividiu apartamento em São Paulo com Delúbio Soares.

A discrição do catarinense durou até ontem, no jornal Hoje, da Rede Globo, quando o funcionário da presidência com o cinematográfico nome de Freud Godoy, que teria mandado comprar o dossiê contra Serra, informou que foi apresentado a Gedimar Pereira Passos, que foi preso com o dinheiro com o qual compraria o dossiê, por Jorge Lorenzetti.

Freud disse também que foi Lorenzetti quem contratou Gedimar para trabalhar na segurança do comitê eleitoral de Lula em Brasília.

Freud pediu exoneração de seu cargo e ontem mesmo, no final da tarde, começou a tentar explicar, em depoimento na Polícia Federal. Se Freud vai explicar ou não, é uma questão secundária. O principal é que Freud e Lorenzetti fazem parte do círculo mais íntimo de Lula. E podem estar envolvidos num escândalo federal.

FECHAMENTO DOS BINGOS
A Codesc, vários vereadores, deputados e tantos outros amigos dos bingos devem estar muito injuriados: o Ministério Público Federal mandou e a Polícia Federal começou a fechar os bingos em Santa Catarina. Desde a sexta-feira foram fechadas 24 casas e lacradas quase duas mil máquinas caça-níqueis.

Impressiona a defesa que o Estado catarinense e seus agentes faz dos bingos. Mesmo depois da sua lei do jogo ter sido considerada inconstitucional pelo Supremo, parece que a Santa Catarina dos sonhos de LHS (e do Pavan?) seria assim tipo uma Las Vegas: o paraíso do jogo liberado.

Mas o exemplo vem de cima: o jogo do bicho funciona sem qualquer impecilho, em parceria com a Caixa Econômica Federal e suas lotéricas, como se fosse venda casada. Então, por que Santa Catarina não pode ter sua rede de bingos que tanto bem tem feito ao bolso de tanta gente (e não estou me referindo aos jogadores)?

MILIONÁRIA NO ESPAÇO
Não tem quase nenhuma diferença a viagem ao espaço da milionária americana Anousha Ansari, a primeira turista espacial, e a do nosso astronauta. Até o preço foi parecido. Ela também levou umas experiências para fazer e ocupar o tempo. A única diferença é que ela está pagando a viagem com seu próprio dinheiro ou de sua família. E o astronauta brasileiro (como é mesmo o nome?) usou o nosso dinheiro.

LULA SE SUPERA
Todos que se interessam por política devem procurar ler a entrevista que o candidato-presidente Lula deu à Folha de São Paulo de ontem. Ao ser perguntado pelo mensalão, Lula respondeu: “Não nego nem confirmo”.

Sobre Palocci: “o ministro da Fazenda não tinha o direito de utilizar o poder de ministro para ir atrás do caseiro investigar”. E tantas outras coisas, que não estamos acostumados a ouvir serem ditas com tanta... clareza.

CUIDADO! A FACHADA DO PRÉDIO
ESTÁ SENDO FOTOGRAFADA!

Na sexta-feira, o fotógrafo do DIARINHO parou diante de um prédio público, no Estreito, utilizado pelo Conselho Estadual de Trânsito (Cetran), Juntas de Recursos de Infração, setor de leilões de veículos, etc. Um prédio integralmente público, ocupado principalmente pelo Detran.

E cometeu um ato que, aos olhos do Capitão Nunes, da Polícia Militar, era suspeito e perigoso: tirou fotos da fachada do edifício.

Esse oficial, que faz parte da comissão de leilões, estava até de licença, mas ao passar por ali e ver aquele ato de enorme potencial de risco para as instituições (“cuidado! um fotógrafo está diante do prédio!”), tratou de tomar as providências que achou mais adequadas:

1. Dirigiu-se ao veículo do elemento suspeito para anotar-lhe a placa (ninguém conseguiu explicar por que o Capitão não aproveitou que estava perto do fotógrafo e simplesmente falou com ele para sanar suas dúvidas);

2. Voltou para dentro do prédio e com a ajuda de mais alguém, acessou o cadastro do Detran para identificar o elemento suspeito e pegar o telefone (com isso ficam todos advertidos que os dados cadastrais que confiamos ao Detran são, na prática, públicos, ou quase. A maioria dos servidores do Detran pode acessar esses dados, para o uso que melhor lhes convier);

3. Com um telefonema, como já disse aqui, elegantemente ameaçador, o Capitão Nunes tratou de tentar neutralizar a perigosa ameaça, o risco intenso e imediato que representa um sujeito desconhecido com uma câmera fotográfica na mão, apontando para a fachada de um prédio público.

A Assessoria de Imprensa do Detran forneceu as informações e me atendeu de forma muito gentil, mas acho que não estavam muito convencidos de que o que o Capitão Nunes fez fosse uma coisa reprovável: “se você vir alguém estranho olhando para a sua casa, também vai querer saber quem é”, argumentou o assessor.

Todos entendemos que nessa época de campanha eleitoral todos os comissionados tenham cuidado excessivo com os prédios públicos, mas se o Capitão Nunes estava tão preocupado, por que não foi falar com o fotógrafo? Ele estava ali, ao lado do carro de onde foi anotada a placa. O militar saberia, em poucos minutos, que se tratava de gente boa do DIARINHO. E aí não precisaria acionar uma base de dados que, embora sob a guarda de um órgão público, deveria servir a propósitos específicos, relacionados com a atividade.

Não sei que tipo de reportagem a sucursal do DIARINHO em Florianópolis está preparando, mas depois de tanto auê por causa da fachada, fiquei muito curioso em ver a reação do pessoal quando o fotógrafo entrar no prédio para completar o seu trabalho.

O DIREITO À INFORMAÇÃO
Uma rápida explicação para quem não está entendendo por que insisto neste caso aparentemente desimportante: sempre que alguém, por desinformação, excesso de zelo ou má fé, tenta impedir o trabalho da imprensa, é preciso denunciar. Porque se hoje é só a foto da fachada que querem impedir, amanhã poderão criar segredos e caixas pretas que impeçam o direito inalienável do público à informação.

Um comentário:

Anônimo disse...

Esse Jorge Lorenzetti eh o exemplo classico de como essa gente nao gosta do Besc. Botar um quadrupede desse na Diretoria Administrativa eh a confirmacao. Eles so acertaram quando nomearam o funcionario de carreira e otimo empregado para ocupar o cargo de Diretor de Operacoes. Ex-Gerente Regional de Florianopolis na administracao do Vitor Fontana, soh foi confirmado nessa funcao apos a indicacao dos Deputados Zonta e Tiscoski em carta com a sigla do PP. Dizem no Banco, que o Zonta tem sido interlocutor assiduo do expedito Diretor. Ja Tiscoski entende como uma traicao a debandada do Primo para o PT. O dinheiro do Lorenzetti eh chave da sacanagem. Essa investigacao, se houver, vai levar as fronteiras de Santa Catarina.