quarta-feira, 13 de setembro de 2006

QUARTA

(Atualizado com atraso, devido a problemas de incompatibilidade de wireless. Ou seja: deu um tilt no lupinato da rebimboca da parfuseta sem fio)


O ELEITOR, ESSE DESCONHECIDO
Quando chega perto das eleições o eleitor vira o centro das atenções (deveria ser o ano inteiro, todos os anos, mas esta é outra história) e dependendo do resultado das pesquisas tem até quem diga que o eleitor é burro e/ou malagradecido. E quem está à frente acha que nunca o eleitor foi tão sábio.

As campanhas políticas, não sei se vocês sabem, não são feitas no escuro. Antes de qualquer coisa, são feitas pesquisas qualitativas, onde se pretende saber o que o eleitor quer ouvir, o que ele gostaria que os candidatos dissessem. A partir daí as coordenações de campanha montam os discursos, os programas (quando tem) e a estratégia que será utilizada.

Talvez seja por isso que as campanhas são tão parecidas. Todo mundo fala o que acha que a gente quer ouvir. Se as pesquisas iniciais detectaram que a nossa preocupação principal é emprego, então dá-lhe emprego e renda. E eles ficam fazendo o possível para nos agradar. Para que os discursos soem como música aos nossos ouvidos.

Depois de eleitos tratarão de fazer o que for possível. Como diz o queridinho das multidões: “política a gente faz do jeito que dá, com quem tiver”. Sempre de olho nas pesquisas de aprovação. Nos índices estatísticos.

E pra gente, que sofre ouvindo discursos e faz uma força danada pra votar direito, pra não jogar o voto fora, isso não nos satisfaz, porque fica sempre faltando alguma coisa mais. Afinal, a gente não está no supermercado e político não deveria ser igual a sabonete.

O POLÍTICO, ESSE DESCONHECIDO
Desde muito tempo (pelo menos desde 1998) se discute sobre a necessidade de uma reforma política. Mas nunca se debate adequadamente o tema. Seja porque ele é lembrado por oportunistas, quando surge um escândalo, seja porque está bom assim e ninguém é louco de matar a galinha dos ovos de ouro.

O cientista político Bruno Lima Rocha escreveu um artigo muito interessante (está em www.noblat.com.br, clique aqui para ler) em que levanta uma questão nova e fundamental: acabar com a “carreira” política. Criar mecanismos que evitem que o sujeito seja deputado por 20 anos, ou tenha cargos de confiança a vida inteira. Em resumo: política deveria ser uma prestação de serviço por tempo determinado e não um emprego permanente.

Eles viraram uma “classe” e a gente até fala na “classe política”. Em alguns casos o acesso a esse “privilégio” é hereditário, ou familiar. O político profissional faz de tudo para não largar o osso. Para se manter na “carreira”.

Obrigá-los, por exemplo, a ficar inelegíveis por quatro anos depois de um mandato de igual tempo, seria saudável e permitiria a oxigenação dos parlamentos. E proibí-los de exercer, nesse intervalo, cargos em confiança, para que não fique um jogo de compadres.

Isto deve soar como coisa do demo. Ameaça terrorista. “Nem pensar!” Claro, reação normal e natural de quem já conta com a cadeira cativa, o título patrimonial, a carreira segura e bem remunerada (direta ou indiretamente).

Enquanto isso, como diz meu colega Paulo Alceu, “a vida segue”.

VOLTA POR CIMA
Às vezes a gente fica abatido com os problemas do dia-a-dia e a “depressão” passou a ser um fenômeno mais ou menos comum. Quebrou a unha? Bateu o carro? Foi despedido? O marido arranjou outra? Lá vai ela (ou ele) para a “depressão” (que está entre aspas porque a depressão de verdade é outra coisa, mais séria e grave).

Temos a tendência de achar que os nossos problemas são enormes, únicos e que não há nada a fazer a não ser desesperar-se e praguejar.

Pois o meu amigo Chico Amante, no final de semana, lembrou-me de um exemplo de vida. De uma pessoa que tinha motivos sérios para jogar-se nas cordas, mas não se deixou vencer. Reuniu todas as suas forças, seus talentos e deu a volta por cima.

Trata-se da Juliana Tasca Lohn, 29 anos, filha do falecido João Tasca e da Dona Madalena Tasca. Moradora do Abrão, ali no Continente. A Juliana é surda e muda. Mesmo assim, formou-se em Pedagogia e está se preparando para uma pós-graduação. Com a criação do curso da Linguagem Brasileira de Sinais (Libra), na UFSC, a Juliana fez vestibular e passou. Dá aulas há alguns anos e de vez em quando é convidada para dar palestras em diversas cidades do estado. Ah, e é casada com o Luciano e mãe do Fabrício, que tem 6 anos.

Santa Catarina, o Brasil e o mundo estão cheios de exemplos semelhantes. Gente de coragem que não é derrubada por qualquer “coisinha” e, ao contrário, encontra, nas próprias dificuldades, os degraus necessários para ultrapassá-las. E vencê-las.

ESGOTO NA LAGOA
A Casan inaugura hoje o Sistema de Esgoto Sanitário da Barra da Lagoa. Por artes sabe-se lá de quem, será às 7 da noite (deve ser pra não aparecer nos noticiários do dia). E sempre que um sistema de esgoto fica pronto, começa a outra luta: convencer os moradores que é negócio ligar-se à rede de esgotos. Isso significa despesas imediatas, com a ligação e depois com a conta. E nem todo mundo se acha responsável pela merda que produz.

Estamos anos atrasados no saneamento básico. Esse mesmo, da Barra, ficou parado praticamente todo o governo LHS (tinha sido iniciado em 1999). E coletar esgoto representa uma mudança cultural: depois de séculos jogando tudo no mar, agora temos que pagar para que alguém dê um trato na bosta e, em alguns casos, continue jogando no mar. Mas um dia a gente aprende.

CASANOVA
Esse coronel Ubiratan, que cheficou o massacre do Carandiru (onde foram mortos 111 presos), que disse que “se eu tivesse a intenção de matá-los, teriam morrido muitos mais”, que foi condenado a 600 anos de prisão (um delírio processual, porque a pena máxima no País é 30 anos) e, em liberdade, acabou eleito deputado (e se preparava para a reeleição), acabou morto por motivos passionais. Já são pelo menos duas mulheres apaixonadas e enciumadas por essa jóia de raro caráter.

Como alguma mulher pode se aproximar de um sujeito como esse? E, ainda mais, disposta a disputar seu “amor” com essa fúria? O ser humano é mesmo uma coisa malacabada.

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