terça-feira, 7 de novembro de 2006

TERÇA

[Nota do editor: a atualização desta página tem estado irregular nos últimos dias em função de fatores de força maior como a lua cheia, a internet vagalume, viagens de negócios, jantares de lazer e uma pitada de preguiça.
Perdão, leitores.]

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O GRANDE JOGO
O governador eleito, LHS, anuncia hoje a equipe que vai preparar o novo governo. Escolheu o auditório da Celesc, para encerrar a fase de campanha, onde os locais improvisados, a proximidade do público e o “calor humano” da falta de ar-condicionado eram quase que obrigatórios.

Agora a brincadeira terminou. E começa a fase mais complicada e delicada de todo o governo, que é o grande jogo de xadrez da atribuição de funções, distribuição de cargos e preenchimento de espaços políticos na máquina administrativa. Uma peça fora de lugar, um grupo descontente, uma solução infeliz e pronto, o governo entrará janeiro sob críticas e já corre o risco de perder aliados para as próximas eleições, de 2008.

Por isso, não acreditem em listas de prováveis secretários que estão circulando por estes dias. É pura especulação. Ou, pior, campanha de candidatos a cargos, que passam aos colunistas, como quem não quer nada, seus nominhos. Vai que cola, né?

(Update das 10h: o LHS anunciou agora de manhã, na RBS, que o deputado reeleito Mauro Mariani será o secretário de Infra-estrutura)

Talvez LHS até tenha, na sua cabeça, algumas preferências, mas é um político experiente e sabe que, para acomodar um aliado ou mesmo um correligionário, poderá ter que deixar sua preferência de lado.

Portanto, é muito cedo ainda para anunciar quem irá para onde. O grande jogo está no começo e talvez em dezembro LHS comece a revelar seus principais movimentos. Provavelmente os aflitos aspirantes a secretários e diretores saberão se foram escolhidos a tempo de passar as festas de final de ano em paz. Mas nada impede que no dia anterior à posse ainda sejam feitos alguns ajustes.

Boa parte da equipe que será anunciada hoje ficará distante desse jogo, porque participará de um outro, não menos interessante: a construção do que LHS chama de “aprofundamento da descentralização”. Um conjunto de novas normas legais que serão submetidas à Assembléia Legislativa já no início de fevereiro. As mudanças vão desde a nova hierarquia das Secretarias regionais (oito serão “promovidas”, as restantes serão divididas em dois níveis e serão criadas mais algumas) até a inclusão do Fundo Social na Constituição (agora ele é apenas lei ordinária).

AINDA O DOSSIÊ
Outro leitor escreve dizendo que acha que eu ando mesmo meio “amargo” com o Lula. Antes de continuar deixem-me dizer que sou um colunista de grande sorte: os leitores, mesmo os que discordam de mim, tratam-me com grande urbanidade e argumentam com sensatez. Não encontrei pela frente, ainda, aquelas criaturas que, por exemplo, xingaram a Eliane Catanhede de “vaca nazista”.

Este leitor argumenta, a certa altura, que achou que a cobertura da “mídia” ao caso do dossiê pendeu muito para um lado. E achou que a análise dessa cobertura, feita pela Carta Capital é “assustadora”. E também ficou espantado com o teor da conversa entre o delegado que divulgou as fotos do dinheiro e os jornalistas.

Não vou entrar em grandes detalhes por causa de tempo e espaço, mas gostaria de fazer alguns rápidos comentários. Todos os escândalos envolvendo petistas tiveram, por parte da “esquerda” e dos petistas, a mesma reação: “eles também fazem ou fizeram”. Isto não é defesa que se apresente. Parece confissão de culpa.

No caso do dossiê, já li e ouvi quem dissesse que a imprensa deveria mostrar o conteúdo do dossiê antes de ficar condenando quem iria comprá-lo. Não tem nada mais esfarrapado do que essa linha de pensamento. É como se um crime justificasse ou perdoasse o outro.

Se o dossiê mostrar o Serra recebendo propina dos Vedoin o crime dos aloprados petistas fica menor? Eles deveriam ser inocentados apenas por causa disso? Ou usar dinheiro ilegal para obter ilegalmente informação sobre supostos delitos para uso eleitoral não deve ser denunciado no caso dos delitos serem verdadeiros?

E o caso das fotos, então? Há anos a Polícia Federal tem, por norma, como procedimento usual, fotografar e distribuir a foto do material apreendido. Foi assim na prisão do Aldinho (o ex-funcionário da Fazenda catarinense). Nesse caso, escamoteou a foto. A conversa do delegado não tem nada de muito escabroso (como seria se ele tivesse cobrado pelas fotos, por exemplo). E o que os jornais deveriam ter feito? Entrar no jogo do governo, recusar a oferta e manter ocultas as fotos?

ESSE GODINHO...
Nada é simples quando se trata do quase ex-deputado Sérgio Godinho. Acaba de ser multado (ele e o Correio Lageano) por propaganda fora do padrão na época eleitoral (publicou um encarte de propaganda, quando só poderia ter publicado um anúncio numa das páginas do jornal).

Quando comecei a ler a nota do TRE-SC em que estava registrada a sentença, levei um susto, na primeira vez entendi que o Godinho tinha sido multado por “propaganda enganosa”, aí reli e vi que era propaganda irregular mesmo. E fiquei surpreso com o valor relativamente pequeno da multa: R$ 2 mil para cada um (jornal e candidato). Claro que para o jornal deve ser bastante, mas para um deputado não é nada.

FALSO BRILHANTE
Todo dia a PF deixa vazar mais um fragmento de informação sobre a investigação do escândalo do dossiê. E eu, aqui com os meus botões, acho muito estranho o valor que se dá ao fato de terem encontrado ligações de telefone entre o coordenador da campanha de Lula e um membro do comitê de campanha ou ao assessor particular do presidente. Ou mesmo ao chefe de gabinete do presidente.

Com quem essa gente imagina que o coordenador da campanha falaria, senão com as pessoas de alguma forma relacionadas ou com a campanha ou com o próprio candidato? A existência de telefonemas entre essas pessoas não significa, de per si, nada.

Seria mais ou menos como alguém “descobrir” que Jorge Lorenzetti recebeu uma ligação de Lula, ou que ligou para o gabinete de Lula. Ora bolas, ninguém ignora que os dois são amigos de longa data e que amigos, em geral, se falam, nem que seja para combinar o próximo churrasco. Querer atribuir ao simples fato de existir um telefonema (sem saber o que foi dito) entre pessoas que têm relações conhecidas de amizade e trabalho, um ar delituoso é sacanagem. E hipocrisia.

Ao dar importância a esse tipo de “informação” e requentar todo dia a mesma história para poder usar o “novo dado” liberado pela PF, a “mídia” desvaloriza seu papel crítico, de avalista e avaliadora com fé pública, sobre o que é e o que não é relevante.

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