sábado, 4 de novembro de 2006

SÁBADO E DOMINGO

INTRIGA DA OPOSIÇÃO
Desde o momento em que o Collor decretou que tudo que era serviço público não prestava e começou a desmontar o Estado, que umas tantas repartições que prestavam excelente serviço, apesar de serem públicas, começaram a sofrer, junto com outras que não deixaram saudades.
A gente brinca, pondo a culpa no reeleito barbudo, que deixou a coisa chegar ao ponto que chegou, mas é claro que o reeleito anterior também não viu o buraco que se abria sob nossos pés.

Essa história da falência do sistema de controle do espaço aéreo brasileiro é semelhante ao que acontece nos grandes hospitais públicos, nas universidades, nas estradas: de corte em corte de verbas as condições vão ficando de um jeito que um dia estouram.

Trouxe pra vocês uns trechos de um texto escrito pelo Wilson Cavalcanti, que é piloto militar reformado, instrutor de pilotos e conhece por dentro essa história toda. Olha que interessante:
“Só existem duas escolas de qualificação de controladores no Brasil, uma em Guaratinguetá, SP (militar) e outra aqui onde moro, São José dos Campos, SP, este sendo um instituto que admite civis e militares e promove reciclagens de pessoal, além de servir de base tecnológica para o chamado ‘serviço de proteção ao vôo’, que engloba tudo o que se chama em geral de ‘controle’. Portanto, a formação de controladores é limitada e tem de ser bem equacionada, para assegurar a existência de uma quantidade mínima em atividade. Não se repõem controladores de uma hora para outra.

Mas vejam bem: os controladores são a ‘ponta da linha’ do sistema, imaginem tudo o mais que está por trás: radares, sistemas de comunicação, computadores, formação contínua de todo o pessoal, etc. São a ponta que somente agora está visível ao grande público. Nos anos (19)70, por diversas razões, entre as quais a economia de escala e a defesa aérea nacional, o nosso país optou por um modelo híbrido de controle de tráfego aéreo, que serve tanto às Forças Armadas como à aviação comercial. Esta nunca foi ‘onerada’ pelo fato de os militares estarem a controlar o espaço aéreo. Mais recentemente, algumas funções menores do sistema foram passadas à Infraero (uma empresa estatal), mas o núcleo principal, onde está de fato o coração do sistema, é ainda da Aeronáutica.

(...) Assim como os hospitais públicos sofrem hoje com falta de pessoal, equipamentos desatualizados e mal mantidos, podem todos fazer uma analogia e transplantar tudo o que todos conhecem sobre esse desmantelamento do serviço público para essa área que poucos ainda conhecem, o sistema de controle do espaço aéreo brasileiro.

Saibam que nessa área o Brasil, como todos os demais países do mundo, é constantemente auditado por diversos organismos internacionais (em especial a Federal Aviation Agency dos EUA) e quando as coisas não vão bem em algum país, este é ‘rebaixado’ nos rankings, sofrendo restrições sérias. Sempre tivemos grau máximo e se as coisas agora não vão bem (o que poderá levar a algum rebaixamento nessas auditorias), acho que o problema não é dos técnicos nem do fato de ser a Aeronáutica a controlar esse sistema.
(...)

O problema está certamente na área financeira do nosso governo federal, que ultimamente tem tido a obsessão de pagar as contas externas em detrimento dos problemas internos.”
Outra coisa interessante que o Wilson Cavalcanti fala é que o controlador de tráfego aéreo tem muitas responsabilidades, claro, “mas eles são assistidos por muita tecnologia, de forma que não acho que seja algo mais estressante do que, digamos, um plantão médico em um pronto-socorro como o Souza Aguiar, no Rio”.

[Encontrei o texto do Wilson no blog da Cora Rónai, jornalista de O Globo]

CONCORRÊNCIA
Foi só eu dizer que o jornal Notícias do Dia, dos Petrelli (Rede SC/SBT) é “popular” (com aspas) que um leitor, provavelmente funcionário do jornal, me escreveu pra reclamar. Sem se identificar, disse o seguinte:
“Desculpe Cesar, mas um jornal que vende de 6 a 7 mil jornais para classe B,C e D, com IVC, sendo mais de 1.500 exemplares na porta do TICEM, é POPULAR com letras maiúsculas. Sobre empregos, em Florianópolis o JND abriu vagas para mais de 25 jornalistas, mais 60 empregos diretos. Em Joinville, são mais 20 jornalistas que trabalharão na redação e mais 30 empregos diretos para outras funções.”
Que bom que o jornal está indo bem e empregando bastante gente. Parabéns. Mas continuo achando que o DIARINHO resume melhor as qualidades de um autêntico jornal popular. E para isso não basta ter popularidade.

PAU NOS JORNALISTAS
Uma historinha contada ontem no blog do jornalista Ricardo Noblat mostra com clareza o clima “pouco amistoso” com os jornalistas que existe no Palácio do Planalto.
“Na última segunda-feira, ao ver uma jornalista vestida de preto, Clara Ant, assessora especial de Lula, perguntou a ela:
– De preto? O que é isso? Está de luto por causa da vitória de Lula?
A repórter respondeu que vestia preto para parecer mais magra.”
Noblat lembra também que o jornalista Merval Pereira, colunista político de O Globo, transcreveu, uma frase famosa de Thomas Jefferson, um dos fundadores da América:
– Se me coubesse decidir se deveríamos ter um governo sem jornais ou jornais sem um governo, não hesitaria um momento em preferir a última solução.
Outra frase importante para este momento político:
– A imprensa existe para satisfazer os aflitos e afligir os satisfeitos.
Quando ela faz o contrário, diz Noblat e eu concordo, descumpre sua missão.

O SILÊNCIO DA FENAJ
Tem gente estranhando (e eu também) que a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), não tenha se pronunciado sobre os vários episódios que demonstram esse tal clima “pouco amistoso” entre o governo (e os petistas) e a imprensa. Já teve agressões diante do Palácio da Alvorada (praticamente diante de Lula, que, é claro, não viu nada), teve o incidente do interrogatório dos repórteres de Veja, que está envolto em controvérsias, tem as agressões a colunistas e jornalistas feitas por e-mail e outros meios e um silêncio conivente do próprio Lula, que durante a campanha deixou subentendido que é vítima de um esquema montado pela Zelite e pela imprensa para desmoralizar o governo do povo, pelo povo e para o povo.

O presidente da Fenaj, que é o catarinense Sérgio Murillo, me disse que a entidade vai dizer alguma coisa. Só que ele não queria se precipitar. A Fenaj tentou conversar com os repórteres de Veja para tomar conhecimento do que eles passaram na Polícia Federal, mas a revista não permitiu o acesso da entidade a eles. Além disso uma procuradora da República diz que não houve a intimidação alegada. Pelo sim, pelo não, ele preferiu ir com calma.

Um comentário:

Anônimo disse...

Tá, tô entendendo...O presidente da Fenaj não é PT de cruz na testa? É claro que vai ter toda a calma do mundo! Mas vamos ficar esperando.